Sábado, 15 de setembro de 2018 - 21h15
‘De inicio, o material usado era esponja e quando descobri que era legal, passei a trabalhar com areia e argila. Na verdade, entrei mais no desenho. Ela me falava pra fazer os desenhos dos tapetes. O freguês encomendava um leão, uma águia, uma arara e eu desenhava, não tinha nem referencia de revista eu fazia de memória’
‘Tenho uma tela que considero muito importante na qual retrato a história da Madeira Mamoré e dos beradeiros, na qual o Zekatraca colocou o nome de “Guernica Beradeira”. Tem a estátua do Dom João Batista Costa em frente a Catedral que não é assim uma perfeição, mas, é uma obra barroca e tem a obra “Santa Ceia” na Jerusalém da Amazônia que tem mais de 3 metros de comprimento por 1,5 de altura toda em concreto aparente’
João Zoghbi
Arte 10 – Há 50 anos fazendo artes visuais com amor
O
artista plástico João Zoghbi abriu exposição sobre seus 50 anos de
artes visuais, na manhã da última sexta feira 14, na Galeria Afondo
Ligório da Casa da Cultura Ivan Marrocos.
Antes da abertura
oficial da exposição, foi servido “café da manhã” aos presentes, cujo
cardápio contou com iguarias regionais como cuscuz com leite de coco,
bolo de milho, suco de frutas regionais, tudo encomendado pelo artista
que preza pela valorização das coisas produzidas em Rondônia e em
especial na capital Porto Velho. “Afinal de contas sou beradeiro”.
A
exposição que vai ficar na Galeria Afonso Ligório até o próximo dia 28,
é composta de trabalhos em artes plásticas, charge, desenhos,
esculturas, objetos e principalmente obras inacabadas. “Tem delas que
comecei há mais de 20 anos”.
Para explicar sobre seus 50 anos de
artes visuais, conversamos com o artista João Zoghbi e essa conversa,
você pode Acompanhar a partir de agora:
E N T R E V I S T A
Zk – Fala sobre essa exposição?
J. Zoghbi
– É uma retrospectiva da minha trajetória como artista. Comecei
ajudando minha mãe quando tinha apenas 8 anos de idade. Minha mãe Hilda
de Freitas Zoghbi fazia muitos trabalhos de desenho, pintura em tecido e
o que mais ela gostava de fazer, eram tapetes bordados a mão e aqueles
arranjos que era pra colocar no puxador da geladeira, na cristaleira,
liquidificador etc.
Zk – Qual era sua missão nessa produção de sua mãe?
J. Zoghbi –
Ela me convocou e meus irmãos, para ajudá-la. Acontece que as frutas
tinham que ser esculpidas, era morango, caju, laranja, carambola... Ela
fazia uns arranjos lindos, flores, folhas e um dia disse pra ela, deixe
que essa parte eu faço. Nem sabia que estava fazendo escultura. De
inicio, o material usado era esponja e quando descobri que era legal,
passei a trabalhar com areia e argila. Na verdade, entrei mais no
desenho. Ela me falava pra fazer os desenhos dos tapetes. O freguês
encomendava um leão, uma águia, uma arara e eu desenhava, não tinha nem
referencia de revista eu fazia de memória. O interessante era dentro da
sala de aula.
Zk – Interessante por quê?
J. Zoghbi –
É que eu desenhava mais que anotava as matérias. Meus cadernos eram
verdadeiras obras de artes, cheios de desenhos. O nome dessa exposição
“Arte 10” tem tudo a ver com aquela época.
Zk – Explica melhor?
J. Zoghbi –
Eu ganhei uma nota dez do professor Pedro Batalha. Foi o seguinte,
durante a aula fiz uma charge dele e pensei que seria punido por isso e
para minha surpresa, ele gostou e me deu Dez como nota da prova. Tinha
uma professora de arte que também me deu nota 10. Acontece que ela havia
marcado prova para aquele dia e eu cheguei atrasado e não lembrava que
era dia de prova, então fiz uma escultura na hora pra ela e ela me deu o
10 como nota da prova que eu não tinha feito. Por isso, coloquei o nome
de “Arte 10” nessa exposição, que é para homenagear essas pessoas e
pelo valor, quando você diz: “Esse cara é dez!”, o trabalho dele é dez o
que quer dizer que é bom.
Zk – Podemos dizer que nas artes visuais você é um artista completo?
