Sábado, 1 de dezembro de 2007 - 14h55
Santarém - O rei da sinuca
Toda cidade que se preza, conta com pessoas que se destacam em diversas atividades. Porto Velho não poderia ser diferente, no seguimento jogador de Sinuca encontramos entre os melhores Rubens dos Santos Ribeiro. Nada disso Rubens é o nome do cidadão pai de família casado há 39 anos com dona Olendina e pai de três filhos (dois homens e uma mulher), o craque no jogo da sinuca é o SANTARÉM, esse foi realmente, o maior malandro (no bom sentido) entre os malandros que jogavam e jogam sinuca profissionalmente em Porto Velho. "No meu tempo os respeitados eram o Baiano preto e o Tenório dos Correios". Aliás, se alguém chegar em sua casa e perguntar pelo seu Rubens ninguém vai saber de imediato, pois o apelido Santarém se agregou tanto a sua figura que até mesmo seus familiares não o chamam pelo nome de batismo. Brincalhão, simpático e querido por todos, Santarém é encontrado todos os dias no Mercadinho do KM-1. "Hoje vivo de renda e venho pra cá apreciar o movimento". Em nosso tempo de juventude ficamos muitas vezes apreciando o Santarém jogar sinuca nos vários salões que existiram em Porto Velho, dava gosto ver o Santarém saindo das "sinucas" com categoria, suas tacadas eram bem dadas e causavam até aplausos dos "pirus". Poucos jogadores de sinuca que passaram por Porto Velho chegaram a se comparar com Santarém. "Certa vez o João Barril e seus amigos souberam que eu havia ganhado uma boa quantia no jogo e queriam que eu comprasse o edifício Sônia Maria. O Albino Henrique queria 50 mil no prédio e eu tinha 82 mil e não comprei". Santarém certa vez foi a Cruzeiro do Sul no Acre só para ganhar dinheiro de uns turcos, ganhou mais de trezentas mil contos e ao chegar em Porto Velho perdeu quase tudo no carteado. "A sinuca é jogo de estratégia e o carteado é jogo de ladrão". Essas e outras histórias você vai ficar sabendo na entrevista que segue
Zk – Pelo apelido sabemos que você nasceu em Santarém no estado do Pará. Agora queremos saber mais um pouco sobre você, dá pra contar?
Santarém – Na realidade nasci no interior de Santarém no dia 1º de outubro de 1940 vivi por lá até meus 18/19 anos de idade e então vim para Porto Velho.
Zk – Saiu direto da sua terra direto para Porto Velho ou parou em outras cidades como Manaus?
Santarém – Não, vim direto para Porto Velho e quando aqui cheguei fui morar na Pensão do Mister Davis.
Zk – Que pensão era essa, onde ficava?
Santarém – A Pensão do Mister Davis ficava justamente onde hoje está o Camelodromo na Rua Barão do Rio Branco, com a Ladeira da Prefeitura, onde a "Boca de Lobo" morava num quartinho.
Zk – Agora foi que foi, e a Ladeira da Prefeitura?
Santarém – A Ladeira da Prefeitura é aquela que fica na Rua José Bonifácio entre a José do Patrocínio e a Barão do Rio Branco, a gente chamava de Ladeira da Prefeitura por que ali naquele prédio que está distiorado ao lado da Maçonaria por trás da sede do PSDB era o prédio onde funcionava a prefeitura, depois foi a Câmara de Vereadores e abrigou também o Corpo de Bombeiros. Para nós, moradores mais antigos de Porto Velho, aquela ladeira é a "Ladeira da Prefeitura" e era ali que ficava a Pensão do Mister Davis.
Zk – Quem era essa Boca de Lobo?
Santarém – Era uma mulher solteira. Naquela época prostituta era chamada de mulher solteira. A Boca de Lobo morava num quarto que ficava no porão de uma casa que era do seu Deroche Pequeno Franco onde também morou o Jerônimo Santana que depois foi deputado, prefeito e governador. Em frente à Pensão do Mister Davis morava a dona Dada e o Chico Barbeiro no terreno onde hoje existe uma loja da Facilar. Era ali que a população, principalmente os "categas" do Caiari, mandavam buscar água pra beber, porque existia uma fonte de água cristalina. Essa fonte era conhecida como "Buraco da Dada" ou "Buraco do seu Chico".
