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Silvio Santos

O aniversário da Bailarina da Praça


O aniversário da Bailarina da Praça  - Gente de Opinião
Nesta segunda feira 14 de dezembro, a Bailarina da Praça festeja seu aniversário de 40 anos de nascimento na Praça Marechal Rondon. No blog (culturaporto.blogspot.com) da turma do 3º/4º período de jornalismo da Uniron, a acadêmica Elaine Cristina dos Santos por sugestão da professora MS Aline Neto, postou uma reportagem sobre a Bailarina da Praça. “Ela é patrimônio da nossa cidade é referência cultural, por isso merece ser entrevistada por vocês” sugeriu a professora. Por outro lado, já havíamos decido contar a história da Bailarina através da nossa página no Diário da Amazônia e ao ler a reportagem da Elaine no blog, ficamos realmente convencido de que a entrevista, seria a melhor maneira de homenagear essa mulher, que desde 1992 dedica-se a levar alegria às pessoas, dançando na praça todos os dias, Na praça e nos palcos onde grandes artistas se apresentam.

Nossa entrevista começou com a tradicional pergunta: Como é seu nome? Como sentimos que ela vacilou em responder, apesar de nos dizer qual o seu nome de batismo, achamos por bem respeitar sua vontade, não divulgando seu nome completo. O leitor pode saber acessando o blog. É apenas Bailarina da Praça nascida em Porto Velho no dia 14 de dezembro de 1969 no hospital São José.

Perguntada sobre o que acha de ser considerada patrimônio cultural da cidade, responde: “Realmente inventaram essa história, mas te digo uma coisa: não existe nenhum documento – eu pelo menos nunca vi – que comprove que sou essa coisa de patrimônio cultural”, esclarece. E completa: “é o público que avalia se eu faço ou não parte da cultura regional”. Ela diz que nunca foi convidada para uma festa cultural, mas, mesmo assim, nunca deixou de ir. “Geralmente me querem longe de qualquer evento relacionado à cultura e eu acabo participando da festa como se fosse um penetra”, reclama. Para ela, “cultura é valorizar o talento que cada um tem para oferecer, não julgar pela aparência”. (fonte: culturaporto.blogspot.com) 

O aniversário da Bailarina da Praça  - Gente de Opinião

E N T R E V I S T A

Zk – Desde quando você incorporou ao seu nome o sobrenome Bailarina. Aonde você nasceu?

Bailarina
– Desde 1992. Nasci em Porto Velho no dia 14 de dezembro de 1969 no Hospital São José. Meus pais são amazonenses. Minha infância foi vivida no bairro Nova Porto Velho onde vivo até hoje. Quando casei morei durante quatro anos no município de Candeias do Jamari.

Zk – Você foi casada com quem e quantos filhos tiveram?

Bailarina
– O pai dos meus filhos mora em Manaus. Tivemos três filhos: Adriele, Erdeton e Andrelina.

Zk – Você estudou?

Bailarina
– Na verdade estudei muito pouco. Eu tinha muita dificuldade na aprendizagem porque chupava dedo. Na realidade, fui para a escola com 7 anos, mas, só aprendi a lê com 13 anos, assim mesmo, tive que ir para uma escola particular para poder aprender.

Zk – Sobre seus pais?

Bailarina
– Hoje meu pai dormiu (é falecido), ele era jardineiro e minha mãe era zeladora e hoje já está aposentada, foi ela que sempre me ajudou. Minha mãe é do tempo da empresa da dona Marize Castiel a Empog.

Zk – É verdade que você teve uma visão e desde então passou a encarnar o espírito de uma bailarina?

