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Gente de Opinião

Silvio Santos

MARIO GOMES VIRGULINO


 

Chafon da Gráfica Nossa Senhora das Graças

Bolas, tipos e muita confusão

A entrevista de hoje traz 82 anos de histórias que começaram em Guajará-Mirim e rodaram quase toda Porto Velho
 

MARIO GOMES VIRGULINO - Gente de OpiniãoNão adianta, se você procurar pelo Mario Gomes Virgulino ninguém vai saber informar. Mas se perguntar pelo Chafon todo mundo vai lembrar de alguma maneira: O Chafon goleiro do Ferroviário, o da gráfica Nossa Senhora das Graças, o Chafon do bar do Casimiro, não é aquele casado com a filha da dona Marieta ou então é aquele que é citado na marchinha da Banda do Vai Quem Quer – “O Pai do Manelão” no verso: “E o Chafon tem uma tesão estranha”. Faz tempo que pretendíamos gravar as histórias do Chafon, acontece que no tempo do bar do Casemiro sempre estávamos juntos nas rodas de samba e seresta proporcionadas pelo Jorge Andrade Bainha e tantos outros. Mas recentemente o Rokney passou a cobrar uma entrevista com o Chafon. “Vai lá, entrevista o homem que ele tem muita história pra contar”. Por algumas vezes tentamos a gravação sem conseguir, até que na última quarta-feira o procuramos para saber apenas sobre a Vila Confusão e para nossa surpresa o homem começou histórias desde seu nascimento nas barrancas do rio Pacaás Nova em Guajará-Mirim até os dias atuais.

Podemos considerar Chafon pioneiro como empresário do seguimento das artes gráficas. “Naquele tempo o que chamam hoje de gráfica a gente dizia que era tipografia”. Sendo assim Chafon é o dono da Tipografia Nossa Senhora das Graças que começou na Avenida Sete de Setembro, mas está há muitos anos na rua Afonso Pena nas proximidades da Joaquim Nabuco. “Esse negócio de computador fez cair muito nosso movimento”. Chafom aprendeu a arte da tipografia na gráfica da Estrada de Ferro onde conseguiu emprego em 1945, trabalhou também no Jornal Alto Madeira. Chafon foi craque de futebol como goleiro no Ferroviário. Vamos acompanhar as histórias do Chafon.



 

E N T R E V I S T A

Zk – O senhor nasceu em Porto Velho?
Chafon
– Não! Nasci em Guajará-Mirim numa localidade que fica no rio Pacaás Nova em 1930.

Zk – E o seu pai?
Chafon
– Foi o seguinte, naquele tempo o Rondon estava pegando gente pra trabalhar com ele na linha telegráfica e chegou em Guajará-Mirim pegou meu pai e levou. Só vim conhecer meu pai quando já estava com quase oito anos de idade.

Zk – Qual história?
Chafon
- Esse cidadão passou a ser chamado de Zé Doido porque em Vila Murtinho (Nova Mamoré), morreu um cara e a turma foi beber o defunto, na hora de colocar o corpo no caixão ele não entrava porque o caixão era pequeno demais, foi então que o Zé Doido pegou o terçado e cortou as duas pernas do morto.

Zk - E como foi que o senhor começou a trabalhar em tipografia?
Chafon
– Já aqui em Porto Velho, sai em busca de emprego e consegui vaga numa fábrica de tijolo que funcionava ali onde hoje tem aquelas duas casas na D. Pedro II ao lado do Barão do Solimões onde mora o Odacir Soares. A gente fazia tijolo de cimento. Depois fui trabalhar na construção de umas casas em frente à Praça Aluizio Ferreira, aliás, naquele tempo ainda não existia a Praça.

Zk – E o trabalho com tipografia?
Chafon
– Isso foi em 1945. Resolvi ir procurar emprego no Alto Madeira que funcionava em frente à Praça Jonathas Pedrosa, estava numa “Garapeira” que ficava ao lado, quando o seu Inácio Castro, que era diretor do jornal e já me conhecia, chegou e perguntou o que eu estava fazendo ali, então eu disse da vontade de trabalhar com tipografia. Ele então me disse: “Você sabe onde é o Almoxarifado da Estrada de Ferro? – Sei sim senhor, - Então vai lá amanhã comigo. Cheguei lá, ele perguntou, - Você sabe onde fica a tipografia da Estrada de Ferro? – Sei não senhor. – Então vai aqui por dentro da oficina, pergunta que vão te apontar o local”.

