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Silvio Santos

Francisca Marques de Souza - A história da quadrilha Flor do Maracujá


 Francisca Marques de Souza -  A história da quadrilha Flor do Maracujá - Gente de Opinião

Francisca Marques de Souza

A história da quadrilha Flor do Maracujá

Na noite de São João, estava no arraial da dona Raimundinha no bairro Caiari, onde o grupo de dança de Carimbó do Sesc se apresentou. Logo após a dança, uma das dançarinas me procurou, dizendo que gostaria que eu publicasse, a verdadeira história da quadrilha “Flor do Maracujá”. “Todo ano vejo falarem de Flor do Maracujá, mas, ninguém conta a verdadeira história”. Era dona Chiquita uma senhora muito simpática e divertida, que foi logo dizendo, como surgiu a quadrilha que dançava à beira dos trilhos da Estrada de Ferro Madeira Mamoré no bairro do Triângulo. Trocamos telefones e quinta feira passada, gravei a entrevista que além da história do nascimento da quadrilha, conhecemos como nasceu os bairro Nova Porto Velho e em especial o bairro Agenor de Carvalho.

É uma entrevista muito bacana,

E N T R E V I S T A

Zk – Como é o seu nome e de onde veio pra cá?

Chiquita – Meu nome é Francisca Marques de Souza, porém, sou mais conhecida por Chiquita. Cheguei aqui em Porto Velho no dia 16 de outubro em 1948, vindo de Manicoré. Fomos morar no Alto do Bode. Nasci no dia 25 de fevereiro de 1943.

Zk – Alto do Bode?

Chiquita – Era um morro que ficava pegado ali onde hoje é a Feira do Agricultor. Naquela área tinha a Baixa da União que começava onde hoje é o Posto São Paulo, o Morro do Querosene ficava pro lado da rua José de Alencar. Justamente no espaço onde está instalada a Feira do Agricultor era o Campo de Futebol e pro lado da Euclides da Cunha começava o Alto do Bode. Na realidade, a Euclides da Cunha entre o trecho da Sete de Setembro até a João Alfredo se chamava rua do Coqueiro. Entre o Alto do Bode e o Cai N’água, tinha o Ramal São Domingos que era um desvio da linha do trem que ia até a fábrica de Borracha que ficava em frente ao Campo do Mario Monteiro hoje 5º BEC.

Zk – Quem era Mário Monteiro?

Chiquita – Ele foi prefeito de Porto Velho e tinha uma fazenda de criação de boi, justamente no local onde foi instalado o quartel do 5º BEC.

Zk – Qual sua história com a quadrilha Flor do Maracujá?

Chiquita – Foi o seguinte: Naquela época, tinha o boi bumbá “Fortaleza” do seu Raimundo também conhecido como Cabo Fumaça lá no Triângulo. Numa noite de luar, nossa turma de jovens, estava sentada na linha do tem e de repente veio a ideia, vamos formar uma quadrilha pra gente brincar! Todo mundo concordou, aí o Jorge Herculano se propôs a ser o marcador. Faltava conseguir um terreiro para a gente ensaiar, foi então que eu disse, vamos lá com seu Joventino Ferreira Filho ver se ele sede o curral do boi.

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Zk – Boi bumbá?

Chiquita – Não, curral de boi de quatro patas que ele criava. Conversamos com ele e com a dona Dina sua esposa. Ele nos recebeu muito bem e disse: Pode brincar aí no terreiro, pois, à noite os bois estão todos presos e não vai ter perigo.

Zk – E o nome da quadrilha surgiu como?

Chiquita – No terreno tinha um pé de maracujá que estava florado, então resolvemos colocar o nome da quadrilha de “Flor do Maracujá”. Devo lembrar que as filhas do seu Joventino eram todas bonitas, mas, elas nunca brincaram na quadrilha, só quem brincava era o Zildo o Netinho era recém-nascido. Nossa quadrilha começou no dia 20 de abril de 1958 e dançou até o ano de 1964, foi quando o BEC chegou e acabou com o Alto do Bode, Baixa da União, Ramal São Domingos e Morro do Querosene.

Zk – Quem brincava na quadrilha Flor do Maracujá?

Chiquita – Luiz Lopes, Bananinha, Borba, Alberto Periquito, Araújo, Ramos, Jango, Vilarim, Raimundo Frango D’água que foi meu marido, Gastez filho do seu Alumínio (Geraldo Siqueira), Chore, José Guedes, Ariovaldo, Luiz Lopes e muitos outros.

Zk – E as damas?

Chiquita – Tinha a Joana, Aldenora, Marinalda. Nora, Isalda, Darci Moreira, Gladis, Dolores, Rosinha, Deuzuita, Elisa, Maria Resk, Amélia Pires, Rosilda, Neuzi e eu. O primeiro noivo da quadrilha foi o Gastez e a noiva a Rosinha. Depois é que veio o Chore com a Elisa que terminaram se casando de verdade e vivem até hoje.

Zk – Vocês participaram de algum festival?

Chiquita – Era assim: A primeira dança do ano fora do local dos ensaios, era em frente a casa do governador, depois no arraial da Catedral e depois em frente à casa do Diretor da Estrada de Ferro, depois dançávamos no arraial da 3ª Cia de Fronteira. Também éramos convidados para dançar nos clubes Guaporé, Imperial e em outros locais.

