Segunda-feira, 15 de novembro de 2010 - 08h31
O ambientalista Emanuel Fulton Casara nascido nas barrancas do Vale do Guaporé, que nas horas vagas, ou melhor, é conhecido e reconhecido, seja como consultor ambiental seja como músico formado em violão clássico pela UFMG, como Lito Casara. Lito é um dos maiores incentivadores e divulgadores do Chorinho em Rondônia e Minas Gerais. “Sou fundador de um dos grupos mais importantes e influentes da música instrumental mineira que é o Flor de Abacate”.
Esse cidadão que ama a Amazônia e em particular Porto Velho e Guajará Mirim e que por conta desse amor, faz do avião sua morada, pois vive na ponte aérea Belô/PVH/Belô, há algum tempo prometeu aos seus amigos músicos, que um dia traria para se apresentar aqui, um dos melhores grupos de choro de Minas Gerais. A promessa foi concretizada no final da semana passada, quando em parceria com a prefeitura de Porto Velho Lito Casara se apresentou no Mercado Cultural com o grupo “Choro de Minas” para mais de mil espectadores durante o Projeto A Fina Flor do Samba. Sábado dia 13, a dose se repetiu no Projeto Música Instrumental na Praça.
“O Choro, popularmente chamado de chorinho, é um gênero musical, uma música populare instrumentalbrasileira, com mais de 130 anos de existência. Os conjuntos que o executam são chamados de regionais e os músicos, compositoresou instrumentistas, são chamados de chorões. Apesar do nome, o gênero é em geral de ritmo agitado e alegre, caracterizado pelo virtuosismo e improviso dos participantes, que precisam ter muito estudo e técnica, ou pleno domínio de seu instrumento. O choro é considerado a primeira música popular urbana típica do Brasil e difícil de ser executado”.(Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre).
No intervalo de uma apresentação e outra sentamos com Lito Casara no Café com Arte recém inaugurado nas dependências do Mercado Cultural e batemos um papo descontraído na manhã de sábado, enquanto a equipe da Iaripuna preparava a praça Getúlio Vargas para ouvir e aplaudir o grupo “Choro de Minas” com Lito Casara ao bandolim.
E N T R E V I S T A
Zk – De quem você herdou a musicalidade?
Lito Casara – Nossa origem musical vem da parte da minha mãe, dos Madeira, embora meu avô tenha sido um grande apaixonado por ópera.
Zk – Fala sobre seu avô?
Lito Casara – Meu avô Américo Casara diga-se passagem, um engenheiro italiano, pós graduado em Oxford em Ciências Políticas e apaixonado por ópera. Ele foi grande seringalista em terras que hoje pertence ao estado de Rondônia, andava com uma vitrola e muitos discos de ópera. Posso dizer que a herança musical vem do meu avô por parte de mãe que trabalhou na Estrada de Ferro Madeira Mamoré e tocava flauta, violão, bandolim.
Zk – E sua mãe, tocava algum instrumento?
Lito Casara – Ela foi educada musicalmente no colégio das freiras em Guajará Mirim, Ela tocava bandolim.
Zk – A herança está praticamente explicada e a educação musical você adquiriu aonde?
Lito Casara – Minha educação musical vem do colégio dos padres em Guajará Mirim, porém não identifico precisamente quando aprendi a ler partitura. A gente foi educado desde cedo com a música que nos ensinavam os padres franceses e daí Guajará sempre foi uma terra muito musical.
Zk – Fale sobre sua vivencia musical na juventude?
Lito Casara – Quando jovem formei um grupo chamado Rondobrasa, nesse grupo tocávamos músicas do Beatles, Rolling Stone. Os músicos eram: Pretinho e Nivaldo (crooner), Zeca Madeira meu primo (guitarra solo), Eu (guitarra base), Nozinho (bateria) e o Nego Chico (contrabaixo). Foi um grupo de músicos bons amigos, que se apresentava também em Porto Velho nos festivais que aconteciam na quadra do Ferroviário.
Zk – Apesar de você falar muito em Guajará Mirim sabemos que sua família veio do Vale do Guaporé. De qual localidade do Vale vocês vieram?
Lito Casara – Como já falei meu avô um arquiteto italiano formado em Turim e pós graduado em Ciências Políticas em Oxford. Em 1900 ele foi contratado pelos padres Salesianos para lecionar na Universidade de Quito onde ficou durante 8 anos, depois desceu o río Putumayo e veio para a Amazonía, anosdepois casoucom minha avó e veio pro Vale do Guaporé onde botou o seringal “Barranco Alto”. La nasceram meus país. Na realidade, Barranco Alto fica no rio Corumbiara afluente do Guaporé. Quandomeusirmãos começaram a nascerem eles se mudarampara Laranjeiras que era uma via de acessomaisrápida, lá nos fomostodos educados pela dona Stela que era a professoracontratada pelo governo.
