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Gente de Opinião

Silvio Santos

FRANCISCO SOMBRA


Novamente conquistando
seu lugar ao sol
 

Francisco Sombra é daquelas pessoas destinadas a sempre estarem na crista da onda, seja fazendo sucesso ou passando por problemas pessoais. O sucesso acontece em virtude da sua veia artística musical, que desde sua adolescência entranhou na sua vida e até hoje mostra a capacidade e o potencial do músico, cantor e compositor que é o Sombra. Os problemas pessoais, por incrível que pareça, se transformaram em positivos já que após enfrentar problemas com depressão, adquirida em virtude de uma separação litigiosa após 21 anos de casamento. "Casei sabendo que minha mulher não me amava, ela gostava e gosta de mim como ser humano não como marido". O bom, se é que se pode classificar uma separação conjugal como boa, foi que Francisco Sombra reencontrou sua primeira namorada e tudo indica que em breve, os dois vão se casar. "Eu sempre amei minha primeira namorada, porém ela foi embora e nunca mais nos vimos, com o meu problema de depressão e depois de procurar seu endereço em tudo quanto foi meio, acabei por descobrir o endereço da mãe dela, fui bater no Rio Grande Sul onde ela mora e para minha surpresa, encontrei a namorada morando na casa da mãe dela e o que foi melhor, solteirinha da silva, viúva. "Após 30 anos reencontrei o meu verdadeiro amor e devemos nos casar em dezembro". Para completar a felicidade do agora recuperadíssimo Francisco Sombra, seus amigos Nazareno e André o incentivaram a gravar um CD com as músicas que o transformaram no rei da noite de Porto Velho durante alguns anos. "Gravei de tudo quanto é ritmo, inclusive tem duas composições minha e até os boleros do Altermar Dutra e muita MPB". O lançamento deve acontecer brevemente numa festa com a participação dos Anjos da Madrugada. A história do Francisco Sombra tem momentos de tristeza e momentos de muita felicidade. "Aos 14 anos de idade, já não tinha pai nem mãe". Vale lembrar que por muito tempo Francisco Sombra participou de movimentos religiosos na igreja católica onde atuou em várias pastorais, principalmente na Igreja de São Tiago na zona Leste no tempo do Padre Enzo. "O padre Enzo é meu pai espiritual". Vamos saber detalhadamente sobre a vida do Sombra acompanhando a entrevista que segue.

ENTREVISTA

Zk – Quer nos fazer um breve relato da sua biografia?

Sombra – Bem, meu nome mesmo é Francisco Sombra, nasci em Porto Velho em 1962, descendente de ferroviário da Madeira-Mamoré chegados aqui por volta de 1914. Musicalmente, acho que sou a exceção da família, quer dizer, meu pai tocava também, mas não assim diretamente.


Zk – Fala um pouco sobre seu pai?

Sombra – Na década de 70, segundo ele me contava, chegou a acompanhar ao violão o famoso seresteiro Nelson Gonçalves, e o pessoal da seresta que se apresentava. Acho que você chegou a conhecer meu pai, o Raimundo Albino Sombra que trabalhava no Serviço de Navegação do Madeira – SNM que depois se transformou em Enaro, meu pai tinha dois apelidos Parode e Saca-rolhas. Saca-rolhas, porque ele abria garrafa com o dente, apesar de ele não beber bebida alcoólica. Minha mãe, dona Maria da Conceição Sombra trabalhou no Hospital São José.


Zk – Vamos a mais detalhes sobre sua família?

Sombra – Na realidade eu perdi meus pais muito cedo. Minha mãe morreu em 1973, acontece que ela foi transferida do Hospital São José para o Abrigo Santa Clara, um hospital que só internava portadores de turbeculose e ela foi contaminada, naquele tempo tuberculose matava, não tinha cura. Após esse acontecimento, meu pai teve depressão, mas naquele tempo chamavam de tristeza e morreu em 1976 no Rio de Janeiro, onde foi se tratar, morreu de tristeza como diziam naquele tempo. Isso quer dizer que aos 14 anos eu fiquei sem ninguém.


Zk – E você?

Sombra – Eu estava com meu pai no Rio de Janeiro e por lá fiquei na casa de um tio que era advogado que morava na Urca, foi esse tio que acabou de me criar dos 14 aos 20 anos morei no Rio de Janeiro. Foi lá que comeceii a gostar realmente de música, quando digo gostar de música, quero dizer de cantar. Eu ia pro Cassino da Urca, por lá fiz amizade com os músicos e sempre tinha uma canja, eles (os músicos) diziam, bota o garoto pra cantar ele canta bem bolero.


Zk – Quando você veio do Rio para Porto Velho já foi como músico profissional?