Zk – É verdade que os noivos da quadrilha chegavam no terreiro do seu Joventino de cegonha?

Chiquita – A noiva fugia de casa e quando era encontrada vinha no “Trole”, porém, antes de embarcar no Trole ela vinha numa carroça toda enfeitada de palha, que a gente ia tirar no Campo do Mário Monteiro, eram três carroças emprestadas do seu Antônio do Boi. As carroças paravam na Serraria Tiradentes hoje Mercado do Cai N’água e de lá, seguia de “Trole” até o local dos ensaios.

Zk – A senhora dançava de que?

Chiquita – Eu era a “Intrusa”. A mulher que chegava com o filho no braço, para impedir o casamento. Acontece que o noivo era marido da “Intrusa” e a deixou “buchuda” para casar com a outra. Aí na hora do casamento, eu chegava com o menino no braço que era o Netinho filho do seu Joventino aí começava a confusão e vinha o guarda e me tirava da cerimônia. Era muito engraçado. O sanfoneiro era o seu Antônio Bananeira.

Zk – Fale mais um pouco sobre sua juventude?

Chiquita – Posso dizer que vivi um tempo muito bom, pois, Porto Velho não tinha violência, sempre fui festeira e minha mãe não gostava, as vezes a tarde, eu deixava os sapatos e alguma peça de roupa escondida no pé da cerca e a noite, quando mamãe dormia eu fugia pra festa no clube Imperial. Brinquei carnaval no bloco da dona Jóia, no Imperial no bloco do Danúbio Azul, do Guaporé, brinquei na escola do Tário Café antes de ser Diplomatas, fui passista, rainha de bateria e por ultimo brinquei de baiana. Cheguei a brincar na Caiari também.

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Zk – Quantos filhos?

Chiquita – São sete filhos, de dois casamentos são quatro mulheres e três homens. Sou viúva. Meus filhos Iraildo, João (adotivo), Irailton, Iranilson, Rose, Ariadne, Ariane e a Ray.

Zk – A senhora também conhece a história dos bairros, Nova Porto Velho e do Agenor de Carvalho?

Chiquita – Antes, da Rio Madeira até a rua 16, era Nova Porto Velho. Depois a prefeitura desmembrou e ficou, da Jorge Teixeira até a Rio Madeira é Nova Porto Velho e da Rio Madeira pra frente é Agenor de Carvalho. Isso aqui foi invasão, sou uma das fundadoras desse bairro. Conheço a história do doutor Agenor de Carvalho.

Zk – Foi por causa dessa invasão que mataram o Agenor?

Chiquita – Ele ganhou nossa causa. Bem em frente a casa onde moro hoje, tinha um monte de pedra e ele veio fazer uma reunião e de cima do monte de pedra, anunciou que havia ganhado a causa em nosso favor e que iriamos receber 21 Mil em material de construção e o resto iria ser pago em dinheiro. Quando foi no dia 9 de novembro de 1983 o assassinaram lá na ruía Júlio de Castilho com a Duque de Caxias as quatro horas da manhã. Foi aí que o pessoal invadiu de vez. A justiça vinha mandava derrubar as casas. Eu tinha um comércio na esquina da rua Sete e perdemos tudo, meu marido ficou doido em virtude do prejuízo.

Zk – De quem era essa área?

Chiquita – Era do Antônio Vaqueiro, mas, como ele estava devendo 98 Mil Cruzeiros para o Banco do Brasil a dona Maria esposa dele, veio desmembrar pra vender cada lote por Cinco Mil Cruzeiros. Ela começou a marcar os terrenos da rua Um pra cá e quando deu seis horas da tarde isso aqui estava um campo, o povo desmatou tudo em poucas horas. Isso era mata bruta mesmo. Depois que mataram o Agenor de Carvalho liberam os terrenos. Essa é a história.

Zk – A senhora estava falando que trabalhou no hospital de Base. A senhora é formada em que?

Chiquita – Antes trabalhei na CERON até 1978, pedi as contas porque fui fazer um curso de parteira em Manaus. Quando inaugurou o hospital de Base já tinha também o curso de técnica em enfermagem e fui contratada para trabalhar no Centro Cirúrgico do HB.

Zk – E hoje?

Chiquita – Estou com 76 anos de idade, a única coisa que me atrapalha um pouco, é um problema que tenho no joelho direito, que não me impede de dançar Carimbo, Quadrilha, faço hidroginástica, faço minhas caminhadas, viajo com o grupo da terceira idade do Sesc.

Zk – O que a senhora tem a dizer aos quadrilheiros de hoje?

Chiquita – Que eles voltem a brincar a verdadeira quadrilha, hoje a brincadeira não tem nada a ver com quadrilha. Voltem a marcar na base do anarriê, caminho da roça, olha a chuva, essas coisa que até eram engraçadas, que são a verdadeira dança da quadrilha. Hoje as quadrilhas parecem escola de samba. Queria que você falasse com a direção do Flor do Maracujá para convidarem a nossa quadrilha do CCI para dançar na abertura do arraial este ano. Mandem o convite para a diretora Luci e o marcador Valter. Obrigada!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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