Segunda-feira, 20 de julho de 2009 - 07h04
Na próxima sexta feira dia 24, o jornalista e escritor Lúcio Albuquerque promove o lançamento do livro, “Da Caixa Francesa a Internet – 100 da imprensa em Rondônia”. O interessante segundo captamos na entrevista que segue, é que o autor não se prende apenas a fatos históricos, tipo a data da publicação do primeiro jornal o surgimento da primeira rádio e da transmissão do primeiro sinal de televisão em Porto Velho. Histórias pitorescas fazem parte do conteúdo do livro. Livro que com certeza será bastante procurado pelos acadêmicos de jornalismo, história e publicidade das nossas faculdades, pela riqueza de conteúdo. Lucio Albuquerque que se tornou jornalista por acaso. “Eu era varredor do jornal e o editor chefe descobriu que eu estudava com seu filho no 2º colegial em Manaus e então me escalou para fazer uma reportagem. Daquele dia em diante abracei a profissão de jornalista com unhas e dentes”. Com registro desde 1969, portanto, são 40 anos de jornalismo profissional. Lucio nos presenteia com uma obra que podemos considerar a mais completa, sobre a história da imprensa na região do estado de Rondônia. “Não nos atemos apenas a história da imprensa escrita em Rondônia. O livro fala sobre os meios de comunicação como um todo”.
Deixamos de publicar algumas histórias que nos foi contada pelo Lúcio, para não tirar a curiosidade do leitor em comprar o livro para saber de fatos como o relato da jornalista Maríndia Moura da TV Rondônia sobre, “Meu 1º dia no Urso Branco”. Tem aquela do Edinho Marques que perguntou a um professor sobre a faixa etária de seus alunos e obteve uma resposta hilária.
Afastado das redações desde 1997, nosso entrevistado tem muita coisa a ensinar, principalmente aos acadêmicos de jornalismo.
Com prefácio de Antônio Queiroz, Lúcio Albuquerque deixa de lado o seu “Conta Gotas” e abre a torneira, deixando jorrar a história dos 100 anos da imprensai em Rondônia, nas 180 páginas do livro que será lançado sexta feira que vem dia 24 de julho de 2009.
E N T R E V I S T A
Zk – Como e quando surgiu a inspiração para escrever essa história?
Lucio Albuquerque – Primeiro devo confessar que sou “rato” de biblioteca. Desde quando cheguei aqui freqüento a Francisco Meirelles. Essa idéia surgiu exatamente durante uma conversa ainda na década de 1990 com a Glória Valadares, a Mara e a Eliana todas, funcionárias da biblioteca municipal à época. Quando a Mara falou que não existia uma bibliografia sobre a história da imprensa em Rondônia e os alunos quando chega à semana da comunicação procuram por essa história e elas não tinham como orientá-los. Então falei: vou escrever um livro contando essa história.
Zk - Por que só agora essa história está saindo do prelo?
Lucio Albuquerque – Não sei explicar porque sempre estava postergando o inicio da obra. Nos últimos anos decidi escrever. Acontece que toda vez que era convidado para proferir palestra aos acadêmicos de jornalismo nas faculdades, os alunos me questionavam sobre assunto.
Zk – Então vamos falar sobre essa obra?
Lucio Albuquerque - Esse livro tem como base os Cem Anos da Imprensa em Rondônia. Dia 4 de julho festejamos o centenário da primeira edição de um jornal editado em Porto Velho.
Zk – Como era o nome desse jornal?
Lucio Albuquerque – Porto Velho Times um jornal todo em língua inglesa. Esse jornal trouxe o primeiro evento de caráter comunitário importante, a primeira reunião maçônica que aconteceu no dia 24 der julho de 1909.
Zk – Por que caixa francesa?
Lucio Albuquerque – Caixa francesa é o sistema de composição gráfica manual. Uma coisa que eu admirava muito, é que os gráficos sempre bebiam muito, acho que o único gráfico que não bebia era o seu João Tavares e esses gráficos, bêbados como estivessem de manhã cedo, conseguiam separar tipo a tipo pelo tato e distribuir nas caixas. Esse sistema era chamado de caixa francesa.
Zk – Agora vamos deixar por alguns segundos a história do livro para falar da história do jornalista Lúcio. É verdade que você de varredor do jornal passou a jornalista?
