Segunda-feira, 7 de junho de 2010 - 07h07
Segundo nosso entrevistado, “proibição é o primeiro ato do incompetente. Quem tem competência faz”. A frase tem a ver com a política do governo federal em relação à preservação da Amazônia. A respeito do assunto João do Vale criou o projeto, “Desmatamento Zero – Desenvolvimento Sustentável”, que está tramitando no Congresso Nacional apresentado que foi pelo senador Valdir Raupp. “Ao contrário do que pensam a árvore adulta não tem o seqüestro de carbono como a árvore em crescimento, muito pelo contrário, no dia que ela morre, passa a jogar todo o carbono que ela foi gerada no meio ambiente”. As justificativas são muitas segundo João do Vale. Em determinado momento da entrevista João do Vale questiona, “Será que é difícil imaginar, ser criada no país, uma linha de máquinas agrícola, escuta só, se você comprar um carro pra você andar, vai pagar ICM e IPI cheio, se você comprar pra ser um táxi você vai estar isento de IPI e em muitos lugares de ICM, com isso aumentou a indústria de automóvel, com isso aumentou o imposto que o Brasil consome. A mesma coisa, pelo amor de Deus, num país como o nosso que tem como base da sua economia a atividade primária, quem equilibra a balança comercial no país ainda é a produção primária, será que é difícil imaginar, criar uma linha de máquinas para quem vai trabalhar em terraplanagem, que pague seus impostos cheios e uma linha específica para a agricultura isenta. Só a demanda desse maquinário é o suficiente para suprir e muito o imposto que o governo deixa de recolher”.
Independente de tudo isso, João do Vale trabalha na organização da Expovel a Feira Agropecuária, Industrial e Comercial de Porto Velho que começou sábado passado e vai até o próximo domingo dia 13, com diversas atrações artísticas.
De delegado de polícia a diretor e organizador da Expovel, vamos ficar sabendo nessa entrevista com João do Vale.
E N T R E V I S T A
Zk – O senhor veio pra cá quando e por que?
João do Vale – Vim pra Rondônia em 1984. Terminei o curso de direito em Brasília, fiz concurso para delegado na representação do Estado de Rondônia em Brasília e ao conseguir aprovação, vim fazer academia em Porto Velho. Fiz academia entre os meses de outubro de dezembro de 1984 e em janeiro de 1985 assumi como delegado de polícia em Guajará Mirim.
Zk – Por falar em polícia. No tempo que o senhor atuou como policial, a violência em Rondônia era tanta, comparada aos dias atuais?
João do Vale - Naquela época predominava os crimes de homicídio, mas, era uma coisa entre adultos. Eventualmente existiam alguns crimes de encomenda. Agora, avaliando pelo aspecto da sociedade, era menos perigosa, as residências não eram furtadas. Não existia o que classificamos como morte “bestial”, onde às vezes a pessoa mata por um tênis, um boné etc. Hoje as pessoas usam os menores para cometer crimes, naquele tempo não existia a questão do furto, as pessoas andavam pelo meio da rua tranqüilas. Em Guajará Mirim e em Porto Velho as pessoas andavam com ouro embrulhado em jornal, fazendo compra nas lojas. Eu nunca tinha visto isso em lugar nenhum do mundo. Garimpeiro não usava cheque, garimpeiro chegava vendia um quilo de ouro e saía com aquele dinheiro todo fazendo compras.
Zk – Qual foi o caso que deu mais trabalho para ser solucionado no seu tempo de delegado de polícia?
João do Vale – Olha, eu fiquei na investigação mais diretamente, quando estava em Guajará Mirim. Lembro que fiz mais de 300 prisões relacionadas à droga, foi daí que foi criada a figura do João Pomba. O João Pomba era chefe da Sevic que cuidava de tudo, mas, ele só queria saber de combater Droga e então peguei e criei uma seção só pra ele e então, ele se tornou no Xerife terror dos traficantes de droga em Rondônia. Logo depois foi criado o Denarc. Em Guajará Mirim tiveram dois crimes. Um cidadão que foi assassinado com 19 facadas. Findou que prendi o homicida praticamente sem querer.
