Segunda-feira, 25 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

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Gente de Opinião

Silvio Santos

Francisco Araújo da Silva


Francisco Araújo da Silva  - Gente de Opinião


Terça feira passada dia 1º de setembro, a recepcionista do Diário que trabalha no turno da tarde Elaine me liga, dizendo que uma pessoa estava na recepção querendo falar comigo. Para minha surpresa deparei com meu colega de primeira turma do Senai Francisco Araújo da Silva o Chico Paraíba. Após os cumprimentos de praxe, Chico falou sobre o motivo de sua visita. “Na realidade queria que você publicasse em sua coluna uma foto que tenho, onde estão os funcionário do gabinete da prefeitura no tempo que o seu Antônio Serpa do Amaral era prefeito”. Curioso, procurei saber detalhes sobre a foto e o Chico continuou a lembrar. “Na foto está além do prefeito Serpa do Amaral o seu Vitor Sadek que era o tesoureiro, professo Dorival França secretário geral (uma espécie de vice prefeito), Esmite Bento de Melo, dona Durvalina, Euro Tourinho, filha do seu Vitor Sadek Leinha que hoje é esposa do Dr. Odacir Soares e tantos outros funcionários e seus familiares”. A foto foi feita no balneário do Bate Estaca que a época era conhecido como Balneário Municipal. É claro que o Chico Paraíba também aparece na foto ao lado do recém falecido Jurandir Sena. Após esse relato, resolvi marcar uma entrevista com o Paraíba para o outro dia de manhã. Já na quarta feira, cheguei cedo à Banca de Revista do Chico que fica a rua D, Pedro II entre a João Pedro da Rocha e a Buenos Aires nas proximidades da rodoviária. Quem nos atendeu foi a esposa do Chico dona Maria Correia dos Santos Silva. Após alguns minutos chega o nosso entrevistado que havia ido se barbear para posar para as fotos da Ana Célia. 

A entrevista durou o resto da manhã, porque colado a Banca de Revista Chico está alugando um ponto de restaurante e de vez em quando chegava alguém interessado no ambiente. 

Juntos lembramos alguns fatos da Porto Velho da década de 1960 para cá. Acompanhe! 


E N T R E V I S T A 

Francisco Araújo da Silva  - Gente de OpiniãoZk – Como foi que você passou a ser conhecido como Chico Paraíba, já que nasceu no Rio Grande do Norte?
Chico Araújo
– Vejam bem, sou de Areia Branca Rio Grande do Norte.

Zk – E o apelido de Chico Paraíba?
Chico Araújo
– Acontece que eu estudava no Senai de Campina Grande (PB) e vim transferido pra cá, então a turma do Senai daqui, toda vez que se referia a minha pessoa dizia: “É o Chico da Paraíba” e o apelido pegou, até hoje atendo por Chico Paraíba.

Zk – Quantos anos você tinha quando veio para Porto Velho?
Chico Araújo
– Cheguei aqui em Porto Velho no dia 10 de agosto de 1960 e no dia 24 completei 15 anos.

Zk – Ao chegar aqui foi morar aonde?
Chico Araújo
- Fui morar na Arigolândia em frente aquela castanheira do aluizão na casa do velho Pedro Abílio.

Zk – E o seu Carlito teu pai?
Chico Araújo
– O papai veio pra cá em 1952 e nos trouxe e em 1954 retornamos para Campina Grande e o papai ficou. Ele sempre mandava dinheiro pra nós através do vovô, quando foi em 1960 a mamãe disse: “Vamo atrás do teu pai”. No dia 10 de agosto de 1960 desembarcamos do navio Lodo D’almada no pontão de nome Aripuanã que servia de cais de desembarque. Apesar de vir no departamento de 3ª classe dormindo em rede, não fazíamos parte da leva dos Arigós que vinham em grande quantidade naquele tempo.

Zk – Qual a diferença entre vocês e os “arigós”?
Chico Araújo
– Acontece que a gente vinha com endereço certo, pois meu pai já morava aqui há algum tempo e nós mesmo já tínhamos morado aqui. Isso quer dizer que não estávamos vindo como aventureiros. Já os Arigós vinham com passagem patrocinada geralmente pelo governo. Aqui chegando ficavam morando em alojamentos do governo até conseguirem emprego. Tinha um casarão da Madeira Mamoré que ficava ali entre o prédio do relógio e o Mercado Central, ou seja, no meio da rua José do Patrocínio cujo assoalho era bem alto e os arigós ficavam morando embaixo. Vale salientar que naquele tempo não tinha o Mercado Central o que funcionava no local, era a Feira Modelo. Tinha uma vila de casa em frente à feira na rua Farquar.

Zk – Vocês moraram ali na Farquar em frente à feira?
Chico Araújo
– Moramos. Foi em 1962 depois foi que fomos morar na Arigolândia.

