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Gente de Opinião

Silvio Santos

José Gomes o repórter cidadão


Assim que o programa “A Bronca é sua a ajuda é nossa” entra no ar de segunda a sexta feira entre as 9h e às 10h pela Rádio Caiari de Porto Velho, a primeira voz depois da do apresentador, que o ouvinte escuta, é a do Zé Gomes que de qualquer parte da cidade, descarrega suas baterias de denuncias captadas juntoJosé Gomes o repórter cidadão - Gente de Opiniãos aos moradores dos vários bairros da cidade e principalmente contra o atendimento nos Postos de Saúde. “Certa vez estava na Policlínica Ana Adelaide e vi uma madame desembarcar de um carrão, com um lenço no nariz. Ela muito bem vestida, chegou cochichou no ouvido do atendente que a mandou preencher a ficha e logo entrar para ser atendida. Foi então que levantei a voz em favor dos que estavam ali desde a madrugada e a madame teve que esperar sua vez”. Enquanto o Zé Gomes não entra via telefone, parece que o programa ainda não começou, ele realmente é atração como repórter cidadão. Na realidade o Zé não é o único a exercer ou a receber a classificação de repórter cidadão na rádio Caiari, tem o Antônio do bairro Cidade do Lobo, tem um taxista e muitos outros, que são conhecidos dos ouvintes, porém, esses entram esporadicamente, o Zé Gomes é todo dia e às vezes ele vai para o estúdio e cobra os secretários ao vivo. “Estou nessa desde quando o bispo Dom João Batista Costa era quem mandava na rádio e ela funcionava atrás da Catedral”. O que não sabíamos era que os bairros Meu Pedacinho de Chão, Esperança da Comunidade e União da Vitória nasceram graças à atuação do Zé Gomes e seus companheiros como o ex deputado índio, Águia Azul, Josué e outros. “O Esperança da Comunidade era pra ser do outro lado do Rio Madeira” conta na entrevista que segue. Aliás, essa entrevista foi articulada no dia do esquenta da Banda do Vai Quem Quer quando encentramos o apresentador do programa a “Bronca é sua...” Sergio Gomes e solicitamos que ele nos colocasse em contato com o Zé Gomes o repórter cidadão!
 



E N T R E V I S T A

Zk – Quer fazer um breve relato da sua vida?
José Gomes
– Cheguei aqui em Rondônia ainda criança, no tempo do Território Federal e como meus pais tiraram toda minha documentação aqui, me considero rondoniense. Eu tinha oito anos de idade, hoje estou com 71. Na realidade nasci numa localidade do Amazonas lá pro lado de Carapanatuba

Zk – Quando vocês chegaram a Porto Velho foram morar aonde?
José Gomes
– Fomos morar na Baixa da União no famoso Ramal São Domingos. O local tinha esse nome porque ali passava o trem da Madeira Mamoré para deixar as pelas de borrachas que vinha dos seringais, na Usina São Domingos de beneficiamento de borracha. Naquele tempo carro de luxo eram jipe e rural.

José Gomes o repórter cidadão - Gente de OpiniãoZk – Vamos falar mais um pouco sobre essa área da cidade?
José Gomes
– Naquele tempo só existia uma via de acesso ao bairro Areal que era a rua Prudente de Moraes. Ali também tinha o Igarapé Grande onde nos finais de semana, muita gente do centro da cidade ia tomar banho e servia também como lavador de carro assim como abrigava a prancha de muitas lavadeiras.

Zk- Como surgiu o repórter cidadão?
José Gomes
– Eu participo da Rádio Caiari desde o tempo do bispo Dom João Batista Costa. Então faz trinta anos que trabalho na área social. Minha preocupação é que a gente vê tantas pessoas sofrendo, sem ter voz e achei por bem fazer essa representação. Passei três anos na rádio Tropical o Dr. Antônio Morimoto me deu um crachá e então passei a ser repórter de verdade. Depois passei pra Caiari porque a Caiari é uma rádio que é da minha religião católica.

Zk – O que o motivou a assumir de vez como repórter cidadão?
José Gomes
– Foi o mau atendimento nos Postos de Saúde. Me sinto feliz em defender nossos colegas que não têm voz, que não tem comunicação, pessoas tímidas. Esse é o motivo.

