Sábado, 16 de abril de 2016 - 06h30
O porto-velhense Pedro Sena hoje residindo em Salvador (BA), veio a Porto Velho participar da festa de 100 anos da mãe da sua esposa Orlete Macêdo senhora Nair Andrade Macedo cuja festa aconteceu sábado passado dia 9. Por também fazer parte da família, domingo dia 10 fui até a residência da Tia Nair e papo vai, papo vem Pedro foi contando sua história desde quando foi interno no colégio Dom Bosco até quando foi demitido do jornal Alto Madeira por contribuir com a campanha do Coronel Rondon que foi eleito deputado federal derrotando o Coronel Aluisio Ferreira. Achamos bacana as histórias do Pedro e resolvemos publicá-las na íntegra, porém como a história completa não cabe apenas numa edição, resolvemos dividir a entrevista em dois episódios. Hoje você vai acompanhar o primeiro e na edição de amanha, o restante da história quando Pedro fala sobre sua convivência com a família Reski durante 14 anos.
E N T R E V I S T A
Zk – Por gentileza qual seu nome, data de nascimento e origem?
Pedro - Pedro Alberto Gomes de Sena. Nasci em 15 de novembro de 1937 na localidade chamada São José defronte a boca do Rio Jamary, ou ao lado de São Carlos. Minha mãe se casou com um seringalista muito conhecido na região que era dono daquelas terras todas. O Nome dele era Joaquim Gaspar de Carvalho. Fiquei morando em São José até completar a idade de estudar. Sou registrado como amazonense porque naquele tempo a localidade onde nasci pertencia ao estado do Amazonas.
Zk – Veio para Porto Velho estudar em qual estabelecimento?
Pedro – Fui internado no colégio Dom Bosco que funcionava no prédio onde hoje é a Faculdade Católica ao lado da Catedral. Fiquei internado durante seis (6) anos. Papai não dava colher de chá, eu tinha três irmãs moças filhas do primeiro casamento dele e ele também as internou num colégio em Manaus. Por ser um aluno aplicado consegui uma façanha, o padre diretor me dispensou do primeiro ano do cientifico alegando que eu tinha terminado o ginásio com alto grau de aproveitamento. Em 1947 meu pai faleceu e como só ele sabia lidar com os seringais, pois éramos todos muito jovens. Resultado, abandonamos nossas terras. Lembro dos seringalistas Albino Henrique, Baraúna, Os Cantanhedes, Marçal Couceiro entre outros. Sei que a coisa foi tocando e eu tinha que ver meu lado, tive a sorte de ter um padre diretor com muita visão e minha mãe dona Helena Gaspar de Carvalho já tinha se mudado para Porto Velho e como ela não era casada ficou conhecida como Helena Sena. Bom, com a morte do meu pai, tive que sair do internato porque a anuidade era muito cara e o pagamento tinha que ser adiantado. Graças a Dom João Batista Costa e meu currículo de aluno excelente consegui uma vaga na Escola Normal Carmela Dutra.
Zk – Você disse que naquele tempo os Bispos eram tratados como se fossem príncipes. Como funcionava isso?
Pedro – Grande homem Dom João. Ele ajudou muito minha família. Ele recém chegado à prelazia de Porto Velho, mostrava aquela simplicidade. Ele desvestiu aquelas pompas que os bispos e arcebispos que eram considerados príncipes tinham. Pra você ter idéia a chegada de Dom Pedro Massa o primeiro bispo de Porto Velho foi um acontecimento que parou a cidade, ele veio num avião da Panair chamado Catalina que pousou no rio Madeira. O porto repleto de gente acho que tava toda a população da cidade lá inclusive as autoridades, diretor da EFMM, comerciantes, categas enfim e ele desembarcou todo paramentado, batina de púrpura, crucifico e corrente de ouro, guarda de honra era como se fosse mesmo um príncipe. Dom João mudou isso com pouco tempo que estava aqui. Ele simplificou a coisa se achegou mais a população dos bairros carentes, pois assim a pedido dele fui aceito na Escola Normal Carmela que por sinal era uma maravilha.
