Segunda-feira, 28 de março de 2011 - 06h58
Um dos grandes problemas sofridos pelos apenados ou os que cumprem pena no sistema prisional, seja de Rondônia ou do Brasil, é a falta de oportunidade e principalmente o preconceito. Como toda regra tem sua exceção, aqui em Porto Velho temos como exemplo de que com a força da fé e a boa vontade e principalmente a perseverança, é possível sair do mundo da criminalidade e das drogas, esse é o caso do nosso entrevistado de hoje, Ezequiel Silva um jovem porto-velhense que enveredou pelo mundo do crime e das drogas quando tinha apenas 12 anos de idade.
Hoje ele está com 32 anos e está em liberdade condicional“Sofri bastante na vida do crime, sem oportunidade”. Essa oportunidade chegou a vida do Ezequiel num momento cruciante vivido pelos presidiário do Urso Branco quando cabeças rolaram de cima da caixa d’água numa das rebeliões mais violentas já acontecidas em um presídio brasileiro. “Foi aí que abrir meus olhos, através da luz Divina de Deus e então cheguei a conclusão que a vida do crime não vale a pena, que droga é uma ilusão”.
Ezequiel hoje, apesarde sempre estar pregando nos presídios de Porto Velho não pertence a nenhuma igreja. ”Infelizmente, é duro eu falar isso aqui, mas, são pouco os que se prontificam a ir evangelizar dentro do presídio”
No dia 30 de abril vai acontecer um grande evento no campo Princesão lá na Zona Leste quando estarão no palco, talentos da música, do teatro e da dança de Porto Velho é a “Cruzada Resgatando Vidas Através da Fé e da Cultura”
E N T R E V I S T A
Zk – Fala um pouco sobre você?
Ezequiel – Quero primeiramente honrar a Deus de estar aqui com você e as pessoas que vão ler esses relatos verídicos. Sou nascido e criado em Porto Velho (RO), com uma estrutura familiar um pouco perturbada, meus pais se separaram quando eu ainda era criança.
Zk – Quais as conseqüências sofridas por você com a separação dos seus pais?
Ezequiel – Isso fez com que entrasse para a vida do crime das drogas com 12 anos de idade.
Zk – Fala sobre esse período?
Ezequiel - Na verdade é uma vida louca. Quando fiquei de maior fui chamado pelo Juiz e ele me disse que a partir daquele momento se eu fizesse algo de errado iria responder juridicamente. Naquele momento tive oportunidade de caminhar como um cidadão normal perante a sociedade.
Zk – Acatou as orientações do magistrado?
Ezequiel – Que nada, aquilo entrou por um ouvido e saiu pelo outro, não dei valor aos conselhos do Juiz o resultado disso foi que no ano de 2002 fui preso por infringir o Artigo 157 que é assalto a mão armada e então peguei 18 anos e 8 meses de reclusão. Desses passei quase 8 anos no sistema prisional. Só no presídio Urso Branco foram 4 anos e 4 meses.
Zk – O que o levou a renunciar a vida do crime?
Ezequiel – Durante o tempo que fiquei preso no Urso Branco sobrevivi a 4 rebeliões, foi aí que abrir meus olhos, através da luz Divina de Deus e então cheguei a conclusão que a vida do crime não vale a pena, que droga é uma ilusão. Durante uma dessas rebeliões, aquela que foi a mais violenta, onde muitos foram executados, fiz um pacto com Deus: Falei que se eu saísse com vida daquele lugar ia chegar aqui fora contar minha história para os jovens e adolescentes, tomarem conhecimento que a vida do crime não vale a pena.
Zk – Você falou que aos 12 anos entrou para a vida do crime. Quem te levou para esse mundo tenebroso?
Ezequiel – É muito importante, porque a gente faz palestras nas escolas e sempre falamos aos adolescentes que eles têm que se prevenir porque o que me levou para a vida sofrida do crime foi a curiosidade nas coisas erradas. A gente ver as pessoas nas esquinas e que ir também. Assim fui querendo saber das coisas, só que procurei as pessoas erradas e então quando dei por mim estava dentro, praticando crime.
Zk – De quem é a culpa?
