Quinta-feira, 11 de outubro de 2018 - 07h03
Os ensaios da escola de samba começavam no mês de outubro, porém, durante o ano todo, Miguel e seus companheiros, se reuniam aos finais de semana, geralmente aos dias de sábado, para comer Panelada’
História do Carnaval em Porto Velho
Escola de samba O Triângulo Não Morreu – Adulto
A escola do Morro do Triângulo desfilou entre os anos de 1953 e 1960.
O
movimento carnavalesco quando nos referimos a desfile de escola de
samba, começa em Porto Velho no ano de 1946 com a escola “Deixa Falar”,
comandada pelo Bola Sete. Essa escola reinou sozinha como escola de
samba até o carnaval de 1953.
Segundo o músico aposentado pela
Banda de Música da Guarda do Território Federal do Guaporé/Rondônia,
Silvério do Carmo popularmente conhecido como Chore, além das
declarações do advogado José Cardoso filho de um dos fundadores da
escola. O Triângulo Não Morreu foi fundada no ano de 1952 e desfilou
pela primeira vez no carnaval de 1953. “O verdadeiro fundador, o número
UM, foi o saudoso tipógrafo do Alto Madeira Paulo Machado, tinha também o
José Cardoso, Miguel, Moacir e o Jia que era da cuíca (ronca, ronca),
Beca e o Moraes que tocava o Clarin” lembra Chore.
Na versão do
advogado José Cardoso Neto os fundadores da escola são além do Paulo
Machado, “Miguel que era guarda da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que
foi quem convidou o velho José Cardoso, Antônio da Mangueira que morava
na cabeça do morro, o Zé Marreca pai do artista plástico Nonato
Cavalcante (falecido), o Osmar que era um construtor que morava no morro
e o Cabo Fumaça Amo do Boi Bumbá Fortaleza.
Quem também deu
muita força foi o Doca Marinho, o policial Zeno, e mais alguns que não
me recordo no momento”. Cardoso lembra que o Jia foi quem inventou a
primeira cuíca lá no morro, era feita de couro de cobra, “enfim, era
dose pra leão fazer a cuíca, meu pai José Cardoso também era cuiqueiro”.
A
escola de samba ‘O Triângulo Não Morreu’ tem como mérito, ser a
primeira escola de samba de Porto Velho a aceitar mulheres em seu quadro
de brincantes. Assim, a esposa do sertanista Francisco Meirelles dona
Abgail que morava no “pé do morro”, oferecia aos brincantes, o famoso
“Leite de Tigre” uma batida muito gostosa preparada com a mistura de
álcool e leite condensado. “Além da Abgail outras mulheres participavam
Dona Guiomar que era minha mãe, dona Carmem mulher do Miguel, dona Nega
cunhada do Miguel, dona Nazaré que a gente chamava de Nazaré Macumbeira
que era baiana” recorda Zé Cardoso.
Foi também a escola de samba
do Morro do Triângulo a primeira a colocar na avenida as figuras da
Porta Estandarte e Porta Bandeira. “Minha irmã Ivonete foi a primeira
Porta Estandarte e a Rosinha filha da dona Petronila foi a Porta
Bandeira da escola”.
Chore lembra: “Como morava em frente à sede
da escola eu participava. Meu pai era integrante da batucada, ele tocava
o triângulo (instrumento). Tinha o famoso SURDO TREME TERRA que era
tocado pelo Miguel e pelo meu irmão Humberto” conta.
Por falar em
surdo Treme Terra, podemos dizer, que esse tipo de instrumento foi
inventado pelo Miguel. O TREME TERRA do Miguel era feito de BARRICA e
também era coberto de couro de cobra. Aliás, todos os instrumentos da
batucada da escola, eram coberto com couro de cobra. Surdo, tarol,
tamborim e cuíca. “Naquele tempo o couro era pregado na borda de um
quadrado de madeira e por isso tinha que ser esquentado de vez em
quando, para não perder a afinação” lembra Cardoso. Em consequência do
ritual do esquenta tambor, existia na escola, a figura do “CARREGADOR DE
JORNAL”. Essa pessoa em determinado momento do desfile, saia da Corda
de Isolamento, tocava fogo nos jornais e alguns batuqueiros esquentavam
seus tambores. “Não podia ser todos os batuqueiros para o desfile não
parar”.
O primeiro samba
Os ensaios da escola de samba
começavam no mês de outubro, porém, durante o ano todo, Miguel e seus
companheiros, se reuniam aos finais de semana, geralmente aos dias de
sábado, para comer “Panelada” (iguaria preparada com mocotó e as
vísceras do boi ou da vaca) e tocar samba. Durante essas paneladas os
sambistas da escola costumavam cantar sambas com letra de sua autoria,
mas, utilizando músicas de sambas do Rio de Janeiro.
“O primeiro
samba da escola nasceu assim: Sentou meu pai, eu muito abelhudo do lado,
(naquele tempo eu tinha 13 anos), Miguel, Doca, Valdemar, Agostinho e o
Black que era quem dava o tom no banjo. Aí nasceu o plágio de uma
música que parece que era da escola de samba Mangueira do Rio de
Janeiro.
Isso por que disseram que a escola não ia sair mais, que
tinha morrido e coisa e tal, porque só tinha cachaceiro, aquele negócio
todo. Então eles cantaram assim: “Quem foi que disse que eu não brinco
mais/Hoje o Triângulo já virou cartaz/Fala escola de samba lá do
morro/... É mais ou menos por aí, não me lembro da letra toda não. Sei
que no fim eles diziam que a escola não tinha saído no ano anterior,
porque os sambistas estavam de férias. O samba finalizava assim: ...”Que
os sambistas dessa escola/Estavam de férias também".
Silvério
lembra de um samba que foi feito pelo sambista Agostinho. Cuja letra
exaltava o palácio Presidente Vargas e outros prédios do centro da
cidade: “Salve o nosso grande palácio rosado/Que nunca se quebrou/Ele é o
prédio primeiro/Que fica na praça Getúlio Vargas/Porto Velho Hotel/Que
não quer ficar pra trás/Vai dando sempre suas festas de cartaz/Tem o
Tribunal de Justiça...”
Marise Castiel proíbe os ensaios
A
escola fazia sucesso e seus dirigentes eram considerados pelos
moradores do Morro do Triângulo, porém, em um determinado ano, a escola
de samba quase deixa de existir. “Acontece que o pessoal do morro fazia o
carnaval no pátio da escola Franklin Delano Roosevelt que até hoje tá
lá no morro. Aí a dona Marise Castiel que era Diretora de Educação
expulsou a gente de lá”. (Continua na próxima quinta feira)
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