Segunda-feira, 13 de junho de 2011 - 06h30
Domingo passado dia 5, durante almoço oferecido pela prefeita de Costa Marques Jakeline a equipe da Secel comandada pelo secretário Francisco Leilson Chicão, composta pelos técnicos em cultura Bebel, Alexandre, Wéllida, Silvio e Gino que foi participar da abertura da Festa do Divino Espírito Santo em Costa Marques no Vale do Guaporé, aliás, almoço cujo prato principal foi tambaqui do Vale do Guaporé frito, mas, não foi àquela tradicional costela frita lá eles fritam o tambaqui inteiro inclusive com escama, num grande tacho e o negócio fica muito gostoso, é prato típico de Costa Marques assim como a galinha caipira. Dei sorte de ficar frente a frente com o ex prefeito e atual primeiro “damo” Dinho e durante o almoço ele contou um bocado de história sobre assombração que aparecia na cidade que lhes foram contadas pela sua mãe dona Terezinha Albuquerque Mesquita. Fiquei curioso e perguntei se dona Terezinha estava viva no que ele me respondeu: “Viva e lúcida”. Foi então que resolvi entrevista-la, Dinho liberou seu filho Fábio que me levou até a residência de dona Terezinha onde batemos o papo que segue;
E N T R E V I S T A
Zk – Dona Terezinha durante almoço que nos foi oferecido pela prefeita Jakeline, conversei com o seu filho Raimundo Mesquita Muniz o Dinho e ele me disse que a senhora sabe muitas histórias que se passaram no tempo que Costa Marques não passava de onde hoje fica a Caerd, (uns 500 m da beira do rio Guaporé), inclusive, a história da Porca Sem Cabeça que por muito tempo assombrou os moradores da cidade. A senhora ainda lembra essa história detalhada?
Terezinha Mesquita – Tinha um velho por nome Macumba. Na realidade ninguém sabia o verdadeiro nome dele daí só chamarem pelo apelido Macumba. Só sei que todo mundo dizia que ele virava essa Porca Sem Cabeça, muita gente viu. Meu pai mesmo cansou de ver, ele virado Porca Sem Cabeça querendo assustá-lo
Zk - E como foi que as pessoas ficaram sabendo que a Porca Sem Cabeça era o Macumba?
Terezinha Mesquita – Um dia, um senhor por nome Nelson veio atrás de uma parteira que a mulher dele estava para ganhar neném e quando ele chegou no campo de futebol, essa Porca botou nele. Nelson sem saber o que fazer, corria de um lado pro outro do campo e quando olhava pra trás a bicha estava atrás dele,
Zk – E o que ele fez para se livrar da Porca?
Terezinha Mesquita – Já cansado de correr com medo da Porca ele se lembrou que tinha na mão uma garrafa de cachaça, não contou conversa, ofegante ficou esperando um novo ataque e quando a bicha se aproximou ele arrebentou a garrafa de cachaça Cocal no queixo da Porca.
Zk – Então o Macumba se identificou?
Terezinha Mesquita - Que nada rapaz, o pessoal desconfiou porque o Nelson contou pra todo mundo o acontecido na noite anterior. Muitos que já desconfiavam que o Macumba era a Porca, correram para a choupana dele e não o encontraram, isso era pela manhã, já de tardezinha lá apareceu o Macumba com o queixo por acolá de inchado. Mesmo assim ele inventou uma conversa e deixou muitos em dúvida se era ele mesmo a Porca.
Zk- E quando foi que a casa caiu de vez?
Terezinha Mesquita - Depois daquela história com seu Nelson, o pessoal ficou cabreiro e mais ainda com a justificativa do Macumba. Foi então que alguém sugeriu uma vigília para descobrir de vez quem realmente era a tal Porca. No dia combinado se espalharam em esconderijos perto do campo de futebol e um deles serviu de isca, quer dizer, se propôs a caminhar da beira do rio rumo à cidade. Dito e feito, quando a pessoa chegou às imediações do campo de futebol a Porca Sem Cabeça atacou, o cabra que estava de isca, mesmo sabendo que seus companheiros estavam por perto, se apavorou quando viu a bicha andando em sua direção, contam que o medo foi tanto que ele se urinou todo, e saiu gritando: Me acudam, me acudam a bicha vai me pegar! Foi aí que surgiram os companheiros e deram uma surra de Vara na Porca Sem Cabeça que mesmo assim, desapareceu na escuridão sem que descobrisse quem era que estava por debaixo daquela roupa.