Lucio Albuquerque - Realmente eu era um varredor de chão. O editor chefe do jornal descobriu que eu era colega de sala do filho dele no segundo ano colegial e me perguntou qual a razão que me fazia estar varrendo chão. Respondi que precisava trabalhar para sobreviver. Foi aí que ele disse: “Pois então a partir de agora você vai ser repórter”. Passei a ser repórter de graça!
Zk – Qual a primeira reportagem?
Lucio Albuquerque – Minha primeira vez foi à cobertura da greve dos taxistas na cidade de Manaus (AM). Era no período da chamada Ditadura Militar e greve era um negócio de doido. Por sinal, a única vez que fui preso no exercício da profissão, foi cobrindo uma greve de taxista já aqui em Porto Velho (RO). O movimento estava acontecendo na avenida Kennedy (depois Jorge Teixeira e hoje BR-319), estava fotografando e de repente fui abordado por policiais e levado preso para o quartel da PM que ficava ali na Olaria. O Doutor Rochilmer chegou lá e resolveu tudo. Aliás, tive dois diretores de jornal que sempre estavam com a redação o Dr. Rochilmer Melo da Rocha do jornal A Tribuna e o seu Euro Tourinho do Alto Madeira. No episódio o Dr. Rochilmer chegou jogando pesado e não deu em nada, fui mandado pra casa. O que atrasou foi a matéria.
Zk – Por falar em censura. Nos jornais que você trabalhou os militares interferiam?
Lucio Albuquerque – Trabalhei em três jornais censurados. Meu livro inclusive trás um documento do Montezuma Cruz onde ele mostra como era feito a censura. O “Correio da Manhã” (onde o Dr. Rochilmer trabalhou), foi fechado porque tinha uma linha independente da adotada pelos militares. Já o Estado de São Paulo não fechou porque o grupo dirigido pelo Mesquita tinha suporte. Muitas e muitas edições do O Estado de São Paulo principalmente após 1968, saiam com receitas de bolo em sua primeira página, isso porque as matérias haviam sido censuradas. Tem alguns casos pitorescos.
Zk – Por exemplo?
Lucio Albuquerque - Num dos jornais de Manaus (AM), a direção colocou a mesa dos censores na entrada entre os dois banheiros. O pessoal do jornal quando ia ao banheiro não dava a descarga só para os censores ficarem sentindo aquele odor vindo dos vasos.
Zk – Parece que tem mais “armação” por aí?
Lucio Albuquerque – Quando a gente queria que saísse uma matéria que teria problema se passasse pela censura, apelávamos para as três repórteres que trabalhavam na redação, e elas vestidas em mine saias iam bater papo com os censores trocando a todo o momento o cruzamento das pernas e assim, no outro dia estava lá a matéria que seria censurada em destaque na primeira página.
Zk – E em Porto Velho?
Lucio Albuquerque – Aqui também a censura atuou principalmente dentro do jornal A Tribuna. O Dr. Rochilmer deixou a redação muito na nossa mão e como nossos repórteres e redatores eram afoitos, de vez em quando a censura baixava dentro do jornal e aí era aquele corre, corre.
Zk – Como foi que esse caboclo amazonense foi parar nas redações das grandes empresas jornalísticas do Brasil?
Lucio Albuquerque - Atendendo convite quando ainda militava na imprensa amazonense e quando vim pra cá continuei.
Zk – Uma grande reportagem quando você era correspondente?
Lucio Albuquerque – Com dois dias que estava aqui em Porto Velho, o Estadão de São Paulo me encaminhou até Vilhena para fazer uma reportagem sobre um cidadão paulista que segundo noticias divulgados, havia sido sequestrado por tripulantes de um disco voador e foi encontrado justamente em Vilhena no Território Federal de Rondônia.
Zk – Como aconteceu isso?
Lucio Albuquerque – Segundo disse o cidadão sequestrado, que foi deixado no jardim da casa de um advogado de Vilhena. De lá ele saiu andando e foi parar no único boteco que existia na cidade que por coincidência ficava no campo de aviação. Ali ele ficou sentado e o pessoal o encontrou chorando. Ao ser indagado o motivo do choro, ele falou que havia sido sequestrado por tripulantes de um disco voador na cidade de Campinas no estado de São Paulo. Que havia saído do Posto do avançado do Banco do Brasil na Unicamp onde ele era professor e quando chegou fora do estabelecimento, foi envolvido por uma luz e daí pra frente não sabia mais o que havia acontecido até o momento que o deixaram naquela cidade (Vilhena). Consultaram seus documentos entraram em contato via Rádio Amador da FAB – Força Aérea Brasileira com Campinas e ficaram sabendo que a família estava desesperada porque não sabia do paradeiro do professor. Eu fui lá fazer o rescaldo dessa história. Depois o Dr. Rochilmer me convidou para fazer parte do jornal A Tribuna.