Bailarina
– Através da bíblia o ser humano se encontra. Eu aprendi a lê através da bíblia. Me disseram que o primeiro livro do mundo era a bíblia e então disse, se o primeiro livro do mundo é esse, vou aprender a lê para seguir o que esse livro ensina e assim fui me soltando cada vez mais. A bíblia tem muito segredo, as pessoas têm que ter muita fé e confiar em Deus. Por maior que seja a dificuldade que você esteja passando, se você tiver fé em Deus supera com facilidade. Hoje as pessoas vivem no mundo achando que as coisas são fáceis de conseguir, mas, não é não, você tem que ter fé em Deus e fazer a coisa certa. A gente tem que se preocupar um pouco com o sofrimento das pessoas. Hoje estamos num mundo onde as pessoas têm medo uma das outras. Hoje (quinta feira, 10) mesmo, fiquei muito decepcionada, a gente estava num velório e de repente dois rapazes chegaram e anunciaram um assalto. Acho que nossos governantes têm que pensar mais na segurança da população. No meu aniversário, vou pedir isso. Precisamos de muito amor no coração.

Zk - Hoje seus três filhos são adultos. Como você os criou, tinha algum emprego?

Bailarina
– Não, não tinha e nem tenho emprego. Minha mãe foi quem me ajudou a criá-los. Quando me separei do pai deles, minha filha mais nova estava com um ano, o outro com três anos e a outra estava com seis anos de idade. Nossa separação foi através de divorcio e na sentença dada pelo juiz, às crianças tinham que ficar com ele e mesmo assim ele não as quis e então, minha mãe criou um e minha irmã criou os outros dois.

Zk – É verdade que a separação de vocês foi causada por essa sua dedicação a dança?

Bailarina
– Não foi ele quem se separou de mim. Eu pedi a separação porque nessa vida que levo não dá pra ser casada. Tenho que dá atenção a todo mundo e as pessoas não entendem, hoje estou aqui, amanhã em outro lugar. Bailarina nós precisamos de você ali! Então eu tenho que estar ali. Por isso eu larguei primeiro ele para depois fazer o meu trabalho. Expliquei a ele que tinha que seguir uma missão de Deus.

Zk – Fala sobre o papel social que você desenvolve junto às crianças que vivem na rua?

Bailarina
– Eu levava as crianças pra minha casa conversava com elas. Hoje você pode vê que não existe mais criança na rua. Logo que vim para a praça tinha bastante criança na rua. Uma vez perguntei a Deus o que deveria fazer para poder ajudar. Então Deus me dava todas as palavras de como fazer. Certa vez levei todos para minha casa e quando chegamos ordenei: todo mundo tomando banho, só vai dormir aqui quem tomar banho e eles obedeceram. Vi que eles não tinham maldade em seus corações, que tinham uma cabeça cheia de sonhos, eles não estavam usando droga ainda e então decidi cuidar um pouquinho deles.

Zk – E os pais dessas crianças?

Bailarina
– Um dia a mãe de um deles foi lá em casa e eu expliquei a ela que havia levado o filho dela para minha casa, porque o encontrei na rua e os outros meninos queriam botar ele pra fumar droga. Ficava matutando, meu Deus o que vou fazer para cuidar dessas crianças. Eles tinham a mania de ficar pedindo comida na rua e eu não aceitei isso, eles viviam sujos. Se eu pedisse um lanche ninguém me dava, mas davam pra eles porque eles estavam sujos e eu dizia: Jamais vou andar suja para poder conseguir o pão de cada dia.

Zk – E o que você fez para convencê-los a ir para sua casa.

Bailarina
– Ficava chorando e eles perguntavam por que eu estava chorando e eu respondia, que era porque estava com fome e eles me ofereciam comida e dizia que não aceitava porque eles estavam todos sujos. Dizia que eles só conseguiam comida porque estavam sujos e o povo ficava com pena deles. Então eles viram que ficava muito triste e em tão um dia aceitaram ir pra minha casa.

Zk – Aonde andam esses meninos? 
O aniversário da Bailarina da Praça  - Gente de Opinião
Bailarina
– Foram embora, desapareceram lá de casa. Eles moravam no Candeias. Certo dia, eles apareceram na praça novamente e então perguntei, por onde vocês andavam? Eles responderam: Nós fomos embora pra casa porque não queríamos que você morresse de tristeza porque a gente vivia daquele jeito. Hoje estamos na casa dos nossos pais. Hoje todos eles estão rapaz. É uma coisa maravilhosa poder ajudar as pessoas.