Zk – Na época que você morou na Pensão do Mister Davis quem mais morava lá?
Santarém - Morava o Bizigudo, o Cabo Manoel da FAB; o Jesus do Banco da Borracha, o Veiga que também era do Banco da Borracha e muita gente importante de Porto Velho.
Zk – É claro que você ficou morando na pensão até se estabilizar. E depois foi morar aonde?
Santarém – Me mudei de lá, pra cá aonde é o Maru na esquina da Joaquim com a Sete de Setembro que antigamente era do seu Joaquim Português pai do Zé Curica.
Zk – Era comércio?
Santarém – Era um armazém que ele alugava desalugava até que o Arruda alugou e colocou um salãozinho de sinuca e ao lado tinha uns apartamentos onde aluguei um e fiquei morando até 1967 quando arranjei uma companheira. Comprei um terreno ali perto do Gonçalves na Rua Guanabara, fiz uma casinha e to até hoje.
Zk – Vamos voltar ao tempo da Pensão do Mister Davis. Você me disse que foi preso. Por quê?
Santarém - Nas proximidades dó Café Santos que ficava na esquina da Sete com a Prudente de Moraes. Bom! Ali onde está o Banco Real tinha um salão de sinuca. Modéstia a parte, eu jogava bem sinuca nesse tempo e então peguei um passeiro e ganhei como se fosse hoje uns trezentos contos dele e os "pirus" por fora ganharam uns dois mil contos dele. No outro dia a polícia me prendeu porque eu tinha alisado o cara.
Zk – E quem era a pessoa?
Santarém - Era o Zaparole que era funcionário oficial administrativo do governo, aquele que matou um cara na Sete de Setembro diante de uma mulher. Aí fui preso, era justamente na época que estavam abrindo a BR-29 hoje 364, tinha o aviador Liberalino que queria me levar pra trabalhar na Rodovia porque eles não queriam malandro aqui, tudo porque eu tinha ganhado o dinheiro do Zaparole. Acontece que na hora do almoço me levaram lá pro quartel da Guarda Territorial na Arigolândia. Quando cheguei lá vi mais de trinta camaradas estirado em redes, tudo com os pés inchados de ferrada de mosquito borrachudo e pium e a maioria com malária, passei o "pano" (observei), quando voltei para a prisão, me chamaram pra jogar dominó e deram mole e eu pulei o muro e fugi.
Zk – E foi parar aonde?
Santarém – Fui parar na casa do baiano preto, um negão que jogava sinuca e morava ali pela Campos Sales perto do Igarapé. Depois um conhecido arranjou um emprego porá mim na Nacional Terraplanagem que também estava fazendo a Rodovia no trecho do São Pedro. Fui trabalhar de ajudante de tratorista, mas, o ajudante só servia pra levar água pro tratorista o resto quem fazia era os melosos. Quando terminou aquele trecho, ela foi pra Vila de Rondônia hoje Ji-Paraná. De Ji-Paraná pra lá a gente passava numa balsa e do lado de lá só tinha uma casa, isso no final de 1959. Aí ganhei um dinheiro lá, mas, não trabalhando, ganhei na sinuca.
Zk – Foi muito dinheiro?
Santarém – Tinha um cidadão lá que se chamava Manoel Vieira que tinha um salão de sinuca. Nessa salão freqüentava um cidadão chamado Lavadeiro que era marreteiro (comprava e vendia mercadoria), Num dia da minha folga vim do acampamento para a Vila e esse Lavadeiro achou de me chamar pra jogar. No primeiro jogo ganhei um dinheirim dele, numa outra folga ele me desafiou, mas exigiu que desse dez pontos e eu aceitei, aceitei e ganhei. Moral da história dei vinte e cinco pontos e ganhei. Aí ele parou. Acontece que tinha um cidadão que tinha umas balsas de tirar diamante lá, chamado Manelão, esse cidadão me chamou e disse: Santarém se tu der 25 pontos pro Lavadeiro eu aposto nele e eu disse, vou! Aí ganhei uns dez a quinze mil dele. NO outro dia fui lá e dei trinta pontos e ganhei 80 mil contos, era muito dinheiro. Dessa vez vim embora pra Porto Velho, estava "rico". Vou contar a historia direitinho como foi que aconteceu!
