Sábado, 10 de maio de 2014 - 21h16
O governo do estado de Rondônia homenageia o município de Santa Luzia D’Oeste pela passagem de seus 28 anos de emancipação política, publicando pelo Projeto do Decom: “Pioneiros – A História de Todos Nós”. A equipe entrevistou as seguintes pessoas, consideradas pioneiras. José Gonçalves de Abreu – Zé Mineiro, Pedro Lima, Miguel Amâncio e Valdivino - Dego.
Santa Luzia D’Oeste começou com a expansão dos colonos do Projeto Integrado de Colonização Rolim de Moura em direção ao Vale do Guaporé. Em 1978 os colonos em busca de novas terras se fixaram em torno do cruzamento da linha 184 com a linha 45 dando origem ao Núcleo Urbano de Apoio Rural “Vila Bambu”.
A escolha do nome Santa Luzia foi feita pelo então governador Jorge Teixeira de Oliveira, para homenagear a Santa protetora dos olhos que o tinha ajudado a curar-se de um problema de visão.
O então Distrito de Rolim de Moura foi elevado à categoria de município com o nome de Santa Luzia D’Oeste pela Lei Estadual n° 100 de 11 de maio de 1986.
Segundo o Chefe de Gabinete da prefeitura municipal Valdivino Gonçalves do Prado popularmente conhecido como Dego, que deu toda a cobertura necessária, inclusive nos levando aos endereços dos entrevistados, informou que é pretensão do prefeito realizar em comemoração aos 28 anos de emancipação do município, entre outras programações, o Festival de Música Sertaneja.
Todos os entrevistados contribuíram e muito, com o desenvolvimento do município de Santa Luzia D’Oeste por isso merecem fazer parte da galeria dos Pioneiros – a História de Todos Nós.
E N T R E V I S T A S
José Gonçalves - Zé Mineiro
Assim que chegamos à prefeitura de Santa Luzia D’Oeste e dissemos o motivo da nossa estada na cidade, a jovem assessora de comunicação Ângela nos apresentou o seu Zé Mineiro cidadão mais que simpático e comunicativo que nos cativou de cara. “Quer assistir uma Folia de Reis de Verdade vem aqui no fim do ano”. Prestes há completar 79 anos, Zé Mineiro foi nos contando sobre sua vida, desde quando chegou em Rondônia no ano de 1977 e desembarcou no que futuramente seria o município de Cacoal. “O INCRA de Cascavel (PR) tinha me dado três lotes de terra em Rondônia e quando cheguei o INCRA de Cacoal queria cassar o documento”. Com o Cacaio nas costas Zé Mineiro foi desbravando a selva até chegar nas terras onde hoje fica o município de Santa Luzia. Saiba tudo sobre a história de Santa Luzia vivida pelo seu Zé Mineiro:
Decom/Sms– Fale sobre onde o senhor nasceu e por que veio pra Rondônia?
Zé Mineiro – Sou mineiro, nasci no dia 02 de julho de 1935 em São Domingos de Araçuaí, fui pra Teófilo Otoni onde me criei. Trabalhei com boiada, com tropa, passei muito tormento. Em 1960 me casei e então fui para o Paraná onde morei 17 anos e não consegui uma terra pra trabalhar, viver a vida e criar meus filhos. O destino quis e eu vim pra Rondônia. Meu nome completo é José Gonçalves de Abreu, mas, pode me chamar de Zé Mineiro.
Decom/Sms– Em qual ano o senhor veio pra Rondônia?
Zé Mineiro – Era 1977 quando ainda não existia estrada, os coitados dos motoristas levavam até 60 dias viajando de Cuiabá a Porto Velho. Quando aqui cheguei, vamos voltar um pouco.
Decom/Sms– Pra onde?
Zé Mineiro – O INCRA de Cascavel (PR), me deu três lotes de terra aqui em Rondônia. Quando cheguei o INCRA de Cacoal começou a dar pra trás comigo e durante uma discussão, eles falaram que iriam cassar meu “mandato” (documento que trouxe de Cascavel), acontece que eu tinha uma amizade muito grande no Paraná e quando ficaram sabendo que o pessoal de Cacoal estava querendo cassar o meu documento, ligaram e disseram: “Vocês nem sabem com quem estão mexendo, esse homem é analfabeto mas, é uma grande autoridade nossa”. Aí eu vim e comprei uma marcação (lote de terra) que fica na Linha 92. No primeiro ano colhi 800 sacas de arroz e exportei tudo pra Manaus.