Zk – Ainda agora você estava dizendo que foi o responsável pela criação do bairro Meu Pedacinho de Chão. Por que?
José Gomes
– O bairro surgiu na época de uma enchente grande que alagou até onde está a avenida Rogério Weber. Em conseqüência dessa cheia do Rio Madeira muitos ribeirinhos vieram para Porto Velho e foram morar nas proximidades da Olaria do Plínio onde também eu tinha um comercio, só que meu comércio era na parte mais alta e não alagava, certo dia quando a chuva foi mais forte, olhei por outro lado e vi duas criancinhas, cujos pais haviam saído e essas crianças estavam ilhadas, então tomei a decisão de salva-las e quando dei por mim estava transportando todo mundo que estava naquela alagação, para o meu terreno que era alto.Isso era no Ramal São Domingos.

Zk – Sim e o Pedacinho de Chão?
José Gomes
– Eu já era fã da política e então fui até a câmara de vereadores que funcionava ali na Ladeira da rua José Bonifácio naquele prédio que está lá abandonado num total desrespeito para com o patrimônio público de nossa cidade. Bom! Procurei naquela época o vereador Abelardo Castro e ele disse que não podia me atender, foi quando chegou o saudoso vereador Amizael Gomes da Silva. Comigo estavam quatro mulheres moradoras do local e com o Amizael estava o grande jornalista Lucio Albuquerque e então fomos até o local da alagação, fizemos uma filmagem e fotografias para o jornal Alto Madeira. Na época o governador era o Coronel Humberto da Silva Guedes que pediu que eu fizesse um abaixo assinado só com o pessoal que morava lá e era proprietário do imóvel, os que pagavam aluguel tinham que ficar de fora.

Zk – Você obedeceu à orientação de só aceitar assinatura dos donos das casas?
José Gomes
– Ta ficando doido? Coloquei umas folhas de papel almaço no balcão do meu comercio e pedia pra todo mundo assinar, morador ou não do Ramal São Domingos. Naquele tempo o chefe de gabinete do governador era o seu Jeremias que quando viu aquele monte de assinaturas disse: Pôxa todo esse povo mora ali era tão pouca gente e você me traz tudo isso de assinatura! E então, eu falei meio aborrecido com ele: Bem seu Jeremias o senhor vai me desculpar, mas, se o senhor acha que eu não fui competente é só mandar alguém lá, estou tendo muito trabalho. Ele respondeu, não! Deixa aí se é o que você diz vamos atender esse povo e então surgiu daí o Pedacinho de Chão.

Zk – Você disse que a intenção não era levar os moradores para fora daquele perímetro da cidade. A idéia era levar o povo pra onde?
José Gomes
– Minha luta era pegar a área que era do Plínio onde hoje está o Daime onde tinha também a Olaria do Zé Terçado. Foi a dona Gilza Guedes quem articulou para levar o pessoal para a Cascalheira.

Zk – Cascalheira?
José Gomes
– É isso mesmo, onde é o bairro Pedacinho de Chão hoje, era a cascalheira da cidade e ali os marginais faziam ponto, para usar droga de toda espécie, pra estuprar, pra matar enfim, era local de “desova” e o povo não queria ir praquele local e eu fiquei num beco sem saída. O certo foi que o bairro foi inaugurado mesmo sem estrutura, a gente ficava de oito dias sem ter água. A primeira dama distribui camburão de 200 litros para a gente armazenar água, Só que quando acontecia de faltar água eu ia aos jornais e colocava denuncia contra dona Gilza e ela chegava reclamando que estavam fazendo denuncia contra ela. Tinha no Estadão do Norte um jornalista de nome Nazário e eu com medo de ser preso dizia que era o Nazário que colocava as denuncias no jornal.

Zk – Por que Meu Pedacinho de Chão?
José Gomes
– É que na época estava passando uma novela educativa (do Mobral) cujo nome era “Meu Pedacinho de Chão” e como a história da novela era parecida com a do povo do Ramal São Domingos dona Gilza colocou o nome da novela no bairro.

