Domingo, 3 de maio de 2020 - 10h14
As quatro portas do Mercado Municipal
A história da construção do Mercado Municipal é cheia de percalços. Basta lembrar que sua edificação começou, graças a uma pendenga entre o Superintendente (prefeito) Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense e a administração da Madeira-Mamoré Railway Co.
Quando Joaquim Augusto Tanajura assumiu a superintendência condenou a obra, aí vemos que já naquele tempo, nossos políticos tinham a mania de desfazer o que seus opositores haviam iniciado, só para ficarem com os louros de assinarem como sendo suas, as obras da cidade.
Tanajura não conseguiu o apoio da população para pôr em prática sua ideia e então abandonou a construção, que ficou totalmente paralisada por vários anos e com certeza, a área da construção foi tomada pelo matagal. Anos depois, já em seu segundo mandato (1923) Tanajura conseguiu seu intento e mandou demolir o que Guapindaia havia construído, e ao retomar a construção Tanajura não conseguiu nem terminar os alicerces da obra.
Para encurtar nossa conversa, o Mercado Público Municipal de Porto Velho só foi concluído em 1950, na gestão do prefeito Ruy Brasil Cantanhede.
Nossa intenção nessa matéria, é falar sobre as Quatro Portas de entrada e saída que existiam no prédio do nosso Mercado Público Municipal.
A BANCA DE JORNAL DO SEU BARROSO
Pelo lado do hoje Calçadão Manelão ou pela porta que ficava para o lado do Palácio Presidente Vargas, existia a Banca de Jornal do "seu" Barroso que por algum tempo, só vendia o jornal Alto Madeira. Ali se reuniam nas manhãs de domingo e até em dias de semana, os chamados "categas" metidos a intelectuais, para discutir as notícias publicadas no jornal.
Entrando mais um pouco, deparávamos, com a "Banca" do Boy onde a gente podia degustar deliciosas iguarias como mingau de milho (mungunzá), tapioca, pamonha e é claro, aquele café com leite (in natura) a famosa média, Boy era marido da famosa tacacazeira dona Chiquinha.
No espaço a direita dessa porta, ficavam as "bancas" dos verdureiros.
Pelo lado de fora do mercado que ficava no rumo da José de Alencar, tinha o Caldo de Cana do J Lima (a famosa saltenha só começou a ser produzida muito depois). Pro lado do Banco da Borracha, ficava a taberna do Zé Curica, o Zizi e a boutique "Veadinho de Ouro" do Zé Carlos Lobo. Na esquina da Travessa Renato Medeiros (hoje calçadão Manelão) com a José de Alencar existiu também a lanchonete do "seu" João (aquele que até bem pouco tempo tinha um lanche no terreno da Casa de Cultura).
A BANDA DE MIÚDO DO BODÓ
Pela porta da Presidente Dutra, tinha o açougue do Bodó. Esse açougue era especial, porque só vendia "miúdo" de boi fígado, bobó, rim, coração, tripa grossa, tripa fina, livro, mocotó e carne morta. O interessante é que naquele tempo, era praticamente impossível se comprar um quilo de fígado, ou um coração inteiro. Bodó e o outro açougueiro conhecido como Faca Cega, só vendia a famosa "misturada".
Um quilo de "misturada" era composto por um pedacinho de cada parte do miúdo, ou seja, um pedacinho de fígado, um pedacinho de coração, um pedacinho de rim, um pedacinho de carne morta e um pedação de bobó. Vale salientar, que esse açougue só funcionava à tarde.
Para se conseguir uma "panelada" completa (mocotó, tripa fina, tripa grossa, bucho e o livro), era complicado, era um pouquinho de cada coisa também, essa prática era para que o Bodó e o Faca Cega atendessem maior número de fregueses.
Pelo lado direito de quem entrava por essa porta, foi instalado o primeiro frigorífico de Porto Velho. Seguindo no rumo da Henrique Dias tinha a Casa Rio Madeira cuja especialidade era a venda de material de caça e pesca (no dia do incêndio ninguém conseguia encostar com tanta bala disparando).
No rumo do palácio depois do açougue do Bodó tinha uma barbearia; e a alfaiataria o seu Tancredo.
Era em frente a essa porta, que ficava o CARRO DE MINGAU do seu DEGA. O Dega chegava ao ponto, por volta das cinco horas .da madrugada com sua "banca" ambulante, puxado por um boi.
A PORTA DO ZÉ RISADA
A Porta da Henrique Dias
Desse lado também aos domingos e até em dias de semana, encontrávamos muitos "categas" na taberna do seu Elias Ribeiro ou na taberna do Luiz Gomes tomando uma cachacinha ou apenas batendo papo. Da entrada dessa porta se ouvia as gargalhadas do seu Zé Risada.
