Domingo, 15 de setembro de 2019 - 06h23
Na última quinta feira dia 12, encontramos o seu Eric Champeaux na festa de aniversário de 26 anos jornal Diário da Amazônia, na qual ele foi um dos homenageados, por ser dos mais antigos assinantes do jornal. Há alguns anos tinha na agenda entrevista-lo, para saber sobre sua história na empresa Cia. Estanífera do Brasil em Rondônia, até que chegou a oportunidade que não perdi. Rondônia é o segundo maior produtor de Cassiterita do Brasil, perde apenas para a mina de Pitinga no Amazonas. Seu Eric viveu todo o processo da mineração de cassiterita, desde quando a extração era manual. Sua mãe a francesa Jaqueline veio para Porto Velho contratada pela Cia Estanífera em 1960, para verificar se realmente a produção de cassiterita em Rondônia era viável e logo depois o filho Eric também se empregou na empresa e veio pra cá com apenas 24 anos de idade. Na entrevista que segue, ele lamenta que até hoje, não existe um livro contando a história da “Província Estanífera de Rondônia”.
ENTREVISTA
Zk – Vamos começar pela sua identificação?
Eric – Meu nome é Erica Champeaux de La Boulaye nasci em Paris no dia 15 de janeiro de 1936. Quanto começou a 2ª guerra mundial eu estava com quatro anos de idade, passei a guerra numa propriedade nossa, perto de Autun uma sub prefeitura, fiquei lá na casa do meu avô materno. Meu pai faleceu na guerra e minha mãe entrou para as estâncias francesas, fiquei lá estudando e depois da guerra voltei para Paris onde terminei o secundário. Eu era considerado a ovelha negra da família, pois meus irmãos eram militares e tinham curso superior assim como minha irmã.
Zk – Por que o Brasil?
Eric – Eu não gostava de estudar e naquela época era melhor o Brasil para quem queria trabalhar ao em vez de estudar. Na Europa você tinha que estudar primeiro para depois conseguir alguma coisa na vida.
Zk – Em qual estado do Brasil o senhor desembarcou?
Eric – Minha mãe já morava no Rio de Janeiro e então desembarquei lá, depois de seis meses fui pra Diamantina (MG) onde separei e beneficiei 30 toneladas de lasca de cristal para exportação. Não tinha experiência nenhuma no setor de mineração, foi como se diz: com a cara e a coragem e mais, quando fui pra Diamantina, mal falava português. Quando cheguei ao Brasil no dia 9 de agosto de 1955, não sabia uma palavra em português. Passei quase dez dias só vendo o Mar.
Zk – Fale sobre essa primeira experiência com minério?
Eric – Foi fácil porque não exigia praticamente conhecimento, a maior dificuldade foi separar as impurezas para poder o cristal ter valor internacional, o problema é ter paciência pra fazer 30 toneladas, lapidando a pedra no martelinho, levamos quase seis meses, era eu mais uns 20 companheiros.
Zk – Daí foi se especializar em mineração?
Eric – Não! Consegui emprego numa indústria de máquinas pesadas, uma empresa francesa, como aprendiz desenhista industrial, ganhando o salário mínimo. Sai da França sabendo, já que não queria estudar, que teria que trabalhar duas ou três vezes mais do que os outros, pra poder vingar, porque eu tinha que compensar minha ignorância acadêmica com a aquisição de conhecimento na prática. Trabalhei cinco anos em Taubaté na usina de máquinas pesadas, foi lá que foram fabricadas as comportas da Usina Hidrelétrica de Samuel. Nessa Usina de Maquinas Pesadas aprendi muito e cheguei a ser o chefe da Secretária Geral.
Zk – Quando começa sua história com Rondônia?
Eric – Depois de cinco anos na Secretaria Geral da Companhia soube que minha mãe que estava no Amapá, havia sido contratada pela Cia. Estanífera do Brasil para vir a Rondônia saber se tinha Cassiterita. Minha mãe era autodidata no assunto, ela veio aqui em 1960, eu vim passar férias aqui também em 1960 e gostei. Na época, Rondônia ainda era desconhecida, tanto que na empresa Mecânica Pesada quando falei que vinha pra Rondônia, muitos perguntaram: É Brasil ainda? Gostei porque ajudei a montar o escritório. Quando entrei na Estanífera do Brasil fiz estágio de uma semana na Usina em Volta Redonda para aprender a fazer análise de Cassiterita. Nós implantamos a compra de Cassiterita com análise feita aqui em Porto Velho, com pagamento feito com o teor do Estanho já calculado.