Sombra – Não, eu era amador, na verdade aprendi a tocar violão em 1974, na época eu era apaixonado por uma garota gaúcha, filha de militar que servia na Amazônia, nessas alturas estava morando em Guajará-Mirim e como eu era "pereba" de bola (ruim), parti pra música para impressionar a menina. Aqui em Porto Velho fui calouro do programa Osmar Vilhena Show e em Guajará-Mirim do programa do José Ribamar Araújo. No Rio de Janeiro foi a mesma coisa, me destaquei como calouro estudantil e depois no Cassino da Urca. Já em Porto Velho através do Carlinhos do Vale que foi a primeira pessoa que me deu oportunidade de cantar profissional comecei a me destacar. Quando o presidente Figueiredo esteve aqui em 1983 eu tive a graça de cantar pra ele lá na Cachoeira de Samuel, ou melhor, na Usina.


Zk – Como aconteceu o convite?

Sombra – Acontece que o Carlinhos do Vale tinha um grupo musical de nome "Brilho do Sol" e esse grupo foi contratado para animar a festa onde o presidente estaria, então, eu pedi pro Carlinhos que me desse a oportunidade de cantar para o presidente, ele concordou e eu cantei algumas músicas do Zé Ramalho, Zé Geraldo e cantei também uma música do Nelson Gonçalves que o presidente gostou e comentou, "Rapaz, você canta bem, parece o Nelson Gonçalves, continue cantando que você vai longe". Foi aí que conheci também o governador Jorge Teixeira que desde esse dia, passou a me chamar de Roberto Carlos e vivia me perguntando quando eu iria gravar um disco.


Zk – E o que você respondia pra ele?

Sombra – Na realidade eu tinha o sonho de gravar um disco, mas, naquela época eu tinha técnica vocal. Depois foi que fui estudar na Escola de Música Jorge Andrade onde fiquei durante um ano e meio, a convite do Ronildo Carvalho, inclusive tive uma alegria muito grande porque depois de muito tempo, nos encontramos, eu estava cantando no Aeroporto onde me apresento todos os domingos durante o almoço e ele foi lá comigo e elogiou a maneira de como eu estava cantando. "Você está cantando muito bem". Isso dito por uma pessoa catedrática em música me dá uma alegria muito grande.


Zk – Já que você tocou no assunto, vamos falar da sua trajetória como cantor da noite?

Sombra – O Carlinhos do Vale me deu a oportunidade, na verdade o meu chefe na Odebrecht não gostava de música, mas o meu subchefe gostava, carioca e jogador do Bahia o Valter do Bahia gostava e muito, ele me incentivava. "Rapaz você canta bonito e vai ter que cantar mesmo" e me dispensava quando eu ia cantar na noite. Quando saí da Odebrecht fui trabalhar no Governo do Estado na Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo a Secet, meu padrinho de batismo Vitor Hugo foi quem me levou pra lá. Na realidade foi o Teixeirão naquele dia, lá em Samuel, que me incentivou ao dizer, "Você tem que ir pro governo na Secretaria de Cultura, lá você vai ter futuro, vai gravar o seu disco, o teu LP".


Zk – E o disco?

Sombra – Gravar continuava sendo apenas um sonho, eu via muita gente gravando como o Bentinho, Amâncio de Lima, Nonato do Cavaquinho e vários outros artistas e eu só naquele sonho. Na verdade meu disco só veio a sair em 1990 foi um LP (vinil). Na Praça é Nossa, um Projeto da Secet eu tive um apoio muito grande que não posso esquecer, dos Cobras do Forró principalmente do Zezinho, eles me mostraram para Porto Velho, tipo assim: "Olha, aqui é um cantor novo que está surgindo agora", eu comecei com eles em 1984. Quem também me deu muita força foi o pessoal do Júlio Yriarte o finado Zega grande guitarrista também, inclusive posso dizer que aprendi a tocar violão com o Zega. Foi o seguinte, eu cantava, mas não sabia tocar violão e o Pedro Nazareno que é meu amigo de infância, dizia, você tem que aprender a tocar violão para se acompanhar, você canta e não sabe nem o tom que esta cantando, diante desse "puxão de orelha", procurei o Zega e ele me ensinou o básico, depois aprimorei os conhecimentos com o Armandinho. Você tá vendo aí que foi uma trajetória de anos e anos para poder chegar no que sou hoje como músico.


Zk – Você chegou a ser crooner. Em quais bandas você cantou?

Sombra – Bem! Cantei na Banda Realce do José Borges, trabalhei com o Armadinho, aqui foi uma verdadeira escola, toquei com ele na pizzaria Roma, Mama Mia, Roda Viva. Armandinho deve estar hoje com uns 80 anos e ainda está em atividade tocando lá no Mirante Três, ele começou aos nove anos de idade e por muito tempo fez parte do cast da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, apesar de ser paraense ele acompanhou no Rio o Movimento do surgimento da Bossa Nova. Me jogaram lá pra tocar teclado pra ele, eu fazia as notas naturais ele fazia aquela coisa complicada, mesmo assim ele me deu o emprego. Quando tinha uma música que eu não conseguia acompanhar ele dizia, "deixa o teclado aí, pega o microfone que você cantando é melhor". Ele me dizia, "a nota não essa o acorde é assim. Você tá pensando que não, mas o público sabe quando a coisa não está certa. A gente tem a responsabilidade muito grande em mostrar o que é bom". Ele brigava muito comigo, mas pra mim o Armadinho é o meu pai musical.