Zk – E onde ficava a Gráfica da Madeira Mamoré?
Chafon
– Ficava numa casa de madeira por detrás da usina de luz, pela Farquhar. O interessante era que quando a máquina impressora funcionava a casa se balançava toda.

Zk – Quem era o chefe da gráfica?
Chafon
- Cheguei lá encontrei o Mister Thomas e ele me apresentou o Mister Mackenzie que era o tesoureiro do Ypiranga. Isso aconteceu no dia 20 de junho de 1945. Passei a aprender os macetes da tipografia até que um camarada conhecido como “Sebinho” aprontou uma comigo.

Zk – Vamos relatar essa aprontação?
Chafon
– Ele estava imprimindo os tickts de passagem de trem e eu cheguei perguntando como funcionava aquela máquina impressora, então o sacana mandou eu colocar o dedo no prelo e acionou a alavanca. Aquilo esmagou o meu dedo, dei um grito e quando o chefe chegou coloquei a mão no bolso dizendo que não foi nada, para não perder o emprego. Me levaram para fazer curativo na farmácia da Estrada.

Zk – E o futebol. O senhor começou a jogar por qual time?
Chafon
– Comecei em 1950 no Yale que era o time do Esmite Bento de Melo, depois fui jogar no Bancrévea.

Zk – O senhor sempre atuou como goleiro?
Chafon
- Nada disso, eu jogava na linha média. Acontece que tanto o Simonildo como o Rádio que eram os goleiros do time adoeceram e então o Cláudio Carvalho me chamou e disse que eu iria jogar no gol. Logo no primeiro treino abafei na posição e então continuei jogando como goleiro. Isso era na seleção da juventude. A concentração era na Guarda Territorial. Quando chegamos à concentração estava lá preso o Zé Paca, Markensie e outros, porque se não me engano, andaram tentando fazer uma greve.

Zk – Por falar em futebol. É verdade aquela história que o Semeão Tavernard e o Spick protagonizaram uma disputa de pênaltis que varou a noite?
Chafon
- É verdade sim! O Semeão era goleiro e cobrador de pênaltis e o Spick era craque na modalidade. As cobranças começaram ainda de dia no campo do Ypiranga na trave (gol) que dava para o lado do Quartel da 3ª Cia de Fronteira. A noite chegou e os dois batendo pênaltis até que o Semeão desistiu.

Zk – Como foi a história que aconteceu no tempo da Vila Confusão que o senhor foi preso duas vezes no mesmo dia?
Chafon
- A Maria Paraense tinha uma pensão e eu estava lá numa tarde de sábado quando aconteceu uma confusão com o marido dela quando foi por volta das sete horas da noite, a policia chegou na Casa Seis me procurando e me levou, cheguei na Central o delegado era o Armando Veiga, dei meu depoimento disse que não vi nada e coisa e tal e fui liberado – quer dizer, não fui preso não, fui apenas como testemunha. Acontece que sai de lá fui para uma festa que estava acontecendo no Idelviro que ficava na hoje rua Paulo Leal bem ao lado do Prontocor. Era o Clube dos Carroceiros, de repente surge uma confusão danada e no meio disso findei chutando o trazeiro de um cara e quando a policia chegou me levou pra Central. Quando cheguei lá o delegado foi dizendo: De novo Chafon?

Zk – Onde era a Central de Polícia naquele tempo?
Chafon
- Era na rua Julio de Castilho com a D. Pedro II atrás do colégio Dom Bosco.

Zk – O senhor foi boêmio, frequentava qual clube social?
Chafon
- Esse negócio de clube não frequentava não, meu negócio era beber “cana”, era pinguço. Vim me endireitar depois que fui jogar futebol e porque fui jogar no Ferroviário e o Pacamon me levava pras festas ali no Clube Guaporé, foi então que passei a frequentar a sociedade. Tem um detalhe, na minha vida de jogador de futebol, nunca fui campeão por nenhum clube.