Zk – A Companhia Estanífera do Brasil foi à primeira em Rondônia?
Eric – A primeira foi a I.B. Sabba que fez a Jacundá com o Raimundinho Cavalcante. I.B. Sabba na época, era o dono da Amazônia né, eles tinham escritório em todos os pontos da Amazônia, se juntou com Sete Seringalistas daqui e fundou a Jacundá à margem esquerda do Rio Madeira em São Lourenço/Mutum Paraná, aonde também funcionou a Marcisa que era de outro grupo. O grupo IB Sabba não tinha laboratório pra fazer análise de estanho. Nós fomos o pioneiro a criar o mercado local da Cassiterita. Fomos o primeiro a montar um escritório com capacidade para comprar qualquer quantidade de minério. Nossa análise era conferida pela equipe da Usina de Volta Redonda e nunca deu problema.
Zk – Vocês beneficiavam a cassiterita aqui?
Eric – No inicio foi bruto, depois trouxemos uma máquina separadora e passamos a tirar o ferro e mandávamos a cassiterita já beneficiada. Depois a BEST montou um forno em Ariquemes. A BEST começou comprando estanho da Companhia Estanífera do Brasil em Volta Redonda pra fazer solda em São Paulo, aí quando viram que nós estávamos aqui, passaram a comprar cassiterita aqui pra fazer o estanho e montaram o forno em Ariquemes. Com o passar do tempo a Estanífera entrou como sócia do forno em Ariquemes, depois a BEST saiu e a Estanífera ficou com o forno e a mina de Santa Bárbara.
Zk – Como o senhor se transformou no homem forte da Cia. Estanífera do Brasil em Rondônia?
Eric – Entrei como analista e fui crescendo dentro da empresa aonde cheguei a gerencia geral. Minha mãe ficava em Santa Bárbara e eu aqui em Porto Velho. Depois a Estanífera se juntou a Filebordas em Santa Bárbara. A Filibordas já tinha uma multinacional americana e já trabalhava na Bolívia, então eles trouxeram a técnica de mineração da cassiterita pra Rondônia. Com o passar do tempo surgiu a Mineração Taboca em Pitinga no Amazonas como uma grande reserva, hoje não sei como está. O senhor Lacombe dono na Paranapanema morreu vítima de acidente automobilístico e a família vendeu a empresa e hoje não sei informar a produção de Pitinga.
Zk – E a Ferusa?
Eric – A Ferusa era uma empresa Holandesa que veio para trabalhar com a mineração de cassiterita e fizeram um acordo com a mineração Rocha que funcionava na região do Machadinho. Inclusive seu Joaquim Pereira da Rocha era seringalista e foram os seringueiros dele que trouxeram para o escritório umas pedras pretas que ninguém sabia o que era, isso foi na década de 1950 e foi por isso que minha mãe veio pra cá.
Zk – E o que sua mãe tinha a ver com isso?
Eric – Lá no Rio de Janeiro o Rocha chegou com o Aluízio Ferreira que era deputado federal na época e o Aluízio Ferreira entregou para a Fluminense que era uma empresa que trabalhava com cassiterita e descobriram que aquelas pedras pretas era cassiterita, foi quando os donos da Cia. Estanífera do Brasil ouviram falar da cassiterita de Rondônia e mandaram minha mãe (Jaqueline) pra cá e ela botou anuncio no jornal, dizendo que estava interessada em comprar pedra preta. Ela formou uma equipe e ia aos locais aonde tinha pedra preta e ela verificava o teor de cassiterita existente nas pedras e com isso ela incentivou a Estanífera do Brasil em 1962 a abrir um escritório aqui pra comprar cassiterita.
Zk – Vamos para a história pessoal. O senhor casou aqui e com quem?