J. Zoghbi –
Quando percebi que realmente eu era artista plástico, exatamente quando
conheci Rita Queiroz que foi orientando a gente, naquele tempo eu,
Geraldo Cruz, Pedro e outros, freqüentávamos o ateliê dela. Descobrimos
que estávamos fazendo arte, porque ela havia chegado do Rio de Janeiro
com uma imensa bagagem de conhecimento sobre artes plásticas e falou pra
gente, que estávamos também inseridos nesse contexto. Na verdade, a
gente fazia aquilo por achar bonito. Nunca me limitei à técnicas, como
não sou acadêmico, não tenho a escola das belas artes, sou autodidata,
pra mim, tudo era importante aprender a fazer. Fui buscando a técnica
sozinho, passei a fazer todas as técnicas pela necessidade de aprender.
Aprender sozinho é isso, você vai imitando. Era Miguelangelo, Salvador
Dali, gosto da arte surrealista, gosto da arte impressionista,
expressionista, moderna, não tenho limite; É tanto que quando comei no
desenho, comecei a fazer charge e caricatura ao ponto de a “Revista
Nossa” ficar interessada e eu passei a fazer uma página só de charge.
Isso foi a ponte pr'eu ir pro Diário da Amazônia.
Zk – Por falar nisso, quanto tempo você ficou trabalhando no Diário da Amazônia?
J. Zoghbi
– Foram 24 anos e oito meses, me mandaram embora faltando quatro meses
pra eu completar 25 anos como chargista lá. O Diário da Amazônia me deu a
oportunidade de também mostrar meu talento na parte do desenho,
ilustração, sai da prancheta para o desenho eletrônico, a imagem
digitalizada. Hoje faço animação. Fui o primeiro ganhador do prêmio de
animação do Festcine Amazônia. Gosto também de filmar, ganhamos o prêmio
Guarnecer de cinema com o filme “Marcas da Amazônia” que é um dos mais
difíceis e acontece no Maranhão, junto com o Jurandir Costa, a produção
contou com o Geraldo Cruz, Joeser, Rita Queiroz e ganhamos prêmios
fazendo performance, instalações etc.
Zk – O que a arte representa pra você?
J. Zoghbi – A arte é o meu mundo, esse mundo maravilhoso que quis colocar nessa exposição. São 50 anos de artes visuais.
Zk – Você tem seu estilo. Fala sobre o estilo Zoghbi de fazer arte?
J. Zoghbi
– Quando fui para a publicidade, conheci o Edvaldo Viecelli e o Marco
Aurélio que foram meus diretores na área de publicidade, eles abriram
meus olhos no sentido de você fazer uma boa assinatura, criar uma marca,
de simplificar, de estilizar e após alguns trabalhos na publicidade,
passei a olhar a obra de arte com mais estilo e então, criei um traço
que é o que passou a me identificar e inclusive já fez escola. Ganhei o
prêmio da Listel naquela época, depois ganhei vários outros prêmios como
da Aeronáutica, da Brigada, Marinha, 100 anos de Porto Velho e por aí
vai.
Zk – Qual obra sua, você considera como a mais valiosa?
J. Zoghbi
– Tenho a escultura que fica em frente a Casa Ivan Marrocos “O cassaco”
que foi uma das obras mais bem pagas que já produzi. Isso foi na época
que o secretario de cultura era o Rui Motta e nos contratou eu, Geraldo,
Rita e Joeser para desenvolver essas obras, que estão instaladas no
entorno da Ivan Marrocos. Tenho uma tela que considero muito importante
na qual retrato a história da Madeira Mamoré e dos beradeiros na qual o
Zekatraca colocou o nome de “Guernica Beradeira”. Tem a estátua do Dom
João Batista Costa em frente a Catedral que não é assim uma perfeição,
mas, é uma obra barroca e tem a obra “Santa Ceia” na Jerusalém da
Amazônia que tem mais de 3 metros de comprimento por 1,5 de altura toda
em concreto aparente. Tem uma escultura de São Francisco la na Jerusalém
também e a Nossa Senhora Aparecida. Tenho obra na Itália, tem no
Presépio Internacional da Associação São Tiago Maior que é a Família
Sagrada, só, que são “Seringueiros”. Gosto muito desse estilo sacro, que
aprendi vendo o Afonso Ligório na época que estudava na Escolinha
Domingos Sávio. Ele estava fazendo o retrato do próprio Domingos Sávio
na parede da escola, e eu nem sabia que aquele pintor era o Afonso
LIgório. Tenho gratidão por esses grandes mestres como o Roberto Cunha –
Fracasso que me ensinou a fazer cenários.
Zk – Vamos encerrar
se não a gente amanhece o dia aqui conversando. A exposição “Arte 10”
fica na Ivan Marrocos até quando e quais os horários de visita?
J. Zoghbi
– De acordo com a programação a Exposição fica na Casa da Cultura até o
próximo dia 28. A Galeria Afonso Ligório fica aberta pra visita das
7h30 até às 19 horas diariamente, com exceção de domingo. Obrigado pela
oportunidade.
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