Ezequiel – Em parte, no meu caso, foi a falta de estrutura familiar, a outra parte atribuo a falta de opção oferecida pelo governo. Aliás, acredito que como nosso estado é um estado que está crescendo culturalmente, acredito que vai ter mudança. Antigamente a gente não via nada de lazer, de cultura. Só tinha esquina. Até hoje estamos querendo ver esse quadro mudar, esse é o meu sonho.
Zk – Qual droga você usava?
Ezequiel – Mela, pó, maconha, todo tipo de droga eu usei.
Zk – Antes de chegar a maior idade, você chegou a ser preso?
Ezequiel – Várias vezes fui para o Centro de Recuperação e não consegui sair do mundo do crime. Passei em todas as cadeias do sistema prisional de Porto Velho. Hoje ainda cumpro pena em regime condicional, Vou ficar assinando o regime condicional até 2015. Sou um preso de justiça nas mãos do estado. Quero cumprir tudo e quem, sabe servir de exemplo para os que estão lá dentro.
Zk – Depois que a Casa Caiu seus amigos lhe deram apoio. To falando dos amigos do mundo do crime?
Ezequiel – Quando cai preso nenhum dos meus “amigos’ aqueles, que conheci na esquina quando tinha 12 anos de idade. Nos anos e anos que conheci muitas pessoas do mundo do crime, nenhum foi me visitar. Hoje estou com 32 anos de idade.
Zk – Quantos anos você tinha quando seus pais se separaram?
Ezequiel – Acredito que não tinha nenhum ano ainda. Fui criado até certo tempo por minha mãe e depois fiquei com meu pai de criação o Francisco mais conhecido como Chiquinho motorista da Secretaria de Saúde que me deu bons exemplos. Ele faleceu numa pescaria.
Zk – Hoje você desenvolve um trabalho muito importante para a ressocialização dos presidiários e leva essa mensagem para a sociedade através de um trabalho musical. Quando e onde você descobriu essa veia poética?
Ezequiel – Foi la dentro do Urso Branco. Justamente nos momentos mais difíceis que passei na minha vida durante as rebeliões, quando cortavam a água, alimento e energia e as pessoas perdiam suas vidas. A gente ficava totalmente nu (pelado), naquela quadra, dividindo espaço com os tapurus. Foi justamente ali que descobri esse dom que Deus já tinha me dado, mas, aqui fora não procurei seguir, porque preferi a vida errada. Hoje tenho plena convicção que foi la dentro nos momentos mais difíceis. Tem uma passagem numa das músicas da Arpa Cristã que fala: “As melhores canções foram feitas em tribulações”, então senti esse momento passar na minha vida porque nos momentos difíceis, escrevi de todo meu coração, com desejo de alertar a juventude.
Zk – Qual foi a primeira canção?
Ezequiel – Consegui ter um violão dentro do presídio e eu fui rimando.No dia de visita os apenados pediam pra mim cantar e eu ia rimando na hora. Pra ser repper a pessoa tem que ter esse estilo ou a facilidade de rimar na hora. Tem uma rima que fiz pra tocar a idéia mesmo, pensando na cadeia e pensando aqui fora. Então fiz: Sempre na união/Se ligando na responsa/Cadeia é cadeia/Não é creche de criança/Sempre na união/Então se ligar irmão/Ta chegando a liberdade/Vai sair da detenção”. Esse é o refrão da música “Liberdade” que está no nosso CD.
Zk – Além da tua vontade de sair dessa vida, você teve ajuda de alguém, algum pastor, padre, psicólogo, assistente social, dentro da cadeia?^
Ezequiel – Infelizmente, dentro do presídio são poucas pessoas, uma grande realidade, é duro eu falar isso aqui, mas, são pouco os evangélicos que se prontificam a ir evangelizar dentro do presídio como também nos hospitais que é uma obrigação bíblica. A Palavra diz: “Estive preso de fostes me visitar”. A maior visita que tive la foi a visita de Deus. No momento de solidão que a gente está naquelas grades, a saudade visita a gente direto, ela entra naquelas grades e a gente não sabe como conter e é aí que a gente vai conhecendo realmente as pessoas. Foi onde eu vi que não temos amigo na vida do crime, nas drogas, é só uma ilusão. Ninguém vai lá, ninguém olha pra gente, ninguém manda um bilhete, uma bolacha um lençol, não manda nada, apenas a minha mãe, minhas irmães, meu pai de criação que sempre mandavam alguma coisa. Minha mãe não faltava uma visita.
