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Silvio Santos

Luiz Gouveia: Extinção das fanfarras em Porto Velho


Luiz Gouveia: Extinção das fanfarras em Porto Velho   - Gente de Opinião
Uma semana antes do dia 7 de Setembro, estávamos na Casa da Cultura Ivan Marrocos e nos interessamos pela conversa que estava rolando entre o professor Cláudio Vrena e o Valney. O assunto era justamente sobre as fanfarras dos colégios municipais de Porto Velho que não existem mais. Procurei saber detalhes sobre o assunto e o Valney me confirmou que fanfarras como a do colégio Padre Chiquinho e colégio Vicente Rondon foram extintas e seus instrumentos e indumentárias estão se deteriorando jogados num quartinho. Além das fanfarras citadas, lembramos de quando o estádio Aluízio Ferreira ficava lotado de torcedores de fanfarras como a do Castelo Branco, colégio Brasília, escola Normal Carmela Dutra, Dom Bosco, Maria Auxiliadora e tantas outras cujas torcidadas lotavam as arquibancadas do aluizão. Minha preocupação aumentou quando na parada de 7 de Setembro que aconteceu na avenida Dos Migrantes este ano em Porto Velho, apenas três fanfarras se apresentaram. Tancredo Neves, Maria Carmosina e Daniel Néri. Foi então que resolvemos levantar os motivos que levaram à extinção as fanfarras dos colégios municipais e algumas de colégios estaduais. Fomos até o colégio Padre Chiquinho e o que ouvimos do vice diretor confirmou o que o Valney já havia nos dito. “Nossa fanfarra foi extinta, os instrumentos estão guardados ali no depósito” disse o vice diretor nos aconselhando a voltar a noite para conversar com o professor Rogério que foi o encarregado pela fanfarra enquanto ela existiu. “Quem sabe informar melhor sobre isso é o professor Rogério”. Também fomos ao colégio Joaquim Vicente Rondon e não conseguimos nenhuma informação a respeito do assunto fanfarra. Acontece que o prédio do colégio está em reforma e as aulas estão acontecendo em outro local. Foi então que resolvemos procurar o professor Luiz Gouveia – Luizão Diretor de Marketing da Associação de Bandas e Fanfarras do Estado de Rondônia. Luizão realmente sabe tudo sobre o Movimento de Fanfarras em Rondônia. Leia a entrevista. 

E N T R E V I S T A 

Luiz Gouveia: Extinção das fanfarras em Porto Velho   - Gente de Opinião Luiz Gouveia: Extinção das fanfarras em Porto Velho   - Gente de Opinião


Zk - Qual seu envolvimento com o Movimento de Bandas e Fanfarras?

Luizão
– Sou diretor de informação e marketing da Associação de Bandas e Fanfarras do Estado de Rondônia.

Zk – Essa sua paixão por fanfarras vem de onde?

Luizão
– Quando cheguei a Rondônia em 1981, o movimento de bandas e fanfarras já existia em um formato totalmente diferenciado, 80 por cento das escolas tinham fanfarras, mas, não tinham os uniformes que hoje nós temos.

Zk – Como eram os uniformes naquela época?

Luizão
– Era calça branca, sapato branco, camisa manga comprida. os regentes utilizavam apito para trocar (ele chamavam) os toques. A cadência era o que todo mundo conhece do Exército “Vaca Parida”, a cadência era 80 não era 120.

Zk – E o que senhor mudou ao chegar?

Luizão
– Quando cheguei aqui em Rondônia já havia participado de várias fanfarras campeãs nacionais, fui para a escola Antônio Ferreira da Silva, montei uma fanfarra, na época o secretário de Educação era o professor João Neto um incentivador da cultura e principalmente dos movimentos de fanfarras.

Zk – Sim, mas, o que teve de diferente nessa fanfarra?

Luizão
– Apresentei a fanfarra com um uniforme diferenciado, Fizemos uma homenagem aos bandeirantes de Rondônia, calça azul, túnica amarela, chapéu com penacho. Foi realmente uma coisa diferente e naquela época eu não regia com apito, regia com as mãos, como um maestro mesmo.

Zk – Ganhou o Festival?