Decom/Sms– Nesse tempo essa marcação ficava em Santa Luzia, Cacoal ou Costa Marques?
Zé Mineiro – Não ficava em nada, porque não existia nada, era tudo mato. A gente veio acompanhando a estradinha do INCRA lá de Pimenta Bueno até determinado local perto dessa área que hoje é Rolim de Moura, dali a gente botava o Cacaio nas costas e entrava na mata no rumo da marcação de cada um.
Decom/Sms– O que vinha no Cacaio?
Zé Mineiro – Comida, cobertinha pra dormir e as ferramentas. A espingarda não podia faltar, pois através dela a gente conseguia o alimento que chamamos de mistura, que era carne de caça de todo jeito. Para o senhor faze ideia, quando uma pessoa adoecia a gente colocava dentro da rede e levava a pé até Rolim de Moura onde o doente embarcava numa camionete e ia pra Cacoal.
Decom/Sms– Quem era o médico?
Zé Mineiro – O Dr. Adegildo e o Dr. Ramiro era quem atendia em Cacoal. Esses dois médicos atendiam todos os Cacaeiros da região. Naquele tempo a Malária era a pior doença, muita gente morreu de Malária e Hepatite.
Decom/Sms – O senhor pegou Malária?
Zé Mineiro – To com toda essa idade (79 anos) e não conheço o que é Malária graças a Deus, dos meus filhos, só um pegou Malária porque não ouviu meu conselho. Malária não pega em todo mundo. Naquela época para não pegar Malária eu misturava a fruta da Santa Inácia com a Jurubeba e de manhãzinha tomava uma talagada daquela mistura,
Decom/Sms– O senhor é benzedor?
Zé Mineiro – Rezo em criança, para picada de cobra também e outras coisas, esse trabalho é realizado graças as bênçãos de Deus. Ainda hoje se eu estiver com saúde rezo nas pessoas, uso nessas benzeduras a planta conhecida como Vassourinha de Nossa Senhora. Você quer saber qual a oração que faço durante a reza! Isso é segredo, se eu disser quebra o encanto, agora eu não tenho poder de curar ninguém, quem cura é Deus.
Decom/Sms – Agora gostaríamos que o senhor falasse sobre a implantação do município de Santa Luzia. Conhece essa história?
Zé Mineiro – Quem registrou isso aqui foi o finado Teixeirão, depois colocaram um cidadão lá de Cacoal que não lembro o nome agora, para administrar o município. O primeiro prefeito eleito de Santa Luzia foi o Pedro Lima ele foi tão bom que foi prefeito por duas vezes, ele realmente fez Santa Luzia. Depois vieram outros. Graças a Deus hoje Santa Luzia está de parabéns, porque as pessoas que assumiram a prefeitura fizeram por merecer, inclusive esse que esta no poder agora. Aliás, quando o Jurandir (atual prefeito), era policial, eu gostava muito do trabalho que ele fazia com as crianças, criou a Guarda Mirim e a população quando tinha festa, aplaudia o desfile da Guarda Mirim.
Decom/Sms – Hoje o senhor planta o que no seu sítio?
Zé Mineiro – Comecei cultivando café, tinha 18 mil pés de café, com isso fui preparando as coisas, comprei terra para os filhos, comprei casa, mas, você sabe, filho não da valor, jogou fora, mas, estamos vivendo.
Decom/Sms– O que o senhor lembra da formação da história de Santa Luzia?
Zé Mineiro – Aqui teve muito sofrimento! Era muito difícil a Saúde e em segundo lugar a Educação e para estruturar a cidade deu trabalho, porque os governadores priorizavam as cidades mais desenvolvidas, por exemplo, tudo que se produzia aqui ia pra Rolim de Moura e a nossa cidade foi ficando em segundo plano.
Decom/Sms – Santa Luzia está completando neste dia 11 de maio deste ano de 2014, 28 anos de emancipação política. O que o senhor tem a dizer sobre mais um ano do município que o senhor ajudou a implantar?
Zé Mineiro – Me sinto muito animado porque o povo deu valor a Santa Luzia. Santa Luzia é o que é hoje, graças aos Cacaeiros e aos migrantes que vieram e valorizaram a terra. Esse progresso (com raríssimas exceções) também é graças aos prefeitos que administraram o município inclusive o atual.
Decom/Sms– O senhor é casado?
Zé Mineiro – Sou casado há 58 anos com a dona Geralda. Tivemos onze filhos, mais de 30 netos e quase 20 bisnetos.