Zk – Lembro no tempo que você era da Secet e estava no auge do sucesso e a mulherada dava em cima. Como você administrava o assédio?

Sombra – (achando graça). Na verdade administrei bem até demais, sempre tive um lado muito religioso, católico mesmo. Casamento pra mim tinha que ser pra toda vida. Aconteceu um fato comigo...


Zk – Que fato?

Sombra – Minha esposa, depois de vinte e um anos separou-se de mim e eu fiquei com problema de depressão, inclusive fiquei seis meses afastado do meu emprego, tomava remédio controlado, foi um tempo complicado.


Zk – Como você saiu dessa?

Sombra – O tenente Enéas e a família do Pedro Nazareno me deram uma força muito grande, me tiraram do fundo do poço. Teve o lado bom, depois de 30 anos encontrei minha primeira namora, a gaúcha que vem aqui em dezembro e se Deus quiser pode sair casamento.


Zk – Voltando à gravação do seu primeiro disco o LP. Quem fez a produção?

Sombra – O vinil foi em São Paulo, gravei numa subsidiária da gravadora Continental. Na verdade eu via muitos colegas cantores gravando, como o Ciro Rodrigues pra gente Cirilo, Nonato do Cavaquinho, a turma do Movimento Cabeça de Negro, eu era um cantor que dava canja em todo canto, posso dizer que sou um camarada que foi gerado por várias vertentes da música. Me considero um cara de sorte porque sempre tive pessoas que me incentivaram positivamente. Canto samba, canto bossa nova, canto rock cheguei a cantar, Legião Urbana, Cazuza com o Borges, com a Banda Skala Um, do Edmar.


Zk – Você chegou a cantar na Banda Status do Vovô?

Sombra – O Vovô foi o seguinte, tinha Alkbal que hoje é dono do Estúdio Verde que na época era o tecladista do Vovô isso em 1982, quando conheci o Vovô, eu era doido pra cantar na banda, mas não tinha oportunidade, o tempo passou gravei meu disco fiz sucesso e o sucesso parou. Eu já não conseguia nem contrato pra cantar na noite e nem tava gravando, foi aí que o Vovô me fez o convite "Vem cantar com a gente. Você sabe que aqui você sempre terá espaço como cantor". Pra mim foi uma grande alegria.


Zk – Vamos falar sobre esse CD que você está lançando?

Sombra – Na realidade, a produção desse CD foi uma idéia do Luiz Augusto, irmão do Nazareno e do tenente Enéias também. Aconteceu um problema muito sério, perdi o carro, família e várias coisas na minha vida. Aí os amigos me ajudaram "Você não perdeu tudo. Você não perdeu o talento, a voz e as músicas que você sabe tocar". Na realidade, me considero uma pessoa de sorte porque, espiritualmente Deus tem me dado muitos irmãos, aquilo que perdi da minha família, ganhei em irmãos, tenho centenas de irmãos na igreja, na política. Minha casa foi assaltada há algum tempo e eu ganhei um violão da minha esposa e do deputado Valverde. O violão custava Mil Reais e eu só tinha Quatrocentos, o deputado Valverde chegou e disse, não é por isso que você vai deixar de cantar na sua igreja e comprou o violão pra mim.


Zk – Qual o repertório do CD?

Sombra – Tem um pouco de tudo, tem bolero, bossa nova, samba, tem dor de cotovelo. Gravei Altermar Dutra, enfim um disco pra ouvir, curtir e dançar.


Zk – E a festa de lançamento?

Sombra – Estive conversando com o Nazareno dos Anjos da Madrugada e ele me prometeu que vai conversar com o Monteiro para bolar alguma coisa para que o lançamento do CD seja numa festa com a participação dos Anjos da Madrugada. Sem desconsiderar os outros grupos, é porque sou fã dos Anjos da Madrugada, pra mim eles são os Anjos que cantam.


Zk – Quanto custa o CD?

Sombra – Tô vendendo por cinco reais. São vinte músicas por cinco reais, tá realmente muito barato e mais, comprando o CD você vai entrar de graça na festa do lançamento. O telefone pra contato é 8406-7411 falar com Luiz Augusto, você me encontra também na Ares que fica na Almirante Barroso com as Nações Unidas e no Aeroporto onde toco todos os domingos na hora do almoço.

zekatraca@diariodaamazonia.com.br
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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