Sexta-feira, 9 de maio de 2014 - 20h02
Domingo, 11 de maio de 2014, o município de Machadinho D’Oeste comemora 28 anos de emancipação política. Antes disso, apenas um assentamento criado pelo Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) – PA Machadinho – que foi instalado em 15 de fevereiro de 1982 e consolidado em 1981 pelo Decreto-Lei Federal n° 88.225.
Foi elevado à categoria de município com a denominação de Machadinho D’Oeste pela Lei Municipal n° 198, de 11 de maio de 1988. As terras do antigo povoado foram desmembradas dos municípios de Ariquemes, Jaru e Ji Paraná. Segundo o IBGE, sua instalação aconteceu no dia 31 de dezembro de 1988, integrado pelos distritos Oriente Novo, 5° BEC, e Tabajara.
Para recontar essa história, uma equipe de reportagem do Departamento de Comunicação (Decom) entrevistou para o projeto “Pioneiros – A História de Todos Nós”, migrantes que contribuíram para a formação e o desenvolvimento do município.
Dentre os pioneiros de Machadinho se destacam as entrevistas do atual gerente da Emater, Jesualdo Lima Melo, da professora Marileide Sandes (Leide) e do octogenário Antônio Firmiano que nasceu e vive há 87 anos na região do atual município de Machadinho.
Os funcionários do Incra, Codaron e Emater tiveram destacada atuação na formação dos núcleos populacionais, que passaram a ser implantados em Rondônia a partir da década de 1960. O extensionista Jesualdo Lima Melo, um maranhense de Barra do Corda que veio para Rondônia em 1976 e ingressou no Incra justamente na região de Ariquemes, ajudou a implantar alguns Projetos de Assentamento (PAs).
Um deles foi o PA Machadinho que se transformou no dia 11 de maio de 1988, no Município de Machadinho D’Oeste. Jesualdo se orgulha de ter participado da formação do povoado e da sua emancipação político e administrativa. “Acontece que a gente já vinha trabalhando a implantação do município desde 1984, com o assentamento dos agricultores e teve todo aquele trabalho com o IBGE para a organização do plebiscito”.
Decom – O senhor é de onde?
Jesualdo Melo - Sou Jesualdo Lima Melo, natural de Barra do Corda, Maranhão. Estudei em Brasília (DF) e em 1976 vim para Rondônia quando ainda era Território Federal, trabalhar no Incra na região de Ariquemes, onde implantamos os Projetos: PA Marechal Dutra, PA Burareiro e as Áreas de Licitação. Primeiramente sob o comando do Capitão Silvio Farias e depois com o doutor Assis Canuto. Depois o governador Jorge Teixeira criou a Codaron e nós participamos da criação dos Núcleos Urbanos de Apoio Rural (Nuares) e todos viraram cidades. Cacaulândia, Rio Crespo, Alto Paraíso, Monte Negro são exemplos e resultado desse trabalho iniciado por Campo Novo e depois disso, finalizando o trabalho em Ariquemes onde tínhamos como vizinho Confúcio Moura, hoje governador de Rondônia e o Osmar Silva que também chegou a Ariquemes na época e hoje é o diretor geral do Decom.
Decom – E Machadinho?
Jesualdo Melo – Depois do trabalho em Ariquemes, fomos implantar o PA Machadinho. Um Projeto de Assentamento que no inicio era para quase seis mil famílias, mas, naquele momento, surgiu a questão do meio ambiente e depois deu uma parada, quando voltou ficou em torno de três mil famílias.
Decom – Quer dizer que Machadinho começou com apenas três mil Famílias?
Jesualdo Melo – Passado esse momento, veio a nova fase de assentamentos, aí vieram os PAs Tabajara – PA Santa Maria, PA União, PA Pedra Redonda, PA Santa Maria – 2, PA Maria Mendes, PA Paulo Arruda que hoje pertence ao município de Anari, PA Asa do Avião, PA Zé Carlos que hoje pertence também ao município de Anari. Isso tudo começou em 1984. Geralmente onde o Incra implantava um assentamento como implantou aqui e na mesma época Urupá e Cujubim. O povo chegava, primeiramente vinha o funcionário público, depois os assentamentos dos agricultores. Em função disso, vinha escola, posto de saúde, hospital, vinha o comerciante e com tudo isso crescendo, quando foi o dia 11 de maio de 1988 aconteceu à emancipação política de Machadinho.
