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Silvio Santos

Histórias do Abidon Maravilha


Histórias do Abidon Maravilha  - Gente de Opinião

 Quem vê o cidadão Abidon Ferreira da Silva o popular Abidon Maravilha, jamais poderia pensar que o “Maravilha” do seu nome, no inicio, era um apelido pejorativo. “Acontece que fui um menino muito traquino e por isso, minha mãe me mandou para a Maravilha que era uma espécie de “prisão” que ficava do outro lado do Rio Madeira”. Ao entender que a vida de moleque travesso não o levaria a nada, Abidon passou a se dedicar a música transformando-se num dos cantores preferidos do programa “Osmar Vilhena Show”, que era apresentado todos os domingos na rádio Caiari. Em virtude de um acidente quando servia o Exército foi pra Reserva como Sargento e desde então, passou a se dedicar ao trabalho comunitário, principalmente no bairro Tancredo Neves onde criou a Associação do Bairro e já foi eleito três vezes presidente, além de fazer seus sucessores. “Isso começou no programa do Osmar, pois doava o cachê para os meninos do Belizário Pena”. Hoje além do trabalho comunitário Abidon continua cantando suas canções; “Não faço mais shows, porém quando dá vontade vou cantar lá no Paulinho do Posto São Paulo e na Seresta do Mercado Cultural”. É esse cidadão humilde que chegou a bater tambor no Batuque de Santa Bárbara que vamos conhecer melhor, através da entrevista que segue.

E N T R E V I S T A

 

Zk – Vamos falar da sua infância?

Abidon – Nasci aqui mesmo em Porto Velho há 67 anos. Meu pai Antônio Belarmino que morreu quando eu ainda era muito criança, foi carroceiro e minha mãe doméstica. Minha infância e adolescência foi vivida no bairro do Mocambo.

Zk – Qual a brincadeira da meninada do Mocambo naquela época?

Abidon – Tinha aquelas brigas entre os bairros e no Mocambo o xerife era eu.

Zk – Como eram as batalhas?

Abidon – Era na porrada mesmo, porém sem utilizar arma branca ou de fogo, era na base do mangará de banana e baladeira. Geralmente a gente atraia os adversários que na maioria das vezes, era a rapaziada do bairro Caiari, para dentro do cemitério dos Inocentes, naquele tempo o cemitério era cercado apenas com arame farpado. De noite eles chegavam e entravam pelo portão da Almirante Barroso e a gente ficava esperando dentro das covas, outra turma assim que eles entravam no cemitério, fechava o portão da Almirante e aí o cacete comia.

Zk – Quais os moradores do Mocambo naquela época?

Abidon – Tinha o velho Zé, Joana Marreteira, André, dona Guiomar mãe da Vanda e da Araci, Francinete, Antônio do Violão entre outros.

Zk – É verdade que você é parente da Mãe Esperança Rita a fundadora do Batuque de Santa Bárbara?

Abidon – Na realidade a Mãe Esperança criou minha irmã Amália e outro irmão meu o Clóvis inclusive levou os dois pra Belém. Quando o Batuque foi pro KM-1 hoje bairro Santa Bárbara minha mãe foi também, aliás, minha mãe fazia parte do Batuque. Apesar de não gostar muito daquilo, ainda cheguei a bater muito tambor no Santa Bárbara, bebia o chamado “mocororó” que aquela bebida servida na cuia. O negócio ali era meio brabo, tinha que respeitar.

Zk – Por que Abidon Maravilha?

Abidon – Muita gente pensa que o apelido tem a ver com aquele jogador de futebol Fio Maravilha. Não é não! Acontece que devido eu só viver brigando fui parar na “Maravilha”.

Zk – E o que era “Maravilha”?

Abidon – Maravilha era uma espécie prisão para crianças e adolescentes, que funcionava do outro lado do Rio Madeira, ali perto do porto da balsa pelo lado direito. Ali a gente trabalhava plantando verdura e outros produtos agrícolas, além de receber as devidas “correções”. Quando a criança era muito traquina, os pais costumavam ameaça-las dizendo: “Menino te ajeita se não te mando pra Maravilha”. Depois transferiram esse centro de correição para a BR-29 hoje BR 364 no quilometro 25 e ficou conhecido como “Pamos”, que por muito tempo foi administrado pelo saudoso Walter Bártolo.

Zk – E por que você foi parar na Maravilha?

Abidon – Pra falar a verdade, fui um menino muito traquino, vivia batendo nos outros, aprontando mesmo. Para fugir da polícia dormia fora de casa. Um dia sai de casa, mas minha mãe já tinha armado a arapuca, quando a polícia chegou pra me pegar, eu tinha 14 anos na época e então virei o cão. Era tão danado que até anzol usaram pra me pegar. As vezes me socava dentro da lama vestido num calção azul e a polícia passava e não me via. “Rapaz esse moleque entrou aqui, eu vi e cadê ele”, e eu dentro da lama.

Zk – Você estudou em quais colégios?

Abidon – Na Samaritana, Mutilo Braga e no colégio Rio Branco. Em virtude de um acidente os médicos recomendaram que eu parasse de estudar, porque ficava muito nervoso e em consequência agressivo.

Zk – E você continuou trabalhando em que?

