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Silvio Santos

Maria Antônia da Costa


 Maria Antônia da Costa - Gente de Opinião

‘Na verdade não tenho formação acadêmica. Gosto muito de olhar nos livros dos grandes pintores pra ver como é que eles misturam as tintas, como descobriu aquela cor’

Maria Antônia da Costa

A professora que nasceu artista plástica

No primeiro domingo deste 2016, dia 3, participamos de uma reunião no estilo família tradicional, na residência da professora Maria Antônia, como é conhecida a artista plástica Maria Antonia da Costa, convidado que fomos pela sua filha a jornalista Mara Paraguassu. Presentes minha esposa Ana Célia, o assessor parlamentar Waldemir Aguiar, dona Eunice Costa irmã da artista e é claro a Mara. Foi um fim de tarde dos mais agradáveis cafezinho, bolo, suco, pão de queixo e muita cultura. Conhecemos o vasto acervo de Maria Antônia e até fomos presenteado com a Tela “Misericórdia” que hoje ocupa lugar de destaque em nossa residência. Descobrimos que dona Dinorá mãe de Antonia foi vizinha da nossa família e colega de minha mãe como banqueira na feira livre.

Enfim, conhecemos a rica história da professora artista plástica Maria Antônia. Essa conversa resolvi passar para vocês através da entrevista que segue.

Maria Antônia da Costa - Gente de Opinião

E N T R E V I S T A

Zk – A senhora é rondoniense?

Maria Antônia – Nasci em Sena Madureira estado do Acre em 1938. Aos cinco anos fui estudar em Rio Branco onde fiquei internada no colégio Instituto Santa Juliana das Irmãs Serva de Maria Reparadora até os 13 anos, sempre desenhando, as freiras brigavam comigo porque deixava as matérias pra ficar desenhando.

Zk – Sua irmã Eunice Costa estava falando que nesse tempo ficava admirando a senhora enfeitar os desenhos que ela fazia?

Maria Antônia – Ela gostava de desenhar também e ficava admirada por causa dos detalhes que eu fazia, era tim tim por tim tim, nos desenho de meninas fazia o pezinho levantado, o ajeitado no cabelo essas coisas. Acho que isso é da pessoa mesmo, ter habilidade pra dançar, pra pintar, desenhar, o treinamento é que leva a gente a trabalhar melhor.

Zk – Quando foi que a senhora veio morar em Porto Velho?

Maria Antônia – Vim para Porto Velho encontrar minha mãe Dinorá que trabalhava na casa do Dr. Renato Medeiros ex prefeito e deputado federal. Quando cheguei aqui, dona Ligia esposa dele fez questão que eu ficasse morando com eles. Foi então que consegui um contrato como professora e deixei o desenho de lado.

Zk – Como foi a história que sua mãe mandou a senhora procurar emprego?

Maria Antônia – Foi o seguinte: Quando cheguei fui morar com a mamãe e no primeiro dia que estava aqui, de manhã cedo ela me disse: “Minha filha se vira, vai trabalhar que não vou te sustentar”. Chorei muito porque era uma boba, não sabia fazer nada, a salvação era que eu tinha feito o Curso Normal Regional (professora) e então fui bater perna em busca de emprego, fui parar no Departamento de Educação e o Diretor (se fosse hoje seria Secretário) me contratou. Fui lecionar no Barão do Solimões para os alunos da 1ª série.

Zk – E a pintora ficou aonde?Gente de Opinião

Maria Antônia – Quando me apaixonei pelo Raimundo Paraguassú pai dos meus filhos, que era artista plástico. Foi assim, ele estava fazendo uma exposição no Jardim de Infância Branca de Neve e uma amiga me convidou: “Vamos lá ver a exposição desse grande artista que tem aqui em Porto Velho menina, uma coisa rara”. Quando entrei no espaço da exposição que vi o Paraguassú e ele me viu nos apaixonamos na hora, foi amor a 1ª vista de ambas as partes.

Zk – Ele incentivava a senhora a se dedicar a pintura?