Zk – O que você já conseguiu em prol da população atuando como repórter cidadão?
José Gomes
– Muitos benefícios! Quero agradecer ao pessoal da Rádio Caiari por me dar essa oportunidade. Numa época, aquele Barco Hospital estava parado e eu fui lá fazer uma reportagem e até levei o secretário Jair Ramires e com três dias o prefeito anunciou a saída do barco para atender os ribeirinho. Outra foi a recuperação da Vieira Caula onde eu e o Sergio Gomes fizemos uma confraternização, os caras fizeram até um bolo pela inauguração da obra que não tinha terminado. Outra foi o asfalto do Parque Ecológico que saiu graças as nossas denuncias via Rádio Caiari. E o posto do Pedacinho de Chão que não tinha estrutura para receber o povo e agora tem até laboratório.

ZK – E histórias das hidrelétricas do Madeira?
José Gomes
– Nossa bancada federal, deputados e senadores, foi até o presidente Lula pedir que ele falasse com a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva para que ela não atrapalhasse a construção das Usinas do Madeira. A resposta do Lula foi que só autorizava se nossos políticos provassem que o povo de Rondônia queria essa obra. Tenho um grande amigo que é o engenheiro Jorge Luiz que veio comigo e me convidou para pegar essa briga conseguindo as trinta mil assinaturas necessárias para o presidente autorizar o inicio das obras. Eu então falei pra ele que não era hora, porque o estado não estava preparado para receber esse empreendimento.

Zk – Resultado?
José Gomes
– Eles inventaram de fazer palestras nos colégios e escolas de todo o estado dizendo que iam gerar muito emprego e assim conseguiram assinaturas dos alunos e seus pais.

Zk – Em virtude das denuncias você já foi ameaçado?
José Gomes
– Já! Por várias vezes recebi telefonemas de ameaças. Quando isso acontece entrego nas mãos de Deus. Quando saio de casa todo dia as seis horas da manhã, rezo muito pra Deus por mim e pela minha família e pelos colegas da rádio.

Zk – É verdade que você e outros foram os responsáveis pela área onde foi criado o bairro Esperança da Comunidade?
José Gomes
– O Esperança da Comunidade não era para ser feito ali. Naquela época eu era presidente do Pedacinho de Chão a gente ia fazer uma cidade do outro lado do Rio Madeira era eu o Índio, Águia Azul e o Josué e um outro éramos cinco. Eu consegui duzentas famílias do Pedacinho do Chão o Águia Azul conseguiu mais 200 famílias do Areal da Floresta e o Índio com 200 famílias do bairro da liberdade. Colocamos todo esse povo em caminhões com moto serra, foice e tudo quanto era ferramenta e mais toneladas de feijão, arroz e outros mantimentos porque a idéia era montar acampamento e levantar os barracos. Nosso advogado que era o Perazo soube que a polícia ia pra lá nos esperar e nos avisou do perigo e então abortamos a idéia de fazer uma cidade do outro lado do Rio Madeira.

Zk – E então nasceu o Esperança da Comunidade?
José Gomes
– Foi! O Índio liderou a invasão e nós coordenamos a construção dos barracos, se você prestar atenção nossa equipe não teve problema com esse negócio do povo construir casas no meio da rua, era tudo muito bem traçado. Logo depois o governo legalizou a área e o bairro Esperança da Comunidade hoje, é um dos maiores em nossa cidade. Ainda teve o União da Vitória.

Zk – Como foi que surgiu o União da Vitória?
José Gomes
– Essa briga foi ferrenha contra o então deputado Chagas Neto que era dono da área. Nós pegamos pesado e o Índio teve grande influencia nessa vitória. O nome União da Vitória vem dessa luta, da nossa união em prol de um objetivo. Isso é que nos deixa gratificado e nos faz continuar com as denúncias. Já fui candidato a vereador por quatro vezes e não logrei êxito, hoje se dissessem que vereador não teria salário fixo, eu seria capaz de tentar uma vaga novamente.

Zk – Para encerrar?
José Gomes
– Quero deixar meus agradecimentos de coração a toda a direção da Rádio Caiari pela oportunidade, a você que considero patrimônio histórico de Rondônia e deixo bem claro, enquanto eu tiver voz e espaço para falar, vou continuar denunciando. Minhas denuncias são pelo povo da cidade que amo que é Porto Velho que nesta terça feira dia 24, completa 97 anos de instalação. Parabéns minha cidade de coração!

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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