Decom – O Senhor lembra como foi a festa da emancipação?
Jesualdo Melo – Foi uma festa muito bonita. Acontece que a gente já vinha trabalhando a implantação do município desde 1984, com o assentamento dos agricultores e teve todo aquele trabalho com o IBGE a organização do plebiscito, criou-se uma Comissão para desenvolver todo essa preparação e o resultado, foi que a 11 de maio de 1988 aconteceu a assinatura da Lei de Criação do município de Machadinho.
Decom – Depois da emancipação?
Jesualdo Melo – Aí Machadinho foi tomando o formato de cidade, veio à primeira eleição que elegeu o Luiz Flávio de Carvalho que hoje é o atual superintendente do Incra, ele foi prefeito duas vezes aqui e a gente acompanhando. Nós que aprendemos a trabalhar no Incra e na Emater com o povo. Dava prazer à gente trabalhar na implantação das cidades. É bacana se ter a história. Às vezes não temos o bem material na mão, mas temos essa riqueza.
Decom – Como foi à chegada dos madeireiros á região?
Jesualdo Melo – Como toda Rondônia, nossa região é composta de floresta de grande porte e aí começaram as aberturas das estradas e com elas vieram os madeireiros. Machadinho chegou a ser um dos grandes municípios na extração de madeira. É tanto, que quando o município foi criado, o Incra deixou aquelas reservas em bloco, que hoje são as reservas extrativistas onde o seringueiro, aquele pessoal que explorava borracha, ainda permanece. A exploração de madeira continua até hoje, é um segmento forte, econômico para o município assim como a agricultura e a pecuária. Na época tínhamos muitos madeireiros, dentre eles o Fernando, dono da Madeireira Ipê; família do atual deputado estadual Neodi, donos da Madeireira Machadinho; finado Paulo, que chegou a ser vereador do município dono da Madeireira Tieta; Madeireira Santa Clara, do Nestor; enfim, uma quantidade significativa de madeireiras. Hoje ainda existem muitas madeireiras, que exploram de forma mais racional os recursos naturais.
Decom Quais aqueles que podem ser considerados os primeiros professores, médicos e outros profissionais do município?
Jesualdo Melo – Podemos citar a nossa colega Maria José, a professora Mazinha, a professora Marileide que ainda está aí, o professor Gáudio e muitos outros. Os primeiros médicos como o Dr. Veloso, Dr. Geraldo e tantos outros profissionais que chegaram ao município quando a cidade foi se formando.
Decom – E a importância dos Cerealistas para o desenvolvimento da região?
Jesualdo Melo – No início tivemos aqui a Cerealista Paraná, a Cerealista do seu Jorge (falecido). Eu particularmente também tive uma Cerealista.
Decom – Qual era a vocação agrícola do município no inicio?
Jesualdo Melo – No início da colonização dos assentamentos, o produtor plantava arroz no primeiro e segundo ano. Mas, aqui, por tradição do pessoal que ocupou Rondônia e que veio do Sul, depois veio o pessoal do Sudeste, do Nordeste enfim de todo o Brasil, uma das culturas que mais se firmou no município foi o café. Machadinho sempre esteve entre os cinco maiores produtores do estado, com cultivo de guaraná, urucum, pimenta do reino. Depois veio a pecuária, hoje a bacia leiteira do município é grande, temos uma produção bastante significativa de leite/dia, um rebanho excelente. O município se desenvolveu de uma forma surpreendente. Hoje tá começando a entrar a lavoura branca, o arroz em grandes áreas, o milho e a soja.
Decom – O Inhame já chegou por aqui?
Jesualdo Melo – O Inhame é uma cultura que chegou há pouco tempo, dois anos e meio no máximo. Nós da Emater e Secretaria Municipal de Agricultura tomamos conhecimento que estava sendo muito bem cultivado no Cone Sul, Zona da Mata e lá em São Francisco. Então juntamos os produtores que tinham interesse, fizemos uma excursão que foi acompanhada com profissionais da Emater, Secretaria de Agricultura. Foram lá negociar com quem planta, tiveram entendimento com quem vende, com quem transporta esse Inhame e hoje, a cultura também já é uma realidade em nosso município.
Decom – Como foi que a Emater entrou na sua vida?
