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Silvio Santos

Graci Rodrigues de Souza: Através da história da Dona Graça prestamos homenagem a todas as mães


Graci Rodrigues de Souza: Através da história da Dona Graça prestamos homenagem a todas as mães - Gente de Opinião

Você já experimentou almoçar uma cabeça de peixe tambaqui assada na brasa? Pois saiba que é uma iguaria muito gostosa. Sempre estamos degustando esse prato (eu, o fotografo Roni Carvalho a Ana Célia minha esposa e até a diretoria da Banda do Vai Quem Quer) na banca da Dona Graça no Mercado do Peixe que também é conhecido como Mercado do Cai N’água em Porto Velho. Sexta feira passada,  após saborearmos mais uma cabeça de tambaqui, resolvemos contar a história dessa amazonense de Lábrea que veio morar em Rondônia quando tinha apenas 18 anos de idade. Primeiro se embrenhou no Garimpo de Cassiterita e mais tarde já em Porto Velho, passou a trabalhar no Mercado do Cai N’água como empregada e agora como proprietária de um box onde comercializa principalmente CABEÇA DE TAMBAQUI assada na brasa.

Se você nunca provou essa iguaria, va ao Mercado do Peixe e prova, lá, todas as banqueiras são especialistas na preparação desse prato.

Por sermos freguês recomendamos a banca da Dona Graça.

Acompanhe a história dessa guerreira.

 

ENTREVISTA 

Zk – Qual seu nome?

Dona Graça – Meu nome é Graci Rodrigues de Souza, nasci em 1955 em Lábrea no estado do Amazonas. Quando completei 8 anos de idade, fui morar em Manaus onde fiquei até completar 18 anos.

Zk – Veio pra Rondônia quando?

Dona Graça – Quando completei 18 anos, vim para Rondônia e com meu marido fui trabalhar na Mineração Jacundá perto de Itapuã, na estrada que vai para Ariquemes. Trabalhei na Mineração Jacundá durante 13 anos como faxineira e meu marido trabalhava no garimpo de cassiterita. Ficamos lá até quando perdemos nosso filho e então resolvemos mudar para Porto Velho.

Zk – E Porto Velho?

Dona Graça – Quando vim morar em Porto Velho já estava com 30 anos. Ao chegar aqui, fui trabalhar como diarista no boxe da dona Didi. Ela vendia comida no Mercado do Cai N’água que antes de construírem esse Mercado do Peixe, funcionava mais perto da beira do rio. Quando ela resolveu ir embora pra Campo Grande, passou o ponto para o meu nome.

Zk – Fale sobre sua atividade naquele tempo como vendedora de comida no Mercado?

Dona Graça – Naquele tempo era bem melhor do que hoje, a gente trabalhava com todo tipo de comida, não era só o peixe. Vendia carne de boi, de porco, galinha, mocotó e outras iguarias, o prato de comida era baratinho mais a gente vendia muito mais que hoje.


'Acontece que há muito tempo, eu só trabalho com esse tipo de Tambaqui que vem da criação em viveiro, o Tambaqui de Rio é muito difícil de ser encontrado. Os pescadores quando pegam um Tambaqui no Rio vendem para os grandes restaurantes. Quando a gente encontra um Tambaqui de Rio não pode comprar, porque o preço do quilo é muito caro'.

Zk – Em sua opinião, naquele tempo tinha mais fartura de peixe do que hoje?

Dona Graça – Tinha sim! Hoje o que se ver mais nas bancas de venda de peixe é o Tambaqui, naquele tempo tinha fartura de Pacu, Sardinha, Piau, Jatuarana, Curimatã e outros.

Zk – Qual o Tambaqui mais gostoso, o de hoje, que é criado em viveiro, ou o daquele tempo, que vinha diretamente do Rio Madeira e seus afluentes?

Dona Graça – Pra ser sincera, acho o de hoje. Acontece que há muito tempo, eu só trabalho com esse tipo de Tambaqui que vem da criação em viveiro, o Tambaqui de Rio é muito difícil de ser encontrado nas Bancas de venda de peixe. Os pescadores quando pegam um Tambaqui no Rio vendem para os grandes restaurantes. Quando a gente encontra um Tambaqui de Rio não pode comprar, porque o preço do quilo é muito caro.

Zk – A senhora foi casada com quem?

Dona Graça – Casei quando tinha 18 anos e com meu primeiro marido tive três filhos Renê, Elaine e Lene. Casei novamente e tive mais quatro filhos dos quais existem apenas dois vivos. Esse segundo casamento durou 38 anos. Na realidade, tive 10 filhos, Três abortos e Sete de tempo. Hoje apenas cinco estão vivos. Três deles ficam aqui na Banca comigo a menina e os dois meninos.

Zk – Como foi que surgiu esse costume de aproveitar a cabeça do peixe, em especial do Tambaqui?

Dona Graça – Antigamente eu preparava sopa de legumes e carne de boi e com o tempo, os fregueses parecem, enjoaram da sopa, como eu cortava muita cabeça de Tambaqui e jogava fora, certo dia resolvi preparar caldo com a Cabeça do Tambaqui e o povo gostou e desde então não parei mais.

