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Silvio Santos

História do carnaval em Porto Velho - O Triângulo Não Morreu – Adulto


 
O
 movimento carnavalesco quando nos referimos a desfile de escola de samba, começa em Porto Velho no ano de 1946 com a escola “Deixa Falar”, comandada pelo Bola Sete. Essa escola reinou sozinha como escola de samba até o carnaval de 1953. Acontece que segundo o músico aposentado pela Banda de Música da Guarda do Território Federal do Guaporé/Rondônia, Silvério popularmente conhecido como Chore, além das declarações do advogado José Cardoso filho de um dos fundadores da escola. “O Triângulo Não Morreu” foi fundada no ano de 1952. “O verdadeiro fundador mesmo, o número UM, foi o saudoso Paulo Machado, tinha também o Cardoso, o Miguel, meu pai, o Moacir o Jia que era da cuíca (ronca, ronca), Beca e o Moraes que tocava o Clarin” lembra Chore.

Na versão do advogado José Cardoso Neto os fundadores da escola são além do Paulo Machado são; “Miguel que era guarda da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que foi quem convidou o velho Cardoso meu pai, o Antônio da Mangueira que morava na cabeça do morro, o Zé Marreca pai desse artista plástico Nonato Cavalcante, o Osmar que era um construtor que morava no morro e o Cabo Fumaça. Quem também deu muita força foi o Doca Marinho, o policial Zeno, o marceneiro Jia e mais alguns que não me recordo no momento”. Cardoso lembra que o Jia foi quem inventou a primeira cuíca lá no morro, era feita de couro de cobra, “enfim, era dose pra leão fazer a cuíca, meu pai também era cuiqueiro”.

A escola de samba ‘O Triângulo Não Morreu’ tem como mérito, ser a primeira escola de samba de Porto Velho a aceitar mulheres em seu desfile. Assim a esposa do sertanista Francisco Meirelles dona Abgail que morava no “pé do morro” oferecia aos brincantes o famoso “Leite de Tigre” uma batida muito gostosa preparada com a mistura de álcool e leite condensado. “Além da Abgail outras mulheres participavam Dona Guiomar que era minha mãe, dona Carmem mulher do Miguel, dona Nega cunhada do Miguel, dona Nazaré que a gente chamava de Nazaré Macumbeira que era baiana” recorda Zé Cardoso.

Foi também a escola de samba do Morro do Triângulo a primeira a colocar na avenida as figuras da Porta Estandarte e Porta Bandeira. “Minha irmã Ivonete foi a primeira Porta Estandarte e a Rosinha filha da dona Petronila foi a Porta Bandeira da escola”.

Chore lembra: “Como morava em frente à sede da escola eu participava. Meu pai era integrante da batucada, ele tocava o triângulo (instrumento). Tinha o famoso surdo treme terra que era batido pelo Miguel e pelo meu irmão Humberto.

Por falar em surdo treme terra, podemos dizer que esse tipo de instrumento foi inventado pelo Miguel. O treme terra do Miguel era feito de barrica e também era coberto de couro de cobra.Aliás todos os instrumentos da batucada da escola eram coberto com couro de cobra, surdo, tarol, tamborim e cuíca. “Naquele tempo o couro era pregado na borda de um quadrado de madeira e por isso tinha que ser esquentado de vez em quando, para não perder a afinação” lembra Cardoso. Em conseqüência do ritual do esquenta tambor, existia na escola, a figura do “carregador de jornal”. Essa pessoa em determinado momento do desfile, saia da Corda de Isolamento tocava fogo nos jornais e alguns batuqueiros esquentavam seus tambores. “Não podia ser todos os batuqueiros para o desfile não parar”.

 

O primeiro samba

Os ensaios da escola de samba começam no mês de outubro, porém, durante o ano todo, Miguel e seus companheiros, se reuniam aos finais de semana, geralmente aos dias de sábado, para comer “Panelada” (iguaria preparada com mocotó e as vísceras do boi ou da vaca) e tocar samba. Durante essas paneladas os sambistas da escola costumavam cantar sambas com letra de sua autoria, mas, utilizando músicas de sambas do Rio de Janeiro.

 “O primeiro samba da escola foi assim: Sentou meu pai, eu muito abelhudo do lado, (naquele tempo eu tinha 13 anos), Miguel, Doca, Valdemar, Agostinho e o Black que era quem dava o tom no banjo. Aí nasceu um plagio de uma música que parece que era da escola de samba Mangueira do Rio de Janeiro. Isso por que disseram que a escola não ia sair mais, que tinha morrido e coisa e tal, porque só tinha cachaceiro aquele negócio todo. Então eles cantaram assim: "Quem foi que disse que eu não brinco mais/Hoje o Triângulo já virou cartaz/Fala escola de samba lá do morro/. É mais ou menos por aí, não me lembro da letra toda não. Sei que no fim eles   diziam que a escola não tinha saído no ano anteriorporque os sambistas estavam de férias. O samba finalizava assim: ..."Que os sambistas dessa escola/Estavam de férias também".

