Sábado, 28 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)

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Gente de Opinião

Silvio Santos

LUIZ CARLOS ALBUQUERQUE


Um ano de leitura no ônibus

Poucas são as pessoas em Porto Velho, que ainda não tiveram contato com o informativo "Leitura no Ônibus", uma produção literária idealizada pelo escritor Luiz Carlos Albuquerque, um abnegado pela leitura. "O objetivo do nosso projeto é incentivar a leitura". Depois de superar alguns obstáculos, Luiz Carlos há um ano conseguiu sair pela avenida 7 de Setembro com uma cesta (sacola), cheia com os exemplares da 1ª edição do informativo que hoje, conta, inclusive, com colecionadores. "Cansei de receber telefonemas de pessoas querendo um exemplar que faltava na coleção, eu corria em casa, pegava o exemplar solicitado e levava para a pessoa. Hoje, isso é praticamente impossível porque não sobra nenhum". Apesar de não contar com patrocínio oficial, o informativo, Leitura no Ônibus, de 15 em 15 dias, está nos pontos de distribuição. "No início eu saía com uma sacola distribuindo pelos pontos da 7 de Setembro e aquilo cansava muito". Hoje o livreto pode ser encontrado em farmácias, padarias das zonas Leste, Sul, Norte e no Centro da cidade. "Tentei distribuir dentro do ônibus, mas, vi que os cobradores não se interessavam pela distribuição, então parei e fui para os pontos fixos". Ainda este mês, Luiz Carlos Albuquerque vai lançar o livro "Um Ano de Leitura no Ônibus", com o conteúdo de todos os exemplares publicados durante este primeiro ano, ou seja, 43 exemplares, com tudo que o leitor tem direito, com um agravante, tudo reunido em um livro só. "As dicas, contos e as piadas vão estar lá à disposição de quem adquirir o livro". Além da edição especial do "Um Ano de Leitura no Ônibus" o escritor, está escrevendo "A História do Comércio em Porto Velho" e solicita às pessoas que saibam de fatos pitorescos a respeito do comércio, dos comerciantes e pontos comerciais de nossa cidade, que o procurem através do telefone 9205-7003. "Faço questão de entrevistar e dar o crédito a essa pessoa. O importante é passar aos leitores a verdadeira história do Comércio de Porto Velho".

Que tal, ler a entrevista com o autor, editor e distribuidor do informativo, "Leitura no Ônibus"!
 

E N T R E V I S T A


Zk – Como surgiu a idéia da publicação do informativo "Leitura no ônibus"?

Luiz Carlos – Surgiu de uma viagem que fiz a Manaus. Lá existem cinco terminais de coletivos (ônibus), como estava passando um período naquela cidade e dependia de ônibus para me locomover, ficava pensando como seria, se a pessoa tivesse alguma coisa pra ler durante a espera que demora muito. Foi então que surgiu a idéia do leitura no ônibus, logicamente que para os leitores de Porto Velho.


Zk – Quanto durou da idéia em Manaus à sua colocação em prática em Porto Velho?

Luiz Carlos – Voltando a Porto Velho passei mais de dois anos desenvolvendo a idéia, na realidade, o objetivo não era apenas sobre os usuários de ônibus, o principal objetivo era fazer a pessoa ler, nós nos acostumamos a dizer, que o brasileiro não gosta de ler e eu protesto, porque acho que o brasileiro gosta de ler sim, desde que seja uma leitura que ele entenda, uma leitura que não seja cansativa. Então a idéia surgiu da necessidade de ter alguma coisa pra fazer a pessoa ler. Como a maioria das pessoas trabalham, tem esse trajeto de ônibus, vai pra casa, volta, tem um horário, embora ler no ônibus não seja muito aconselhável para algumas pessoas, mas, a princípio a idéia era essa.


Zk – E qual a técnica que você aplica para conseguir essa performance?