Abidon – Fui servir o exército, mas sempre com esse problema de nervosismo e depois de alguns anos fui pra reserva como Sargento.

Zk – E o Abidon cantor surgiu quando?

Abidon – Lá no Mocambo aprendi a tocar pandeiro com um rapaz chamado Negrante depois na casa do seu Antônio do Violão sempre se reunia uma turma tocando violão, cavaquinho e entre os frequentadores tinha o Capote um violonista dos melhores, eu ficava ali prestando atenção nota por nota. Quando ele dava uma folguinha quando saia pra ir ao banheiro eu pegava o violão ficava treinando. Minha escola de música foi ali. Então comei a cantar e me acompanhar ao violão.

Zk – E a composição musical?

Abidon – Depois que aprendi a tocar violão me arrisquei a fazer música e criei minha primeira canção que foi “Procuro em Minha Mente” cuja letra diz: Procuro em minha mente/E não posso entender/Se alguém me ama de verdade/Como é que vou saber/Com isso não estou contente/Será que vou morrer inocente/Se isso eu não perceber...!”. Depois vieram outras músicas e os amigos começaram a me procurar para gravar as músicas deles, porque achavam que eu tinha voz boa.

Zk – Você chegou a cantar nos programas de auditória da época?

Abidon – Me apresentava no programa Osmar Vilhena Show como atração e não como calouro. Meu cachê eu doava todo para a entidade Belizário Pena.  Eu dizia no ar (o programa era transmitido pela rádio Caiari), esses 250 Cruzeiros, mando pras crianças do Belizário Pena.

Zk – Você chegou a gravar disco?

Abidon – Apesar do sucesso que fazia, não consegui gravar meu disco naquela época. O Osmar era o representante da CBS em Porto Velho e tentou convencer os diretores da gravadora a gravar comigo, mas, foi em vão. Mas no programa de auditório dele eu era bem considerado.

Zk – Naquele tempo quais os cantores que se apresentavam no Osmar Vilhena Show como atração?

Abidon – Tinha o S. Silva, Sancler, Jorge Andrade, Ana Amélia, Joaçaba e o Joel Silva entre outros. Além do programa do Osmar a gente cantava nas chamadas “Rádio Cipó” que naquele tempo o alto falante era chamado de “Corneta”, era eu e o S. Silva. Depois passei pro futebol.

Zk – Em qual time?

Abidon – Joguei no Esporte Clube Rondônia e depois fui para o Botafogo. Jogava de centro avante com o Eliezer. Fiquei um tempo em Guajará Mirim jogando pelo Pérola, Joguei na Bolívia como profissional. Joguei no Botafogo quando o time era respeitado, quando tinha o Rubinho e outros craques com Raimundão, Geraldão, Honorato e o Sabará.

Zk – Como cantor, você chegou a se apresentar fora de Porto Velho?

Abidon – A TV Rondônia quando inaugurou a TV Guajará nos levou para a inauguração e o resultado disso, foi que os bolivianos gostaram e terminei fazendo uma excursão por várias cidade bolivianas, chegando inclusive a Riberalta. O sucesso era: Numa tarde linda/Eu me lembro ainda/Do velho Cais Dourado...

Zk – Você me falou que tem umas músicas novas sobre a nossa história. Quais são?

Abidon – É verdade, o compositor Luizito me procurou solicitando que eu gravasse uma música dele: Este ano eu vou/Este ano eu vou/Mergulhar no Rio Madeira/Tirar ouro sim senhor/Primeiro vou ao Machado, Prainha e Ribeirão/Embaúba, Tamborete, Periquito, Ribeirão/Quando vier voltando passo no Caldeirão//... Quando o Rio encher/Bamburrado eu ei de estar/Aí venho para a cidade/Uma casa vou comprar/Presente pra minha nega/E um carro pra passear...

Zk – Outra?

Abidon – Tenho saudade do trem do Guaporé/Trem que levou eu e a minha mulher/Tenho saudade do trem do Guaporé/Que viajava na Madeira Mamoré/Tenho saudade do tempo que o trem corria/Levava a gente e trazia pra lá e pra cá/Queimando lenha e no trilho jogando brasa/Levando de casa em casa a alegria de chegar/O trem subia/O trem baixava/O trem corria/Mas, se atrasava/O trem caia/Nos levantava/Com dois dias/Ele chegava... Essa música é do Antônio Carneiro.

Zk – Hoje quem quiser fazer um show com a tua participação faz o que?

Abidon – Não estou mais fazendo show, canto de vez em quando em encontros com os amigos, canto as vezes lá no Paulinho do Posto São Paulo. Agora meu trabalho é mais social.

Zk – Pois é, fala desse trabalho comunitário?

Abidon – Trabalho junto à Associação do Bairro Tancredo Neves desde 1992, ajudando no que as pessoas precisam. Tive três mandatos diretos e já coloquei outros presidentes. Isso porque as pessoas confiam na gente. Já fui candidato a vereador bem votado.

Zk – Para encerrar?

Abidon – Que nossa juventude procure viver sempre em harmonia com a educação. Fui um moleque travesso e não aconselho ninguém fazer o que fiz. Graças a Deus me transformei nessa pessoa que preza pelo bem estar do próximo. Violência não dá camisa a ninguém. Obrigado!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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