Zk – Que história?
Santarém - Cheguei em Porto Velho com esse dinheiro. O Edificio Sônia Maria que é aquele onde hoje fica a loja do Baú ao lado da Praça Rondon, estava venda por 50 mil contos e eu tinha 82 mil. O Dr. Stélio Mota aquele que foi Promotor Público, o João Barril e o seu Djalma Lira imploraram pra eu comprar do Português Albino Henrique o Prédio Sônia Maria e eu disse: Vou comprar porra nenhuma! Aí fui embora pra Santarém de novo.
Zk – Ganhou dinheiro aqui e resolveu voltar à terra natal?
Santarém – Aí eu já estava começando a jogar baralho e abordo do navio tinha os ladrões que ficam viajando pra cima e pra baixo, esses ladrões tomaram meu dinheiro todinho n jogo de baralho. Aí mal cheguei em Santarém retornei pra cá pra Porto Velho.
Zk – Recomeçou a vida de que maneira?
Santarém - Como eu jogava muito bem sinuca, arranjei um capitalzinho e fui pro Acre, ao lado do hotel Rio Branco tinha um salão de sinuca e em um dia eu quebrei o pessoal de lá. Foi então que apareceu um pretão que era sargento reformado do Exército e foi logo dizendo, eu sei dum lugar pra gente ganhar dinheiro é em Cruzeiro do Sul, eu servi lá vinte e tantos anos e lá tem uns turcos que são viciados em sinuca. Passamos quase dois meses viajando de barco pra chegar lá. Ele me apontou os turcos com quem eu deveria jogar. Fui lá, perdi a primeira vez, perdi a segunda pra outro tudo "abediagem", depois passei a ganhar. Ganhei Trezentos e Tantos Mil deu Cento e tantos contos pra cada um. Na volta o sargento conseguiu passagem no avião búfalo da FAB.
Zk – Dessa vez você soube investir o dinheiro?
Santarém - Que nada, cheguei aqui me envolvi num jogo de carteado com o Abraim e o João Mãozinha e os dois me roubaram parte do dinheiro. Aí fui embora pra Belém, de Belém fui pra Macapá. Em Belém os "Malacos" parece que adivinham, me levaram pro Paissandu em um ano perdi o dinheiro todinho.
Zk – Você falou que perdeu algumas partidas em Cruzeiro do Sul porque quis, isso é estratégia do jogador de sinuca?
Santarém – Ó jogo de sinuca tem suas particularidades, principalmente pra quem vive do jogo como eu. Para poder ganhar, muitas vezes tenho que começar perdendo para o parceiro, desde que saiba que esse parceiro tenha dinheiro para perder depois. Se eu chegra ganhando o cara vai embora logo. Já no carteado o negócio é diferente, o jogador profissional tem muitas maneiras de roubar da gente. A parada é a seguinte, tem muito artista no carteado, foi pode saber dez pulos, mas, no onze você perde, são mito ladrões. Combinam dois três pra "matar" um. Tem código de todo jeito, no baralho, na conversa. Quando eu era besta perdi muito dinheiro no baralho.
Zk – É verdade que no baralho, nego perde até a mulher?
Santarém – É! O Baralho é quem nem a bebida quando o cara vira alcoólatra, não tem limite. Você pensou o que passar a semana trabalhando num lugar, tem dois três filhos em casa, chega em casa sábado sem nenhum tostão porque perdeu tudo no jogo, a mulher vai falar você se aborrece e bate nela, aí, ela tem que te largar porque não agüenta. Tudo isso provocado pelo jogo de azar.
Zk – Por falar em jogo de azar. E os jogos que se joga em arraial?
Santarém – Aí é jogo bancado. O bancador leva setenta por cento. Só tem um jogo de arraial que a gente diz que é meio honesto.
Zk – Jogo meio honesto. Que jogo é esse?
Santarém - É aquele dos dados que é chamado de "chola", esse não tem roubo, agora, aquele das cartas só ganha o banqueiro, aquele jogo dos bilhetinho só ganha o banqueiro.
Zk – Muitas vezes a gente chaga numa banca de jogo de arraial e tem uma pessoa que ganha todas. Como acontece isso?