Luiz Carlos – Além da pesquisa, tenho uma criação minha, que são os contos, as crônicas, alguns textos. Pesquiso muito e nessa pesquisa, trago o texto que acho que vai ser de interesse do público. Por exemplo, temos as dicas...


Zk – Que dicas?

Luiz Carlos – Dicas de saúde, dicas de casa, mas de uma forma que a pessoa leia e veja que é uma leitura agradável, não é só a dica pela dica, pelo fato. Temos as informações históricas que pego através de nossos historiadores. Eu traduzo um pouco os textos desses historiadores, porque logicamente o texto dos historiadores é técnico. O que que eu faço, popularizo esse texto. Por exemplo, vamos imaginar as primeiras explorações da região, naquele tempo Mato Grosso, o que acontecia em procura de ouro, especiarias e em busca até de escravos. Eu traduzo isso de forma que a pessoa leia e goste, ou seja, popularizar a literatura.


Zk – Como foi a publicação do primeiro número do Leitura no ônibus, patrocínio, essas coisas?

Luiz Carlos – A intenção sempre foi distribuir gratuitamente, fazer as pessoas receber isso de graça. Logicamente que o custo existe, porque nada é de graça. A grande batalha é como todo mundo que escreve que busca fazer alguma coisa em benefício dessa área literária, principalmente, ou qualquer tipo de cultura, que não tem o apoio oficial, é fazer convencer os nossos empresários a investirem no projeto. No primeiro número, eu só tinha minha cara de pau e o conhecimento de algumas pessoas, então, saí e em campo de consegui quatro patrocinadores que me garantiram a impressão do primeiro número. O primeiro número foi assim, recolhendo dinheiro, pagando a parte da gráfica que se dispôs a me ajudar cobrando um preço diferenciado, daí pra frente cada número passou a ser uma batalha.


Zk – E hoje?

Luiz Carlos – Hoje eu diria que já está um pouco mais fácil, embora não sobre dinheiro, porque já tenho alguns novos patrocinadores que já estão comigo tranquilamente, mas a batalha continua não sendo fácil. Quando sai um patrocinador tenho que suar pra conseguir outro. Não é porque o produto não seja bom, é porque é difícil realmente um empresário hoje, meter a mão no bolso. Graças a Deus hoje tenho uma aceitação, porque o pessoal passou a acreditar nesse trabalho, mas o primeiro número foi muito difícil.


Zk – Quantos exemplares são impressos?

Luiz Carlos – São distribuídos 20 mil exemplares mensais. No início até dezembro, eram 5 mil por semana, só que devido a uma série de fatores, inicialmente eu distribuía no centro e na Jatuarana e comecei a receber ligações de outras regiões, perguntando "por que, não temos aqui esse informativo?", aí resolvi aumentar cada edição pra 10 mil exemplares e passar a distribuição para quinzenal. Assim distribuo na zona Leste, Zona Norte, Zona Sul e no Centro.


Zk – A sua equipe é composta por quantas pessoas?

Luiz Carlos – A minha equipe é formada, por mim, por mim e por mim, auxiliado por mim mesmo.


Zk – Fala sobre o desenvolvimento do informativo, desde sua criação até chegar ao leitor?

Luiz Carlos – Eu crio o texto, coloco em Word levo pro rapaz que faz a editoração gráfica e pago a gráfica para imprimir. Fora a gráfica e o artista que faz a arte gráfica, o restante é tudo comigo, inclusive a distribuição.


Zk – Você entrega os exemplares aonde?

Luiz Carlos – Hoje a distribuição é feita nas panificadoras farmácias, em algumas lanchonetes, mercearias e mercadinhos porque não consegui ninguém que seguisse o padrão que iniciei. Então tiro quatro dias por mês para fazer essa distribuição, é bom até, porque serve para eu andar um pouco e emagrecer um pouco.


Zk – Você já tentou fazer uma parceria com as empresas de ônibus no sentido do informativo ser entregue pelos cobradores?