Zk – Por que sem querer?
João do Vale – Estamos realizando uma operação quando abordamos um cidadão, mandando que ele colocasse a mão pra cima, essas coisas de rotina e então ele começou a pedir pelo amor de Deus que a gente não o maltratasse. “Confesso que matei o fulano podem me prender, que vou contar tudo, mas, não me batam pelo amor de Deus!”. E teve o caso de um camarada que foi assassinado na Bolívia e desovado em Guajará Mirim e foi um crime muito delicado que passou muito tempo para se descobrir
Zk – E depois de Guajará Mirim?
João do Vale - Depois vim para Porto Velho para montar o Sistema de Inteligência da Polícia Civil que era ligado ao SNI. Depois assumi o Departamento de Polícias do Interior onde tive a oportunidade de conhecer todo o Estado e em seguida assumi como Secretário de Segurança.
Zk – Quem era o governador?
João do Vale – Quando cheguei aqui o governador ainda era o Cel. Jorge Teixeira e logo depois o Ângelo Angelim assumiu. Em 1986 o Jerônimo Santana foi eleito. Em 1987 assumi como Secretário Adjunto e logo em seguida como titular da pasta da Segurança.
Zk – Vamos deixar o lado policial para enveredar pela sua atividade como pecuarista?
João do Vale - Sou ligado à atividade rural por origem. Sou nascido no sertão do Ceará, saí de lá pra Brasília rapazinho. Meu pai era, vamos dizer assim, produtor de subsistência e desde criança fomos ligados a atividades agrícolas, mexer com animal, plantar, colher. Quando cheguei a Brasília fiquei afastado dessa lida. Quando cheguei a Rondônia, logo comprei um pedaço de terra próximo a Porto Velho e todo final de semana, quando não estava trabalhando ia cuidar dessa terra.
Zk – O senhor começou com a pecuária ou com a agricultura?
João do Vale – Comecei com pecuária, porque a agricultura era muito difícil naquela época, eu plantava mais por saudosismo. Achava bonito, levava meus filhos pra roça pra mostrar como é que era o processo do cultivo, por exemplo, do milho, mas, minha atividade era a pecuária. Depois, com o tempo, passei a fazer plantio para mostrar que era viável.
Zk – Era viável?
João do Vale - Acontece que falavam que em Porto Velho não adiantava plantar que não dava nada, que a pessoa vivia de contra cheque e que aqui a terra só dava sapé. Fiz melhoramento de lotes de terra, com adubo, calcário, maquinaria, levei inclusive na época o governador e agricultores da região, para mostrar que aqui era viável,, a partir daí, alguns produtores começaram a desenvolver essa atividade agrícola. Hoje o município de Porto Velho já produz soja muito bem, inclusive acima da média nacional, além de milho e arroz principalmente.
Zk – Vamos falar sobre o melhoramento genético do nosso gado?
João do Vale - Com o tempo incentivei muito a questão do melhoramento genético na região, procurando mostrar conversando com os companheiros, informar, até que chegamos a um nível altíssimo nos dias de hoje. A qualidade do gado em especial, o de Porto Velho, não tem nada a perder para qualquer lugar do Brasil. Quem cria gado, ao contrário do que muita gente pensa, não precisa ter grande patrimônio não, é ter um patrimônio mobilizado, mas, a despesa é muito grande.
Zk – Qual o melhor! Gado leiteiro ou o gado de corte?
João do Vale – São coisas diferentes! O gado de corte, é pra quem tem áreas grandes, porque depende de quantidade. A pessoa pra manter uma fazenda de gado de corte gasta muito. O gado leiteiro é um gado que acho bem interessante, ele democratiza bastante economia de um lugar, é que nem a agricultura, o pequeno produtor pode ter cinco, dez, quinze vacas e tirar o sustento da família daquilo ali. Inclusive depois que a gente criou a Expovel o município de Porto Velho desenvolveu muito nessa questão do gado leiteiro, porque criamos o concurso leiteiro justamente para mostrar a produção daqui.
Zk – Vamos falar sobre esse concurso leiteiro?
