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Silvio Santos

Porto Velho - No tempo que hotel era Pensão



A pensão da Maria Eunice, talvez, a mais famosa entre as pensões de "mulher solteira", até hoje existe e fica na esquina das ruas D. Pedro II e Tenreiro Aranha 

"... Onde é o Museu, era uma grande pensão."

Verso de uma das canções do Ernesto Melo – O Poeta da Cidade. Na realidade o nome da pensão era "Pensão Guaporé", considerada a primeira grande pensão montada em Porto Velho, ficava ali onde hoje funciona o SATED em frente ao clube Ferroviário na Avenida Sete de Setembro onde na época que o Ernesto compôs a música, era o "Museu Estadual".
E o que era uma pensão?

Pensão, era o que hoje, chamamos de restaurante. Muitas pensões, que existiram em Porto Velho até a década de Setenta serviam ou atuavam como pousada, hoje seriam classificadas como Apart Hotel.

Entre as tantas pensões de Porto Velho, algumas ficaram famosas, ou por abrigar, ou fornecer refeições para os chamados "categas" (pessoas influentes da sociedade), ou por servirem de ponto de encontros amorosos fortuitos (eram os cabarés). Entre as que mais se destacaram e que até hoje são lembradas por quem chegou nesta cidade até o inicio da década de setenta, são:

Pensão do Mister Davis; Pensão do Napoleão; Pensão do seu Cardoso; Pensão do Lobato. Essas atuavam como pousada e restaurante, com exceção da pensão do Napoleão. "Eu sou do tempo do Hotel Brasil, Casa Três e Casa Seis, Pensão do Napoleão", verso da música "Naquele Tempo", de autoria Silvio M. Santos. Existiam as pensões que abrigavam as prostitutas, que naquele tempo eram chamadas também de casa de "mulher solteira" como: Pensão da Maria Eunice (que existe até hoje), Pensão da Anita; Pensão da Adelice; Pensão da Mãe Preta e Pensão da "Madame" Elvira a Tartaruga e outras. Vamos localizar e até falar sobre algumas dessas pensões:

Pensão do Mister Davis

Talvez a mais famosa entre as Pensões que existiram naquele tempo em Porto Velho. Era uma casa construída com pinho de Riga (como diria a professora Yedda Bozarcov), que ficava no inicio da ladeira da prefeitura, na rua José Bonifácio, entre a Barão do Rio Branco e a Henrique Dias.

Mister Davis era um negro barbadiano que veio para Porto Velho durante a construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Com tino para o comércio, construiu a Pensão aonde as pessoas que chegavam à cidade se hospedavam, já que à época, só existia o "Hotel Brasil" e ali, só se hospedavam os técnicos que vinham prestar serviço na Madeira Mamoré, os grandes seringalistas e depois, os convidados do governo do Território Federal do Guaporé. O Porto Velho Hotel (hoje UNIR – Centro, só foi inaugurado no inicio da década de cinqüenta). Bom! Mister Davis em sua pensão, não só abrigava os recém chegados, ali ele servia também refeições, inclusive, o pessoal "catega", que morava no bairro Caiari em sua maioria, comia de Marmita servida pela Pensão do Mister Davis.

A Pensão do Mister Davis como já dissemos, abrigou muitas pessoas, principalmente quando foi criado o Território Federal do Guaporé, gente que vinha pra cá na esperança de conseguir emprego, e as que vinham contratados pelo governo territorial para exercer cargos relevantes e ficavam hospedados na Pensão do Mister Davis até conseguiram casa no bairro Caiari fato que não era tão fácil.

Hoje, no local onde funcionou a Pensão do Mister Davis está instalado o que chamamos de "Camelódromo", ali na Barão do Rio Branco com a José Bonifácio no pé da ladeira "Comendador Centeno" antes conhecida como "Ladeira da Prefeitura"

