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Gente de Opinião

Silvio Santos

Joanilce Guimarães Caniné


A Joá do Joá Palace Hotel

Joanilce Guimarães Caniné - Gente de Opinião
Porto Velho recebeu nos últimos dias do mês de junho, a visita ilustre da Joanilce Guimarães Caniné ou simplesmente Joá, que juntamente com sua amiga e "irmã" Izabel vieram rever amigos e matar saudades da "terrinha". Ao ser informado que a Joá estava em Porto Velho procuramos saber do endereço onde ela estava para bater um papo sobre a Porto Velho do tempo da Varanda Tropical do Porto Velho Hotel da Boate Ambicatu e da Boate do Joá Palace Hotel. Nosso amigo e colaborador Ivo Feitosa foi quem nos levou até a casa da Nelze Guimarães no bairro Caiari, onde a Joá estava hospedada. Praticamente durante uma manhã ficamos recordando a Porto Velho dos anos 60 e 70. Vale salientar que a Joá já é avó, e mesmo assim se mantém em forma, conservada, vamos dizer na linguajem da juventude de hoje, "É uma avó sarada". "O Luiz Tourinho e o Euro estiveram no Rio, inclusive o aniversário de 80 anos do Euro foi festejado lá e na festa de aniversário o Euro me disse: olha a Maria faz 80 anos em junho e eu brincando disse, eu vou nessa festa. Tempos depois, já agora perto de junho, o Luiz me ligou perguntando seu eu vinha ou não. Foi então que falei, Bel vamos! E a Bel: Ah! mas tem cachorrinho, tem não sei o que, tem netas, aquelas coisas que a gente vai se prendendo e eu disse: não, pois nós vamos aí ela lembrou, a tia Nelze faz aniversário também, a Celene filha do Luiz que é minha afilhada também. Em tão aproveitamos esse pacote de festas e aqui estamos". Em tempo de discussão sobre a data do nascimento da cidade de Porto Velho, nada mais salutar do que bater um papo com alguém que viveu os anos dourados da nossa cidade. Filha da "revolucionária" Nilce Guimarães a mulher que criou a Varanda Tropical do Porto Velho Hotel e depois montou o Joá Palace Hotel, cuja boate também ficou famosa. Joá é filha do professor Nélio Guimarães e acima de tudo, amiga de muita gente. A Joanilce ou simplesmente Joá saiu da escola de samba Diplomatas do Samba de Porto Velho e foi ser campeã pela Vila Izabel do Rio de Janeiro. Joá a porto-velhense que graças à altitude escapou de nascer na Bolívia para nascer no Rio de Janeiro. Joá que após 15 anos sem nos visitar chega e diz que a cidade está bonita, mas precisa de mais incentivo por parte dos governos municipal e estadual.
Aliás quando ela esteve aqui há 15 anos, e a vimos na Banda do Vai Quem Quer nossa intenção era entevistá-la. Acontece que quando a procuramos ela já havia retornado para o Rio de Janeiro. Dessa vez, mesmo com todos os compromissos do Flor do Maracujá não perdemos a oportunidade e, como não somos egoístas, aí vai a conversa que tivemos com a Joá quando de sua visita a Porto Velho no final do mês de junho.

E N T R E V I S T A
Zk – Quanto tempo fora de Porto Velho?
Joá – Bom, eu já moro no Rio de Janeiro há 28 anos, mas estou sem vir aqui 15 anos. Tava morta de saudades dos amigos e da terrinha que a gente não esquece.

Zk – Após quinze anos, como você vê a cidade?
Joá – Acho que cresceu bastante, porém, acho que falta mais incentivo do governo, as pessoas que estão aqui, estão crescendo mesmo a toque de caixa. Apenas acho que o governo estadual e municipal deveriam dar mais incentivo às pessoas interessadas em vir montar empresas aqui.

Zk – Vamos realmente partir para o lado da recordação. Antes de a sua família arrendar o Porto Velho Hotel, morava aonde?
Joá – A gente morava ali na D. Pedro II numa daquelas duas casas conjugadas que ainda hoje existem ao lado do Barão do Solimões. Por falar em Barão do Solimões, foi no Barão que fiz meu primário tenho boas recordações daquela época.

