A Poesia do J Miguel
Há alguns dias o fotografo Marcos Grutzmacher nos procurou, solicitando a publicação de alguns poemas de autoria de um senhor que segundo ele (Marcos), estava com 83 anos de idade. Entre os poemas apresentados nos interessamos pelo “O Ipê que foi poste de luz e criou vida”, que conta a história de um pé de Ipê que hoje é atração turística na rua Jatuarana no Conjunto Cohab Floresta. “Eu nasci em um lugar muito agradável, Cresci e me desenvolvi rapidamente; Tornei-me uma árvore muito respeitável, Na primavera eu ficava florida e contente; Até que apareceu alguém bem desagradável, E me abateu com sua moto-serra incoerente”.
Seu Joaquim Miguel Rodrigues o poeta J Miguel, nasceu no estado do Acre numa localidade de nome Seabra. “Fui tirar a segunda via da minha RG e me disseram que o local onde eu havia nascido não existia mais, pelo menos com o mesmo nome. Agora é Tarauacá”.
Assim que nos apresentamos no local de serviço do seu Joaquim a empresa “Pólo Frio” que fica a rua Mal Deodoro com a Pinheiro Machado, ele foi logo nos corrigindo. “Você é aquele jornalista que aumentou minha idade de 76 anos para 83?” Depois de explicarmos que quem havia nos passado a idade tinha sido o Marcos, ele apenas achou graça nos entregando um papelzinho com o seguinte: Fiz 76 anos no dia 16 de agosto ou seja: 912 meses, 27.371 dias, 656.904 horas, 39.414.240 minutos e 2.364.854.400 segundos.
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E n t r e v i s t a
Zk – O Senhor nasceu aonde?
J Miguel – Rapaz, fiz até uma brincadeira. Nasci num lugar chamado Vila Seabra no estado do Acre e esse lugar não existe mais.
Zk – Saiu do mapa?
J Miguel – Em 1993 fui pedir a segunda via da carteira de identidade e quando fui receber o documento falei pra pessoa encarregada. Eh rapaz, ta errado, não nasci nesse lugar. Aí ele disse, nasceu sim senhor. Ficamos teimando e foi então que escrevi os versos do poema “Reviravolta”.
Zk – Os seus pais são de onde?
J Miguel – Meu pai e minha mãe vieram do Ceará trabalhar nos seringais do Acre.
Zk – O senhor chegou a trabalhar cortando seringa?
J Miguel – Não! Saí de Seabra para Manaus com dois anos de idade. Com nove anos fui para Roraima depois voltei novamente para Manaus e o resultado dessas andanças, foi que fui parar em Pernambuco onde fui estudar na escola agro técnica João Coimbra.
Zk – Saiu da escola e foi trabalhar na lavoura ou na pecuária?
J Miguel – Comecei a trabalhar com 19 anos de idade, assim que conclui o curso na escola pernambucanda. Antes de conseguir emprego na profissão que havia me formado, trabalhei numa fábrica de borracha.
Zk – Essa fábrica de borracha funcionava aonde?
J Miguel – Em Manaus, eu era apontador na Usina Labor, depois a empresa IB Sabbá que era dona da Usina Labor me transferiu para a fábrica Vitória que beneficiava castanha, isso no bairro cachoeirinha e lá trabalhei também como apontador e depois foi que fui para o Ministério da Agricultura.
Zk – Fale sobre o funcionamento de uma usina de beneficiamento da borracha?
J Miguel – Apesar de nunca ter trabalhado manuseando a borracha, posso dizer que o processo numa usina de borracha acontece da seguinte maneira. Os seringalistas entregavam as pelas de borracha, aquela bolas grandes, no pátio da usina e ali os trabalhadores cortavam a borra em quatro partes, depois vinha o classificador que geralmente era um funcionário do Banco da Borracha esse que hoje chamam de Basa e classificava a borracha.
Zk – O senhor saber dizer como era essa classificação?