Zk – Acho que aqui você precisa fazer um alerta?
Ezequiel – É isso mesmo! Antes eu não dava valor pra minha mãe. Só vim observar o valor dela quando estava na cadeia. Quando todos meus “amigos” da rua me abandonaramela não me abandonou. Então vai uma palavra aí pras mães, aos familiares que dê apoio. É muito importante o apoio da família. Querem ver como o apoio da família é importante?
Zk – Vamos ver?
Ezequiel – Quando sai da cadeia na condicional, os caras foram la na minha casa, os “amigos” anteriores da vida sofrida do crime. Foram la me oferecer OXIDADO. “Faz aí um pouco de pó pra tu vender que aí tu vai se levantar”. Respondi: Não cara, não tenho dinheiro não. Quis tirar eles assim. E responderam “depois tu me paga”. Foi então que olhei pra eles e falei: O negócio é o seguinte, quando eu estava preso, nenhum de vocês foi lá me visitar, só minha mãe. Nesse momento eu quero que vocês dê licença, porque vou dar valor pra quem me deu valor, vou ficar com a minha família, não vou deixar de conversar com vocês, mas, só que vou dar valor pra minha família. Isso graças a Deus me sustentou pra deixar verdadeiramente o crime e as drogas.
Zk – A gente sabe que dentro do presídio rola muita droga. Como você fazia para se livrar do assédio dos traficantes e usuários dentro do presídio?
Ezequiel – Dentro do presídio a gente tinha a própria opinião. As pessoas que não querem se envolver ela não vê nada. Dentro do presídio a realidade é o seguinte, na rua na periferia, a pessoa que não quer se envolver tem que ser cego, surdo e mudo é o que faço esse caso assim de droga eu nunca vi, nunca ouvi. Com isso entro la toda hora para pregar. Na realidade represento o Sistema Prisional junto a sociedade, diante do Direito Humanos dos Estados Unidos. Esse CD gravamos la de dentro representando o Sistema. Antes só tinha coisa ruim dentro do presídio e agora está saindo coisa boa, assim como eu tem muitos talentos da cultura dentro do presídio que precisas ser resgatados. Tem muita gente que está na sarjeta, presa porque não teve oportunidade,
Zk – E o CD como foi produzido. Tem outro trabalho musical além do disco?
Ezequiel – Com as músicas do CD estamos concluindo o DVD cujo lançamento deve acontecer na “Cruzada Resgatando Vidas Através da Fé e da Cultura”. Essa Cruzada vai acontecer no dia 30 de abril na Zona Leste no campo Princesão no bairro socialista.
Zk – A realização desse evento vai ser uma parceria com quem?
Ezequiel - Já temos o apoio da Secel que vai colocar o Palco.
Zk – Como vai ser a programação?
Ezequiel - Vamos contar com muitas apresentações culturais; Teatro, grupo de dança, cantores regionais, bandas. Nós da coordenação desse evento poderíamos trazer uma pessoa de fora, mas, resolvemos mostrar os nossos talentos regionais.
Zk – Para encerrar. Quem está na coordenação da Cruzada Resgatando Vidas Através da Fé e da Cultura?
Ezequiel - Ele é realizado por ex presidiários, pessoas que sofreram na droga, no crime e hoje estão bem familiarmente, estão trabalhando. Inclusive o grande momento do evento vai ser o Testemunho Vivo dessas pessoas. Antes não tinha nenhuma expectativa de vida, mas, hoje conseguiram mudar o quadro, pagaram sua cadeia direitinho e hoje estão trabalhando cuidando da família direitinho. Vamos entrevistar ao vivo no palco, uma mãe que sofreu muito com seu filho que foi viciado. Ela vai contar para as pessoas o que ela passou e mesmo assim nunca desistiu do seu filho.
Zk – O que você tem a dizer as autoridades?
Ezequiel - Não é bem um recado. É um pedido de socorro pela voz da periferia, pela voz do sistema prisional. Tô aqui pedindo apoio das nossas autoridades, que realmente façam acontecer. Uma pessoa que é recuperada torna-se um multiplicador.
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com
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