Zk – Você nunca foi tentada a usar droga pelos usuários que freqüentam a praça?

Bailarina
– Não! Eles têm muito respeito por mim. Eu andava no meio das pessoas que usavam droga e elas sempre me diziam: Bailarina nunca queira entrar nessa, é muito ruim e muito difícil conseguir sair. Eles inclusive diziam: Essa é doida de natureza não precisa de droga (sorrindo muito).

Zk – Tem muita gente que pensa que você é doida. Como você responde a essas pessoas?

Bailarina
– (rindo muito). Se você procura fazer a coisa certa é considerada doida, é assim que a maioria das pessoas pensa. A única coisa que é boa na vida é você ter consciência daquilo que faz e não praticar o que as pessoas falam a seu respeito e também, não ter raiva das pessoas. O importante é se sentir feliz e tratar as pessoas com respeito.

Zk – Você já foi discriminada por ser como é?

Bailarina
– O que sinto é que as pessoas são egoístas e orgulhosas. Quando você rejeita alguém está sendo egoísta, orgulhosa. Pra mim discriminação e egoísmo é a mesma coisa. O que falta mesmo é amor dentro das pessoas. Se você tem amor no coração, trata bem qualquer pessoa.

Zk – Vamos falar sobre as invasões ou subida nos palcos em shows de grandes artistas. Quando começou isso e por quê?

Bailarina
– Olha! Começou desde quando fui para a praça. No começo as pessoas achavam que eu não era uma pessoa normal. Aí eu invadia o palco, queria aparecer, mas, na verdade, não sabia o que queria com isso. Só sabia de uma coisa, que tinha que fazer esse papel. Eu dançava dentro da igreja.

Zk – Dentro da igreja?

Bailarina
– Era! Uma vez o pastor chegou e disse: “Irmãos e irmãs, vamos mostrar a Deus nossa alegria”, quando ele falou alegria, era a palavra mágica, entrei no meio e fui mostrar minha alegria (sorrindo), ali estava o governador, o prefeito, tinha muita gente importante naquela igreja naquele dia e eu lá dançando, foi quando os seguranças chegaram pra me tirar. Chegaram dizendo assim: “Hei o que você está querendo fazer seu Demônio!” e eu respondi: Estou mostrando pra Deus a minha alegria!

Zk – Você ficou com raiva ao ser tratada como demônio?

Bailarina
– Eles não sabem o que dizem. A gente não tem que ignorar o ser humano nunca, nós somos passivos de falhas. Então me divertia com aquilo e até porque, nem eu mesma sabia porque estava fazendo aquilo. Aí fiquei perguntando a Deus: Por que meu Deus, estou fazendo isso?

Zk – Obteve resposta?

Bailarina
– Claro. Depois de três dias Deus me deu a resposta. Eu estava ali, para mostrar aos evangélicos, onde cometemos nossos erros. Por exemplo: Falar em Deus e na hora da prática falhar. Falar de Deus é não falhar o que eles deveriam ter feito era chegar a mim e mandar eu me ajoelhar e orar e não me tirar na marra.

Zk – Nessas suas invasões de palco alguns shows ficaram marcados. Por exemplo, os shows do Paulinho Rodrigues. Por que você escolheu o Paulinho Rodrigues?

Bailarina
– Gosto muito do Paulinho Rodrigues porque ele é sincero no que faz. Eu não tenho culpa, quando ao mesmo tempo em que ele usa sua inteligência para produzir shows espetaculares, use também para mostrar sua fúria. O que falta no Paulinho Rodrigues é amor de verdade, olhar as pessoas por dentro e não ficar apenas criticando.

Zk – Lembro que certa vez você passou por entre as pernas do segurança. Como aconteceu aquilo?

Bailarina
– Só sei dizer uma coisa, o segurança se deu bem porque a Bailarina estava ali. Nenhum deles nuca tentou me ajudar. Nunca disseram assim: Bailarina toma aqui um pão de cada dia. Por que eu iria obedecer? Eles tinham que me chamar pra conversar e perguntar por que eu estava fazendo aquilo. A resposta está dentro da pessoa, mas não, ficam com egoísmo se sentido melhor que os outros, quando o melhor mesmo nesse mundo é Deus.