Zk – Já que você falou em primário. Como foi sua infância?
Joá – Tive uma infância como muito pouca gente, com pais maravilhosos, grandes amigos, uma família linda. Eu sou muito feliz. Infelizmente perdi meu marido há quatro anos e minha mãe e meu pai que eram assim, muitos lindos, muitos queridos. Perdi minha mãe há dois anos e meu pai vai fazer um ano agora. A vida continua eles foram mais vieram os netos e a vida vai se desenvolvendo.

Zk – Você lembra como foi que seus pais se tornaram arrendatários do Porto Velho Hotel?
Joá – Naquela época o Hotel era arrendado e minha mãe recebeu um convite. O Hotel na época estava muito acabado, muito desorganizado e você conhece a Nilce Guimarães, uma mulher empreendedora, de fibra, foi lá e fez uma reviravolta naquele Hotel que ficou lindo, maravilhoso e transformou no point da cidade e ela ficou lá por muitos anos. Depois, em virtude de política, perseguição, ela saiu de lá e montou o Joá Palace Hotel, que também passou a ser sucesso e o Hotel que ela deixou, o Porto Velho Hotel acabou, porque depois dela, ninguém mais se firmou ali.

Zk – Vamos continuar falando sobre dona Nilce Guimarães no Porto Velho Hotel, de suas inovações, dos empreendimentos que modificaram o comportamento social da cidade naquela época?
Joá – Ela criou a famosa Varanda Tropical, ponto de encontro de amigos e empresários. Os amigos Arici Bilóia, Euro Tourinho aquele pessoal todo ia pra lá ouvi o Conjunto Bossa Nova.

Zk – Você lembra dos artistas que se apresentaram na Varanda Tropical?
Joá – Miltinho, Cauby Peixoto, Bienvenido Granda, Trio Yrakitan, Orlando Dias, Wanderley Cardoso, Jerry Adrianni, Agnaldo Timóteo que passou mais de 15 dias hospedado lá esperando vôo pro Rio de Janeiro, enfim, os que não eram contratados para cantar na Varanda Tropical, ficavam hospedados no Hotel e assim, praticamente todos os artistas que por aqui passaram naquela época, passaram pelo Porto Velho Hotel. Foi uma época de ouro. Morei no Porto Velho Hotel dos 14 aos 19 anos. A festa dos meus 15 anos foi lá.

Zk – Por falar em 15 anos de idade. A Boate Ambicatu foi uma criação sua ou da sua Mãe?
Joá – Foi da Mãe, é lógico, é claro que demos alguns palpites, mas a idéia central foi dela. Na realidade, a Ambicatu era um espaço voltado para a juventude, já que a Varanda Tropical era mais para a turma madura, vamos dizer assim, enquanto na Varanda o ritmo que predominava era a Bossa Nova e as canções românticas da época, na Ambicatu o som era mais da Jovem Guarda, vamos dizer que se fosse hoje a Ambicatu seria uma discoteca.

Zk – Depois de mais de cinco anos administrando o Porto Velho Hotel, sua mãe resolveu montar seu próprio hotel e criou o Joá Palace Hotel. Fala sobre esse empreendimento?
Joá – Pois é, a mamãe saiu do Porto Velho Hotel e fez o Joá na José de Alencar. Agora mesmo, ontem (quinta-feira passada) fui ver, entrei no prédio e tive tantas recordações, fui onde era meu quarto a boate, tá lindo o prédio onde foi o Joá, uma casa de móveis de muito bom gosto.

Zk – Quem era a tua turma, as amigas que você saía?
Joá – Tinha a Sônia Castiel, a Antônia Lima, Hugo Motta, Inez Maria, a Noemia, as filhas do Milton, Lindomar, essa turma aqui do Caiari, eram muitas que fica difícil lembrar o nome de todas, eu sempre fui muito popular e sempre gostei de ter muitos amigos, eu me dava com pessoas de todas as classes sociais, nunca tive essa coisa... A Elza do Carlito.

Zk – Fala para nossos leitores sobre a vida social de Porto Velho naquela época?
Joá – Porto Velho tinha uma vida social muito ativa. O Bancrévea Clube dava festa até pela parte da manhã, eram as famosas manhãs de sol do Bancrévea, certa vez eu ganhei o concurso de dança de roque e o meu par foi o Chiquilito. As festas juninas nos clubes, Ypiranga e Bancrévea eram maravilhosas.

