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Gente de Opinião

Silvio Santos

Projeto de pesquisa Mãe Eunice da Oxum


Projeto de pesquisa Mãe Eunice da Oxum - Gente de Opinião

Neste sábado 14, integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisa Interdisciplinares Afro-Amazônicos/GEPIAA da UNIR, sob a coordenação do professor Marco Antonio Domingues Teixeira, realizam Toque de celebração aos dez anos da morte da dona Eunice Monteiro Mãe de Santo do Terreiro Ilê Axé Oxum Aladê, famoso nas décadas de 1970/80 e 90. “Hoje o terreiro parece que tem um século de abandono, a mata está tomando conta. O Toque vai acontecer justamente no meio das ruinas”, disse Marco Teixeira;

A solenidade está marcada para iniciar as 19h00 nas ruinas do Terreiro da Mãe Eunice a rua São Paulo entre a Joaquim Nabuco e rua Brasília e será aberta para quem quiser participar. Todos Filhos de Santo foram convidados. “Ha uma resistencia muito grande. A história da Dona eunice envolve situações bem complicadas, como a morte do seu filho cujo assassinato ocorreu na porta do Terreiro. As pessoas as vezes se sentem meio constrangidas em situações mais delicadas. De qualquer forma a homenagem é importante porque os Cultos de Terreiros são Cultos de ancestrais e antepassados”, comentou Teixeira.

Marco Teixeira é considerado como principal estudioso do segmento em Rondônia. “Passei a estudar esse segmento em primeiro lugar, pela paixão que a coisa provoca, segundo, porque é nosso legado popular mais evidente, isso é raiz de povo mesmo, é muito diferente de você falar da igreja pentecostal por exemplo. As Macumbas (a gente usa esse termo de forma livre aqui) são legitimamente populares é o encontro do povo com a raiz mesmo. O Terreiro da Dona Eunice por exemplo tem um toque amazônico muito importante” declara Marco Antonio.


Pesquisa

Nas décadas de 1970 a 1990 prosperou em Porto Velho o Terreiro Ilê Axé Oxum Aladê, pertencente a Mãe Eunice de Oxum. Notável por sua empatia e carisma, Mãe Eunice atraiu as atenções das principais autoridades políticas do Estado e de sua capital. Era querida e procurada por garimpeiros, população em geral, empresários e necessitados das mais diversas situações.

Dona Eunice Monteiro de Oliveira nasceu em 16 de janeiro de 1939 em Porto Velho/Amazonas e faleceu em 24 de abril de 2006, em Porto Velho/Rondônia. Foi Mãe de quatro filhos. Morou em Porto Velho, Recife e Rio de Janeiro.

Sua trajetória de vida é marcada por situações de extremos opostos. conheceu a pobreza e a riqueza, o prestígio, fama e decadência.

Sua iniciação religiosa ocorreu em Olinda/PE, no Terreiro de Pai Raminho de Oxossi, babalorixá da Roça Osùn Oparà Oxossi Ybualama, localizado na Rua São Paulo, 402, Jardim Brasil I, Olinda - Pernambuco.

Mãe Eunice da Oxum retornou a Porto Velho no início dos anos 1970, onde veio a construir o seu "Palácio de Oxum". Popularmente conhecido como Terreiro de Mãe Eunice, o sítio está localizado na Avenida São Paulo, bairro Areal, em porto Velho/RO. Atualmente encontra-se em total estado de ruína e abandono. A construção impressiona por sua grandiosidade, exatamente inversa à das demais casas de cultos afro-brasileiros em Rondônia. Um enorme sobrado com amplas janelas, varanda, pórticos, salões e porões ergue-se, envolto pela mata que retoma seu lugar e dá ao edifício um aspecto sombrio e intrigante. Lembrando um vasto casarão colonial a edificação guarda registros importantes das antigas tradições religiosas, elementos de fundação, assentamento e cerimônias dos cultos ali realizados, além de registro do tempo de sua construção e grandeza.

A presente pesquisa pretende explorar diversos aspectos ligados à personagem central do Ilê Axé Oxum Aladê, Mãe Eunice. Os estudos deverão versar sobre a história recente da cidade de Porto Velho e do Estado de Rondônia, entre os anos 1975/2006. A ideia é o trabalho interdisciplinar que nos permita reconstruir, de forma ampla, diversos aspectos desse passado recente e do lugar onde foi construído o Terreiro e onde viveu Mãe Eunice de Oxum.

O projeto tem à frente o Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares Afro-Amazônicos/GEPIAA da Universidade Federal de Rondônia e apoio de instituições como a Fundação IPRO.

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A Pedra de Nanã

Por Marco Antonio Domingues Teixeira (*)


Rebeldia, disciplina, pena e castigo nos Terreiros em Porto Velho.

Em fevereiro de 2016 iniciamos nossas pesquisas sobre o Terreiro Ilê Axé Oxum Aladê. Juntamente com o professor Alécio Vallois, Ogan Jeje e o engenheiro Jesus Coutinho, Babalorixá de Xangô Ayrá, iniciamos as primeiras investigações sobre a casa de santo arruinada. Ao adentrarmos em suas dependências, nos chamou a atenção a permanência de um único objeto de culto e ritual, integralmente preservado e mantido em seu lugar de origem: a Pedra de Nanã, ou como a chamava a Mãe de Santo, Eunice da Oxum, a “Pedra da Vovó”. As preocupações acerca daquela relíquia foram grandes, afinal os edifícios que integram o Terreiro estavam em risco de demolição.