Zk – Como sabemos você exerceu a função de contador, onde fez esse curso?
Pedro – Depois de algum tempo, a maçonaria fundou a Escola Estudo e Trabalho que acho que foi a primeira escola profissionalizante de Porto Velho, pois seu objetivo era formar auxiliar de contabilidade e contador, pois naquele tempo esses profissionais eram chamados de “Guarda Livro” e então me matriculei lá mais só fiz dois anos porque tive que ir trabalhar (me formei em Savaldor – BA).
Zk – Qual foi o primeiro emprego?
Pedro – Fui trabalhar no jornal Alto Madeira no tempo que o diretor era o professor Carlos Mendonça um aristocrata, uma pessoa finíssima, o secretário era uma pessoa que também ficou muito conhecida por ter se envolvido numa tragédia que marcou sua vida, era o professor Ordélo Serpa, uma pessoa maravilhosa sábia formado em curso superiores de magistratura.
Zk – Esse Ordélo é o mesmo que se envolveu numa confusão que resultou em sua morte?
Pedro – É ele mesmo. Ele se envolveu numa briga com um motorista de táxi chamado Antônio Coalhada numa casa de prostituição, ele era muito violento, além de gostar de beber quando não estava em serviço. O Coalhada disse um desaforo pra ele que puxou uma faca peixeira e deu quatro facadas no Coalhada. Algumas pessoas que apreciaram a cena, sabendo que ele era uma pessoa importante no governo do território além de ser secretário no jornal Alto Madeira, o tiraram da cena do crime. Passados alguns anos ele saiu da redação que era ao lado do “Sinucas” de propriedade do Euro Tourinho na rua Barão do Rio Branco e era mais de dez horas da noite e foi jantar no clipe do João Barril que ficava no meio da avenida Sete de Setembro, em frente as Lojas Pernambucanas, onde ficava uma turma de gente boa que tinha dinheiro, jogando a noite toda. Naquele dia o Antônio Coalhada estava no clipe. Ordélo quando o viu, ainda tentou evitar mais não teve jeito; “Agora vamos acertar aquela conta, deu uma primeira facada que pegou na veia jugular e saiu pipinando o corpo do Ordélo, foram quase vinte facadas. Ordélo não resistiu e morreu ali mesmo.
Zk – Você fazia o que no Alto Madeira?
Pedro – Naquele tempo tinha se iniciado a introdução da máquina de datilografia, como aquelas remington e no colégio Dom Bosco tinha o padre Bruno que era alemão que foi contrato pelo Ministério da Agricultura pra fazer a previsão do tempo, soltando uns balões lá de cima do telhado do colégio, quando os balões atingiam x metro de altura estourava e o padre acompanhando aqui de baixo com um teodolito. Ele me chamou para ajudá-lo. Esse padre Bruno iniciou o recrutamento para ver quem se interessaria a aprender a escrever na maquina de datilografia: “Você Pedro tem boa cabeça deve fazer esse curso”. Esse curso me valeu o começo da minha vida profissional, a ganhar dinheiro e então fui trabalhar no Alto Madeira e o Ordélo escrevia laudas e laudas de noticias e passava pra mim que datilografava, assim acontecia com as noticias que chegavam da Agencia Meridional. O professor Carlos Mendonça ficava até mais das oito horas da noite de ouvido num rádio Fhilips para ouvir o Repórter Esso, o que saia no rádio, ele anotava passava para o Ordélo que desenrolava a matéria e passava pra mim “Bater” na máquina de escrever. Naquele tempo era assim que chamavam quem tinha o curso de datilografia. “Tu sabe bater na máquina?”. Independente disso, fui pra dentro das oficinas aprender o oficio de tipógrafo que naquele tempo, era letra por letra. Lá pra meia noite seu Boy começa a imprimir o jornal que só tinha quatro páginas. Meu ordenado era 300 Cruzeiros o que entregava todo para minha mãe para ajudar nas despesas da casa.