João do Vale – Lembro que em 2000, quando disse que ia realizar o concurso leiteiro, as pessoas diziam que aqui não tinha vaca que desse leite. Até brinquei com o motorista do caminhão. Você sai nos sítios por aí e a vaca que não for branca, mete o laço no chifre e trás pra cá. No primeiro ano a vaca que deu mais foram 6 quilos de leite.
Zk – Por que esse negócio, vaca que não for branca?
João do Vale – É a forma da gente falar. Geralmente a vaca branca é Nelore e Nelore dá lei mal pra criar o bezerro. Nelore é gado de corte.
Zk – Qual o gado leiteiro recomendado para nossa região?
João do Vale – O gado leiteiro que se adapta bem aqui na região é o Girolanda que é a mistura do gado Gir com o Holandês.
Zk – O que foi que levou o grupo do qual o senhor faz parte a criar a Expovel?
João do Vale – A última feira que havia acontecido, se não me engano, foi no ano de 1997. Era uma feira pequena. Acontece também que outras feiras foram surgindo no Estado e em conseqüência, foram surgindo às associações nos municípios o que levava os pecuaristas a se desfiliarem da ACER. Como tinha acabado a atividade de feira agropecuária em Porto Velho e o pessoal se ressentia muito porque só tinha no interior. Quando foi em 2.000. Eu, Ayres do Amaral o Ivani enfim, um grupo e amigos criamos a ASPRO para promover a feira agropecuária de Porto Velho. A intenção era ficarmos apenas dois anos, mas, a coisa foi se desenvolvendo de tal maneira... É muito difícil tocar uma feira dessa, muita gente reluta em disponibilizar tempo, pra fazer isso aqui. Então a gente foi ficando e sentiu-se também, que a cada ano a feira vai crescendo e assim, vamos conseguindo desenvolver mais o município nesse sentido. Era essa a intenção, criar a feira do agronegócio e mostrar a Porto Velho que a viabilidade econômica daqui teria que mudar.
Zk – De que maneira?
João do Vale – Estávamos saindo de um processo extrativista, sem ter nenhuma base econômica pro futuro, daí aquela máxima de que Porto Velho era a cidade do contra cheque. Sentido a necessidade de mudar esse foco, porque não se pode deixar terminar um ciclo econômico, sem ter outro já bem embasado. Hoje Porto Velho independe de contra cheque. Hoje tem auto-suficiência em vários setores. Na produção primária que é o forte. Somos o município que mais cresce em produção, quantidade e qualidade de gado, na região Norte e por conseqüência no Brasil.
Zk – E virou feira industrial e comercial também?
João do Vale – Exato. A feira tem esse poder de juntar todas as tendências econômicas num só espaço, trata-se de um shopping, aqui a pessoa encontra a indústria, o agronegócio, rede bancária, serviços. Aqui é lugar ideal para a pessoa se informar das tendências que a cidade oferece. A feira passou a ser propulsora da economia de modo geral.
Zk – Como é administrada a feira. Quem é responsável, por exemplo, pelos shows musicais e os rodeios?
João do Vale – Rapaz, é um a negócio muito complexo administrar uma feira do porte da Expovel. Você tem que cuidar desde o expositor menor até o transporte que é disponibilizado para a população, é uma gama de preocupação que a gente tem. Só gostando mesmo para poder fazer. Aí tem a parte do entretenimento que é muito melindrosa, até porque, aqui é tudo muito caro. Você faz o show pra trazer gente pra ver a feira. O expositor só vai aonde tem muita gente. O expositor primeiro pergunta, qual a atividade de entretenimento vai acontecer. Você tem que ter uma boa grade porque para o expositor interessa ter casa cheia. É uma sequência de atividade muito grande.
Zk – Os show são terceirizados?
João do Vale – Às vezes a gente terceiriza os shows. Hoje muitos grupos não estipulam cachê, vem pela portaria como é o caso este ano do Luan Santana.
Zk – O Luan Santana está dividindo a portaria com a ASPRO?
João do Vale – É muito mais que isso, mais o transporte, mais um bocado de coisa, é muito caro.
Zk – E o rodeio?