Projeto de pesquisa Mãe Eunice da Oxum - Gente de OpiniãoAs discussões sobre a “pedra”, sua permanência e funções ao longo das décadas de vida da casa de santo suscitaram as mais variadas discussões. Do que fazer a como preservá-la, pensamos nas mais variadas situações. Nos salões e quartos de santo em total decadência e ruinas, onde mobiliários, assentamentos, utensílios e outros objetos sacros ou profanos já se haviam perdido, somente a “pedra de Nanã” continuava em seu local de origem. Mesmo o altar sob o qual ela se abrigava já havia desaparecido por completo. Plantas, cipós, ervas variadas haviam tomado o chão, o teto e as paredes do terreiro. Mas ao redor da “pedra” nem o capim chegara a crescer. Todo o espaço em seu entorno estava limpo.

Tomados pela curiosidade resolvemos investigar um pouco mais sobre essa peça sagrada, base de rituais de disciplina e autoflagelação. Assim, surgiu a ideia de pesquisarmos um pouco sobre a pedra de Nanã e seu uso em rituais afro-religiosos, notadamente nas casas de Umbanda e Mina em Porto Velho/RO. A primeira grande descoberta foi a ausência de referência a esse artefato sagrado nos textos da Internet. Pode-se varrer o Google e chegar-se à conclusão de que não se escreveu ou não se publicou nada sobre ela, de modo específico. Dessa forma, tomados pela necessidade de avançarmos no debate e nos conhecimentos acerca do Terreiro e de suas tradições, tomamos a tarefa de preparar um artigo sobre a “Pedra de Nanã” e suas funções litúrgicas em rituais religiosos de comunidades de Terreiros.

Neste ponto, aproveitamos o início das pesquisas para publicarmos na Fan Page do Projeto Mãe Eunice da Oxum, este breve texto preliminar sobre o tema. Nossas pesquisas avançaram muito e deverão avançar ainda mais, a partir de conversas com Pais e Mães de Santo, Ogans, Ekedes e Filhos de Santo em geral. A esta altura é necessário ressaltar a colaboração de Mãe Wilma Inês de Araújo, Ialorixá do Candomblé Ketu em Porto Velho, que nos auxiliou muito com seu conhecimento e segura orientação acerca do ritual da “Pedra de Nanã”. Grande parte dos conhecimentos e desejo de escrever sobre o tema, devem-se às conversas com ela.

Coube ainda ao Ogan Alécio Vallois e ao Babalorixá Jesus Coutinho a transferência de conhecimentos e informações necessárias ao propósito deste texto. A partir desses informantes chegamos a alguns dados preliminares que deverão nortear o futuro artigo.

A “Pedra de Nanã” é um artefato religioso presente em grande parte dos Terreiros Mina, Nagô e de Umbanda em todo o Brasil. Trata-se de uma pedra ritualmente utilizada para o flagelo e o castigo de médiuns rebeledes e desobedientes. É um dos caminhos utilizados por “Caboclos” para resgatar, pela “peia” o filho rebelde contumaz. O mais expressivo ritual de utilização da “Pedra de Nanã” ocorre nos Sábados de Aleluia, mas seu uso como forma de disciplinar, punir e castigar os filhos rebeldes pode ocorrer em diversas circunstâncias. Os procedimentos rituais descritos abaixo são inerentes às Casas de Cultos de Porto Velho e têm como principal narrador Pai Jesus de Xangô.

Para que a Pedra possa ser instalada diante dos Pegis das Casas de Culto Afro, são necessários rituais específicos que implicam no preparo individual e coletivo daqueles que a irão colher e transportar. A Pedra poderá ser colhida em uma pedreira, sob a licença do Orixá Xangô ou em uma cachoeira, sob a licença da Orixá Oxum. No caso da Pedra do Terreiro de Dona Eunice da Oxum, conseguimos identificar que ela foi colhida na antiga cachoeira do Teotônio, no rio Madeira, hoje inundada pelo lago da Hidrelétrica de Santo Antônio.

O procedimento da escolha e colheita da Pedra cabe ao Pai ou Mãe de Santo ou ao seu Caboclo. Ao iniciar-se o ritual de escolha e colheita da Pedra os membros da Comunidade do Terreiro, iniciados no culto, tomam banhos rituais e se purificam para a tarefa. Um filho de Xangô e/ou Oxum deverá passar por um ebó do Exu do Orixá que será tirado na Casa de Culto e levado ao local de colheita da Pedra. O grupo de iniciados envolvido nessa tarefa deixará preparado os banhos de Denguê, Omin Eró e Dejabó, além de um preparado a partir do acaçá dissolvido em água. Por fim é preparado um banho contendo as 16 ervas sagradas.

A esta altura o grupo de religiosos se dirige para a cachoei ou pedreira oferecendo comidas secas ao Orixá que responde pelo local. No caso de Xangô/pedreiras , um amalá e no caso Oxum/cachoeiras um Ipeté. A pedra é envolvida num pano branco e sob uma esteira esticada no veículo é transportada até o Terreiro,,,


(*) O autor é pesquisador e integrante do Gepiaa/UNIR

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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