Luiz Carlos – Já tentei. No início o SET (Sindicato das Empresas de Transporte), durante algum tempo, algumas edições me deu apoio financeiro, colocando anúncio, só que depois aconteceu uma reunião entre os dirigentes das empresas e eles resolveram acharam que não era um bom negócio mexer com o "Leitura no ônibus".


Zk – E quanto à distribuição feita pelo cobrador?

Luiz Carlos – Essa parte, de distribuição no ônibus, cheguei a conclusão que deveria haver interesse do cobrador para entregar. Só que notei, posso tá errado, que alguns serviços que foram feitos, por exemplo, quando da implantação do Cartão Leva Eu, fizemos um informativo que foi distribuído nos ônibus, acontece que pouca gente teve acesso ao jornalzinho, porque os cobradores não distribuíam, uma vez, eu vi um informativo desse na mão do cobrador e pedi. Me dá aí um negócio desse! Foi a única vez, e eu ando de ônibus direto. No início comecei a distribuir nos pontos de ônibus da 7 de Setembro, só que também era inviável, fazia seis viagens ida e volta na 7 de Setembro com a sacola cheia, era um negócio muito pesado. Por isso, comecei a distribuir nas lojas e deixar nos pontos específicos.


Zk – Na sua análise qual o índice de leitura alcançado?

Luiz Carlos – Hoje tenho certeza que os dez mil exemplares quinzenais e os 20 mil mensais, são totalmente lidos e com isso, vejo que a produção é boa, eu não tenho perda de material, você não enxerga um papel desse na rua, isso é sinal que a pessoa pega e leva pra casa, passa pro´s seus colegas, parentes, todo mundo lê. Na pior das hipóteses lê as piadas.

Zk – Você disse antes que os empresários que trabalham com transporte coletivo em Porto Velho, acharam por bem tirar o patrocínio. Na sua visão, por que eles tomaram essa decisão?

Luiz Carlos – Nós temos duas empresas de ônibus aqui em Porto Velho, a Três Marias e a Rio Madeira. O gerente do Sindicato que é uma pessoa muito simpática, o Luiz Antônio, fez o possível pra continuar com o patrocínio, só que ele depende dos donos das empresas, que não viram com bons olhos continuar com o apoio. Pra mim foi muito ruim, porque era um apoio significativo no sentido de que fazia uma ligação entre o nome do movimento "Leitura no ônibus" com o próprio ônibus, isso era uma coisa muito agradável e a minha proposta era, que dentro dessa propaganda a gente pudesse botar notas de esclarecimento, informação aos passageiros de tal maneira que esse meio, fosse usado também como informativo ao público em relação aos ônibus de nossa cidade.


Zk – O interessante é que a gente encontra nas grandes cidades, informativos patrocinados pelas empresas, que são distribuídos ao público de um modo geral e aqui acharam nocivo esse tipo de informação?

Luiz Carlos – Nesse formato, por exemplo, normalmente as empresas contratam profissionais para fazer a produção, como vi em Cuiabá, fico imaginando quanto se gasta pra fazer. Você tem que contratar uma agência e essa agência tem que contratar profissionais. No meu caso, como eu gosto de fazer, absorvo o custo da revisão, da criação até da revisão, enquanto que, se alguma empresa quisesse ter isso na mão, teria que gastar muito dinheiro, dou como exemplo uma empresa local que criou um informativo de oito páginas e eu vejo o custo que ela tem, eles me pagam pra fazer a criação e eu diria que não é barato, porque um serviço bem feito tem que ter seu preço justo, pago a gráfica que também não é barata, papel de primeira qualidade, papel coche em impressão colorida. E eu tô com o negócio na mão e não tive esse apoio. Tive inicialmente, mas depois acharam que não era um bom negócio.


Zk – E apoio oficial?