Zk– Issoquerdizerque vocênasceuem Laranjeiras e não em Guajará Mirim?
Lito Casara – Justamente, nascemos em Laranjeiras que hoje faz parte do município de Pimenteiras. Na realidade, foi Laranjeiras quem deu origem a Pimenteiras. Acontece que nos educamos em Guajará Mirim.
Zk – No seu caso em Guajará Mirim e em outros centros?
Lito Casara – Com 19 anos de idade fui pra São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte onde cursei a faculdade de geografia no glorioso Instituto de Geociência da UFMG e fiz música também no conservatório da mesma Universidade. Hoje sou um profissional da área de meio ambiente, mas, a música nunca me abandonou. Um período da minha vida me dediquei mais ao meio ambiente a gestão ambiental em si como faço hoje, mas, a música sempre esteve presente.
Zk – Como funcionário do IBAMA?
Lito Casara – Não! Fui consultor da ONU durante dez anos, trabalhei prestando assessoria ao IBAMA. Hoje tenho uma empresa de consultoria em Belo Horizonte onde trabalho os projetos de meio ambiente para o setor elétrico.
Zk – Sua participação no movimento do Chorinho em Minas?
Lito Casara – Participo do Clube do Choro. Sou fundador de um dos grupos mais importantes e influentes da música instrumental mineira que é o Flor de Abacate, enfim, tenho essa história, esse caso de amor com Belo Horizonte. Na verdade, passei muito mais tempo em Belo Horizonte do que aqui. Hoje estou com 58 anos de idade e acho que dois terços da minha vida passaram por lá. Mas, nunca perdi os laços culturais e de amor com a minha terra que é Rondônia.
Zk – Voltando no tempo. E a infância em Guajará Mirim?
Lito Casara – A infância em Guajará Mirim é a coisa mais representativa e acho que é o sustentáculo do que sou hoje, como cidadão, como músico e como agente cultural. Acho que posso ser considerado um agitador cultural. Não lembro quando fui alfabetizado em música, lembro que muito cedo já lia partitura, já participava dos corais da igreja, das bandas dos colégios.
Zk – Além do bandolim qual outro instrumento que você toca?
Lito Casara – Na verdade no conservatório de música fiz violão clássico, mas, o bandolim é o instrumento que sempre me apaixonou. Sou autodidata no bandolim e na harmônica. Violão clássico estudei mesmo direitinho fiz curso no conservatório com José Lucena um grande violonista de renome internacional, mas, a minha infância em Guajará Mirim foi a coisa mais importante para a formação do meu caráter, para delinear esse meu envolvimento com a cultura musical. A música nos ensina muito. É o primeiro exercício ético que o cidadão experimenta. Isso vale pro resto da vida em todas as áreas. Aquele que aprende música vai ser com certeza um bom profissional porque a música te ajuda a focalizar e te dar uma organização mental capaz de você superar obstáculos quase que instransponíveis. Acho que o governo deveria incentivar o retorno do ensino da música para os jovens durante o ensino fundamental. A música nos ensina a ética, sem ética você não consegue interpretar então, a gente que é apaixonaco por som, por timbre essa coisa, vai atrás da fidelidade. Aquilo que chamo de alta fidelidade é a cópia mais ética da reprodução de uma obra. Acho muito bacana essa relação ética da música com a sociedade, com o individuo em si.
Zk – Naquela época a educação era mais consistente?
Lito Casara – Basta lembrar que fui muito bem educado em Guajará Mirim. Você imagina que naquela época nós éramos educados em três línguas: Espanhol, Português e Francês. O francês a gente esqueceu porque não tinha com quem conversar depois, mas, o espanhol ficou porque tínhamos ali ao lado os irmãos bolivianos.
Zk – Quem era o grande concorrente do Conjunto Rondobrasa?
Lito Casara – Isso é importante destacar porque a concorrência é que fazia a gente crescer e nosso grande rival era “Os Apaches”, formado pelo Ciro, Cleber, Telêmaco que era o baterista, era uma turma boa. A turma ensaiava pra tocar melhor e com isso a cidade ganhava.
Zk – Vocês tocavam em qual clube?
Lito Casara – Tocamos muito no Helênico. Festa do Havaí e tantas outras.
Zk – Sendo você um ambientalista e também filho do Vale do Guaporé principal tabuleiro da preservação de tartaruga e tracajá. Como você ver a proibição da pesca desses quelônios
Lito Casara – Acho que a criação de quelônio para o consumo humano seria uma grande opção, uma grande alternativa de alimentação saudável para o rondoniense. Uma alternativa muito interessante para combater o desmatamento.
Zk – Ué! O que tartaruga tem a ver com o desmatamento?
