Tudo que acontece no carnaval de Porto Velho desde sua criação em 1907, até os dias de hoje, é influencia do carnaval do Rio de Janeiro ou do carnaval de Belém do Pará. Assim foi com a introdução das Batalhas de Confete que aconteciam entre o mês de novembro até o sábado magro no mês de fevereiro ou março.
A festa era organizada pela prefeitura municipal e geralmente, acontecia na Avenida Sete de Setembro. As Batalhas de Confete eram uma prévia dos desfiles oficiais, já que a prefeitura premiava os melhores blocos de cada Batalha. Assim, os blocos dos clubes sociais Imperial, Guaporé, Danúbio Azul Bailante Clube, Bancrévea, Ypiranga e as escolas de samba, Deixa Falar, O Triângulo Não Morreu e Diplomatas, levavam para essas apresentações o que tinham de melhor (as escolas de samba não participavam do concurso apenas se apresentavam). Lembro de grandes passistas de frevo como o Julio Cezar Pontes que concorria pelo Bancrévea e do Camarão que representava o Ypiranga, era páreo duro a disputa entre esses dois foliões, o público ficava aguardando as passagens dos blocos de Bancrévea e Ypiranga só para assistir as peripécias dos dois passistas.
Durante os sábados que antecipavam os dias de carnaval propriamente dito, a prefeitura armava o palanque e promovia as Batalhas de Confete. A população da cidade em massa prestigiava a realização do evento, que geralmente começava as 17h00 e terminava no máximo as 20h00.
A grande Batalha de Confete, acontecia no Sábado Magro de Carnaval, nesse dia todos os blocos e escolas de samba se reuniam a partir das três horas da tarde, na Estação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré para esperar Sua Majestade Rei Momo Primeiro e Único e sua Corte.
O Rei Momo embarcava na Vila de Santo Antônio numa Litorina toda decorada com motivos carnavalescos e chegava à estação de Porto Velho por volta das 17h00.
Da estação, Sua Majestade seguia para o palanque que era montado na calçada da Praça Rondon com a frente para a Avenida Sete de Setembro. Os blocos seguiam a pé a condução do Rei Momo (geralmente um Jeep), brincando carnaval ao som de suas orquestras. Ao chegar ao palanque o prefeito de Porto Velho passava oficialmente a Chave da Cidade para as mãos de Sua Majestade Rei Momo Primeiro e Único. Assim que assumia a cidade, Sua Majestade ordenava que o Arauto anunciasse as Leis que passariam a vigorar a partir daquele dia até a terça feira de carnaval.
Após essa solenidade o Rei mandava que começasse a última “Batalha de Confete” daquele carnaval e os foliões dos blocos, ao som de marchinhas e frevos pernambucanos, se esmeravam para mostrar o melhor.
As Batalhas de Confete aconteceram em Porto Velho, até o carnaval de 1960 quando o Rei Momo foi o empresário Emil Gorayeb.
Os desfiles das escolas de samba
Apesar dos blocos dos clubes sociais, dominarem os desfiles carnavalescos, nas décadas de quarenta, cinqüenta e parte da década de sessenta, Porto Velho conta com desfile de escola de samba desde o carnaval de 1946.. Segundo conta o Severino Alexandre da Silva "A escola de samba Deixa Falar do Bola Sete, desfilou pela primeira vez no carnaval de 1946". “No inicio da década de cinqüenta surge à escola de samba “O Triângulo Não Morreu” e em 1958 é a vez da escola de samba “Prova de Fogo” que no carnaval seguinte (1960), passou a ser chamada de” Universidade dos Diplomatas do Samba e hoje, é apenas "Os Diplomatas".. Os desfiles ainda eram na Presidente Dutra.
Curiosidades
Um fato interessante foi que, com a criação da “Diplomata", as duas escolas, "Triângulo" e "Deixa Falar" deixaram de desfilar, porque seus brincantes foram todos para a nova escola de samba. Isso fez com que a Diplomatas fosse à única escola de samba a se apresentar no carnaval de Porto Velho até 1964 quando surge a escola de samba "Pobres do Caiari".
A escola Pobres do Caiari surgiu exatamente, durante o desfile do carnaval de 1964 na Avenida Presidente Dutra, como bloco de sujo, daí o nome "Os Pobres do Caiari".
A Diplomatas do Samba dominou o carnaval de escola de samba durante dez anos. De 1959 a 1969 isso quer dizer, que ela foi à rainha da Presidente Dutra.