Zk – E a Joanilce Rainha da Escola Diplomatas de Samba. Como foi que aconteceu?
Joá – Foi lindo! Eu estava noiva do Zé Maurício na época e saí de rainha linda e maravilhosa, foi um espetáculo. O enredo era sobre a Lei Áurea e eu representava a Princesa Izabel, já pensou.

Zk – Por falar em desfile de escola de samba, a Varanda do Porto Velho Hotel era uma espécie de camarote vip quando os desfiles carnavalescos aconteciam na Presidente Dutra. Você gostava mais de apreciar os desfiles da Varanda ou desfilar na escola de samba?
Joá – Era isso mesmo, no dia dos desfiles dos blocos e das escolas de samba a Varanda do Hotel ficava lotada, a vista era privilegiada porque a Varanda ficava no alto. Pra mim tanto fazia estar desfilando na escola ou ficar na varanda do hotel, sempre dava um jeito para me divertir.

Zk – Você foi a responsável pela mudança dos seus pais para o Rio de Janeiro?
Joá – Eu casei e a gente foi de férias ao Rio e lá ele recebeu uma proposta para abrir uma empresa de geologia, de sondagem e como eu já tinha uma vez empatado ele de ir pra Minas Gerais aí eu falei: gente, dessa vez não é possível, toda vez que ele quer ir prum lugar eu digo não, porque sou muito pegada com minha mãe com meu pai essas coisas, resolvi topar o desafio e nos mudamos pro Rio de Janeiro. Aí minha mãe, apaixonada, juntamente com meu pai, acabou com o Joá e foi embora atrás da gente.

Zk – E a Izabel está com você desde quando?
Joá – A Izabel é meu anjo da guarda. Ela foi fundamental na vida da minha mãe e do meu pai, da nossa família.

Zk – Fala sobre seu pai o professor Nélio Guimarães?
Joá - Meu pai pertenceu ao quadro da Guarda Territorial, exerceu muitos cargos no governo, foi secretário de Segurança na época do governador Lutz da Cunha Menezes; trabalhou com o Marques Henrique também. Certa vez...

Zk – Certa vez aconteceu o que?
Joá – A mamãe chegou com Coronel Lutz e pediu para ele tirar o papai da secretaria de Segurança. "Ah Coronel vê se o senhor tira o Nélio, porque ele é filho da terra e acontecem casos com os filhos dos amigos dele...". Acontece que meu pai era muito caxias e quando alguém tava errado não tinha amizade que desse jeito – O coronel respondeu pra minha mãe, "Tá bom Nilce, liga lá pra Brasília e se tu conseguir me tirar do governo o Nélio sai". A mamãe saiu sorrindo do gabinete dele.

Zk – Ele era professor mesmo?
Joá – Ele se formou na escola do Exército no Rio de Janeiro, acho que na época ele era o único professor de Educação Física formado que tinha aqui. Tinha o Câmara Leme que era muito amigo dele do time de basquete. Por sinal, aquele time era ótimo, só tinha baixinho, mas jogavam bem pra caramba.

Zk – Por falar em professor de educação física, nos desfiles da Semana da Pátria no dia 7 de Setembro as escolas colocavam à frente das bandas as balizas. Você foi baliza?
Joá – Agora mesmo, encontrei uma senhora e ela virou pra mim e perguntou: você não é a Joá? Isso era uma capeta como Baliza, e eu saí sorrindo. Fui baliza dede o jardim da infância até o último curso que fiz aqui que foi o de contabilidade. Eu me formei na época com o Ciro Pinheiro, Tarsila Castro, Adelaide Maloney, Haroldo Leite todo mundo era do Colégio Estudo e Trabalho, que funcionava no prédio do Barão do Solimões.

Zk – É verdade que você foi jogadora de futebol?
Joá – Rapaz, o primeiro time de futebol feminino aqui de Porto Velho eu fazia parte, jogava como ponta direita. A Ursula Maloney jogava também.

Zk – Na época do Porto Velho Hotel os aviões pernoitavam aqui. Quais a companhias áreas que existiam?
Joá – Existia a Paniar do Brasil, Cruzeiro do Sul, Paraense e depois chegou a Vasp e a FAB.

Zk – E as meninas namoradeiras que iam ao hotel só para paquerar os pilotos e comissários dos aviões?
Joá – Tu não me compromete! Acontece que naquele tempo os homens disponíveis aqui em Porto Velho eram poucos e os homens novos que chegavam, claro que nós garotas jovens adolescentes queríamos namorar e eu inclusive era namoradeirinha mesmo. Eu fiz tudo que tinha direito. Só me arrependo do que não fiz. O que fiz, foi tudo muito bem feito.