Decom/Sms– Para encerrar nossa conversa?
Zé Mineiro – Fiquei muito contente com a entrevista porque isso é uma coisa que é preciso, nós que já somos idosos, passar o que conhecemos, nossa experiência de vida e a história para os jovens. Afinal de contas, construímos a casa para eles morarem. Parabéns Santa Luzia!
Pedro Lima Paz – 1° prefeito de Santa Luzia
Existem os que vieram para Rondônia apenas especular, esses se deram mal e voltaram para suas terras, vieram os que queriam apenas conhecer e vieram os que queriam realmente contribuir com seu desenvolvimento, esse é o caso do seu Pedro Lima Paz, que desembarcou na Vila Bambu hoje município de Santa Luzia D’Oeste no dia 10 de maio de 1980 e desde então o que faz é trabalhar pelo progresso do estado de Rondônia e em especial pela região de Santa Luzia conhecida também como Zona da Mata. Fazendeiro bem sucedido, mesmo assim continua humilde. Essa sua humildade o transformou no primeiro prefeito eleito de Santa Luzia, Deputado estadual e de novo prefeito. “Deixei a política porque não concordo com falcatruas”. Juntamente com o seu Miguel Amâncio Pedro Lima é considerado o maior pioneiro de Santa Luzia. Pode até existir, mas constatamos durante nossa estada na cidade, que ele é o morador mais respeitado. Todo mundo o indica como o maior conhecedor da história do município que neste domingo dia 11 de maio de 2014 completa 28 anos de emancipação política. A entrevista que segue conta a história de Santa Luzia D’Oeste vivida pelo Pioneiro Pedro Lima.
Decom/Sms – Como foi que o senhor veio parar em Rondônia?
Pedro Lima – Era agricultor no interior de São Paulo e viajei como camioneiro de 1977 até 1980. De Cuiabá a Rio Branco (AC) não existia asfalto. Sempre pesquisando na procura de um local onde a terra fosse fértil e tivemos a informação de que nessa região onde esta Santa Luzia, a terra era das melhores e no dia 10 de maio de 1980 cheguei a Vila Bambu que depois o governador Teixeirão colocou o nome de Santa Luzia.
Decom/Sms – O senhor tem ideia por que o Governador Jorge Teixeira escolheu esse nome?
Pedro Lima – Ele chegou a Vila Bambu reuniu todo mundo e disse: “Aqui vai ser uma cidade por nome de Santa Luzia” e justificou o porquê da escolha, dizendo que sofria da vista e fez um voto a Santa Luzia e foi atendido! “Então como a terra é fértil vou colocar o nome de Santa Luzia”. Aqui chegando coloquei um comerciozinho, na expectativa de arrumar um pedaço de terra, vim de Pimenta Bueno de caminhão e até Rolim de Moura bati dois dias. De Rolim de Moura vinha uma firma tirar madeira, naquele tempo tinha muito mogno e cerejeira na região e eles vieram lá de Vilhena o madeireiro chamava-se Arlindo Ribelato que vinha trazendo um trator de esteira em cima de um caminhão e nós viemos acompanhando, vinha outra serraria em cima de um FNM. De vez em quando eles desciam a esteira faziam um aterrozinho, fazia uma ponte. Batemos mais dois dias e meio pra chegar a Vila Bambu.
Decom/Sms – A conversa tá ficando boa?
Pedro Lima – Vai ficar melhor! Aí fiz a primeira casa coberta de Eternit e de madeira trabalhada, naquele tempo às casas eram de pau a pique. Assim fui tocando! Naquela época tinha muita gente que fazia “marcação”, uma espécie de “Grilo” (invasão), tenho marcação perto de Nova Brasilândia na 138. A gente ia de Santa Luzia a pé pela picada de 62 Km, e arrumamos dez lotes, fizemos a derrubada e veio o INCRA cortando. A linha 45 deu fora do eixo e nós perdemos a metade das marcações, de dez lotes de 42 alqueire ficamos com dez de 21. Em 1984/85 fui dando lote pra um, lote pra outro, para o pessoal que vinha do Paraná e Espirito Santo.
Decom/Sms – E o senhor veio de onde?