Zk – E na A Tribuna?
Lucio Albuquerque – O Dr. Rochilmer estava montando A Tribuna e me convidou para fazer parte da equipe. Como ele não tinha diagramador veio Ivan Marrocos e foi montada a seguinte equipe. Chefe Ubiratan Sampaio que também era diretor da TV Rondônia; Secretário de Redação Vinicius Danin; Eu era repórter. Aconteceu o seguinte, os responsáveis pela impressão foram contratados do Guaporé e do Alto Madeira onde eles trabalhavam com o que chamo de sistema de pacote, fechando buraco. Até então não tinha diagramação. Na primeira edição terminei meu trabalho e fui pra casa, por volta das nove e meia da noite chega o motorista pra me buscar. Acontece que nem o Ubiratan e nem o Danin sabiam como fechar um jornal com chamada prevista, ou seja, pré diagramado, tantos toques, tantas linhas etc. Eu acabei ficando fechando a 1ª página do jornal também. O fotografo era o Nascimento que hoje, infelizmente está convalescendo num leito. No esporte tinha o Eneas Martins. Depois chegou uma equipe da pesada como Montezuma Cruz, Paulo Queiroz e Martinez. A Tribuna trouxe para a Rondônia a técnica do Linotipo. Tem umas histórias meio malucas aí.
Zk – Quer contar?
Lucio Albuquerque - Quando o pai do hoje senador Aloizio Mercadante era comandante do CFAR – Comando de Fronteira Acre Rondônia (hoje 17ª Brigada), naquele tempo eles faziam umas rondas a noite. O último jornal era A Tribuna porque naquele tempo, pra chegar pela Sete de Setembro a Avenida Kennedy era difícil, muita lama e buraco. O Comandante Cliva certa vez ao chegar ao A Tribuna queria saber quem fazia os títulos do jornal. Dr. Rochilmer sabendo o que ele queria o levou até a oficina com o Copá aquele foi jogador o Moto Clube. Quando o Copá viu o homem com a roupa cheia de estrelas se urinou todinho. Depois que Coronel explicou o que queria saber, o Copá já mais tranquilo, respondeu que “A manchete do jornal qualquer um faz”. Isso depois virou piada.
Zk – Outro episódio?
Lucio Albuquerque – Naquele tempo, na hora do fechamento do jornal, por volta das sete horas da noite chegava um camarada e apresentava um papel com o seguinte texto: “De ordem superior fica suspensa à vinculação de tal matéria.” Não tinha assinatura nem nada, mas a gente sabia de onde partia a ordem. Quando o jornal era vítima desse “papel” era o maior transtorno, tinha que se fazer praticamente o jornal todo e naquele tempo não era como hoje que é só apertar um botão e pronto.
Zk – Em Porto Velho você trabalhou em quais jornais?
Lucio Albuquerque – Trabalhei na Tribuna, Alto Madeira, um período muito pequeno no O Guaporé, voltei para o Alto Madeira. Em 1994 o Mário Calixto me convidou e fui trabalhar no Estadão do Norte como editor do Caderno do Interior. Em 1997 decidi ficar fora de jornal. Sou funcionário da Assembléia Legislativa e desde 2007 estou a disposição do Tribunal de Contas do Estado.
Zk – Qual a editoria que você mais gosta ou gostava de trabalhar?
Lucio Albuquerque – Sinceramente é a de polícia. Fiz policia por muito tempo. Hoje quando vejo colega na televisão só faltando bater em preso fico com receio. Ele ta ali algemado, cercado de policiais, quer dizer aquele sujeito está te marcando e com certeza ela vai te pegar lá na frente ou alguém da tua família. Sito o caso de um colega nosso lá em Manaus que era repórter polícia da Crítica e tinha essa mania de fazer isso com os presos, quando é um dia ele desapareceu.
Zk – E o que você aconselha ao repórter policial?