Zk – E quando foi que realmente acabou a história da Porca Sem Cabeça?
Terezinha Mesquita – Depois daquela surra o Macumba desapareceu por mais de semana e quando apareceu ainda estava com marcas da pancadaria pelo corpo, mesmo assim, a Porca continuou assombrando as pessoas. Isso só terminou quando ele foi embora para Guajará Mirim.
Zk – Além da Porca Sem Cabeça tem outra história de assombração em Costa Marques?
Terezinha Mesquita – Vixe tem muita! Quando a gente era menina, andava brincando por essa beira de rio nas carreiras e antigamente, tinha um Boto que fazia assim, tibungo, tibungo e então esse tibungo quando via gente brincando na beira do rio, chegava com aquele tibungo, tibungo e a gente corria com medo.
Zk – Como era Costa Marques na época do Macumba?
Terezinha Mesquita – Costa Marques era só na beira do rio, tinha mais ou menos umas cinqüenta casas e era cada um na sua casa, no seu portinho. Ali onde é a Caerd funcionava a escola cuja casa era feita de paxiuba e coberta de palha.
Zk – Por falar em escola a senhora era merendeira e segundo o Dinho foi protagonista de uma história engraçada, sobre o assento dos professores. Como foi que isso aconteceu?
Terezinha Mesquita – (sorrindo muito). Foi assim, tinha uma diretora que hoje mora em Guajara a Helena Dermane que veio pra cá como diretora do colégio. Naquele tempo não tinha nada dessa modernidade de hoje como celular, internet, telefone normal era difícil. O meio de comunicação mais utilizado e eficiente era o telegrama. Então aconteceu uma reforma ortográfica e o Departamento de Educação do Território de Rondônia que a época se não me engano, tinha como Diretora a Dona Marize Castiel, expediu um telegrama a todas as escolas, recomendando aos professores que retirassem o acento da palavra professor.
Zk – E então?
Terezinha Mesquita – A Helena entendeu que a ordem da Diretoria de Educação era para retirar das salas de aulas os assentos (cadeiras) dos professores. Só que ela não teve coragem de reunir os professores para passar a “ordem” recebida via telegrama. Então me chamou em sua sala, contou a história do telegrama e pediu que eu fosse até as salas de aula e tirasse as cadeiras dos professores. Ordem superior tem que ser cumprida, e lá fui eu retirando as cadeiras que os professores sentavam. Os protestos foram muitos e eu apenas dizia que estava cumprindo ordem da diretora. Acontece que, além disso, a diretora ficava me aperreando, eu fazendo a merenda e de vez em quando ela chegava: “Dona Terezinha a senhora foi ver se as professoras estão sentadas?”
Zk – E as professoras aceitaram assim sem fazer nada?
Terezinha Mesquita – Por várias vezes tentaram falar com a diretora, mas, ela muito esperta, já prevendo que o caldo iria engrossar pro seu lado sempre arranjava uma desculpa para não atender os professores.
Zk – E como foi que o caso foi resolvido?
Terezinha Mesquita – Uma das professoras enviou telegrama a Dona Marize Castiel pedindo explicação sobre tão “estapafúrdia” ordem.
Zk – Resultado?
Terezinha Mesquita – A resposta chegou com a explicação detalhada sobre a reforma ortográfica que retirava o acento da palavra professor o acento tônico e não a cadeira que o professor sentava durante a aula.
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Zk – Vamos falar sobre a sua história. A senhora é de onde?
Terezinha Mesquita – Nasci em Costa Marques em 1943. Quando nasci aqui pertencia a Mato Grosso. Depois meu pai foi pra Guajará e de lá foi para Abunã. Quando voltei para Costa Marques já estava com nove anos de idade. Foi o tempo que a gente foi embora para Monte Cristo, passamos cinco anos pra lá, depois voltamos e eu já tinha 15 anos e estou aqui até agora.
Zk – A senhora casou aqui?
Terezinha Mesquita – Casei aqui em Costa Marques, meus filhos três nasceram aqui um nasceu no Forte Príncipe da Beira e dois em Guajará Mirim.
Zk – O ex prefeito Dinho é de onde?
Terezinha Mesquita – É de Costa Marques.