Zk – Você ficou no Alto Madeira até quando?
Pedro – Fiquei até 1950 na campanha do Coronel Rondon para deputado federal que ele venceu o Aluisio Ferreira. Eu era simpatizante do Rondon, mas, ainda não votava e naquele tempo já tinha essa confusão política que existe até hoje. Alguém que trabalhava com o José Saleh Morebh um comerciante muito importante que trabalhava na época para derrubar o Aluisio. Rondon ganhou mas o Coronel Aluizio entrou com recurso para anular o pleito e eles (do Rondon) precisavam pra contestar o recurso, de três edições diferente e recentes do Alto Madeira onde os aluizistas publicaram matérias que os rondonistas diziam que eram calúnias. Sei que vieram falar comigo: “Olha o seu Saleh mandou pedir pra você fazer um favor, embora vá lhe dar um bom agrado em dinheiro, que é preciso você pegar 20 exemplares desses dias aqui (me entregando os dias anotados).
Zk – E você aceitou a propina?
Pedro – Eu inocentemente falei, não quero dinheiro nenhum, por outro lado não posso falar com ninguém aqui porque o pessoal é contra o partido do Cel. Rondon, agora eu vou fazer o que vocês estão pedindo e aonde vou entregar esse material. “Você entrega ali no edifício Feitosa, na esquina da Barão com a José de Alencar (depois o Abel abriu o Bar Santo Antônio), diga que é o pedido do Saleh”. Para encurtar a conversa a turma do Rondon derrubou o recurso do Aluisio. Descobriram que os jornais foram a principal prova contra o Aluisio e então procuraram saber quem foi que havia fornecido as edições até que descobriram que fui eu e me demitiram. “Seu Pedro tem uma denuncia aqui de que o senhor forneceu jornais sem autorização da diretoria para o partido do Rondon, o senhor entregou pro seu Saleh Morebh. Sei que o senhor não tem idade e nem alcance para analisar o mal que isso pode causar para o nosso partido, mas como o assunto se tornou público, o senhor não pode mais ficar aqui”, disse seu Carlos Mendonça. Mandou o seu Esmite Bento de Melo que era o tesoureiro bater minhas contas.
Zk – Desempregado e agora?
Pedro – O assunto chegou até seu José Saleh que mandou me chamar. Ele tinha aberto uma loja na rua Barão do Rio Branco que era um escritório de representação, a gente pensava que não era nada, mas, era só ele que podia vender a cerveja Antártica, o Açúcar Patende que vinha de Pernambuco e muita conserva. Naquele tempo tudo era difícil, a mercadoria chegava aqui vinda de Belém primeiro nas Chatas Sapucaia, Cuibá e outras, depois nos navios Augusto Monte Negro, Leopoldo Peres, Lauro Sodré. Fui trabalhar nessa loja ganhando muito mais que ganhava no Alto Madeira. Fiquei até 1954, quando o Rondon perdeu a eleição.
Zk – E foi trabalhar com quem?
Pedro – Certo dia, não tinha nem dois meses que havia saído da loja do Saleh, estava jogando bilhar na sinuca do Tourinho e encontrei o Antônio Reski. Eu já era amigo da família. Naquele tempo os Reski dominavam o comércio de Porto Velho, tinha cinema, padaria tinha duas lojas uma na esquina da Sete com a José de Alencar e a outra na esquina da José de Alencar com a Henrique Dias. Então ele chegou comigo e disse que estava numa enrascada danada, pois o Chiquinho Gonçalves que era quem fazia o trabalho de escritório pra eles, não era como contador, o contador era o José de Góes uma pessoa muito competente e o Chiquinho estava com cirrose e não podia trabalhar. “Já me informei com o Saleh e você é a pessoa ideal para trabalhar com a gente... (Coninua na edição de amanhã.)
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