Zk – O que tenho notado, já que sou seu freguês há algum tempo, é que a senhora prepara mais a cabeça de Tambaqui assada na brasa?

Dona Graça – Desde o tempo que o Mercado funcionava mais na beira do Rio, que preparo peixe assado. Antigamente só quem fazia peixe assado nesse Mercado era eu. A prefeitura dava em cima de mim.

Zk – Por quê?

Dona Graça – Porque eu abria aos domingos e era proibido. Então passei a driblar os ficais da prefeitura. Chegava cedo e preparava a comida e arriava a porta do Box e ficava do lado de fora recebendo os clientes e os colocava pra dentro, assim os Ficais chegavam e não via que eu estava comercializado minha comida. Com o tempo eles deixaram de mão. Acontece que nosso ponto está em chamamento público porque me esqueci de renovar o contrato, espero que meu contrato seja renovado.

Zk – Quantos peixes Tambaqui a senhora prepara por dia?

Dona Graça – Uma média de dez peixes por dia. Cada peixe rende cinco (5) pratos o que quer dizer, que preparamos 50 pratos por dia. Às vezes sobra um ou dois, porém, na maioria das vezes vendemos tudo.

Zk – A senhora só trabalha com peixe ou tem outros pratos?

Dona Graça – Tem sim, minha filha prepara carne de panela, bife e galinha ao molho.


‘De vez em quando, tínhamos que juntar tudo e sair correndo, era o Rapa que estava chegando para prender nossas mercadorias, quando eles pegavam algum de nós colocava preso lá em cima do Mercado e só soltava quando a feira terminava. Apesar da perseguição a gente se divertia dando “Baroa” no Rapa’

Zk – No meu tempo de adolescência quando minha mãe tinha banca de venda de comida na feira livre que funcionava onde hoje é o Mercado Central, o peixe mais procurado para assar ou moquear, era Jatuarana?

Dona Graça – É isso mesmo, além da Jatuarana o povo consumia Jaraqui, Piau. O Tambaqui dominou o mercado porque a Jatuarana é muito cara. Outro dia fui comprar Pacu e me cobraram R$ 17 no quilo, é muito caro.

Zk – E os peixes de couro tipo dourado, filhote etc.?

Dona Graça – Eu não gosto, aliás, o único peixe de couro que ainda preparo é o Surubim. Dourado, Filhote, não preparo não! Primeiro porque o quilo do Dourado é muito caro, por isso fica difícil comercializar esse tipo de peixe nas bancas de comida do Mercado o Dourado não fica por menos de R$ 30 o prato.

Zk - Fale sobre sua luta para criar seus filhos, apesar da senhora ser casada, sempre trabalhou?

Dona Graça – Comecei a trabalhar com 8 anos de idade em Manaus. Eu vendia as coisas na feira junto com meu irmão era cheiro verde, limão, batata e cebola num tabuleiro. A gente chegava à feira de Manaus por volta das quatro horas da madrugada. A gente também vendia no Mercado Central de Manaus só que do lado de fora. De vez em quando, tínhamos que juntar tudo e sair correndo, era o Rapa que estava chegando para prender nossas mercadorias, quando eles pegavam algum de nós colocava preso lá em cima do Mercado e só soltava quando a feira terminava. Apesar da perseguição a gente se divertia dando “Baroa” no Rapa.

Zk – Os seus filhos lhe ajudam na Banca?

Dona Graça – Hoje quem fica aqui me ajudando é minha filha Lene que também é funcionária da prefeitura e meus filhos Daniel e Elissandro. Quem me ajuda também é minha nora, porém, como ela ficou grávida está dispensada, mas, eu pago a diária dela, Vamos dizer que ela está cumprindo licença maternidade. Essa turma me ajuda muito no dia-a-dia da banca.

Zk – Qual o segredo da sua receita ao preparar os tambaquis pra assar?

Dona Graça – A gente tempera com muito carinho e tudo que a gente faz com carinho fica gostoso. Se a gente fizer as coisas que a gente não gosta de fazer, fizer só por dinheiro, não sai bem. 

Zk – Que horas a senhora chega ao Mercado?

Dona Graça – Na maioria das vezes chego Seis e Meia. Acontece que moro do outro lado do Rio Madeira e tenho que andar todo dia, Um Quilometro e Meio a pé, da minha casa até a beira do Rio e meu filho me traz pra cá, isso é todo dia. Moro perto da comunidade São Domingos ou a Dois Quilômetros da Agro Vila. Antes eu morava do outro lado, bem em frente a Porto Velho aí veio à enchente e minha casa está lá aterrada até hoje. Perdi tudo que tinha com aquela cheia de 2014, foi uma tristeza. Até hoje não recebemos nenhuma indenização pela perda.

Zk – A senhora que é mãe guerreira, o que tem a dizer as jovens que hoje têm filhos muito cedo?

Dona Graça – Desejo que todas as mães sejam felizes, que Deus dê muitos anos de vida para todas. Que essas meninas pensem duas vezes, antes de decidir ser mãe. Ser Mãe é um negócio muito sério! 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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