Luizão
– Aquilo foi considerada uma coisa atípica. Fui campeão, melhor surdo, melhor prato, melhor caixa, melhor bumbo. O Navarro pintor, pai do nosso caixista, comprou o instrumento do seu filho. Como podemos ver, já existia a falta de instrumento naquela época.

Zk – Vocês concorreram com quais fanfarras?

Luizão
– Escola Brasília, Antônio Ferreira, 21 de Abril, Rio Branco, Murilo Braga, Estudo e Trabalho, Padre Chiquinho, Castelo Branco, Carmela Dutra, Dom Bosco, Auxiliadora, Laura Vicuña.

Zk – A disputa era acirrada?

Luizão
– O concurso no Estádio Aluizio Ferreira começava 3 horas da tarde e terminava 2 horas da madrugada.

Zk – As disputas eram em quais categorias?

Luizão
– Eram duas categorias, a Mirim e a Juvenil. A maioria era fanfarra simples sem sopro, poucas eram as de sopro.

Zk – Quais eram as fanfarras de sopro?

Luizão
– Tínhamos a do Carmela Dutra, Dom Bosco, Auxiliadora que eram as fanfarras top de linha e a do Castelo Branco.

Zk - A que o senhor atribui a queda no Movimento de Fanfarras em Porto Velho ao ponto de hoje termos apenas três corporações?

Luizão
– Quem realizava os concursos era a prefeitura municipal de Porto Velho. Vale salientar que, apesar de ser um evento realizado pela prefeitura, podiam participar fanfarras de todos os colégios, tanto municipais, estaduais ou particulares. Com o passar do tempo foi decaindo.

Zk – Por que?

Luizão
– Não existia investimento nas fanfarras escolares. A Secretaria de Estado da Educação nunca incentivou a compra de instrumentos. Primeiro, por ser oneroso. No governo Bianco foi feita uma compra de instrumentos, então a coisa melhorou um pouquinho, mas, a decadência veio vindo. Na realidade, quando entrou o PT na administração municipal.

Zk – E antes do PT?

Luizão
– Antes nós tínhamos o professor Cláudio Vrena que era coordenador do Movimento de Bandas e Fanfarras da Semed que organizava os concursos, porém, quando o PT ganhou a prefeitura tiraram o Vrena do setor. A bem da verdade, o Movimento Morreu, acabou.

Zk – Quando senhor diz acabou, quer dizer que fanfarras como a do Padre Chiquinho, Vicente Rondon não existem mais, foram extintas?

Luizão
– Exatamente. Para você ter idéia, até o PT entrar na prefeitura, existiam as fanfarras do Padre Chiquinho, Escola Padrão, Antônio Ferreira e Vicente Rondon entre outras menos votadas, todas de colégios municipais. As fanfarras Padre Chiquinho e Vicente Rondon juntas, têm um instrumental no mínimo no valor de R$ 300 Mil. Eles têm instrumental para orquestra. Isso tudo ta jogado, uniforme completo, túnica, barrentina, sapato, bota, cinto. Tem instrumento de orquestra como é o caso de Tímpanos. Um Baixo Tuba hoje custa R$ 10 Mil e só a fanfarra do Pe. Chiquinho deve ter uns seis. Vejam o que está sendo perdido aqui em Porto Velho, dinheiro público jogado fora.

Zk – Mesmo assim, no último dia 7 de Setembro algumas fanfarras se apresentando na “Parada” que aconteceu na avenida Dos Migrantes. Quem mantém essas fanfarras?

Luizão
– Pois é, vimos a escola Maria Carmosina com a fanfarra Leões Alaoá que é bi campeã brasileira e campeã estadual; temos a escola Tancredo Neves com a fanfarra Impacto tri campeã brasileira, campeã sul americana e penta campeã do estado de Rondônia; Temos a escola Daniel Neri que no ano passado na categoria fanfarra com sopro foi campeã estadual e nacional.

Zk – Por enquanto só falamos nas escolas municipais que extinguiram suas fanfarras e os colégios estaduais?

Luizão
– Tínhamos a fanfarra do colégio Brasília que tinha um instrumental de primeira grandeza, acabou, parou no tempo. Acontece que aqui na capital não existe investimento em instrumento e muitas se perderam porque não existia um controle no Departamento específico na Seduc pra cuidar desses instrumentais que são caríssimos.

