Sábado, 15 de dezembro de 2007 - 09h18
O título dessa matéria, bem poderia ser, o artesão de Porto Velho que conquistou a galera do Boi-Bumbá Garantido de Parintins, ou ainda, o homem dos sete instrumentos. Qualquer um cairia muito bem no Ismael. Ismael escultor, técnico na fibra de vidro, soldador, marceneiro e decorador. Por amor, Ismael dedica mais tempo, criando alegorias para as escolas de samba de Porto Velho. "Comecei na Unidos do Nacional, fui para a Boto Verde e Rosa, fiz Diplomatas e hoje estou no Asfaltão, faço porque gosto". Na realidade, ele começou esse trabalho em Brasília cidade onde foi criado, "Tudo começou na Escola de Samba do Gama onde comecei como ajudante". Para Rondônia, Ismael veio atendendo o chamamento para "O novo eldorado brasileiro", aqui foi caminhoneiro, "Perdi meu caminhão ao me iludir com as promessas com um político". Quer conversar com uma pessoa que gosta de movimentos culturais? É só procurar o Ismael, ele freqüenta praticamente todos os eventos culturais de Porto Velho, não interessa qual o seguimento, lá está ele assistindo ou colaborando, antes com, sua querida esposa Rose com viveu durante 21 anos e só se separou por que ela faleceu. Os dois juntos, eram figuras carimbas nos eventos culturais da cidade. De feijoada de escola de samba a ensaios de blocos de trio elétrico, passando por apresentações de danças clássicas ou nos terreiros de candomblé e umbanda, não importa, o que vale para Ismael é participar, é está antenado nos movimentos culturais da cidade. Foi assim que participou da oficina ministrada pelo mestre Jair Mendes o homem que criou os movimentos dos personagens dos bumbás de Parintins e por se destacar, foi contratado pelo professor para trabalhar nas alegorias do Bumbá Garantido no festival de 2006, foi lá e ganhou o título junto com seu mestre. Hoje Ismael é considerado nosso melhor escultor em se tratando de grandes esculturas para escolas de samba ou blocos. Juntamente com o outro astro da escultura, Flávio Lacerda está terminando a escultura do Galo da Meia Noite que mede mais de Três Metros de Altura e quando estiver em cima do chassis, vai medir quatro metros e meio de altura. "Essa é a medida permitida em nossa cidade, se não, faríamos um Galo de 30 metros como é o Galo da Madrugada de Recife. Para fugir do meio da poeira de isopor, Ismael vai estar neste Domingo, 16, chegando como Papai Noel da cidade no campo do bairro Esperança da Comunidade. Vamos acompanhar a entrevista com o escultor, artesão e Papai Noel Ismael Barreto Neto.
E N T R E V I S T A
Zk – Você veio fazer o que em Rondônia?
Ismael Barreto – Sou nascido em Goiânia e criado em Brasília. Em 1986 vim para Rondônia do jeito que todo brasileiro veio na época, na tentativa de melhorar de vida já que todos falavam que aqui era o novo eldorado brasileiro. Vim gostei, casei com uma rondoniense e fiquei. Já fui caminhoneiro, trabalhei na antiga usina de leite Ouro Branco e como minha profissão mesmo, é Funileiro e Laminador em Fibra de Vidro ela exige um artista.
Zk – Isso quer dizer o que?
Ismael Barreto – Acontece que lá em Brasília tinha participado da SEG – Sociedade Esportiva do Gama que tinha uma escola de samba nas cores verde e branco e eu participava como brincante e ajudante como eles chamam lá. Como essa profissão exige trabalho em escultura, fui me aperfeiçoando e quando cheguei aqui vi que tinha espaço para o meu negócio, me entrosei com a turma do samba, do carnaval.
Zk –Você foi caminhoneiro por quanto tempo?
Ismael Barreto – Tive um caminhão 1113 trucado e com ele viajei esse Brasil todo. Trabalhei durante 15 anos batendo lavanca pelas BRs. Era o seguinte, acordava cedo e dormia tarde, fazia na faixa de mil quilômetros por dia quando a estrada era boa. Parei de trabalhar como caminhoneiro porque fui na conversa de um político e terminei perdendo meu caminhão.