Pensão do Cardoso

Albertino Cardoso da Silva ou simplesmente Cardoso, chegou a Porto Velho no final da década de 20 com apenas 15 anos de idade, vindo de Óbidos município do estado do Pará. Hoje aos 91 anos de idade completos, seu Cardoso, continua lúcido, vivendo em sua residência que fica a Rua Afonso Pena sub esquina com a Tenreiro Aranha. "Quando comprei esse terreno, aqui não existia praticamente nada da cidade, o que tinha era um chafariz aí onde passa a Tenreiro Aranha hoje, aonde as mulheres vinham lavar roupa e a vizinhança pegava água pra beber, cozinhar e fazer tudo". Fomos bater um papo com o seu Cardoso semana passada e ele nos contou, que quando aqui chegou, foi trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré como Casaco (trabalhador braçal) e mandado para a frente de serviço em Jacy Paraná. "Achei o trabalho muito pesado e por isso fiquei pouco tempo lá". Ao voltar para Porto Velho, seu Cardoso conseguiu emprego de auxiliar de cozinheiro, justamente no Hotel Brasil, ali cortava lenha para o fogão, lavava louça, cortava legumes e verduras e foi aprendendo a arte da culinária. Com a experiência adquirida na cozinha do Hotel Brasil seu Cardoso montou a sua Pensão, que ficou famosa e até hoje é lembrada por muitas pessoas da cidade. A Pensão do seu Cardoso além de contar com quatro Quartos (apartamentos), para alugar, servia de restaurante, aliás, a principal atividade e a principal fonte de renda da Pensão.

A Pensão do seu Cardoso era mais freqüentada pelos comerciantes e comerciários. O fornecimento de marmitas para pessoas mais abastadas também era grande.

Hoje, seu Cardoso aos 91 anos de idade, passa o dia apreciando o movimento da Rua Afonso Pena sentado em sua cadeira de balanço e arrudiado pelo carinho dos filhos e netos.

A Pensão do Napoleão

Essa ficava na esquina da Rua José do Patrocínio com a Rua Major Guapindaia (hoje Avenida Rogério Weber). A Pensão do Napoleão ficou mais famosa, porque ficava justamente entre a Casa Três, Casa Seis e o Hotel Brasil e nas proximidades do Mercado Público Municipal e depois na passagem para a Feira Modelo (hoje Mercado Central). A pensão do Napoleão funcionava apenas como restaurante e por ficar localizada num local estratégico, era bastante freqüentada principalmente pelos moradores das Casas Três e Seis e empregados da Padaria do Raposo, da Armazém do Tufi Matny e até trabalhadores do Mercado Municipal. Vale salientar, que a Pensão do Napoleão funcionava numa casa de madeira (pinho) e atendeu seus fregueses até meados da década de sessenta.

Pensão Cabaré

Como já dissemos, naquela época os cabarés também eram chamados de pensão ou então casa de "mulher solteira". E porque essas casas eram também chamadas de Pensão? Acontece, que naquele tempo, a maioria da população da cidade de Porto Velho era homem e as "Madames" Maria Eunice, Anita, Elvira, assim como a Adelice e outras menos votadas, mandavam buscar mulheres (prostitutas) em Manaus, Belém, Minas Gerais e até no Rio de Janeiro e para abriga-las tiveram que construir quartos (apartamentos), e ali essas mulheres moravam e faziam suas refeições, além de receber os fregueses durante a noite.

A Pensão da Anita funcionou por muito tempo na esquina da Rua D. Pedro II com a Marechal Deodoro e era dotada de um pavilhão com aproximadamente 20 quartos que ficava onde hoje é a Loja Eletro Seixas e o Salão (Boite) que ficava na esquina da D. Pedro com a Marechal.

A pensão da Maria Eunice, talvez, a mais famosa entre as pensões de "mulher solteira", até hoje existe e fica na esquina das ruas D. Pedro II e Tenreiro Aranha. A Pensão da Maria Eunice ficou famosa pela disciplina implantada pela dona Maria, mulher por ela contratada, era proibida de se embriagar (apesar de ter que instigar os fregueses a consumir cada vez mais bebida) e de fazer qualquer tipo de escândalo. A Pensão era freqüentada pelos "categas" mais influentes da cidade. As mulheres só poderiam sair da Pensão, após o encerramento das atividades por volta de Uma Hora da Madrugada.

Outras pensões de "mulher solteira" existiram em Porto Velho como a da dona Adelice que ficava no bairro da Olaria; Mãe Preta na Afonso Pena e uma que dividia o sucesso com a da Maria Eunice, a Pensão da Madame Elvira popularmente conhecida como "Tartaruga" que funcionou até a morte da Madame no final da década de noventa, a Rua Afonso pena com a Marechal Deodoro, era reduto dos seringalistas da época.

Por um determinado tempo a Rua Joaquim Nabuco entre a D. Pedro Segundo e a Afonso Pena foi reduto de várias pensões de "mulher solteira" assim como a Avenida Kennedy que já foi Jorge Teixeira e hoje faz parte da BR-319, era o famoso Roque que no auge do garimpo de ouro contou com dezenas de pensões.

Fonte: Zekatraca

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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