Zk – Tem um motivo para você subir ou invadir os palcos?

Bailarina
– Tenho que ensinar as pessoas da minha cidade a valorizar os artistas da casa. Por que quando vem um artista de fora fazer show no parque de exposição eles não põem um artista da cidade para abrir aquele show do artista de fora. Então a bailarina da praça conquistou o seu espaço com essa coisa de invadir os palcos. Sabe por que invado palco? Porque quero ser a representante do povo da minha cidade naquele espetáculo.

Zk – Já aconteceu de você ser convidada por um artista de fora para subir no palco e dançar com ele?

Bailarina
– Os únicos shows que subi de boa foram os do Daniel e do Reginaldo Rossi. O resto foi na marra mesmo.

Zk – Como foi que você conseguiu subir numa boa?

Bailarina – No show do Daniel foi o seguinte: Fiz uma placa muito grande dizendo
que queria dançar com o Daniel e fiquei ali gritando: Quero dançar com o Daniel, quero dançar com o Daniel e então o João do Vale chegou e disse: “Bailarina você não vai poder subir no palco” e eu respondi, posso sim, desde que você converse com o cantor e diga pra ele que eu existo e que quero dançar uma música com ele, que ele vai aceitar. Ele está sendo pago, está ganhando dinheiro do meu público, então tem que aceitar. Os artistas de fora precisam tomar conhecimento disso, precisam saber que aqui também tem artista. Aí o João do Vale falou com o Daniel e na hora do show o Daniel me convidou para subir no palco e dançar uma música com ele. Com o Reginaldo Rossi foi à mesma coisa. Aliás, o Reginaldo me deu a maior força dizendo que eu era uma verdadeira artista.

Zk – Tem outro lado seu que poucas pessoas não conhecem. É o trabalho de artesanato e artes plásticas. Fala sobre esse dom?

Bailarina
– Aprendi vendo as pessoas confeccionando e exibindo seus trabalhos e quando fiz a exposição na Casa da Cultura “Filtros do Sonho” foi para demonstrar para aquelas pessoas que não querem nada com vida, que o ser humano é capaz de fazer qualquer coisa, basta ter boa vontade e querer. Em breve vou fazer outra exposição.

Zk – E a garota propaganda?

Bailarina
– Isso foi coisa de Deus. Em 1998 comecei a fazer comercial. Acontece que a dona Márcia Holanda dona da papelaria, teve dificuldade para me colocar na televisão. Ela me ajudou muito, lutou muito por mim. Os produtores não aceitavam que eu gravasse o comercial e ela insistiu. Tudo também aconteceu porque Deus permitiu. No começo, muitos homens queriam me usar e eu falei pra Deus que não iria agüentar, porque se um dia alguém me fizesse algum mal eu não saberia me defender. Se eu denunciasse que uma pessoa queria me fazer mal, ninguém iria acreditar porque pensavam que eu sofria de problemas mentais.

Zk – Depois que você se separou do seu marido, nunca mais namorou?

Bailarina
– (rindo), Não! Nunca mais tivemos relação sexual porque decidi o que queria na minha vida. Larguei tudo pela alegria.

Zk – Para encerrar. Como vai ser a festa do seu aniversário?

Bailarina
– Espero que seja muito boa. Convido todos para comparecerem à Praça Rondon as 19h00 de hoje (14). Lá vamos fazer uma grande festa com Banda de Música e tudo que se tem direito. Na realidade, quem faz a minha festa são as pessoas. Por mais dificuldade que a pessoa tenha, por mais que a pessoa tenha um monte de dívida ela deve sempre estar feliz. Feliz porque pode lutar para sanar suas dívidas. Você nasceu sem nada e hoje tem um lar. Você nasceu nu e hoje tem uma calça no corpo. No meu aniversário quero muitas pessoas e principalmente as crianças. O prefeito vai inaugurar a casa das bonecas onde vou poder brincar com as crianças. Quero todo mundo cantando parabéns pra mim! 

Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com   
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