Jesualdo Melo – Quando sai do Incra, assumi como secretário municipal por duas vezes no município e em uma delas já tinha estado na Emater onde encontrei vários colegas. Por outro lado minha esposa já trabalhava na Emater como extensionista social e, na época, como opção, procurei trabalhar na Emater e desde 1993 faço parte do seu quadro funcional. Acredito que vou encerrar minha carreira profissional trabalhando na Emater.
Decom – Por falar em esposa. O senhor é casado com quem?
Jesualdo Melo – Minha esposa é dona Leonir Piana. Casamos em Ariquemes quando eu ainda era do Incra. Temos um casal de filhos muito bem encaminhados na vida.
Decom– Antes de encerramos essa conversa, gostaria de ouvir sua impressão sobre a Usina Hidrelétrica que deve ser construída em Tabajara. Qual é a sua opinião?
Jesualdo Melo – Olha, quando chegamos para implantar o PA Machadinho, conhecemos aqui no mesmo rio, só que com o nome de Ji-Paraná, região que chamamos de MA-16. Onde hoje fica o Assentamento Paulo Arruda, um grande acampamento de pesquisa da Senec que trabalhava ali para construir essa usina. Porém, em virtude de alguns impedimentos e a questão dos índios de Lurdes e a “reserva” o trabalho parou. Na época, não se precisava tanto de energia. Mas hoje, além dessa prosperidade do nosso município, eu sempre digo, Machadinho será o grande município desse entorno, hoje já viajamos por aqui para Mato Grosso e o Amazonas. Temos cidades se formando aqui próximo da gente como Guatá (MT), temos linha de ônibus para Coniza (MT). No sentido do Amazonas fazemos divisa com Manicoré e por terra, vamos pela RO-180 sentido Apuí e Humaitá, e se quiser para o resto do Brasil.
Decom – E a hidrelétrica?
Jesualdo Melo – A hidrelétrica que hoje está em fase de estudo e acreditamos que será realmente implantada, fica na região de Tabajara um distrito que é mais velho até que Porto Velho. Tem muita gente trabalhando nessa primeira etapa da pesquisa. Isso vem contribuir com o município da seguinte maneira, na primeira fase com aquele movimento da construção e depois com os impostos. É por isso que acreditamos, pois além do potencial que o município tem, com a chegada da hidrelétrica, o progresso será bastante acentuado. É por isso que precisamos de governantes que também gostem dessa região como nós gostamos.
Decom – Neste dia 11 de maio de 2014 Machadinho está completando 28 anos de emancipação, gostaríamos que o senhor como um dos responsáveis pelo desenvolvimento do município, deixasse gravada uma mensagem de parabéns.
Jesualdo Melo – A gente poderia contar a história mais detalhada, mas como vocês me pegaram de surpresa, com certeza, esqueci algumas passagens importantes. Eu que cheguei a Rondônia em 1976, para trabalhar no Incra quero dizer que acredito muito no nosso estado, muito nos governantes que aí estão fazendo um grande trabalho. A maior parte da minha vida vivi em Rondônia. Adoro esse estado e principalmente o lugar que a gente vive hoje, onde constituímos família, que é o município de Machadinho D’Oeste. Volto a dizer, acreditamos muito no governo que aí está uma pessoa capaz, competente que está dando rumos sem muito barulho ao nosso estado. Parabéns Machadinho D’Oeste.
Professora diz ter conquistado independência em Machadinho
A primeira professora do colégio Joaquim Pereira da Rocha, Marileide Sandes Siqueira Barros, veio de Pernambuco direto para Machadinho a convite de uma dos seus irmãos. “Vamos lá, se tu não gostares voltas”. Ao chegar pensava que estava numa cidade daquelas que aparecem em filme de faroeste, muita poeira, uma casinha de madeira aqui outra ali, mesmo assim ela gostou do calor humano do povo. “No segundo dia em Machadinho já estava empregada como professora do colégio Joaquim Pereira da Rocha”. Leide como é conhecida à professora, conta que em sua terra natal seu pai um policial e não deixa sair para as festas ou outra diversão. “Machadinho foi a minha independência, podia sair para onde quisesse além de ganhar meu dinheiro”. Foi vereadora por quatro mandatos consecutivos, depois de “comer” muita poeira quando ia receber o vencimento de professora no tempo que Machadinho pertencia ao município de Ariquemes. Hoje é diretora da Educação de Jovens e Adultos e se diz muito feliz. “Procurem outro estado que tenha tanta gente de fora. Sou rondoniense de coração e não admito que falem mal de Rondônia e principalmente que falem mal do meu Machadinho D’Oeste”.
