Segunda-feira, 5 de dezembro de 2011 - 05h02
‘No mar - Procissão dos navegantes, eu também sou Almirante,
de Nossa Senhora Iemanjá’
‘O samba enredo numa disputa não basta ser bom, tem que mostrar que é bom e superior’
TONINHO NASCIMENTO
E o povo na rua cantando é feito uma reza, um ritual
Sexta feira passada 02, Dia Nacional do Samba, escrevi que o samba em Porto Velho chegou através dos paraenses no inicio da década de trinta. Para nossa surpresa, à noite em sua apresentação na Taba do Cacique, Toninho Nascimento que é um dos compositores do samba enredo da escola de samba Portela do Rio de Janeiro para o carnaval de 2012, Disse que nasceu em Belém do Pará e que no inicio da década de 1950 morou em Porto Velho. “Meu pai trabalhou na Estrada de Ferro Madeira Mamoré e meu irmão mais novo nasceu aqui em Porto Velho”. Simples, tímido e simpático Toninho Nascimento autor de sambas consagrados na voz de Clara Nunes e outras estrelas como Elizeth Cardoso, Elza Soares e AGP, foi conquistando a platéia que a cada música se identificava com o compositor. “Quando o Beto Cezar me levou a beira do Rio Madeira foi emocionante, pois minha memória de criança me fez lembrara aquela paisagem tão bonita. Foi como um filme da minha infância”.
Para saber sobre o processo para um compositor conseguir ganhar o concurso de samba enredo numa escola de samba do Rio de Janeiro, batemos um papo com o Toninho Nascimento sábado a tarde no Mercado Cultural.
E N T R E V I S T A
Zk – Qual seu o nome de batismo e a cidade de nascimento
Toninho Nascimento – Meu nome de batismo é Antonio Carlos Nascimento Pinto, nasci em Belém do Pará em 7 de dezembro de 1946.
Zk – Como foi à trajetória de Belém até o Rio de Janeiro?
Toninho Nascimento – De acordo com relatos da minha mãe e do meu pai. Saímos de Belém para Macapá e de lá viemos para o Território do Guaporé que hoje é Rondônia. Presumo, na época eu era muito pequeno, porém considerando a diferença de idade minha pro meu irmão, que é de quatro anos, foi em torno de 1950 que viemos pra cá. Meu irmão nasceu aqui em Porto Velho.
Zk – O que seu pai veio fazer aqui?
Toninho Nascimento – Nunca entendi muito bem meu pai cujo nome é: Antonio Augusto Pinto. Em Belém do Pará ele era dono de um barco no Cais do Ver-O-Peso e teve um problema com o sócio dele, então abandou tudo e foi pra Macapá trabalhar com “matança” de porco, isso também não deu certo e ele embarcou no rumo do Território Federal do Guaporé hoje estado de Rondônia pra trabalhar na Estrada de Ferro Madeira Mamoré como braçal. Ele me contou que também trabalhou no Censo de Porto Velho e em conseqüência desse trabalho, se perdeu na mata e conseguiu sair por sorte. Acontece que foi escalado para fazer o censo do povo ribeirinho e dos colonos e numa dessas andanças, se perdeu na selva Amazônica
Zk – Depois foram para o Rio de Janeiro?
Toninho Nascimento – Aqui temos duas versões, a do meu pai e a da minha mãe.
Zk – Vamos à versão do seu pai?
Toninho Nascimento – Ele sempre gostou muito de política e aqui se envolveu com o grupo que perdeu as eleições e teve que sair da Estrada de Ferro e do Guaporé. Ele tinha um amigo político que era da FAB e esse amigo arranjou vaga no avião da Força Aérea Brasileira para o Rio de Janeiro. Acho que essa é a versão mais verdadeira.
Zk – E a versão da sua mãe dona Osmarina Barros Pinto?
Toninho Nascimento – Ela conta que meu pai disse que queira ser seringueiro, logo que foi dispensado da EFMM e ela disse que não ia se meter dentro da mata e que ela queria ir para o Rio de Janeiro. Então ela pegou a gente conseguiu a passagem e embarcamos para a então Capital Federal.
Zk – Quando foi que você descobriu que tinha facilidade para compor, para ser letrista de música?
Toninho Nascimento – Estava no quarto ano primário e a professora pediu que fizéssemos uma redação sobre o dia das mães e eu tirei em 1º lugar. Num outro colégio, teve um trabalho que pedia que a gente fizesse quadrinhas para São João e eu também ganhei o 1º lugar. Fui trabalhar numa farmácia e nas horas vagas comecei a fazer música. Ficava varrendo a calçada da farmácia e cantando imaginando o LP (hoje seria CD) que eu ia fazer. Tinha 13 ano.
Zk – E como foi que a música realmente passou a ser o carro chefe da sua vida?