J Miguel – De acordo com o corte a borracha era classificada da seguinte maneira: Acre Fina, Entre Fina, Cernambi Virgem e Cernambi Rama. Depois de classificada a borracha passa pelo processo de laminação e daí se monta os fardos que naquela época eram levados para as fábricas em São Paulo ou no exterior.
Zk – E no Ministério da agricultura?
J Miguel – Me aposentei no Ministério da Agricultura como técnico em laboratório. Pelo Ministério viajei por várias cidades da Amazônia, fui pra Itacoatiara, Parintins, Belém, Manaus e Roraima.
Zk – O que o senhor fazia como técnico de laboratório?
J Miguel – Eu fabricava vacina contra raiva e contra febre aftosa.
Zk – E o poeta surgiu quando?
J Miguel – Isso aí, desde novo sempre fiz alguma besteira, mas, nunca fui guardando. Só vim guardar agora, depois de velho. Tenho mais ou menos uns cem poemas escritos. Por causa disso, já me chamaram para a Academia de Letras Maçônica e entreguei pra eles uma pasta cheia de poemas de minha autoria, mas, até agora não tenho nada publicado em livro não.
Zk – Os seus poemas são baseados em que?
J Miguel – A maioria das coisas que faço tem a ver com os erros dos administradores públicos. Tem também as coisas boas, dia das mães, aquela do Pé de Ipê que virou poste e voltou a se regenerar a dar flores, que existe no bairro Cohab Floresta.
Zk – Desses poemas que o senhor está me entregando para publicar, qual o senhor gosta mais?
J Miguel – Gostaria de ver se você tem coragem de publicar o poema “Ética de ontem na visão de hoje”.
Zk – Como foi que o senhor veio parar em Porto Velho?
J Miguel – Tive um problema de família lá em Roraima e como minha aposentadoria estava encaminhada, falei com o meu diretor e ele disse: “Você pode ir pra onde você quiser que não tem perigo, você está aposentado, só ainda não foi publicado no Diário Oficial”. Aí vim pra cá. No dia que cheguei aqui no dia 11 de outubro de 1985 foi também publicada no Diário Oficial da União a minha aposentadoria.
Zk – Sua vinda para Porto Velho além do problema em família, foi motivada por que?
J Miguel – O que mais pesou na decisão de vir para cá, foi o convite do Zé Coutinho dono dessa sorveteria Dullim que naquele tempo se chamava Pingüim, que me convidou para trabalhar com ele e eu vim. Mas só trabalhei um mês, aí fui trabalhar na Transportadora Rápido Roraima. Quando cheguei aqui fui morar no Hotel Floresta que ficava onde hoje é a Justiça do Trabalho ao lado do cemitério dos Inocentes, como era muito cara a diária fui para o Iara. Depois comprei uma casa no Conjunto Mal Rondon por que um amigo meu lá de Roraima me convidou para trabalhar administrando uma draga dele no garimpo de ouro e lá ganhei uma graninha e comprei a casa do Mal. Rondon e depois ele praticamente me “obrigou” a comprar a casa que era dele no Cohab Floresta onde moro há 20 anos.
Zk – É essa casa que fica em frente ao poste que com o tempo voltou a dar flores, é um pé de Ipê?
J Miguel – Ele era um poste normal. Vi nascer aquele primeiro galho, mas, pensei que se tratava de uma parasita, porém depois, foi nascendo mais um galho, outro galho e o Ipê floresceu. Hoje já não serve mais como poste, é apenas o pé de Ipê em virou atração Turística do bairro.
Zk – Quantos poemas o senhor quer que publiquemos nessa entrevista.
J Miguel - Olha, to lhe entregando um CD com algumas poesias o que der para publicar fico agradecido.
Revolta
Há alguns anos atraz; pela sua antiguidade,
Procurei adquirir a segunda via da identidade,
Tive uma grande surpresa e fiz reclamação.
A minha cidade natal tinha o nome diferente,
Eu achei aquilo, uma coisa, surpreendente,
Voltei a SSP para que fizesse uma reparação.