Pedro Lima – Vim do interior de São Paulo da cidade de Mequerobi. Santa Luzia era distrito de Cacoal e na eleição de 1982 eu indiquei o Vice Prefeito de lá. Eles queriam que eu saísse pois souberam que tinha sido vereador presidente da Câmara na minha cidade. Não aceitei porque vim pra cá sozinho, solteiro e naquela época tinha muito bandido, pistoleiro matador de gente, falei: não tem policia aqui e eu não vou mexer com política, e então indiquei esse gaúcho por nome Carlito Duarte e foi aonde o Josino Brito ganhou, ele tava perdendo pro Dr. Adegildo e quando abriram as urnas da Vila Bambu o Josino teve 280 votos e ultrapassou o Dr. Adegildo.
Decom/Sms – A politica então passou a fazer parte da sua vida em Rondônia?
Pedro Lima – Adegildo foi eleito prefeito de Cacoal e o vice foi o candidato de Santa Luzia. Em 1983 Rolim de Moura foi emancipado e Santa Luzia passou a ser Distrito de Rolim e em 1984 fui candidato a vereador por Rolim junto com o Valdir Raupp, fiquei como primeiro suplente, assumi como vereador por um determinado tempo, até que aconteceu a emancipação de Santa Luzia.
Decom/Sms – Município de Santa Luzia D’Oeste?
Pedro Lima – A emancipação foi no dia 11 de maio de 1986. Fui candidato a prefeito, éramos cinco candidatos. Eu solteiro, queimador de lata, era aquele comentário, por sorte fui o mais votado e assumi a prefeitura. O mandato era de apenas dois anos de 86 a 88 para igualar o mandato com os demais municípios.
Decom/Sms – Fez o que pelo município?
Pedro Lima – Abri estrada, construir hospital, colégio, rodoviária, posto de saúde, fiz muito trem. quando terminou meu mandato fui plantar café, era cerealista, descapitalizei, tive que ir pra roça. Quando foi em 1990 chegou o Senador Olavo Pires que queria lançar um candidato a deputado estadual, foi atrás de mim, eu não queria e coisa e tal e como ele insistiu muito, aceitei sair candidato para ajudar, resultado, naquela eleição a Zona da Mata só elegeu um candidato a deputado estadual que fui eu.
Decom/Sms – E o segundo mandato como prefeito?
Pedro Lima – Cumpri meu mandato de deputado e não sai a reeleição, voltei a cuidar da minha lavoura, tava sossegado quando em 1996 me procuraram para sair candidato a prefeito de Santa Luzia fui novamente o mais votado e fiquei até o ano de 2000. Se eu não pude fazer tudo, fiz tudo aquilo que pude pelo município. Devo tudo isso ao povo, porque sozinho ninguém chega lá!
Decom/Sms – No seu tempo de pioneirismo na criação de Santa Luzia quem estava com o senhor?
Pedro Lima – Criamos uma comissão de apoio para lutar pela emancipação de Santa Luzia e aí gera aquela ciumeira, um daqui outro de lá, até meu compadre Dego saiu vice de um homem, um cabra não confiável, que dizia que ele era que tinha emancipado. Quem emancipou foi o povo. Eu costumo dizer: Se não tivesse gente lá, nós não tínhamos como fazer. O progresso quem trás é o povo.
Decom/Sms – No começo o que Santa Luzia produzia?
Pedro Lima – Feijão, arroz, milho e madeira. A economia na época era isso aí. Eu sempre dizia, pros cacaeiros em 1980, daqui a dez anos vamos ter estrada, energia e escola. Não demorou um ano o Teixeirão desceu de helicóptero numa pequena abertura que fizemos no meio da mata e falou: “Vim aqui pra dizer que vou mandar vir um topografo lá de Cacoal pra vocês escolherem uma quadra pra fazer um colégio que vai chamar JK, escolher uma área pra vocês construírem uma igreja e uma praça pra Teleron e já vou abrir estrada”. Ué, disse eu, esse homem é gaúcho e gaúcho conta muita vantagem, acho que ele veio contar mentira pra gente. E aí sô, no outro dia chegou um mineiro, eu tinha um restaurante e na frente tinha um dormitório, ele disse, vim aqui sentar a torre da antena e eu, mineiro você não tem vergonha? “Uai disse ele, eu trabalho pruma firma contratada para fazer isso aqui” e começou a botar madeira pra fazer o colégio. Segunda feira ia no banco em Cacoal e ao passar por Rolim na 25, as máquinas estavam começando e a topografia em poucos dias chegou em Santa Luzia, foi muito rápido.
Decom/Sms – E o povo chegando?