Decom – Quando a senhora veio pra Rondônia, foi direto pra Machadinho?
Leide – A gente morava no interior do estado de Pernambuco onde naquela época as dificuldades eram muito grandes. Vim de uma família de sete filhos, meu pai policial, o que ele pode nos propor foi até o ensino médio, não tinha a facilidade que tem hoje com Faculdade por todo canto. Naquele tempo, a gente ouvia muito falar no famoso estado de Rondônia o “Eldorado do Brasil”. O governo chamando gente de todas as regiões pra vir desbravar o estado. Meu irmão Abelardo veio primeiro e começou a trabalhar no Incra depois veio o Jorge, um foi puxando o outro. O Jorge foi passear no Nordeste e me convidou pra vir conhecer. “Vamos lá se tu não gostares voltas”. Já tinha uns cinco anos que tinha feito o 2º Grau e estava parada e então aceitei o convite.
Decom – Como foi à chegada em Machadinho?
Leide – Naquele tempo Machadinho era Povoado de Ariquemes, quando cheguei me senti numa cidade de filme de faroeste. Cheguei à tardinha, aquela poeira, uma casinha de madeira aqui outro lá longe e eu disse: Meu Deus do Céu aonde vim amarrar meu Jegue! No outro dia chegou a Diretora de uma escola pra me conhecer. Era um espetáculo quando chegava uma professora ou professor aqui. Ela foi lá me chamar para trabalhar. No outro dia eu já estava trabalhando. Fui lecionar na escola Joaquim Pereira da Rocha que também tinha sido aberta há poucos dias.
Decom – Desembarcou em Rondônia com o pé direito?
Leide – Ela me perguntou: “A senhora pode começar amanhã?” Comecei fazendo matrícula, os funcionários eram poucos, Isso aconteceu no comecinho do mês de fevereiro. Entreguei meus documentos que foram encaminhados para Ariquemes local onde eram feitas as contratações. Na época no Regime CLT. Aquele trabalho foi como se fosse meu grito de independência.
Decom – Por quê?
Leide – Como meu pai era policial no interior do Nordeste eu não podia fazer nada, tipo sair para as festas essas coisas. Quando cheguei aqui, nossa, podia sair pra onde eu quisesse, apesar de não ter aonde ir, mas, eu podia ganhar meu dinheiro, disse a mim mesma. “O diabo é quem volta, vou ficar por aqui!” Apesar das várias dificuldades, só tinha energia das 6 da tarde até às 10 da noite. Quando chegava carne de boi, a gente tinha que ir pra fila do mercado e não podia comprar a quantidade que queria e nem podia escolher, dava graças a Deus o que o açougueiro colocava na sacola, mas, em compensação, o calor humano era fora do normal. Hoje tenho muita saudade daquele tempo.
Decom – Nem a poeira tirava o humor?
Leide – Quando a gente ia receber o pagamento lá em Ariquemes ia todo mundo na carroceria da Toyota da Educação que também ia cheia de botija de gás que a gente ia comprar em Jaru ou Ariquemes. A gente vestia uma camisa de manga comprida, botava um lenço na cabeça e amarrava, quando a Toyota parava na frente do banco o professor Cláudio que é muito antigo aqui, fazia a maior galhofa: “Uuuuuu, desce indiada”. A gente estava que era só poeira, tirava aquela blusa de manga comprida e o lenço, dava uma batidinha, levantava a cabeça e entrava no banco com a maior moral. Apesar das dificuldades, em toda cidade pequena todo mundo vira uma família.
Decom – Como foi o movimento em prol da emancipação de Machadinho?
Leide – Todo mundo ficou doido porque era tudo que a gente queria. 150 km da BR 364. Se hoje ainda é difícil imagina naquela época. Foi uma festa enorme, veio o prefeito tampão que era o rapaz que trabalhava na Embrapa o José Carlos Freitas. Comecei a trabalhar na Escola Joaquim Pereira da Rocha assim que ela abriu, matriculando os alunos e depois passei a ministrar as aulas até o meio do ano. Quando ele assumiu como prefeito tampão me convidou pra ser sua Secretária de Gabinete e eu aceitei, fiquei até o final do ano, foi quando teve eleição e entrou o Luiz Flávio Carvalho Ribeiro que hoje é o superintendente do Incra e eu voltei pra sala de aula onde fiquei por dois anos e então fui convidada pelo Flávio para assumir como Secretária de Educação.