Zk – Vamos falar sobre o trabalho do artesão no carnaval. Qual foi a primeira escola de samba que você trabalhou em Porto Velho?
Ismael Barreto – A primeira escola de samba que posso dizer que trabalhei propriamente dito, foi como Frete, o pessoal da escola de samba Unidos do Nacional bairro onde mora há mais de 20 anos, chegou lá em casa para fretar meu caminhão para levar umas alegorias para a Avenida e eu fui. No mesmo ano fiz o frete para a escola Boto Verde e Rosa que era uma escola muito querida aqui na cidade. Bom o presidente da nacional disse que não tinha dinheiro pra me pagar naquele dia e eu disse pra ele não esquentar a cabeça porque gostava também de carnaval, principalmente de escola de samba, inclusive a alegoria do nacional deu problema e eu consertei na avenida.
Zk – É verdade que você chegou a ser vice-presidente da Boto?
Ismael Barreto – Então, naquele carnaval me entrosei com o pessoal da Boto Verde e Rosa, e o Toni que era o presidente me convidou a participar da agremiação como Diretor de Patrimônio e terminei chegando a vice presidência.
Zk – Por que a escola Unidos do Nacional parou suas atividades?
Ismael Barreto – Má administração. Nós tínhamos um presidente com aquela mentalidade antiga de carnaval de achar que é dono da agremiação e pra gente não prolongar a conversa em termo da parte jurídica, ele simplesmente vendeu o patrimônio da escola e acabou com tudo.
Zk – E a Boto Verde e Rosa?
Ismael Barreto – Não posso nem dizer com tanta certeza, mas tudo indica que o presidente da Boto teve um problema financeiro muito grande. Acontece que ele tinha uma empresa responsável por todos os Pontos Telefônicos do estado de Rondônia e para montar esse esquema, ele investiu muito. Acontece que quando ele estava começando a recuperar o investimento a Telecom foi privatizada e ele não conseguiu renovar o contrato com a empresa que comprou a concessão, aí, endividado, ele se desgostou e foi embora daqui e a escola ficou sem direção.
Zk – E por que os demais diretores não assumiram a escola?
Ismael Barreto – Até que nós tentamos. Por duas vezes tentamos mas, tínhamos emprestado parte da nossa estrutura para uma outra agremiação e essas não nos devolveu e então ficou inviável a reativação da escola. Acontece que a Boto não morreu não. Todo mundo sabe que Boto é um bicho encantando e o nosso está encantando aí pelos rios, a qualquer momento ele pode se desencantar.
Zk – Tem uma parte sua que pouca gente conhece é o Ismael compositor de samba enredo. Quantos sambas você colocou na avenida?
Ismael Barreto – Tenho, inclusive o Nacional que era considerada pequena mas que não era pequena coisa nenhuma, pois chegamos a colocar na avenida mais de 600 brincantes na avenida, com 4 carros alegóricos, 120 batuqueiros era chamada pequena porque desfilava no Grupo de Acesso. Inclusive a escola do Nacional não tinha ninguém de fora do bairro, todos o brincante, costureiras, artesão, coreógrafos todos moravam no bairro. Ali fui campeão também como compositor. O samba contava a história do fim da madeira em Rondônia a degradação das nossas florestas. Um outro samba de nossa autoria chamava atenção para a preservação da água. A gente fazia o samba, desenhava e fazia as alegorias e botava na avenida e ganhava.
Zk – Como foi a história que vocês ganharam mais não levaram o título?
