Sábado, 20 de novembro de 2010 - 05h21
Grito de carnaval dos clubes sociais
As festas carnavalescas começavam em Porto Velho geralmente no mês de outubro. Ypiranga, Bancrévea, Danúbio Azul, Guaporé e Imperial promoviam os famosos “Grito de Carnaval”. A Rádio Difusora do Guaporé ZYY-20 anunciava esses bailes: “A diretoria do clube “tal”, convida seus associados para o 1º Grito de Carnaval que vai acontecer no próximo sábado a partir das 22h00”. O anuncio informava que o traje exigido era Fantasia ou Esporte Decente.
Vale salientar que nos clubes Ypiranga e Bancrévea não existia cobrança de ingresso, bastava o sócio estar em dia com a mensalidade que teria acesso ao baile.
No Danúbio Azul Bailante Clube, e Imperial era preciso comprar “Banca” (Mesa), apesar de também contarem com quadro de associados.
O fato interessante era que o Danúbio por ficar pertinho do Bancrévea. (O Bancrevea ficava na esquina da Carlos Gomes com a Campos Sales e o Danúbio na esquina da Tenreiro Aranha com a Carlos Gomes), e como as festas “Grito de Carnaval” aconteciam sempre no mesmo dia (sábado), os sócios (homens) do Bancrévea geralmente seringalistas, altos comerciantes e os considerados “categas” funcionários do Banco da Borracha, compravam “Banca” no Danúbio para suas amantes e de vez enquanto, alegando que iriam pegar um “vento” do lado de fora do clube, corriam até o Danúbio e ficavam alguns minutos com as “namoradas”, aliás, pagavam a conta e voltavam para suas esposas que estavam brincando carnaval no Bancrévea.
Os sócios do Ypiranga ficavam privados da proeza, porque o clube ficava longe de Danúbio e Guaporé, porém, a rapaziada solteira que morava no bairro Caiari era assídua freqüentadora das festas promovidas pelo seu Alumínio (Geraldo Siqueira) no clube Imperial (se fosse hoje seria na esquina da José de Alencar com a Almirante Barroso).
O Imperial também era conhecido como “Cai N’água” porque era um barracão de madeira construído sobre palafitas justamente porque no tempo do inverno (cheia), o local alagava e quando (era freqüente) acontecia briga entre os foliões, geralmente alguém era jogado pela janela e caia dentro d’água.
O Guaporé funcionava justamente no prédio ao lado onde hoje funciona a Rádio Boas Novas na José Bonifácio (a fachada é a mesma de quando funcionava como clube social) no bairro Olaria. João do Rato, Cabo Omar e outros sócios diretores, só liberavam a venda de “Banca” para família. O Guaporé era uma espécie de dissidência de alguns sócio do Danúbio que não concordavam que suas famílias se misturassem com mulheres de vida “duvidosa”. Em conseqüência disso, a rivalidade entre os blocos dos dois clubes era bastante acirrada, mais até do que a rivalidade entre os blocos de Bancrévea e Ypiranga.
Essa rivalidade era muito bem detectada durante as “Batalhas de Confetes” que aconteciam patrocinadas pela prefeitura municipal na Avenida Sete de Setembro a partir do mês de janeiro até o sábado magro, quando o Rei Momo desembarcava de uma Litorina na Estação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré.
A prostituta que fez sucesso no Bancrévea
Ninguém escapa das irreverências da juventude, principalmente quando esses jovens são os chamados “filinhos de papai” cuja mesada é “gorda”.
Lá pelos idos dos anos sessenta, numa festa de Réveillon do Bancrévea um jovem que havia chegado para passar férias com os pais, soube que na “Pensão” da Maria Eunice havia chegado uma prostituta muito bonita, gostosa de dar dó. Era uma morena baiana que estava “alisando” seringalistas, empresários comerciantes, e os funcionários categas do governo territorial e da Madeira Mamoré. Ao tempo que a noite tomava o dinheiro dos “ricos”, de dia, gastava com o jovem gigolô no banho do Três e Meio.
Acontece que a jovem morena aceitou participar de uma brincadeira armada por esses jovem aceitando o convite para ir ao Réveillon do Bancrévea.
O jovem levou a prostituta ao melhor salão de beleza da cidade, patrocinou a compra no Mundo Elegante de um vestido super luxuoso afinal de contas, naquele tempo só entrava em festa de Réveillon quem estivesse fantasiado ou em traje de gala.
Para os pais disse que iria levar para a festa uma aeromoça da Panair do Brasil que conhecera na viagem do Rio para Porto Velho e era uma moça muito educada, afinal de contas para ser aeromoça da Panair do Brasil tinha que ser culta.
Por volta da meia noite o jovem chegou ao Bancrévea e os irmãos “Mão Branca” porteiros do clube, abriram aquele sorriso cordial abrindo caminho para o casal. O Jazz Brasil atacou Zé Pereira e o baile virou festa carnavalesca.
Os pais do jovem iam de mesa em mesa dizendo que a acompanhante de seu filho era aeromoça da Panair do Brasil. Como mentira tem perna curta, mal deu uma hora da madrugada, chega um engraçadinho do Ypiranga e ao ver a Morena da Maria Eunice ao lado dos pais do “mentiroso”, já meio truviscado e sob efeito de lança perfume (naquele tempo podia), foi dizendo em voz alta: “Hei Baiana o que você está fazendo aqui? Cadê a Olga e a Madalena?” os pais do jovem então indagaram: “Você também veio no vôo que ela era aeromoça?”
– Que aeromoça que nada, isso é prostitua da Maria Eunice.
Aí o rebu foi formado com a diretoria expulsando todo mundo, filho, pai e prostitua e mais, o pai que era sócio além de pagar multa ficou impedido de entrar no clube por algumas semanas.
Depois dessa, só contando a história de Réveillon na qual o Rogério Weber e sua turma, aprontou no meio do salão.
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com
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