Zk – Fale mais sobre a Costa Marques do seu tempo de criança?
Terezinha Mesquita – Luz elétrica só tinha na beira do rio. Onde está o prédio da Caerd era a escola e atrás era um posto médico velho caindo aos pedaços, ao lado era a estação de rádio, mais um pouquinho adiante funcionava o motor que fornecia luz para o telegrafista trabalhar. Quando eu nasci nossa casa fiava bem na beira do rio, Sou beradeira do rio Guaporé com muito orgulho.
Zk – Tinha muito produção de borracha?
Terezinha Mesquita – Era muita borracha, meu pai era seringalista lá em Monte Cristo e descia com aquele monte de borracha nos chamados caiapós.
Zk – Quais os grandes seringalistas aqui da região do Val do Guaporé?
Terezinha Mesquita – Tinha o seu Eurípedes que era filho do seu João Suriadakis, seu Abraão Ibanez, os Casaras e meu pai Raimundo Oliveira Mesquita.
Zk – E bicho de casco, tartaruga e tracajá?
Terezinha Mesquita – Tinha e tem muito, acontece que com a lei que impede a gente de pescar e de comer bicho de casco, meus netos nem vão conhecer o sabor tão gostoso da carne desses bichos.
Zk – Cá entre nós, pelo seu jeito de falar nota-se que a senhora é uma cozinheira de mão cheia, principalmente em se falando de tracajá e tartaruga. Tem alguma receita por aí pra gente divulgar?
Terezinha Mesquita – (sorrindo muito), Isso é coisa do Dinho. Bom, se tiver a tartaruga eu ainda faço uns seis pratos. Minha mãe fazia 15 mais quando a gente é criança não presta muita atenção só consegui pegar seis pratos.
Zk – Vamos nomear esses pratos?
Terezinha Mesquita – Tem o cozido que é feito com as mãos da tartaruga ou tracajá, tem o batidinho, do batidinho tiro pro sarapatel, faço charuto, carne assada de panela e a farofa do casco que não pode faltar.
Zk – Qual a técnica para se fazer uma boa farofa do casco da tartaruga?
Terezinha Mesquita – É temperar bem a carne, a técnica é no casco que já no fogo, recebe os temperos como cebolinha, cebola de cabeça, pimenta de cheiro e pronto, óleo não precisa, o interessante é aproveitar a banha que vem grudada no casco, a farinha tem que ser de boa qualidade não interessa se é farinha seca ou faina d’água o ideal mesmo é a farinha seca. Tem gente que bota chicória, bota ervilha, azeitona aí já perdeu o gosto da tartaruga. O melhor tempero da tartaruga é o alho.
Zk - Vamos começar a encerrar nosso bate papo. Quando a senhora teve contato com a Festa do Divino pela primeira vez?
Terezinha Mesquita – Foi lá em Monte Cristo eu estava com 12 anos de idade, quando levaram a Coroa lá e desde então acompanho a festa. Sou da Irmandade do Divino há muito tempo.
Zk – Na sua concepção é necessários os remeiros e foliões do Divino passarem 40 dias em abstinência de sexo, sem poder namorar, nem mesmo os casados?
Terezinha Mesquita – Bem, isso antigamente existia, agora não tenho muita certeza não (sorrindo muito), o senhor sabe que esse povo de hoje é mais diferente. Antigamente eram 40 dias mesmo.
Zk – A senhora conhece alguém que recebeu uma graças invocando o Divino Espírito Santo?
Terezinha Mesquita – Conheço muitas pessoas, mas, vou contar um caso que se passou comigo.
Zk – Vamos lá para encerrar nossa conversa?
Terezinha Mesquita – Viajei pra fazer um tratamento e passei três meses em Porto Velho, quando cheguei o meu filho que agora está trabalhando na hidrelétrica em Porto Velho estava jogado em cima de uma cama parecia um cadáver. Como ele bebia muito, falei pronto, aí o doutor falou que o fígado dele tava que parecia uma gelatina de tanta bebida. O menino não levantava, ou só levantava para ir ao banheiro e beber água, ele bebia muita água. Isso aconteceu justamente no tempo da passagem do Divino por aqui. Então falei, se ele ficasse bom, compraria uma fita do tamanho dele e amarrava naquela pombinha que tem lá na bandeira. Depois de alguns dias ele se restabeleceu graças ao Divino Espírito Santo.
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com
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