Ismael Barreto – Quando o Jaime Melo era o secretário da Semce ao terminar o carnaval veio pedir desculpa da gente, dizendo que nosso carnaval tinha sido o melhor porém infelizmente não ganhamos no "tapetão" mas para ele a nossa escola era a campeã. Nesse carnaval havíamos contratado o grande Jorge Struthos como carnavalesco e ele fez um carnaval muito bonito e ninguém, soube explicar perdemos o carnaval para a Armário Grande. Aliás isso acontecia sempre quando a escola do presidente da AESB estava no páreo. No ano seguinte nós fomos campeões de fato e de direito, foi quando levei para a escola o grande Mestre Bateria Luiz da Cuíca. Por coincidência quando abriram os envelopes o resultado foi empate, adivinha com qual escola? Acontece que o quesito desempate era a bateria e o Luiz havia recebido nota dez de todos os jurados e eles receberam apenas 8,5 ponto, então fomos proclamados campeões de fato e de direito. Tenho três sambas enredos gravados.
Zk – Que história e essa de que sua esposa tinha ciúmes das alegorias que você fazia?
Ismael Barreto – Pois é, infelizmente sou viúvo mas minha esposa enquanto viva sempre falava, "É, você passa o tempo alisando essas alegorias. Eu queria que você desse essa atenção era na cama comigo". Minha esposa foi torcedora da escola Pobres do Caiari por muito tempo, inclusive os irmão dela eram batuqueiros da Caiari na época da dona Marise Castiel. Na época a gente namorava e quando eu via aquelas alegorias na Avenida Farquar eu dizia pra ela, isso aí, essas alegorias eu sei fazer melhor e ela respondia, você diz isso porque quer me ganhar. Minha esposa era a Rosemary Roberta Amorim de Carvalho.
Zk – Com quem você aprendeu a arte de esculpir?
Ismael Barreto – Nessa parte de escultura, eu sou meio autodidata. Naquela época nas escolas do governo, pelo menos lá em Brasília, a gente tinha aula normal durante a semana e nos finais de semana a gente tinha aula de artes e de música e eu fazia artes, música eu fiz pouca aí tocava na banda da escola pra desfilar no dia 7 de Setembro. Inclusive sei trabalhar em torno de madeira, sei trabalhar com barro, forno e tudo, mas o resto mesmo foi por conta própria.
Zk – Chegando nos tempos atuais. Hoje você é considerado o artesão dos artesãos em termo de escultura em Porto Velho. Tem algum artesão responsável por essa evolução artística?
Ismael Barreto – A técnica do Isopor, a prefeitura de Porto Velho ofereceu um curso que foi ministrado pelo grande mestre de Parintins Jair Mendes o homem que desenvolveu toda a técnica de escultura econômica em isopor. Inclusive, tô fazendo um trabalho pro Galo da Meia Noite que se fosse fazer no estilo antigo eu teria que usar nove blocos de isopor enquanto o mesmo trabalho, usando a técnica do seu Jair foi feito com Um Bloco e Meio.
Zk – É verdade que você se destacou tanto nesse curso que o seu Jair te levou para Parintins?
Ismael Barreto – Durante a oficina ministrada por ele aqui em Porto Velho eu me destaquei dos demais alunos e ele pegou me convidou para trabalhar na equipe dele no Boi Garantido, fui e passei noventa e poucos dias lá e aprendi técnicas novas. Não é atoa que todos os grandes artistas que mexem com grandes alegorias vão para Parintins.
Zk – Você ajudou a escola Asfaltão a voltar para o Grupo Especial, como foi que aconteceu o convite?
Ismael Barreto – No carnaval de 2007 o Asfaltão voltou a desfilar e me fizeram um convite e eu aceitei. No Asfaltão usei a técnica nova que havia aprendido com seu Jair Mendes que é fazer grandes esculturas com pouco material, aí peguei um resto de isopor que tinha lá em casa e fiz o Tigre do Asfaltão saindo de uma caverna, depois construí o chassis em tempo recorde, acho que foi recorde do meu recorde foi essa carnaval do Asfaltão que comecei o trabalho na Sexta feira da semana anterior ao carnaval e Domingo de carnaval estava tudo pronto. Nove dias apenas.
Zk – E o trabalho nos grupos folclóricos?