Pedro Lima – Terra não valia nada e eu falava, vamos segurar. Vi um companheiro trocar um lote de 42 alqueires por um toca fita e um relógio, eu quase surrei ele, briguei mesmo e ele dizia: “Eu ganhei isso do INCRA rapaz, não custa nada, vou pra frente e ganho outro lote. Quem veio com dinheiro se quebrou, voltou pra trás. Aquele que veio sem condições, não tinha como voltar e tinha que ficar. Esses hoje estão bem, tem terra, fazenda, tem casa, tem gado. Eu já previa: A madeira vai acabar, a lavoura vai indo vai fracassa e o que vai prevalecer é a pecuária. Eu sempre fui formador de opinião e dizia, o lema aqui é esse, arrumar terra. Vamos derrubar e plantar o pasto, cerca, depois faz o curral pois, vai chegar uma época, que nós não vamos derrubar, quem derrubou, derrubou, quem não derrubou não derruba mais. Essa época estamos vivendo agora. O Teixeirão falava: “Vamos integrar, pra não entregar”.
Decom/Sms – Tem uma história do Teixeirão por aí?
Pedro Lima – Tenho um amigo por nome Taboca que derrubou os 42 alqueirese veio e falou pro Teixeirão, “olha eu derrubei plantei café, seringa e cacau agora não tenho mais terra”. Teixeirão mandou o pessoal do INCRA dar 300 hectares pra ele pertinho de Alto Alegre que nem existia naquele tempo e ainda deu uma medalha pra ele. O Teixeirão incentivava.
Decom/Sms – O senhor chegou a botar serraria?
Pedro Lima – Nunca coloquei serraria, fui um homem nesse lado meio sem sorte. Eu nuca vendi madeira, as terras que eu arrumei lá em Brasilândia não tinha Mogno e nem Cerejeira, só tinha madeira sem valor e as terras que eu comprava, geralmente já tinham sido exploradas, vinha aqueles aventureiros e eu falava pra eles; Gente, vocês estão vendo, esse povo que está aqui explorando, não é o verdadeiro dono, o dono tá vindo, nós viemos fazer caminho pra eles passar e cama pra eles dormir. Hoje taí. valendo R$ 25 Mil o alqueire, o povo tá cheio de gado. Todo mundo é pecuarista, o professor, o funcionário do fórum, o trabalhador da prefeitura, prefeito, vice-prefeito, vereador são todos pecuaristas porque usaram a cabeça.
Decom/Sms – Quem foi o primeiro administrador nomeado pelo Teixeirão?
Pedro Lima – Foi Catarino Cardoso. Era quatro por quatro a reserva do município no perímetro urbano, a administração de Cacoal mandou tirar madeira para construir a escola e roubaram os mognos. A administração de Cacoal vendeu tudo pros madeireiros e nós ficamos com as cascas. Aí o Teixeirão trouxe o Catarino Cardoso que abriu mais ruas, entregou data (terreno), fez muito.Depois veio o Lair Laurindo, mais tarde o Valdir Roberto.
Decom/Sms – E o caso daquele cidadão que queria por que queria ser administrador?
Decom/Sms – Quando o Ângelo Angelim assumiu o governo em 1985, ficou aquele impasse, quem põe, quem não põe, pra ser o administrador de Santa Luzia. Tinha um tal de Cezar Cassol que queria ser o administrador o Valdir Raupp era governo, foi eu seu Miguel Pioneiro o Marcão que era suplente de vereador e fomos falar com o Raupp que disse: “Vocês tão ficando doido, colocar esse homem lá, vamos criar cobra pra nos morder”. Eu falei: Valdir, diz ele que é da cozinha do Angelim o pai dele e ele, quem sabe ele pode conseguir alguma coisa pra Santa Luzia. O Raupp então respondeu: “Se vocês querem vamos colocar se não der certo, a gente tira”. Não deu outra, quando emancipou foi contra mim. Sempre digo, não tenho nada contra ele, é trabalhador , agora, o dia que você me ver abraçado com ele é briga tem que apartar.
Decom/Sms – O senhor diz que chegou aqui solteiro, queimando lata e casou com quem, ela é rondoniense?
Pedro Lima – Ela é mineira, veio pra cá com 3 anos de idade. Eu solteiro, prefeito, quando estava faltando seis meses para terminar o mandato eu já tava namorando com ela e casei. O nome dela é Mara Santos Silva Paz. Estamos com 25 anos de casados temos três filhos. Casei com 39 anos de idade, perdi esse tempão todo porque tinha medo de casamento. Sou católico.