No espaço onde ficava o comercio do Zé Risada ficavam os boxes onde se comercializavam secos e molhados. O Zé Risada se destacava dos demais, justamente, pelo bom humor ou pelas risadas escandalosas que eram ouvidas em todo o Mercado.
Em frente a essa porta, do outro lado da rua, ficava o armazém do Tufic Matny onde os funcionários do governo territorial compravam "fiado".
Seguindo pelo lado do mercado ainda pela Rua Henrique Dias no rumo da José de Alencar, existia o sapateiro (consertador de sapatos) boliviano José Camacho que depois passou a vender Gás em botija e bicicleta Monark e transformou-se num grande empresário.
Pro lado da Presidente Dutra, bem na esquina, tinha o "seu" Wilson da Motorista cuja especialidade era a compra de sucata, (vendi muito alumínio, metal e cobre pro seu Wilson). Na esquina da Henrique com a José de Alencar era o comercio de José Oceano Alves cuja especialidade era a compra de produtos regionais como couro de animais silvestres, borracha, ipecacuanha, sova e outros.
Foi justamente por esse lado do mercado, que segundo dizem, começou o incêndio.
A PORTA DO PONTO CAÇULA
Essa era como se fosse à entrada principal do mercado. Ficava pela José de Alencar e era justamente a porta onde se formava a famosa "fila da carne" (depois vamos falar sobre essa fila).
Então na entrada dessa porta existia o famoso "Ponto Caçula"; sabem de quem era esse comércio, era justamente do seu Pedro Pacheco Dias um dos sócios da Casa Saudade. Seu Pedrinho como era conhecido, foi um dos comerciantes mais queridos do Mercado Municipal, pela maneira como recebia seus fregueses, do Ponto Caçula ele conseguiu os recursos para construir o Bar do Canto (Carlos Gomes com Júlio de Castilho) o Bar mais antigo de Porto Velho. Logo a direita de quem entrava por essa porta, ficava o espaço onde se vendia peixe e mais alguns boxes com secos e molhados.
No espaço do lado esquerdo ficavam as bancas ou açougues onde se vendia carne verde (carne de boi). Como podemos notar, o ponto caçula era praticamente o único ponto nesse corredor de entrada onde se comercializavam os chamados secos e molhados.
Yedda Bozarcobv na obra "Porto Velho - Cem anos de História 1907 - 2007" escreve: " ... O pavilhão destinado à comercialização de carne verde possuía quatro portais, piso de mosaico em duas cores e as paredes eram revestidas com azulejos brancos numa altura de 1,80 m".
Pelo lado de fora, no sentido palácio do governo tinha a Casa Girão de José Girão Machado cuja especialidade era a venda de armas de fogo (revolveres, espingardas, rifles etc.) além de munição, aí também o estampido de balas foi destaque durante o incêndio. O Cabo Piaba se transformou em herói, justamente com o soldado Sebastião ao enfrentar o fogo e as balas na tentativa de conter as chamas, do outro lado da rua, no hoje edifício do INSS tinha a Agencia da empresa aérea Cruzeiro do Sul o prédio era conhecido como "Prédio do Bechara" e a loja da família Chaquiam.
A fila da carne e o trem boiadeiro
Naquele tempo, nem todo dia se vendia carne (verde), nas bancas dos açougueiros do Mercado Municipal e então, quem quisesse comprar pelo menos um quilo de carne, teria que ainda de madrugada, colocar a sexta na fila (deixava a sexta e ia para casa dormir ou então dormia lá mesmo).
Aconteceu de muitas vezes, a pessoa ao chegar à beira do balcão na sua vez de ser atendida, o açougueiro anunciar que “ACABOU A CARNE”. Muitos açougueiros recebiam propinas dos “CATEGAS” (pessoas que exerciam cargos importantes no governo do Território ou da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e Empresários), para guardar carne, cujas sextas seriam pegas depois. Quando alguém descobria essa “mutreta” a confusão estava formada e só parava com a chegada dos Guardas da Guarda Territorial.
O TREM BOIADEIRO
Lembro que no meu tempo de menino/adolescente, era comum acontecer uma correria generalizada, principalmente pela rua 7 de Setembro. Para a maioria, essas correrias eram motivo de muitas risadas pois, muitos na realidade, nem sabiam do que estavam correndo; essa algazarra era provocada geralmente no dia que chegava na estação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré o TREM BOIADEIRO uma composição ferroviária, que trazia Gado (BOI) da Bolívia, para ser abatido e vendido nos açougues do Mercado Municipal e durante a condução do rebanho rumo aos Campos de engorda ou matadouros acontecia, de um Boi se desgarrar e desabar na carreira, fazendo as pessoas também correrem com medo do Marruá.
Epílogo - Comer carne de boi em Porto Velho até meados da década de 1960, era coisa pra Catega!
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