Eric – Casei em 1969 com a Nina Rosa Campedelli filha do governador José Campedelli e descasei em 1974, não tivemos filhos. Hoje falo à minha atual mulher, que na época por ser gerente de mineração éramos pessoas importantes na cidade. Em todos os acontecimentos sociais nós os gerentes de mineração, éramos convidados para participar junto com o governador, não estou querendo me vangloriar, pois, todos nós gerentes de mineração, éramos tratado desse jeito.
Zk – O que fez o senhor, após o fechamento do escritório da Estanífera em Porto Velho continuar morando em Rondônia?
Eric – Acontece que fiz amizades, criei meu ambiente, comprei casa, enfim, eu tô bem, me adaptei muito bem aqui, todo muito me trata bem me respeitam, não tenho nenhuma queixa, cheguei a Porto Velho com 24 anos deidade, hoje estou com 83, quer dizer, passei minha vida aqui. Minha família está toda na França e o que aconteceu, meus três irmãos e minha irmã já faleceram, agora tem os cônjuges que mal conheço, porque eles casaram depois que saí de lá, os filhos é que mal conheço são mais de 17 sobrinhos, que já casaram já têm filhos todos formados, você fica desvinculado da família, hoje em dia, dou mais importância aos amigos, que a minha própria família.
Zk – Nesse tempo todo o senhor voltou alguma vez à França?
Eric – Voltei quatro vezes. Voltei solteiro, voltei casado, voltei free lance. Como estava muito envolvido com minhas atividades trabalhistas, não tinha vontade de voltar à França.
Zk – Hoje (dia 12) o senhor foi homenageado na festa dos 26 anos do Diário da Amazônia como um dos mais antigos assinantes do jornal. Desde quando o senhor assina o Diário? Algum historiador já lhe procurou para escrever um livro sobre sua história?
Eric – Desde quando o Estadão faleceu! Já me sugeriram escrever um livro, mais não to pensando nisso não. O Rochilmer uma vez me encontrou e falou que queria me entrevistar para o livro que ele tava fazendo sobre a cassiterita etc. Ele faleceu e não terminou o livro. Procurei o filho dele pedindo os manuscritos para tirar algumas informações da empresa Oriente Novo e até hoje não obtive resposta. Duas ou três pessoas disseram que iam escrever sobre a cassiterita em Rondônia e até agora não vi nada. Acho que essa história não será contada.
Zk – O senhor está aposentado ou ainda está na ativa?
Eric – Me aposentei em 1992. Peguei o Pé na Cova e dez anos depois me aposentei. Continuei trabalhando até 2002 como empregado da empresa. No dia que saí, a empresa me deu um contrato de prestação de serviço e já tenho 15 anos de contrato renovado anualmente.
Zk – A Cia. Estanífera do Brasil ainda existe?
Eric – A Estanífera mudou, criou a Mibrasa que se juntou com a Jacundá, depois surgiu a Cesbra. Hoje a empresa foi vendida para a Companhia Siderúrgica Nacional que continua explorando Santa Bárbara. Eles comprar aquele forno de Ariquemes. Hoje Rondônia não manda mais cassiterita pra fora, manda Estanho em lingote.
Zk – E o garimpo de Bom Futuro?
Eric – As empresas que participaram de Bom Futuro fizeram um acordo com a Cooperativa de Garimpeiros e a Cooperativa é quem toca Bom Futuro como se fosse uma empresa de mineração. Eu já tô fora do mercado e por isso não acompanho essa parte, sei que eles tem um Forno que concorre com o Forno da Siderúrgica Nacional.
Zk – Para encerrar. O Eric foi boêmio, namorador essas coisas?
Eric – Não, não! Trabalhei muito. Não estou arrependido. Acompanhei a vida social da cidade, não fui nem num extremo e nem no outro, acredito que tenha ficado no meio termo social. Quanto à saúde, hoje em dia, estou bem, vou três vezes à academia, caminho uma hora em torno da Brigada, mas, trato de um câncer, tenho enfisema. Trato-me no Hospital do Amor. Ta tudo bem, sobre controle!
Zk – Pra encerrar?
Eric – Precisamos que alguém escreva a história da cassiterita em Rondônia, eu não tenho paciência. Aos 83 anos não sei nada de informática, minha mulher Regina uma paranaense de Curitiba que encontrei aqui em Rondônia, com quem vivo há mais de 19 anos, sabe!
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