Maria Antônia – Ele fazia era me jogar pra baixo quando se tratava de pintura. “Maria fica na tua. Tu és professora não mexe com pintura não”. Em virtude de ele pintar muito bem eu ficava tímida, ainda mais que quando eu tentava fazer alguma pintura ele vinha logo dizendo: “Não mexe nas minhas coisas, não pega no meu pincel”.

Zk – E a partir de quando a senhora passou realmente a se dedicar as artes plásticas?

Maria Antônia – Depois que me separei! Uma separação amigável nesse ínterim me aposentei e só então disse: Agora vou seguir o que mais gosto na vida que é desenhar e pintar. Devo esclarecer que sou autodidata. Quando fui morar no Rio de Janeiro já estava há mais de 15 anos pintando, fui ao SENAC e fiz um curso básico de desenho e de caricatura também. Na verdade não tenho formação acadêmica na área de pintura. Gosto muito de olhar nos livros dos grandes pintores pra ver como é que eles misturam as tintas, como descobriu aquela cor. Minha filha Márcia Cristina que também é artista plástica me orienta muito.

Zk – Quando e onde foi sua primeira exposição?

Maria Antônia – Foi na biblioteca Nuto Sant’ana em São Paulo. Os meninos estavam lá estudando e eu passei um ano la e comecei a pintar junto com a Márcia minha filha e participamos de uma exposição coletiva na Nuto Sant’ana.

Zk – E em Porto Velho?

Maria Antônia – Aprimorei mais minha arte e fiz várias exposições aqui em Porto Velho. No Rio de Janeiro consegui fazer apenas uma, é muito difícil expor lá. Já fiz duas no Congresso uma no Senado e outra na Câmara através da minha filha Mara Paraguassú que morava lá, mandamos o portfólio eles analisaram, gostaram e colocaram nossa exposição na agenda.

Zk – Recentemente a senhora fez exposição na Galeria Afonso Ligório da Casa da Cultura como foi a recepção?

Maria Antônia – Acho que foi bem positiva. Muita gente marcou presença, muita gente escreveu no meu livrinho, muitos incentivos. O artista vive a custa do incentivo se não morre. Até você chegar à mídia, ser motivo de comentários na mídia demora demais.

Zk – A senhora falou que sempre pesquisa em livros sobre os grandes pintores. Desses grandes, qual o que mais lhe influencia?

Maria Antônia – Van Gogh. A Márcia foi a primeira pessoa que me contou a história dele, diziam que ele era louco que ele cortou a orelha isso e aquilo. Ele não era louco era apenas perturbado, não vendia nada, era um grande artista e ninguém valorizava e aí fui comprando os livros dele, fiquei admirada de como ele fazia aquilo tudo com aqueles cotocozinhos de pincel porque ele era pobre não tinha como comprar material e conseguia fazer aquela pintura maravilhosa. A única pessoa que o ajudou foi o irmão que lhe comprou um quadro. Ele fazia os trabalhos e ficava deprimido porque ninguém dava valor, naquela época. Hoje para se ter um Van Gogh é preciso muito dinheiro. Ele morreu pobrezinho.

Zk – Para encerrar essa conversa. Como a senhora vê hoje as artes plásticas em Porto Velho?

Maria Antônia – Fiquei muito contente. Há doze anos moro no Rio de Janeiro e quando venho aqui é correndo, fico na casa do meu filho, desta vez vim mais tranqüila e fiquei por mais tempo e tive a oportunidade de conhecer vários artistas bons. Fiquei realmente encantada ao ver que Porto Velho melhorou muito nessa parte. Até estou tentada em voltar pra cá e montar meu ateliê porque no Rio de janeiro o apartamento é muito pequeno.

Zk – Quantos filhos?

Maria Antônia – Dos quatro apenas três estão vivo Mara, Márcia e Raimundo Filho. Aliás, dos três só a Mara não se envolveu com as tintas, o Paraguassú Filho desenha e pinta muito bem, até melhor que eu e a Márcia. Só que ele não quer ser artista porque acha que não dá dinheiro. A Márcia vive de pintura no Rio de Janeiro e a Mara é artista das letras.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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