Lito Casara – A gente come boi também. Na medida em que a gente pudesse criar mais, ter essas medidas de criatórios de tartarugas e tracajás para o consumo humano evitaríamos muito a pressão econômica sobre o avanço sobre a floresta nativa para transformá-la em pasto. Nada contra a criação de gado, mas isso poderia ser mais equilibrado. Nós carecemos de uma política pública inteligente e tecnológica, capaz de compatibilizar essas coisas. A gente vê muita pastagem sem uso e isso representa perda de biodiversidade. Hoje a gente sabe que biodiversidade é economia, só que nós não conseguimos na Amazônia, internacionalizar isso ainda, por falta de uma política de ciência e tecnologia e inovação que acredito que o próximo governo deve implantar.
Zk – Como é o nome da sua mãe?
Lito Casara – Dona Stela Madeira Casara que completa neste dia 15 de novembro 87 anos.
Zk – Voltando a questão da tartaruga. Quando se podia pescar, nossas mães disputavam com as amigas quem sabia preparar maior número de pratos. Na sua família quem era a bam bam no assunto tartaruga?
Lito Casara – Na época minha mãe, minhas tias, o pessoal todo era especialista. Minha tia Tereza era a mais solicitada porque fazia 33 pratos diferentes. Tartaruga é uma iguaria fantástica convenhamos que a lei proibiu porque o consumo foi predatório, mas, agora ta na hora de se desenvolver uma política inteligente que venha em favor da cultura culinária da Amazônia.
Zk – E o diretor da Escola de Música Jorge Andrade?
Lito Casara – Na época eu era consultor de um dos programas da ONU aqui e o Chiquilito me convidou para montar o Projeto da Escola de Música. Ele queria na verdade um Conservatório, mas dissemos, nós temos que começar lá na base e então foi criada a Escola Municipal de Música Jorge Andrade. É importante destacar o trabalho do professor maestro Araujo que foi o precursor na verdade da Escola de Música. Eu apenas cheguei para estruturar o que ele tinha criado.
Zk – Como está o trabalho do Gabriel seu filho?
Lito Casara – Ele está terminando o mestrado em piano e vai partir por doutorado possivelmente na Alemanha ou no Canadá. O Gabriel hoje já é do mundo da erudição é um dos maiores interpretes de Chopin e Bar. Apresenta-se no circuito de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro sempre levando o nome de Rondônia embora Rondônia nuca o tenha prestigiado, isso não é uma mágoa, é um fato. Parece que agora convidaram ele pra fazer uma apresentação no teatro Banzeiros. Ele sente: ‘Poxa pai, eu gosto muito de Rondônia, levo o nome de Rondônia pra onde vou e não sou convidado para me apresentar lá’. Hoje ele está com 24 anos e tem um trabalho de composição muito valoroso.
Zk – Além do Gabriel os outros filhos também são músicos?
Lito Casara – O Rafael é mais popular, é guitarrista não se dedica ao estudo da música, mas, é muito talentoso.
Zk – Você é casado com quem e desde quando?
Lito Casara – Evarista Casara minha primeira e única mulher, mora aqui em Porto Velho e está aguardando a transferência para Belo Horizonte.
Zk – Qual a ligação com o grupo Choro de Minas?
Lito Casara – São velhos amigos meus de 20 anos atrás. Nos reencontramos um pouquinho mais maduros. Era um sonho deles, conhecer Porto Velho. Espero que a municipalidade os traga mais vezes aqui para incentivar a criação do Clube do Choro de Porto Velho.
Zk – Vamos dar nomes aos chorões do Choro de Minas?
Lito Casara – Wagner Andrade (Sete Cordas), Du (Seis Cordas), Fernando Andrade (Acordeom), Ronaldo Pereira (Pandeiro), Nixon (Cavaquinho) e Lito Casara esse seu amigo aqui no Bandolim.
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com
Gentedeopinião / AMAZÔNIAS / RondôniaINCA / OpiniaoTV
Energia & Meio Ambiente / YouTube / Turismo / Imagens da História
Lenha na Fogueira com o filme "O Pecado de Paula" e os Editais da Lei Aldir Blanc
A Fundação Cultural do Estado de Rondônia (Funcer), realiza neste sábado (16), o ensaio para a gravação do filme em linguagem teatral "O Pecado de Pau
Lenha na Fogueira com o Museu Casa Rondon e a eleição da nova diretoria da FESEC
Entrega da obra do Museu Casa Rondon, em Vilhena. A finalidade do Museu é proporcionar e desenvolver o interesse dos moradores pela rica história
Lenha na Fogueira com o Dia de Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças
Hoje os católicos celebram o Dia de Nossa Senhora Aparecida a padroeira do Brasil. Em Porto Velho as celebrações vão acontecer no Santuário de Apareci
Jorgiley – Porquinho o comunicador que faz a diferença no rádio de Porto Velho
Tenho uma maneira própria de medir a audiência de um programa de rádio. É o seguinte: quando o programa ecoa na rua por onde você está passando, dando