Zk – Como foi que você conseguiu conquistar o Maurício?
Joá – Foi assim, na época chegaram 11 geólogos e um engenheiro de mina, isso em 1969. Eles tinham uma mesa cativa na boate do Joá Palace Hotel, era o José Maurício, Hitler, Henrique, Paulinho, Teles, Godoy, Emiliano, Moacir enfim, eram 11 ou 12. E aí ele chegou lá no hotel me viu, eu estava com 19 anos, garotinha com tudo em cima (sorrindo muito), eu tava fazendo um dever de inglês tomando um sorvete de bacuri e ofereci pra eles e o Maurício levantou foi ao meu encontro, dei a prova do sorvete e expliquei o que era o bacuri e desse bacuri durou trinta e três anos de casados e só acabou porque Deus assim quis. Daquele sorvete de bacuri surgiram três "bacurizinhas" que são, a Lina que hoje é arquiteta, Nilcemara que é jornalista e a Janaina que é veterinária.

Zk – Qual delas nasceu em Porto Velho?
Joá – A Nilcemara que é jornalista. Ela só não veio com a gente agora porque é diretora artística do PAN.

Zk – Vamos falar da mulher que saiu daqui, da escola Diplomatas do Samba e terminou sendo campeã pela escola de samba Vila Izabel no Rio de Janeiro. Conta como foi seu ingresso na Vila Izabel?
Joá – Olha, até então a Vila não havia ganhado nenhum título e quando eu desfilei ela ganhou. Foi o seguinte, na época a presidente da Vila era a Russa – Lícia Maria Caniné que era irmã do José Maurício, meu marido, o carnaval que ela fez foi o Kizomba e eu brincando, fui levar minhas filhas, eu nunca tinha desfilado pela Vila e eu brincava com o Martinho da Vila, que era o marido da Russa, o dia que eu sair a escola ganha o campeonato. Um dia fui levar minhas filhas lá pra elas desfilarem, cheguei lá tinha umas fantasias, que sobraram, eu falei brincando, posso vestir uma dessas, a Russa disse: pode. Vesti a fantasia, desfilei e a escola foi campeã. Foi o maior desfile que já teve, foi voz geral o povo gritava é campeã, é campeã. Desfilar numa escola do Rio de Janeiro e no sambódromo é uma emoção indescritível, fico até arrepiada, quando tu pisas naquela avenida, e é tão rápido e você em casa pensa que é longo, num minuto acaba.

Zk – Você Mora na Vila Izabel?
Joá – Moro lá até hoje. É um bairro boêmio nos finais de semana todo bar tem música ao vivo. O Rio como um todo é um negócio fora de série, pena que a violência é muita, mas a violência está no mundo todo.

Zk – Vamos falar um pouco sobre dona Nilce Guimarães?
Joá – Minha mãe nasceu em Guajará-Mirim, foi uma mulher considerada moderna para o seu tempo, foi quem montou em Porto Velho o primeiro salão de cabeleireira. Minha mãe nasceu em Guajará quando Guajará pertencia a Mato Grosso meu pai nasceu em Porto Velho quando ainda era Amazonas e eu sou carioca de nascimento.

Zk – Você é carioca?
Joá – Pois é. Mas nasci lá porque minha mãe já me teve com trinta e um anos e naquela época uma mulher acima dos trinta quando engravidava precisava de cuidados especiais. Primeiro ela foi pra Bolívia pra eu nascer lá, graças a Deus a altitude da Bolívia fez com que ela desistisse de me ter por lá, foi então que ela resolveu ir pro Rio de Janeiro e eu nasci. Quem me pegou foi o doutor Reinaldo Delamare com o auxilio do doutor Arnaldo de Moraes. Nasci lá, mas o coração é totalmente porto-velhense.

Zk – Para encerrar. Como é a história da toalha com assinaturas?
Joá – Minha mãe tinha uma toalha de mesa de linho que cada aniversário que eu fazia, os convidados assinavam, cada ano as assinaturas era de uma determinada cor. Ela fez isso até os meus 15 anos. Tenho essa toalha comigo até hoje é uma coisa muito interessante e quando quero recordar aqueles tempo fico lendo os nomes assinados na toalha.
Fonte: zekatraca@diariodaamazonia.com.br

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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