Zk – Nome dos pais?
Chico Araújo
– Minha Mãe é Maria Araújo da Silva. Ela faleceu em 2007 e meu Pai Carlos Ferreira da Silva (já falecido). Minha mãe era cearense e meu pai riograndense

Zk – Seu Carlito como era conhecido seu pai, era Comunista juramentado. Fala sobre essa veia política dele?
Chico Araújo
– Era comunista radical. Ele era daqueles que se tinha alguma coisa sobrando tinha que dividir com alguém.

Zk – O que ele veio fazer aqui em Rondônia, aliás, quando ele veio pra cá ainda era Território do Guaporé?
Chico Araújo
– Ele era “marreteiro” e trazia miudezas do tipo sabonete, pasta, loção, perfumaria, leite de rosa e de colônia. Se fosse hoje seria camelô.

Zk – Depois que você se formou no Senai. Aliás, você se formou em que no Senai?
Chico Araújo
– Me formei Torneio Mecânico em 1962 sou da primeira turma do Senai de Porto Velho, fui trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré onde fiquei por cinco anos. Meu chefe imediato era o seu Geraldo Siqueira que atendia pelo apelido de Alumínio e o engenheiro encarregado da oficina era o seu Castanheira. Acontece que naquele tempo, a Madeira Mamoré contratava a gente como “extra” e por isso sai e entrei de novo no quadro da empresa umas cinco vezes.

Zk – E na prefeitura de Porto Velho?
Chico Araújo
– No último corte da Madeira Mamoré, minha irmã Sonia disse: “Chico, vamos pra prefeitura, lá tem um torno” e então fui pra lá, isso era o ano de 1967.

Zk – Você por muito tempo foi motorista do prefeito. Você era torneiro mecânico ou motorista?
Chico Araújo
– Iniciei como torneiro mecânico. Acontece que muitas vezes eu pedia para lavar o carro do Luiz Moura só para aprender a dirigir. Eu levava o Jeep do Luiz Moura para os Tanques onde hoje é o aeroporto Jorge Teixeira mais já foi aeroporto do Belmonte e ali juntamente com o Cabo Chico ficava aprendendo a dirigir. Depois que aprendi a dirigir foi o tempo que chegou umas caçambas para a prefeitura e me deram uma para trabalhar. O Dr. Hercules que era o prefeito na época, via que eu era cuidadoso com a caçamba e um dia quando o Meireles entrou de férias, chamou o chefe da garagem o Luiz Sena e disse: “Aquele rapaz magrinho, quero que ele venha falar comigo no gabinete”. Daquele dia em diante passei a ser o motorista do prefeito.

Zk – Você se lembra dos prefeitos que governaram Porto Velho durante o tempo que você foi funcionário municipal?
Chico Araújo
– Quando entrei o prefeito era o Dr. Gondin depois dele vieram vários prefeitos entre eles o Serpa do Amaral, Valter Paula de Sales, Dr. Jacó Athala, Carpintero, Sebastião Valladares, Dr. Luiz Gonzaga e o melhor de todos Chiquilito Erse. Sei que passei por uns trinta prefeitos aqui em Porto Velho enquanto estive na prefeitura.

Zk – Você se aposentou quando e com quantos anos de serviço?
Chico Araújo
– Me aposentei no dia 13 de novembro de 1990 com 33 anos de contribuição.

Zk – Agora vamos falar o Chico Paraíba o jogador de futebol?
Chico Araújo
– Quando cheguei aqui o primeiro time pelo qual joguei foi o Madureira do cabo Filho, de lá fui para o 2º quadro do Flamengo. Joguei muito tempo no Flamengo e uma época disse que ia para o Moto Clube e o seu Neco me deu uma geladeira a querosene para ficar no Flamengo.

Zk – Mas você terminou jogando no Moto Clube não foi?
Chico Araújo
– Foi! Acontece que o seu Jorge Fernandes fez o convite e eu aceitei me transferir para o Moto. Naquele tempo a gente tinha que cumprir o estágio de um ano quando trocava de clube e depois desse tempo, passei a atuar em jogos oficiais. Naquele tempo quem era o presidente do clube era o Mourão e quando a gente ganhava um jogo geralmente ganhava o “Bicho” uma gratificação em dinheiro pela vitória. Só que eu não aceitava o dinheiro.

Zk – Por quê?
Chico Araújo
– Devo lembrar eu o Mourão era dono de um comercio que vendia material de construção ali na rua Floriano Peixoto e toda vez que a gente ganhava, eu chegava com ele e dizia: Seu Mourão, não quero o “Bicho” não, peça pro Juvenal juntar umas sacas de cimento e deixar lá em casa. O cimento que eu pedia era de derrame dos sacos que vinham rasgados, daí o Juvenal chegava lá em casa com cinco, seis sacos de cimento.

Zk – E o que foi que você ganhou para deixar o Flamengo pelo Moto?
Chico Araújo
– O Mourão mandou fazer o muro da minha casa que ficava na Pinheiro Machado com a Elias Gorayeb.