Chore lembra-se de um samba que foi feito pelo sambista Agostinho. Cuja letra exaltava o palácio Presidente Vargas e outros prédios do centro da cidade: “Salve o nosso grande palácio rosado/Que nunca se quebrou/Ele é o prédio primeiro/Que fica na praça Getúlio Vargas/Porto Velho Hotel/Que não quer ficar pra trás/Vai dando sempre suas festas de cartaz/Tem o Tribunal de Justiça...”

 

Marise Castiel proíbe os ensaios

A escola fazia sucesso e seus dirigentes eram considerados pelos moradores do Morro do Triângulo, porém, em um determinado ano a escola de samba quase deixa de existir. “Acontece que o pessoal do morro fazia o carnaval no pátio da escola Franklin Delano Roosevelt que até hoje tá lá no morro. Aí a dona Marize Castiel que era Diretora de Educação expulsou a gente de lá, um dos caras que interferiu muito também se chamava Coronel Cesário que era o chefe de polícia. Foi então que o Doca Marinho construiu a puxada ao lado da taberna dele e nós passamos a ensaiar a escola de samba lá. Quando não os ensaios aconteciam no quintal da nossa casa, no quintal da casa do Miguel, quintal do Zé Marreca e no quintal da casa do seu Zé que é pai do João que teve uma lanchonete na Casa da Cultura era a mãe do João a dona Herotildes que era minha madrinha de fogueira, quem fazia o Leite de Tigre dos ensaios” conta Zé Cardoso.

Chore conta que em determinado ano, a namorada do Paulo Machado que passou a integrar a recém fundada “Diplomatas do Samba” espalhou na cidade que a escola do Triângulo não iria desfilar e então Paulo Machado compôs o samba “Lamento” cuja letra diz o seguinte: Lamento pelo que ouço dizer/Lamento se a minha escola não sair/Eu vou chorar se a minha escola não desfilar/Falaram que o Morro ia se acabar/Falaram que o Morro do Triângulo ia mudar/Foi grande o lamento dos filhos seus/Não mudou, não mudou/O Triângulo reviveu.

Os instrumentos da escola eram confeccionados pelo meu pai e o Jia que eram carpinteiros. A confecção era na Divisão de Obras do Governo Territorial que ficava na rua D. Pedro II em frente à Casa do Dr. Ary Pinheiro. Na realidade eles faziam apenas as caixas onde depois a gente pregava o couro de cobra. Depois passamos a utilizar couro de carneiro. Nos ensinaram que para se tirar o pelo do couro do carneiro tinha colocar na cal  por algum tempo e depois de curtido, a gente dava uma lixada e tava pronto para pregar nas caixinhas.

 

Fatos pitorescos do Triângulo

A escola de samba “O Triângulo Não Morreu” tinha características próprias, como ser uma das únicas no Brasil a se apresentar com instrumentos de sopro. “É pura verdade, saia o Manga Rosa no Trombone de Vara, João Miguel e Mourão no Sax, finado Moreira que era do Colégio D. Bosco na Corneta, tinha o outro Mourãozinho que tocava Clarineta, Carlos Sinfonte no Piston o finado Duca era o tocador de tarol dessa turma”, informa Cardoso. O interessante era que a maioria desses músicos não morava no Triângulo. “Acontece que a gente fazia uns ensaios aos sábados e domingos, porém, antes de começar o ensaio propriamente dito, a turma degustava uma baita Panelada feita pelo velho Cardoso, pelo Doca Marinho, dona Julia mulher do Doca e pela dona Carmem mulher do Miguel e esses músicos iam pra lá curtir a Panelada e beber as suas.

Outro faro pitoresco da escola era que o seu Cardoso tinha três tubos de ferro com um furo que ele chamava de ronqueira. O velho botava um na cabeça do Morro, um em frente da casa dele e a terceira uns cem metros adiante da casa, quando a escola ia sair as ronqeiras estouravam, os estopins tinham tamanhos de uma forma que quando a escola ia descendo, as ronqueiras estouravam anunciando que a escola estava descendo o Morro. “A gente vinha sambando pelo meio dos trilhos da ferrovia”.

Quem trouxe a idéia de colocar a famosa “Corda de Isolamento” foi Osmar que tinha passado um carnaval em Belém e por lá viu que os blocos usavam uma corda para isolar os brincantes do povo da rua e quando chegou aqui implantou o sistema da corda de isolamento na escola do Triângulo. Era um cabo com aproximadamente duas polegadas, a emenda era feita com arame. “Naquele tempo, como não tinha esse negócio de juizado de menores, entrava muito menino no meio da escola de samba, então a corda servia para impedir a invasão da garotada também, mesmo assim não tinha jeito. O desfile era na Presidente Dutra e não tinha asfalto era no paralelepípedo. Um cara que ajudou muito a escola foi o Jacinto Pimentel”.

A escola de samba “O Triângulo Não Morreu” desfilou pela última vez no carnaval de 1960.



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Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com  
 
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