Lucio Albuquerque – A gente começava a fazer policia no IML. Quem morreu? O que houve? Com essas informações saíamos atrás das pessoas envolvidas no crime. Você sabe que o BO (Boletim de Ocorrência), muitas vezes é colocado debaixo da mesa, por interesses diversos. Muitas vezes o repórter policial que vai só atrás do BO só sabe sobre ladrão de galinha. Foi agindo assim que em 1976 eu e o Ivan desvendamos o famoso crime do Ripado que foi morto na cascalheira e a policia quando indagada por nós, alegou que não tinha envolvimento com niguém.
Zk – Como foi que vocês chegaram aos criminosos?
Lucio Albuquerque – Com dez dias de investigação, eu o Ivan e o Kafuri que estava começando naquele tempo, chegamos com o Dr. Rochilmer e dissemos, a história do crime do Ripardo está aqui. Foi um crime encomendado, o cara foi pego em tal canto, foi levado numa viatura pelo policial fulano que faz parte da Quarta Turma. O nome do policial nós não tínhamos, mas sabíamos que não era o Simião Tavernard e nem o Jacó e também não era mais uns três ou quatro. A cascalheira ficava na região entre o Pedacinho de Chão e o Conjunto Marechal Rondon. Essa era a diferença da turma que fazia policia no nosso tempo e os que fazem policia hoje. A investigação do repórter é muito importante. Nesse caso, como envolvia uma pessoa da direção da educação do município de Porto Velho e uma senhora da alta sociedade local e mais um policial da Quarta Turma tinha tudo para ficar embaixo da mesa e nós como repórter, provocamos a divulgação dos fatos reais.
Zk – Voltando ao livro. Você homenageia alguém. Qual a metodologia utilizada em sua formatação?
Lucio Albuquerque – Quando fiz o livro sobre as mulheres segui a cronologia, a mesma coisa estou usando no livro sobre a imprensa. Isso porque quando você cita um fato fica mais fácil de pesquisar. Na realidade essa cronologia começa em 1891 quando foi rodado o primeiro jornal nessa região. O município amazonense de Humaitá vinha até Santo Antônio e o comendador Monteiro cria o jornal “O Humaitaense”. Falo sobre os mocrebes que eram os condutores de carga. Quando os bandeirantes vinham de São Paulo pelo Rio Guaporé e esses camaradas traziam notícias que demoravam dez meses para chegar mais chegavam. Depois, falo sobre os Regatões. Falo que em 1907 o governo brasileiro mandou Rondon instalar a linha telegráfica entre Rondônia e Mato Grosso. Na realidade não falo apenas da imprensa, falo das comunicações como um todo.
Zk – O que tem sobre a Comissão Rondon?
Lucio Albuquerque – Quando Rondon chegou aqui com a “Língua de Rondon” segundo os índios, a construtora da Madeira Mamoré em 1909 já se comunicava com os seus acampamentos via telefone, já se comunicava com Manaus e Belém através de sistema sem fio. De qualquer forma a importância da linha telegráfica para Rondônia e para o Brasil foi importante assim como os jornais. O primeiro jornal “Porto Velho Times”.
Zk – E o Alto Madeira?
Lucio Albuquerque – O Alto Madeira foi o sétimo jornal a ser implantado aqui. Falamos sobre o jornal “Bilontra” que na realidade era um Mural. Em 1913 surge o Extremo Norte que era impresso na gráfica da Madeira Mamoré, o primeiro jornal em língua portuguesa que circulou aqui. Em 1917 uns comerciantes locais importam equipamento de Manaus e fazem o “Alto Madeira”. Aí vem o primeiro jornal da área religiosa “A Luz da Verdade” do seguimento espírita, o jornal de propaganda com um nome interessante “O Cú”. Esses jornais, mais o “Porto Velho Curriê” eu tenho cópias de todos. Tem ainda sobre a primeira rádio e muitas outras histórias. Não posso citar tudo aqui se não o livro não vai vender nada.
Zk – Quando vai ser lançado o livro e quanto vai custar?
Lucio Albuquerque – No próximo dia 24 às 19h na Casa da Cultura Ivan Marrocos. Depois vai para as livrarias.
Fonte: Sílvio Santos / www.gentedeopiniao.com.br / www.opiniaotv.com.br
zekatracasantos@gmail.com
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