Zk – Você tinha um irmão que também jogava no Moto. Qual a sua posição e a dele?
Chico Araújo
– Eu jogava de lateral direito. Meu irmão Toinho jogava de quarto zagueiro. Ele era o melhor quarto zageiro, era ele e o Valter Santos só que o Toinho jogava mais sério já o Valter jogava bem, mas, era muito estrela, quando alguém o ameaçava tirava o pé, já o Toinho juntava com tudo.

Zk – Vamos lembrar da Porto Velho do tempo da nossa juventude?
Chico Araújo
– Porto Velho tinha a Arigolândia, onde é o estádio Aluízio Ferreira era mata. A Castanheira já existia quando cheguei aqui em 1952 ela já era do mesmo tamanho que é hoje. Tinha o bairro Caiari. Descendo a Farquar no rumo da avendia 7 de Setembro, tinha o Paraíso e um outro barracão onde foi a administração da Madeira Mamoré; em frente a Feira Modelo (Mercado Central) tinha uma vila de casa aonde cheguei a morar, que ia até a 7 de Setembro, essas casas foram demolidas pelo interventor da EFMM Roberval Silva em 1966. Em frente ao Paraíso tinha o Clube do Ypiranga (de madeira), tinha a Feira Modelo (Mercado Central) o Salft onde hoje é o prédio da Ceron, tinha a rua do Coqueiro que hoje é a Euclides da Cunha. Morei também no Alto do Bode.

Zk – Como era o Alto do Bode?
Chico Araújo
– A Baixa da União era onde hoje está o Posto São Paulo o Shopping Popular e o Mercado do Agricultor que era o Campo da Baixa. Quando acabava o campo de futebol da Baixa começa o Alto do Bode, um morro muito alto que foi demolido pelo 5º BEC para abrir a rua Norte Sul hoje Rogério Weber.

Zk – Você chegou a jogar no campo da Baixa da União?
Chico Araújo
– Joguei pelo Cruzeiro.

Zk – Fala sobre nossos times de futebol daquele época?
Chico Araújo
– Joguei pelo Moto em 65, 66, até 1968. Joguei contra time de fora. De Manaus joguei contra todos. Apanhei e dei em todos também. Jogamos contra o Taubaté de São Paulo (2X2), perdemos pro Esporte Clube Bahia de 3 X 1. Eu marquei aquele ponta esquerda famoso o Babá, aí dei uma cacetada segura nele e ele me reclamou e eu apenas disse: “Tu vivi de futebol e eu trabalho na prefeitura”. Recentemente estava em Fortaleza na Casa do Bacu e ele estava lá e lembramos desse jogo e das porradas que dei nele. Do moto fui pro Cruzeiro e no Cruzeiro já com 33 anos de idade resolvi deixar de jogar profissionalmente. Depois disso vim jogar no Campo do 13 pelo Barcelona onde no dia 17 de setembro de 79 quebrei o Fêmur e daí pra cá não quis mais saber de bola.

Zk – Sabemos que você era daqueles zagueiros que não alisavam a canela dos atacantes. E os juizes de futebol?
Chico Araújo
– O juiz que eu mais temia era o Everaldo França, esse tinha moral mesmo. Já o Pirarucu marcava uma falta e se o jogador fosse pra cima dele, ele logo arranjava um jeito de compensar dando uma falta a favor com medo de apanhar.

Zk – Para encerrar. Quais das Porto Velho você gosta mais, a de antigamente ou de hoje?
Chico Araújo
– Lembro que na Porto Velho antiga a gente pra conseguir comprar um quilo de carne era uma verdadeira “guerra”. Meu pai mandava a gente ir até o Mercado Municipal pegar uma senha com um senhor chamado João que era da prefeitura. Era a Senha da Carne que dava direito a comprar um quilo de carne. Ta certo que você comprava banana a cinqüenta centavos o cacho, mas, não tinha a fartura de verdura e frutas que tem hoje. Verdura a gente encontrava no Japonês, porém era só cheiro verde, alface, couve, repolho e pronto. Agora a cidade ta cheia de supermercado com tudo quanto é de produto hortifrutigranjeiro.

Zk – Obrigado Chico?
Chico Araújo
– Deixa eu contar mais uma: Outro dia estava sentado na frente da minha banca de revista e um cidadão no bar ao lado, começou a reclamar dizendo que Porto Velho era uma cidade muito suja e coisa e tal. De repente o cara deu uma golada na cerveja, amassou o copo de plástico e jogou no meio da rua, aí não agüentei: Companheiro o senhor é de onde? Ele respondeu, do Paraná. Então quer dizer que o senhor veio do Paraná sujar Porto Velho? A cidade é suja porque porcos que nem você vem pra cá sujar. O cara fez uma cara de quem não gostou da observação juntou o copo e saiu resmungando, reclamando! Obrigado meu amigo por ter me dado a oportunidade de lembrar alguns episódios da minha vida. 

Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com   
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