Luiz Carlos – (Sorrindo muito) Oficial é piada, pra onde você corre encontra problemas, não vou culpar as pessoas que estão no comando, porque vejo muito boa vontade delas, o que elas não têm é condição real. O ideal era que eu tivesse 20 mil exemplares por cada edição, porque com esse tanto de informativos chagaria na mão de pelo menos 120 mil pessoas. Eu sempre falo pro meu anunciante, você não pode ver o "Leitura no ônibus", apenas como propaganda, você tem que ver o alcance que isso tem socialmente, o alcance de cultura, nós temos que fazer alguma coisa, não podemos ficar à mercê somente das entidades públicas, tipo Seduc, porque quando chega na ponta que é o professor, tenho um neto de doze anos que nunca vi o professor indicar um livro pra ele ler. Meus filhos estudaram e dificilmente era indicados para ler livros o que os professores passam é um trabalho de pesquisa e no máximo uma redação, e olhe lá. Nós temos que fazer alguma coisa, pelo menos um pouquinho, é aquela velha história, pelo menos fiz a minha parte.


Zk - Vamos falar dos livros que você editou?

Luiz Carlos – Eu editei três livros, no padrão normal nosso, que não é pela editora, a gente mesmo é o editor, vai atrás da gráfica e faz. "O Vendedor Lojista" um livro técnico romanceado que conta a história de um rapaz que perdeu o emprego no banco e teve que aprender a vender. Como sou instrutor na área de venda, fiz por onde trabalhar esse livro, de tal forma que a pessoa entenda o que é técnica de venda e compreenda o que é venda. Tem o romance "Entre Erros e Acertos" e tem o livro de contos e crônicos, "Fatos e Feitos dos Vendedores" e tem um outro que eu publiquei muito restritamente, porque eu quis fazer, é artesanal só usei xérox o resto eu mesmo fiz o título dele é: "O Homem que Queria Ser Enterrado Nu"

Zk – Fora o Leitura no Ônibus, tem alguma outra produção em pauta?

Luiz Carlos – Se Deus quiser estarei lançando até o final deste mês "Um Ano de Leitura no Ônibus"; Além disso, estou escrevendo,"A História do Comércio de Porto Velho", aproveito a oportunidade para solicitar o apoio das entidades de comércio, tipo Fecomércio, Associação Comercial, Junta Comercial e outras mais. O que eu quero fazer é dar um foco na história do comércio de Porto Velho, porque não existe nenhum lugar do qual o comércio não tenha sido prioritário, todos os lugares começam pelo comércio. Se você tem uma casinha lá na beira do rio e se tiver nenhum comércio, a casinha vai continuar lá até os fins dos tempos, se ali é um ponto que alguém compra ou descansa faz e acontece, faz circulação, daqui a pouco, naquele lugar vai chegar mais gente e assim a casinha se torna numa vila, cidade e por aí vai. Por isso, o comércio é importante. Quem estava aqui no início, quem veio pra cá na época da borracha, quem era seringueiro e virou comerciante, poucos são os comerciantes de raízes, hoje são lojas de redes nacionais que estão tomando conta do nosso comércio.


Zk – Como vai ser a produção do livro Um ano de Leitura no Ônibus?

Luiz Carlos – O livro Um Ano de Leitura no Ônibus vai ser a encadernação de todos os exemplas do Leitura no Ônibus, nós temos até a última edição, 43 edições. A pessoa vai ler a edição N°1, 2, 3 e outras mais, vai ler piada, contos, dicas, informações e casos.


Zk - Para encerrar, qual a sua formação literária?

Luiz Carlos – Eu tenho formação de nível médio, não tenho curso superior. No tempo que podia dar aula no nível médio, eu cheguei a atuar como professor por dois anos, desisti porque não era a minha praia, comecei a me dedicar no que eu me identificava mais, que é o comércio, eu fui vendedor há muito tempo, fui chefe de vendas e gerente, a parti de 1979 comecei a dar treinamento na área de vendas, me aperfeiçoei, me especializei, passei a estudar muito, a buscar a informação, hoje chego a fazer consultoria para as empresas, e quando surge uma empresa interessada eu dou treinamento, se alguma empresa quiser é só ligar no 9205-7003.

Fonte: zekatraca@diariodaamazonia.com.br 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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