João do Vale – Desde 2.000 tivemos a preocupação em realizar um rodeio de ponta. Já trouxemos atrações que participam do famoso rodeio de Barretos. Para você ter uma idéia, o Guilherme Marques que é campeão mundial, o primeiro rodeio que ele ganhou foi na Expovel. Hoje ele mora nos Estados Unidos onde é conhecido como o homem de 6 Milhões de Dólares por temporada. O Robson Palermo que é do estado do Acre é o 5º no Mundial. Ele montou na Expovel, não foi campeão, mas, conseguimos que ele fosse pra Barretos e lá ele despontou, hoje mora também nos Estados Unidos e este ano está concorrendo ao título mundial. São coisas que saem da Expovel e as pessoas não tomam conhecimento.
Zk – Sabemos que o senhor é o autor do Projeto Desmatamento Zero – Desenvolvimento Sustentável. Vamos falar sobre isso?
João do Vale – Em 2007 produzi essa proposta e em 2008 fiz a apresentação dela no Ministério do Meio Ambiente quando a Marina Silva era Ministra, por coincidência, Rondônia estava passando por um momento muito difícil, onde tinha a Força Nacional fazendo operações muito pesadas e até com certa pirotecnia, principalmente com relação a madeireiras. Eram apreensões e prisões de pessoas absurdas e eu estava com esse Projeto, então apresentei em Brasília a Ministra Marina Silva e através do senador Valdir Raupp foi apresentado no Congresso Nacional como Projeto de Lei. Eu apenas pedi a ele que a proposta fosse apresentada em nome dos produtores de Rondônia, que meu estado não é a Geni que qualquer um chega e joga pedra.
Zk – Por que essa decisão?
João do Vale – O que se observava era quando precisava dar uma satisfação pra qualquer entidade, um órgão, uma ONG lá fora o Brasil vinha dava uma chibatada em Rondônia e dizia, nós estamos cuidando da Amazônia e nós mostramos que os produtores não estão desmatando a nossa proposta é não desmatar. Só que tem uma contra partida. Não vamos desmatar, vamos recuperar os mananciais, mata ciliares etc. A contra partida do estado seria a regularização das terras da Amazônia de um modo geral porque o grande culpado pela agressão ao meio ambiente nesse país é o governo federal.
Zk – Por exemplo?
João do Vale – O estado de Rondônia, por exemplo, quando as pessoas eram chamadas, era com a máxima, “Integrar para não entregar”. O cidadão recebia a promessa de um lote de terra e era obrigado a desmatar no mínimo 50% pra poder ter o título. Ele fez isso e não recebeu o título por inércia do governo federal. Governo federal latu senso, foram vários governos que passaram por isso, vários órgãos deixaram de desenvolver seus trabalhos, hoje é muito fácil, só culpar o INCRA, mas, na realidade talvez nem seja o culpado direto. Em o título o cidadão não conseguia melhorar suas terras, não conseguia financiamento porque não era dono e à medida que a terra ficava cansada ele tinha que aumentar o desmatamento por questão de subsistência. Com esse projeto “Desmatamento Zero” a gente realmente estancou o desmatamento o que pedimos é que seja regularizadas as terras, que o produtor tenha acesso a linhas de créditos pra poder melhorar a terra já aberta. Essa linha de crédito é pra insumo, tratores, maquinário de um modo geral, para que ele possa produzir e aumentar a produção. O estado de Rondônia tem hoje 30% ou pouco mais de 32% desmatado, com a recuperação das matas ciliares e mananciais que a gente propõe, vamos cair para 25% de área aberta o que é muito bom em nível de mundo. O estado de Rondônia pode dar exemplo de produção com respeito ao meio ambiente.
Zk – Em suma?
João do Vale – O que se quer nesse Projeto, é que políticas públicas sejam feitas voltadas para a região. As políticas públicas não são feitas para a Amazônia, são feitas pra ser usada do Centro Oeste pra baixo. Na Amazônia é só discurso de preservação. O cidadão ta la na praia, nunca saiu dali e fica falando na Amazônia. Isso é bom sim, mas, não produz nada.
Fonte: Síllvio Santos.
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