Até que eu fui muito bem tratado,
O homem que me recebeu era educado,
E logo esclareceu o motivo da mudança.
Dizendo, a vila surge de um povoado,
Crescendo, passa a cidade e até estado,
Depende da sua conceituada liderança.
Hoje a transformação é muito acentuada,
A população está ali, mais bem situada,
E o movimento é muito grande por lá.
Mudaram tudo o que antes existia,
Agora é uma cidade com soberania,
Seu nome está no RG, é TARAUACÁ
Assim sendo a cidade onde você nasceu,
Prosperou muito e também cresceu,
Agora não tem aqueles antigos seringais.
Salvo engano, seu nome era Vila Seabra,
Dizem que lá havia uma dança macabra,
Porém hoje, o nome de vila existe mais.
Eu sabia que era acreano “VILASEABRENSE”,
Agora não sei se sou uma “TARAUCAENSE”,
Essa confusão danada, vou ter que estudar.
Vou procurar um professor de português,
Outro de geografia, e que mestrado já fez,
A fim de que os dois, possam me ensinar.
J. Miguel
Ética de Ontem na Visão de Hoje
De tanto ver crescer a injustiça, disse alguém
O homem já está perfeitamente acostumado;
De tanto ver crescerem as nulidades insistiu,
Ninguém reclama, o povo está simplesmente relaxado;
De tanto ver agigantaram-se, os poderes, nas mãos dos maus,
A culpa é do corruptor e o sincero voto do pobre desgraçado.
O homem chega a ter vergonha de ser honesto.
Isto vem de muito longe, tem registro no passado.
Estas palavras, assinalas, são de um homem mediano,
Brasileiro que falava e empolgava inglês e americano,
Mas, antes de falar, parece que invocava o povo Maia.
Sua disposição era tamanha que discursava em segurança,
Que impressionou quando falou na Europa, lá na França,
E foi na Holanda, que recebeu o apelido Águia de Aia.
Brasileiro de nascença, era um político,
Conseguiu ainda, se eleger um senador;
Nasceu no nordeste, no estado da Bahia,
Que tem a sua capital Salvador;
O seu nome era Rui Barbosa de Oliveira,
Todos o conheceram, como um grande escritor.
J. Miguel
Meu Porto Velho Querido
Porto Velho, aonde existe muita ausência,
Que eu escolhi para minha residência,
Tudo que eu vejo é crescer a necessidade.
Os políticos, nem um pouco estão ligando,
Também, não existe ninguém se interessado,
Para que possa mudar alguma coisa na cidade.
A sua população é grande e muito crescente,
Só a classe política demonstra que não sente,
O que quase todos os habitantes estão querendo.
Melhoria no trânsito que está insustentável,
O congestionamento que agora é implacável,
E o se povo tornou-se uma chaleira fervendo.
Estamos precisando de um prefeito de verdade,
De vereadores que cuidem da nossa cidade,
E esqueçam de procurar apenas vantagens.
Se não procurarmos fazer essas mudanças,
É melhor perdemos logo nossas esperanças,
E partirmos em busca de outras paragens.
O que eu estou dizendo não é radicalismo,
Estou criticando a grande falta de civismo,
Coisa inexistente na atual classe de políticos.
Que ela, de mim nunca tenha sobrosso,
Eu não carrego cordão de ouro no pescoço,
Mas, gosto de ser apenas um severo crítico.
A sujeira chega a tomar conta da cidade,
A fedentina se espalha com a sua variedade,
Não se sente mais o perfume de uma flor.
Meu Deus, perdoe esses pobres de decência,
Dê a eles a sua luz e a sua sábia clemência,
Faça-os sentirem pelo próximo o teu amor.
Isto é o desabafo de um homem já cansado,
Que não tem mais forças, vivendo estressado,
Mas, ainda desfruta deste livre pensamento.
Tudo que eu digo aqui, é público e notório,
Todo o político deve arder em crematório.
E a cinza jogada num profundo esquecimento.