Deixa Falar a 1ª Escola de Samba
Eliezer Santos popularmente conhecido como Bola Sete, chegou a Porto Velho como Soldado da Borracha, justamente no mês de setembro de 1943, ano e mês em que o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto de criação do Território Federal do Guaporé.
Como Soldado da Borracha, Eliezer deveria, ao desembarcar no porto de Porto Velho, seguir para algum seringal, porém por se destacar entre seus companheiros, pois sabia ler e escrever, foi contratado para trabalhar no Hospital São José pelo governo territorial.
Ainda bem que ele não foi para os seringais, pois se isso acontecesse o folião portovelhense só iria assistir ao desfile de uma escola de samba a partir de 1950 quando surge a escola “O Triangulo Não Morreu”.
Bola Sete “malandro” dos bons, acostumado em sua terra natal a freqüentar as rodas de samba e desfilar durante o carnaval nessas agremiações, ao conhecer a “malandragem” de Porto Velho que freqüentava principalmente o Mocambo e a Vila Confusão, resolveu juntamente com outros boêmios e foliões, criar uma escola de samba. Foi do pensamento a realização do desejo em poucos dias e então criou a primeira escola de samba do então Território Federal do Guaporé a “Deixa Falar”.
Há alguns anos entrevistei o Porteiro, Severino Alexandre da Silva e ele contam o seguinte: “Eu estava servindo na terceira Cia de Fronteira em 1946. Era eu Antônio Leiteiro e outros que trabalhávamos no rancho, cortamos sacos de sarrapilha no fundo e do lado e fizemos a fantasia. Nascia ali o escola de samba “Deixa Falar”. O comandante ficou olhando. Tinha também o Alípio irmão do Bainha, o Preguinho apelido do Walter Bartolo, Jaime, Antônio Campo que era irmão do Cabeleira e o Inácio Campo pai; O Bola Sete era um dos baluartes e ainda tinha o Antonio Coxó e Eu com a Cobra”.
Curiosidades da Deixa Falar
Os brincantes da escola desfilavam dentro do famoso Cordão de Isolamento à frente ia o Bola Sete com uma Ma romba era o Baliza ou o Abre Alas.. Como declarou o Severino Porteiro um dos brincantes (o próprio Severino ou o Antônio Coxó posicionado) logo após o Bola Sete levava uma cobra jibóia no pescoço.
Apenas homens desfilavam na escola.
A fantasia geralmente era uma camiseta com a propaganda do Vermut Martini ou Cinzano.
Os instrumentos eram apenas Surdo, tamborins, pandeiros, ronca ronca (cuíca), agogô que era chamado de gangorra.
Os instrumentos de couro eram feitos pelos próprios brincantes e precisavam ser esquentados de vez em quando, por isso um dos brincantes era responsável pelos jornais que seriam queimados para esquentar os tambores.
BOLA SETE
Eliezer Santos popularmente conhecido como Bola Sete, chegou a Porto Velho como Soldado da Borracha, justamente no mês de setembro de 1943, ano e mês em que o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto de criação do Território Federal do Guaporé.
Como Soldado da Borracha, Eliezer deveria, ao desembarcar no porto de Porto Velho, seguir para algum seringal, porém por se destacar entre seus companheiros, pois sabia ler e escrever, foi contratado para trabalhar no Hospital São José pelo governo territorial.
Seu único filho Jorge Bola nos forneceu uma breve biografia: Eliezer Santos conhecido como Bola Sete, nasceu no dia 11 de agosto de 1923, no município de Itororó no estado da Bahia. Chegou a Porto Velho em setembro de 1943 como soldado da Borracha, trabalhou no Hospital São José/ foi jardineiro na praça Mal. Rondon Vendedor de bom-bom, boxer e lutador de Luta Livre criou a primeira academia de Boxe e Luta Livre do Território do Guaporé e foi o primeiro Cambista da cidade, como seus amigos gostavam de chamá-lo porque vendia bilhete da Loteria Federal e escrevia Jogo do Bicho. Precursor dos primeiros movimentos carnavalescos, além de ser criador do Movimento das Pastorinhas. Juntamente com amigos fundou a escola de samba “Deixa Falar” em 1946, a primeira escola de samba de Porto Velho e em conseqüência do Território do Guaporé; é considerado como um dos fundadores da escola de samba “Os Diplomatas do Samba” a escola do seu coração.
Bola Sete faleceu no hospital Prontocor aos 33 minutos do dia 13 de dezembro de 1985, no momento de seu passamento estavam no quarto os carnavalescos. Silvio Santos, Babá (Bola deu último suspiro nos braços do Babá), Manelão além do Dr. José Augusto.