Decom/Sms – O que o levou a se desiludir da política?
Pedro Lima – Essas mazelas, esses trem aí vão descontentando. A pior coisa hoje em dia que se tem pra fazer, é pedir voto e pedir prenda pra igreja católica. Você vai pedir voto, dizem logo: Lá vem um vagabundo, as vezes recebe pra não perder o cliente. Tudo isso me desestimulou de continuar na militância política.
Decom/Sms - Nos seus dois mandatos como prefeito o senhor investiu na cultura?
Pedro Lima – Promovia festas com músicas folclóricas, fiz o estádio, promovia torneios de futebol. Promovia as festa no aniversário da cidade, 7 de Setembro, compramos os instrumentos e montamos a fanfarra, apoiava o festival de música sertaneja. Depois que deixei a prefeitura o povo não teve mais interesse, não fez mais nenhuma festa. Lembro da festa dos estados que era muito bonita com desfile de carro de boi, rainha da madeira e tanta coisa bonita. Já falei pra esse prefeito que está aí, vamos resgatar as festas a nossa cultura, não sei, parece que ninguém tem interesse.
Decom/Sms – Para encerrar essa nossa conversa. Deixe sua mensagem para a juventude?
Pedro Lima – Quero parabenizar todos os munícipes, pessoas trabalhadoras. Sempre digo: Pra Rondônia ficar mais bonita só depende de nós, do nosso trabalho e da nossa honestidade.Para Santa Luzia desejo PARABÉNS!
Miguel Amâncio – O primeiro farmacêutico
Nosso cicerone em Santa Luzia Valdivino - Dego desde quando chegamos a cidade, vinha dizendo, vocês não podem ir embora, sem antes ouvir o seu Miguel Amâncio ele foi dos primeiros a chegar na Vila Bambu e abriu uma farmácia, a história dele é muito bonita. O Dego estava certo, sentamos com seu Miguel e ele muito solícito se dispôs a contar sua história, desde os tempos que saiu da cidade cearense de Iguatu e foi pra São Paulo, depois Mato Grosso (do Sul) e finalmente Rondônia. “Cheguei em Ouro Preto D’Oeste em 1972 e o responsável pelo PIC disse que lá não tinha mais terra, mas, que estavam abrindo o PIC Gy Paraná no seringal Cacaual perto de Pimenta Bueno e seu quisesse podia fazer a inscrição ali mesmo”. Amâncio não fez a inscrição porque não tinha resolvido sua vida em Mato Grosso. Mais tarde retornou a Rondônia dessa vez com toda família e apesar de ter comprado terra na Vila de Rondônia (Ji Paraná), ao passar por Cacaual resolveu ficar. Já em 1979 se separou da mulher e enfrentou o picadão com cacaio nas constas, no rumo da Vila Bambu onde montou aquela que passaria a ser a primeira farmácia de Santa Luzia. Durante nossa conversa, seu Amâncio lagrimou várias vezes, lembrando de como foi duro mas, gratificante cooperar com o surgimento do município de Santa Luzia. O Dego estava certo aos insistir que entrevistássemos o seu Miguel Amâncio um verdadeiro Pioneiro de Rondônia e em especial de Santa Luzia.
Decom/Sms – Por gentileza diga seu nome completo, dia, ano e local do nascimento?
Miguel Amâncio – Sou Miguel Amâncio de Souza nasci no dia 18 de fevereiro de 1927, na cidade de Iguatu no estado do Ceará. Do Ceará fui pra São Paulo, Mato Grosso (do Sul) e Rondônia.
Decom/Sms – Quando e por que o senhor veio para Rondônia?
Miguel Amâncio – Fiquei em Mato Grosso do Sul por 16 anos, ganhei algumas coisinhas, perdi e resolvi vir pra Rondônia porque tinha aquele apelo do governo federal, que prometia 100 hectares de terra. Era o ano de 1972. Cheguei lá em Ouro Preto do Oeste, falei com o coordenador, na realidade, o coordenador mesmo o Assis Canuto estava em Porto Velho quem me atendeu foi o responsável pelo PIC Ouro Preto que disse: “Aqui não tem mais terra, mas, em Pimenta Bueno tá abrindo o PIC Gy-Paraná na região do Seringal Cacaual, se você quiser, pode fazer inscrição aqui e vai ganhar o lote lá”. Respondi, eu não quero fazer, mas, meu cunhado e mais uns três amigos que vieram comigo querem.