Ismael Barreto – Tenho alguns trabalhos nos grupos folclóricos, inclusive no último Flor do Maracujá, trabalhamos, eu e o Flavio Lacerda que é outro grande artesão e escultor, no Boi-Bumbá Vencedor, inclusive este ano trabalhamos também para o Corre Campo no dia da apresentação deu problema com um artista que veio de fora. Nos condenamos essa prática de trazer gente fora. Não precisa, aqui nós temos bons artistas e a turma teima em trazer gente de fora. Já trabalhei também para o Diamante Negro, Az de Ouro e Quadrilhas fiz um trabalho pro Severino, acho que é isso, as Quadrilhas é um trabalho mais reservado.
Zk – E fora do carnaval e do folclore?
Ismael Barreto – A gente não vive só de carnaval. A gente vive nos demais meses do ano fazendo trabalho de cenário para peças teatrais, já fiz vários trabalhos pro Chicão do Imaginário. Agora mesmo, eu e o Flávio fizemos um trabalho para a Opus Balet. Estamos desenvolvendo um trabalho que foi encomendado ao nosso amigo Edson Caula presidente do Galo da Meia Noite e nós estamos executando. É uma cenário de natalino trabalhado em ferro vazado com aquelas luzinhas de natal. Esse trabalho vai ficar em frente ao Ministério Público na Rua Jamari é um Presépio cujo personagens vão ser todos em tamanho natural de 1,70m e as casas com 3 metros de altura.
Zk – Fala como é que vai ser a alegoria do Galo da Meia Noite que você e o Flávio Lacerda estão fazendo?
Ismael Barreto – O presidente do Galo da Meia Noite o Caula é um empreendedor que eu admiro. Ele veio com idéia e perguntou se dava pra fazer e isso aconteceu ainda em novembro, você vê que estamos no começo de dezembro e a alegoria está quase toda pronta. Ele mandou vir de Manaus o material Isopor na espessura adequada e nos arranjou um bibelozinho de louça.
Zk – Pra que serve esse bibelô?
Ismael Barreto – O bibelô é uma galo em miniatura e dele, usando a matemática, proporção a gente reproduz usando a escala no tamanho que a gente quer ou que o dono do trabalho quer. Muita gente vem aqui no barracão da Caiari ver o trabalho que estamos fazendo e todos são unânimes em afirmar que o trabalho está ficando bonito. Isso enche nosso ego é claro. A escultura está com 3,5 mts de altura e quando colocarmos no chassis vai ficar com 4,5 mts que é o limite permitido em nossa cidade.
Zk – Agora estamos em pleno Natal. É verdade que você é o Papai Noel Oficial da cidade de Porto Velho?
Ismael Barreto – Esse negócio de Papai Noel foi até engraçado. Ano passado uma empresa de telefone contratou nosso artista Young Blood que agora está morando em Manaus e nós fizemos esse trabalho para a empresa e a barba que a gente usava era postiça, inclusive tenho foto de um dia que eu não pude ir a minha esposa Rose foi vestida de Papai Noel e deu tudo certo. Essa empresa disse que daria prioridade para este ano de 2008 melhoria inclusive o cachê para quem se apresentasse com a barba natural e então deixei a barba crescer desde de dezembro.
Zk – E o papai Noel da Cidade?
Ismael Barreto – Como o Young não está na cidade eu fui convidado pelos dirigentes da Fundação Cultural do Município de Porto Velho para ser o Papai Noel da Cidade e neste Domingo, 16 estarei participando da chegada do Papai Noel lá no Campo do Esperança da Comunidade.
Zk – Pra encerrar. Você vai fazer qual escola de samba em 2008?
Ismael Barreto – Vou trabalhar de novo pro Asfaltão, de acordo com o carnavalesco da escola Ariel Argobe serão 4 carros alegorias o Abre Alas mais Três Carros do enredo. Se as outras escolas não se acordarem vamos ser campeões.
Zk – Endereço para contato?
Ismael Barreto – Decoração cenário, escultura, tudo isso a gente faz é só ligar para 9971 – 2323 ou vai contato pelo e-mail ismaelbneves@gmail.com
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