Decom – Foi a primeira secretária de Educação?
Leide – Não fui a primeira secretária de Gabinete de Educação a primeira foi a professora Maria de Andrade isso foi em 1989. Eu assumi dois anos depois dela, também durante dois anos. Nesse interim o Flávio disse: “Você vai ser candidata à vereadora”.
Decom – A jovem que chegou inexperiente do interior de Pernambuco alçou voo na política?
Leide – Falei pra ele que não iria ser candidata. Ele insistiu tanto que terminei aceitando ser candidata e fui eleita, aliás, fui eleita consecutivamente por quatro mandatos. No primeiro mandato que concorri dos nove vereadores eleitos, cinco eram mulheres. Machadinho, na época, foi o único município do Brasil cuja maioria na Câmara de Vereadores era mulher. Isso foi na eleição de 1992. A gente até brincava dizendo que na próxima eleição, íamos deixar apenas um homem se eleger, que era para puxar a mesa e a cadeira pra gente sentar.
Decom – Chegou a ser convidada para ser candidata à prefeita?
Leide – Fui sim convidada a me candidatar à prefeita, na realidade, nunca tive a pretensão por problemas particulares, eu não gosto de largar muito minha casa e o prefeito anda muito, passa dias fora da cidade e eu sou muito família. Sou casada com Josemar Moreira Barros que é cearense e trabalha na Emater, temos uma filha.
Decom – E as festas cívicas?
Leide – Hoje praticamente não existe, antes eram muito boas, não sei se por culpa dos Secretários ou porque a realidade era outra, o povo tinha mais calor por esses momentos, as festas eram ótimas, as escolas participavam, havia competição, cada uma querendo fazer mais bonito, as escolas desfilavam com alegorias representando os estados, falavam sobre a produção agroindustrial do município, era muito bacana. Nos tempos de hoje, teve ano que não teve desfile de Sete de Setembro.
Decom – Como a senhora se sente, hoje, com Machadinho completando 28 anos de emancipação?
Leide – Quando aqui cheguei a moeda era madeira, cedro, cerejeira, ipê. Era assim, ou você era funcionário público ou trabalhava em serraria. Quem realmente ajudou a desenvolver Machadinho foram os madeireiros, inclusive, contribuindo com a gente. Se você ia fazer uma festa na escola pra quem ia pedir? Se você queria construir uma sala de aula que naquele tempo era de madeira, pra quem ia pedir? Pro madeireiro. Quem arrumava as estradas eram os madeireiros. Então esses empresários contribuíram e contribuem definitivamente para o progresso de Machadinho por isso merecem todo nosso respeito.
Decom – Para encerrar esse nosso papo. Diga alguma coisa aos jovens de Machadinho?
Leide – Aos jovens de Machadinho tenho a dizer que estudem. Nós hoje somos do EJA, uma escola que trabalha a educação de Jovens e Adultos tem o ensino seriado. Temos alunos com 60, 40, 30 com 20 anos de idade. São muitos alunos. No mundo de hoje, se você não tiver estudo, não consegue nada! Sempre falo para os jovens de 15 anos, que estudam aqui. O fato de vocês estarem no EJA é porque vocês já estão atrasados, peço pra ele olharem o exemplo dos colegas ao redor deles, para verem quantas pessoas voltaram para a escola e que trabalham ainda em serraria hoje, em mercados em lojas, vem pra cá porque querem algo melhor. Então jovens de Machadinho e do Brasil, estudem, não percam tempo, porque o mundo aí fora tá cruel, a competição esta grande e se não tiver estudo não vai. Para encerrar! Deixa complementar um negócio.
Decom – Pois não…
Leide – O estado de Rondônia é o estado mais brasileiro do Brasil e as meninas indagam, por quê? Procurem outro estado que tenha tanta gente de fora! Sou rondoniense de coração e não admito que falem mal de Rondônia e principalmente não admito que falem mal do meu Machadinho D’Oeste. Aqui eu virei a Leide, aqui eu criei identidade, aqui todo mundo me conhece. Aqui tive oportunidade de crescer, de mostrar quem eu era e pra que eu vim Sou Machadinho até debaixo d’água, disse emocionada.
Fonte
Texto: Silvio M. Santos
Fotos: Robson Paixa
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