Decom/Sms – Por que o senhor não quis fazer a inscrição?
Miguel Amâncio – Não quis, porque não tinha terminado ainda meus acertos lá em Mato Grosso. Tinha que voltar para terminar a venda de um lote de terra que tinha e projetar a mudança da família para Rondônia, meu plano era Ji Paraná.
Decom/Sms – Por que Ji Paraná
Miguel Amâncio – Porque não existia outra cidade, Cacoal ainda não existia só tinha o Projeto do INCRA. Nessa volta demorei três dias de Fátima do Sul até Vila Rondônia (ainda não era Ji Paraná) em carro próprio. Isso foi em 1973. Primeiro vim sozinho e comprei um terreno na Vila Jotão que estava começando a ser aberta. Quando voltei daí já com a mudança, parei em Cacoal e era aquele burburinho tavam invadindo tudo, cada um marcando uma data e achei melhor ficar por ali, porque naquele tempo a Vila Jotão era muito baixa, hoje tá uma maravilha, mas, naquela época era muito alagada. Para atravessar do Jotão para a Vila de Rondônia era muita lama, não gostando, resolvi ficar em Cacoal.
Decom/Sms – Fazendo o que?
Miguel Amâncio – Montei uma farmácia e fiquei trabalhando em Cacoal, era muito bom, passaram dois administradores, um era militar e, civil nunca se da com militar, é como cachorro com gato. Aquele militar começou com muita exigência, fiquei por ali, ganhei um pouquinho de dinheiro. Depois nomearam Catarino Cardoso como administrador Distrital, Cacoal era Distrito de Porto Velho. Naquele tempo só tinha dois municípios, Porto Velho e Guajará Mirim. Acontece o seguinte, trabalhando, ganhei um pouquinho de dinheiro arrumei um lote e comecei a carregar um Cacaio, o lote era na beira da BR perto de Presidente Médici, mas, era uma invasão cheia de problema, Zé Milton Rios era o seringalista mandão, até umas mortes andaram acontecendo, graças a Deus eu não estava no meio, o pessoal de Médici andou agindo por lá. Então em 1979 separei da família.
Decom/Sms – E?
Miguel Amâncio – Me transferir para essa região que hoje é Santa Luzia. Deixei as propriedades, a farmácia e três salões na 7 de Setembro lá em Cacoal tudo para a mulher e os cinco filhos, dos quais três, duas mulheres e um homem já estavam casados. Era um projeto que tinha com a mulher desde quando morávamos em Mato Grosso do Sul de nos separarmos assim que os filhos estivessem criados. Naquele tempo estavam abrindo a Vila Bambu, ainda não era Santa Luzia.
Decom/Sms – O senhor lembra o dia que chegou a Vila Bambu?
Miguel Amâncio – Cheguei à Vila Bambu no dia 8 de fevereiro de 1980, onde só tinha o boteco do Paulo Rodrigues - Paulão e outro botecozinho, não tinha estrada era carreador entre os lotes. Aqui era um Projeto de 4 km X 4 km para uma futura cidade que o INCRA reservou. Então peguei 36 Contos de remédio da farmácia em Cacoal e disse, vou abrir uma farmácia lá na Vila Bambu, combinei com a “finada” (ex exposa): Se eu ganhar dinheiro lá, venho pagar isso aqui, quero 30 dias, se não der certo, devolvo os remédios e vou pro lote lá no Muqui. Chegando aqui aluguei um barraco de pau a pique, passado 30 dias voltei lá e paguei os 36 Contos. Felizmente tinha muita madeira, Mogno aqui era uma mina, entrou uma firma pra tirar madeira e lotou de gente, aumentei a farmácia, fui trabalhando, deu tudo certinho. Não tinha estrada para Rolim de Moura carreguei Cacaionas costas indo de a pé pra Rolim, tinha um carreador, mas, não tinha ônibus nem nada.
Decom/Sms – Quando foi que o Teixeirão resolveu investir na Vila Bambu?