Zk – Vamos falar sobre a Casa Seis. Por quanto tempo o senhor ficou morando lá?
Chafon
- Morei na Casa Seis até me casar. Sai da Casa Seis no dia 13 de fevereiro de 1950 para casar com a Terezinha, filha da dona Marieta e irmã do Bainha, com quem vivo até hoje.

Zk – Como funcionava a Casa Seis?
Chafon
- No começo só morava solteiro, tinha um camarada chamado Jesus, que era torneiro na Estrada de Ferro filho do seu Carola e era “viado”. Quando dava cinco horas da tarde ele já estava lavando as mãos na oficina, para chegar cedo no seu quarto para esperar os machos. O quarto dele era todo arrumadinho, tinha do bom e do melhor inclusive tinha um piano. Depois foi que começaram a alojar famílias.

Zk – O senhor frequentava a Vila Confusão. Por que a Vila tinha esse nome?
Chafon
- A Vila Confusão que foi ali na Sete de Setembro onde hoje existe a Galeria Lacerda, quando eu conheci era um Parque de Diversão e também era o local onde a prefeitura guardava seus equipamentos.

Zk – E o Alto Madeira?
Chafon
- Quando sai da Estrada de Ferro fui trabalhar no Alto Madeira, acontece que esse tempo coincidiu com minha convocação para o Exército e para completar fui convocado para jogar na seleção da juventude. O Ordelio que era do Alto Madeira ainda foi lá com o Capitão para ele me dispensar do Exercito, mas, naquele tempo tinha o Doutor Nilmon que era dono do time de futebol e ele disse: Aqui ninguém será dispensado, vai tudo para o Nacional que era o time do quartel.

Zk – Quanto tempo o senhor ficou trabalhando na Estrada de Ferro?
Chafon
– Entrei em 1945 e sai para trabalhar no Alto Madeira de onde saí para servir o Exercito e depois fui passar uns tempos em Belém do Pará. Acontece que tive que fazer uma operação cirúrgica e me mandaram pra Belém. Lá o médico me deu noventa dias de licença, mas a junta médica disse que não podia dar noventa dias de licença então de 30 em 30 dias tinha que renovar a licença e então fiquei lá de janeiro até setembro. Quando voltei fui trabalhar de novo na Gráfica da Madeira Mamoré na época o diretor Estrada era o Dr. Joaquim de Araujo Lima.

Zk – E a gráfica Nossa Senhora das Graças foi montada quando?
Chafon
- A tipografia Nossa Senhora das Graças surgiu em 1973 na Avenida Sete de Setembro, depois construímos o prédio da rua Afonso Pena perto da Joaquim Nabuco onde a gráfica funciona até hoje. Quando montamos a gráfica e até bem pouco tempo o trabalho era na base da chamada “Caixa Americana” era Manual mesmo, depois o negócio foi se modernizando, lembro que no tempo do Alto Madeira os clichês eram feitos em Manaus hoje o cara faz a arte no computador e a gente imprime na Off Sete. Ainda bem que tenho uma Off Sete se não estava frito.

Zk – Como foi que o senhor conheceu dona Terezinha sua esposa?
Chafon
- A família dela veio de Forte Príncipe da Beira. Ela é filha da dona Marieta com o seu Pinheiro. Bom, vieram do Forte e foram morar ali onde hoje está o trevo da Sete de Setembro com a Nações Unidas. Quando o Coronel Enio Pinheiro resolveu abrir a Sete de Setembro, dona Marieta que era virada que só ela, conseguiu um terreno na Sete colado ao Grupos Escolar Murilo Braga e eu que andava pelo pedaço conheci a Terezinha, gostei dela e me casei.

Zk – Quantos filhos?
Chafon
- Tivemos oito filhos, dos quais apenas seis estão vivos.

Zk – Para encerrar. Como surgiu o apelido de Chafon e sua idade?
Chafon
- Acontece que trabalhei no comercio de um camarada que era turco ali na José de Alencar onde depois foi a Joalheria do Cabeça Branca. Aliás, o Cabeça Branca matou um camarada lá. Nesse tempo também eu carregava marmita. Era eu e um colega e não sei por que me apelidaram de CHAFON e como eu ficava puta da vida quando alguém me chamava de Chafon o apelido pegou. Pegou tanto que poucas pessoas sabem qual é meu nome, só me conhecem como Chafon. Vou completar 82 anos em janeiro de 2011.

 

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 Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com  
 
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