Zk – Esse descaso o senhor atribui a que?

Luizão
– Primeiro os instrutores são voluntários não ganham nada. Pra montar uma fanfarra é uma complicação. A única fanfarra que hoje, dentro do estado de Rondônia trabalha com música, que realmente prepara o aluno é a Impacto dó colégio Tancredo Neves. No colégio Tancredo Neves o aluno tem aula de música teórica e prática, por isso, eles são tri campeão brasileiro e de certa forma tem certo apoio quando corre e pede ao governador, a primeira dama, pede a secretária de educação, pede a deputado a senador. Mesmo assim ainda falta muito apoio.

Zk – E no interior de Rondônia?

Luizão
– Aí a conversa muda. Tem município que tem dez fanfarras. Ji Paraná está composta de 8 fanfarras. Eu conheço todas as fanfarras de todo o estado de Rondônia, de todos os 52 municípios e todos sofrem com a questão de manter o instrumental.

Zk – Existe alguma luz no fim túnel no sentido de se visualizar investimento nas fanfarras?

Luizão
– Ano passado durante o Fest Norte Show Nacional de Bandas e Fanfarras que aconteceu no estádio Aluizio Ferreira em Porto Velho o deputado estadual Alexandre Brito ficou encantado, ele nunca tinha visto o Movimento. Cerca de três mil alunos do estado inteiro mais três corporações do Mato Grosso e cinco do estado do Acre participando. Os três mil que falo era apenas os integrantes das fanfarras, fora as torcidas que lotaram as arquibancadas.

Zk – Moral da história?

Luizão
– Ele se encantou com o movimento e se comprometeu de público que seria um propositor de emendas para compra de material, de instrumentos. Ele cooptou os 23 deputados estaduais e cada deputado colocou uma emenda de R$ 5 mil que somados por 24 deputados nos dar a quantia de R$ 120 mil que serão revestidos para a compra de instrumentos através da Secel. Alexandre Brito também está apoiando o Fest Norte Show Nacional que vai acontecer nos dias 9, 10 e 11 de outubro no estádio Aluizio Ferreira em Porto Velho com a participação de 9 corporações do estado do Acre, 6 corporações do estado de Mato Grosso do Sul e 4 do estado do Amazonas.

Zk – E de Rondônia?

Luizão
– Esperamos a participação em torno de 40 corporações, sendo 37 do interior e apenas 3 da capital.

Zk - Para encerrar. O que senhor acha que deve ser feito para voltarmos a contar com fanfarras em todos nossos colégios, sejam estaduais ou municipais. Estou me referindo a Porto Velho?

Luizão
– Falta em primeiro lugar, os governos estadual e municipal, colocarem em seus organogramas a figura do profissional regente, instrutor, maestro de fanfarra. Hoje esses profissionais atuam como voluntários, eles precisam ser remunerados. Além disso, temos que colocar em prática, uma política justa, de reformulação do movimento de bandas e fanfarras nas escolas públicas, naquelas que tem interesse de ter, lógico. Tem amparo para isso, segundo a nossa constituição: está amparada por lei a música na escola e a fanfarra deve ser a prioridade nesse ponto de vista.

Zk – Para encerrar de verdade. Quais são as categorias de fanfarras?

Luizão
– Temos a fanfarra simples e temos a fanfarra tradicional que é apenas percussão. Fanfarra simples é quando a corneta só tem um “gatilho”; fanfarra com pisto é que tem instrumento de sopro com pisto como o trompete e o fluguer; fanfarra musical usa trombone de vara, clarinete, tuba. E tem a banda musical que utiliza bateria, atabaque enfim uma sonorização diferenciada. Na corporação musical que é a fanfarra existem, os Portas Armas que carregam os pavilhões; temo o Mó que é aquele que faz a entrada e a saída da corporação musical; Temos a Baliza que faz os movimentos de ginástica rítmica e temos o Balizador que são os meninos que se utilizam dos mesmo movimentos da baliza; Tem o Aderecista que é quem confecciona todo aparato da composição musical; o Gerente de produção que é o que prepara toda a corporação. Na realidade, uma corporação é uma coisa grandiosa e muito bonita. 
 
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com   
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