Miguel Amâncio – Vou lhe contar, essa história é muito importante. Teixeirão chegou aqui um dia, ali era muito homem, um gaúcho que tinha qualidade, tenho saudade dele. Ele chegou reuniu o povo e disse: “Olha gente, assumi o governo de Rondônia e tô vendo que está tudo por fazer, mas, vamos abrir a boca e dizer: somos rondonienses”, lembro como se fosse hoje, ele disse: “Quero trabalho, trabalho e trabalho eu garanto a vocês que vou trabalhar.No dia 7 de agosto, prosseguiu Teixeirão, lá na beira do rio Anta o trator vai berrar, começando a abrir a estrada”. Isso era o mês de abril daquele ano e disse mais, “Rolim de Moura será um polo muito importante para essa região, as ruas e avenidas terão 100 metros de largura. Vai ser realmente a referência da região”. Quando foi no dia 7 de agosto, um trator D-7 chegou e derrubou um Ipê grande em cima daquela serra e começou a abrir a estrada, foi uma riqueza os anos que o Teixeirão trabalhou aqui, ele foi incansável, ele visitava, não vinha com policial atrás dele não, era aquele bonezinho na cabeça, uns três companheiros, conversando com as pessoas, como nós estamos conversando aqui. A situação foi melhorando pra todo mundo e começaram a falar na transformação do Distrito em Município, o estado precisa crescer e para isso era preciso ter mais municípios.
Decom/Sms – E como foi que a Vila Bambu passou a se chamar Santa Luzia?
Miguel Amâncio – Foi o seguinte: Perdeu-se Zé Perdido e o outro companheiro dele e não tinha jeito, ficaram dois dias no mato e então fizeram uma promessa com Santa Luzia que se Deus abençoasse que se eles saíssem na 45 que era a Linha mestra, pela qual conseguiram chegar a qualquer propriedade, iriam pedir para o Teixeirão mudar de Vila Bambu para Santa Luzia. Dizem também que o Coronel Teixeira tinha recebido uma graças de Santa Luzia por um problema em sua visão e por isso, colocou o nome da Santa aqui.
Decom/Sms – Quem foi o primeiro administrador de Santa Luzia?
Miguel Amâncio – Foi Valdir Roberto, depois veio o Catarino Cardoso. Quando aconteceu a primeira eleição para prefeito o povo elegeu o Pedro Lima que foi um bom prefeito um cabra muito trabalhador de muita garra, honesto!
Decom/Sms – Como o senhor se sente ao ter participado da criação de Santa Luzia hoje uma cidade bonita, prospera?
Miguel Amâncio – Sinto muito prazer, apesar de hoje não ter mais força pra nada, não ter mais saúde, mas, me sinto satisfeito de ter ajudado, entrei com o espirito de progredir. Meus filhos que moram em Cacoal me chamam para morar lá, mas, eu não vou. Não vou porque gosto de Santa Luzia.
Decom/Sms – O senhor casou de novo?
Miguel Amâncio – Casei com a dona Abdael Almeida de Souza temos os filhos: Miguel Amâncio de Souza Filho e a Rosimeire Amâncio de Souza Machado.
Decom/Sms – Para encerrar esse nosso bate papo e em homenagem ao aniversário de 28 anos da emancipação de Santa Luzia que será festejado neste dia 11 de maio, gostaria que o senhor deixasse uma mensagem à juventude da cidade. Pode ser?
Miguel Amâncio – No momento a gente fica meio assim, apertado para dar uma mensagem, que poderia futuramente servir muito pra eles, nós estamos numa época muito difícil pra juventude. Eu diria o seguinte: Que esses que estão aí, que chegaram depois de mim (muito emocionado), evitassem os horrores da criminalidade que existe, as drogas, as enfermidades que estão matando o povo. Eu gosto do meu Brasil, gosto de Santa Luzia!
Texto de Silvio M. Santos
Fotos e vídeo de Robson Paiva
Fonte: Decom
Lenha na Fogueira com o filme "O Pecado de Paula" e os Editais da Lei Aldir Blanc
A Fundação Cultural do Estado de Rondônia (Funcer), realiza neste sábado (16), o ensaio para a gravação do filme em linguagem teatral "O Pecado de Pau
Lenha na Fogueira com o Museu Casa Rondon e a eleição da nova diretoria da FESEC
Entrega da obra do Museu Casa Rondon, em Vilhena. A finalidade do Museu é proporcionar e desenvolver o interesse dos moradores pela rica história
Lenha na Fogueira com o Dia de Nossa Senhora Aparecida e o Dia das Crianças
Hoje os católicos celebram o Dia de Nossa Senhora Aparecida a padroeira do Brasil. Em Porto Velho as celebrações vão acontecer no Santuário de Apareci
Jorgiley – Porquinho o comunicador que faz a diferença no rádio de Porto Velho
Tenho uma maneira própria de medir a audiência de um programa de rádio. É o seguinte: quando o programa ecoa na rua por onde você está passando, dando