Santarém – Aquele que está ganhando é o famoso "ABDIAS". O Abdias ganha para iludir as pessoas, ele é contratado pelo banqueiro pra jogar e sabe antecipadamente qual a figura que vai dar. Isso a gente usa muito no jogo da "Maria Pretinha", aquele com as tampinhas ou com três cartas. O Abdias ganha e faz com ou curiosos entrem na parada pra perder. O Abdias é aquele que ganha pra fazer o Otário jogar e perder.
Zk – Você trabalhou muito no arraial que era montada no pátio da Catedral durante a festa de Nossa Senhora de Nazaré. Tinha muito roubo nos jogos daquele arraial?
Santarém – Aquele arraial era muito grande e falado, a gente mesmo não roubava não, quem começou a roubar no arraial de Nazaré foram os paraibanos. Eles traziam roleta ferrada,
Zk – Como é que se ferra uma roleta?
Santarém – É aquela que o banqueiro fica ao lado na mesa, e vem um fio lá por dentro e o bancador comanda aqui por debaixo. Se os números 24 e 25 estão carregados de apostas ele faz a roleta parar no um, dois ou três é assim.
Zk – Quem foi seus maiores adversários no jogo de sinuca?
Santarém – Quando cheguei aqui, o maior adversário meu era o Baiano Preto que jogava muito e o Tenório que trabalhava nos Correios. Depois que apareceu o Rubinho e outros e outros, mas muito depois.
Zk – Quando vocês, os bons de sinuca se encontram como fazem para ganhar dos outros?
Santarém – Quando um bom jogador encontro outro bom jogador eles terminam logo o jogo.
Zk – Por quê?
Santarém – Porque se não eles não encontram adversários pra jogar. Tão vendo que tu joga bem e eu também,amanhã eles não vão mais jogar contigo.Dois bicudos não se beijam.
Zk – Tem briga na sinuca?
Santarém – Não! A sinuca é jogo de estrageia. Jogo que tem discussão e roubo é jogo de baralho e dómino. Na sinuca ganha quem joga melhor. To falando de sinucão.
Zk – É verdade que o Bola Sete era bom de briga ?
Santarém - O Bola batia em 8/10 policia. Era ele e o Baianinho Carapijó. Certa vez vi o Carapijó bater nuns oito policiais, a briga começou no canto do Café Santos e foi acabara do lado do palácio, só parou porque o governador chegou e botou o Baianinho dentro do carro e levou. O Bola Sete se melava todinho com um óleo e ninguém segurava ele.
Zk – Naquele tempo à noite funcionava aonde?
Santarém – Tinha os puteiros sociais que eram a Maria Eunice e a Tartaruga o mais ou menos que era o da Nita e os da ralé, Mãe Preta, Tambaqui de Ouro, Adelicia, Expedito.
Zk – E o Januário?
Santarém – O Januário ficou famoso na década de setenta, ele ficou mais famoso com o Boi-Bumbá que colocaram lá, aí veio o Augusto queixada e matou um durante o ensaio e veio o índio e matou outro aí pararam com a brincadeira. O Januário ficava e ainda é na esquina da Sete com a Salgado Filho.
Zk – Você aconselha alguém a ser jogador?
Santarém – Olha tudo que tenho ganhei com jogo de sinuca. Não aconselho ninguém a seguir meu exemplo, mas, se a pessoa achar que é boa na sinuca deve se dedicar, como já disse, na sinuca não tem roubo, tem estratégia e ganha quem joga melhor. Nos demais jogos, como o carteado e o dominó tem muito roubo, não tem bom jogador, tem bom trapaceiro.
Zk – Você vive de que hoje em dia
Santarém – Vivo de renda. Tenho uns imóveis alugados, todos comprados com dinheiro de jogo.
Zk – Para encerrar. Você é casado?
Santarém – Sou casado com a dona Olendina Matos de Lucena há 39 anos. Nunca bebi nunca gostei de farra, gostei muito de mulher, mais nunca fui farrista. Temos três filhos. Um advogado, uma fisioterapeuta, todos bem empregados.
Zk – Você ainda joga?
Santarém – Não! Fiquei diabético, não enxergo bem e fica difícil.
Zk – Religião?
Santarém – Sou católico não praticante. Vou à igreja às vezes aos domingos.
Fonte: zekatraca@diariodaamazonia.com.br
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