Toninho Nascimento – Com 17 anos, morava em Vila Isabel. Na realidade quando chegamos ao Rio de Janeiro fomos morar num bairro chamado Riachuelo e em 1958 fomos para a Vila Isabel. Quer dizer, fui praticamente criado na Vila e ela é emblemática devido Noel Rosa. Lá fui morar numa rua chama Senador Soares e o Salgueiro ensaiava no Clube Maxsuel que era numa rua paralela. Naquela época não tocava muito samba nas rádios o que mais se aproximava eram as composições do Baden e do Vinicius que eram cantados pela Elis Regina. Foi quando a classe média descobriu as escolas de samba. Comecei a tentar conseguir um parceiro na escola de samba Salgueiro, como sou muito tímido, e como ninguém me dava bola ficou por isso mesmo. Foi quando meu pai mais uma vez resolveu fazer uma viagem.
Zk – Pra onde?
Toninho Nascimento – Dessa vez foi pro estado do Rio num bairro Chamado Mesquita e lá conheci o compositor Romildo um pernambucano da Ilha de Itamaracá e juntos, fizemos várias músicas e uma dessas músicas ele mostrou para a Clara Nunes no Programa do Adelson Alves na Rádio Globo.
Zk – Como foi que o Romildo encarou a Clara Nunes para conseguir que ela ouvisse a música de vocês?
Toninho Nascimento – Ela estava fazendo uma peça no Canecão chamada “Brasileiro Profissão Esperança” com o Paulo Gracindo. O programa do Adelson era o final do percurso dos compositores. A gente rodava as rodas de samba e terminava no programa do Adelson Alves e nessa sexta nós estávamos lá quando a Clara chegou vinda do Canecão. Acontece que o programa tinha um palco de quase três metros de altura onde os artistas se apresentavam e nós estávamos na platéia. Quando ele viu a Clara Nunes no palco, se levantou e falou pra mim, vou mostrar a música pra Clara. Ela ainda não tinha esse nome todo, era apenas uma cantora que estava surgindo. Ela só tinha gravado uma música do Carlos Imperial com o Ataulfo Alves “Você Passa e eu Acho Graça” e aquela outra que diz “Dei um aperto de saudade no meu tamborim...”. Aí o Romildo pediu o agogô do Stênio que era um dos músicos do grupo “Nosso Samba” que acompanhava a Clara Nunes. Então ele a chamou e ela com aquela simplicidade se abaixou e ele começou a cantar o samba no ouvido dela.
Zk – E você ficou sentadinho?
Toninho Nascimento – Quando vi aquela arrumação do Romildo pensei, ele vai pagar o maior mico, e então saí. Fiquei uma meia hora lá fora e quando votei perguntei a ele: E aí companheiro? Ele respondeu, ela pediu pra gente fazer uma fita cassete (naquele tempo se gravava em fita cassete).
Zk – Resultado?
Toninho Nascimento – A música foi gravada. Acontece que nesse LP a música de trabalho era “Alvorecer” de Dona Ivone Lara e Delcio Carvalho e a segunda música de trabalho era um samba do Mauro Duarte com o Paulo Cezar Pinheiro “Menino Deus”. Só que aconteceu que apesar da gravadora recomendar a execução dessas duas músicas, a nossa composição “Contos de Areia” que contrariava toda a seqüência estética da época, pois tinha três refrão não tinha nada pra ser sucesso porque também tinha e tem uma letra muito grande num entanto, houve uma mudança espontânea. As rádios passaram a tocar “Contos de Areia” deixando as recomendas pela gravadora de lado. A Clara Nunes com isso conseguiu ultrapassar 500 Mil cópias que na época nenhuma cantora havia conseguido.
Zk – O sucesso chegou também para vocês?
Toninho Nascimento – Claro! Depois desse estupendo sucesso as portas se abriram. Então gravamos com Elza Soares, Elizeth Cardoso fez um LP chamado “Feito em Casa” e gravou quatro músicas minha e do Romildo e a música que puxou o LP era nossa “Cuíca e Viola”, O AGP gravou varas músicas nossa a que estourou foi a que diz “Ela não gosta de mim, ela não gosta de mim...”. Eu e o Romildo demos tanta sorte que toda música nossa gravada, era a que puxava o LP, a Sonia Lemos que você me disse agora que é daqui de Rondônia também gravou música nossa.
Zk – Como você chegou às composições de samba enredo?
Toninho Nascimento – Quando você chegava ao samba a tendência era se filiar a uma escola de samba. Quando o compositor chegava no Ponto do Compositores que ficava na avenida 13 de Maio no centro da cidade, já procurava saber como fazia para entrar para uma escola. Como o Romildo estava na Portela eu queria ir pra Portela. Quem me levou foi o Dedé da Portela e o Valter Rosa. Cheguei à Portela em 1974.
Zk – E depois?
Toninho Nascimento – Em 1981 Eu, Romildo e Carlito Cavalcante colocamos um samba que estava ganho, era o melhor, só que o presidente Carlinhos Maracanã fez um conchavo pra favorecer o Davi Correia. Muito decepcionado me afastei da Portela. O enredo era “Meu Brasil Brasileiro”.
Zk – Quanto uma parceria de samba enredo tem que investir para ver seu samba chegar à final?
Toninho Nascimento – Escrevi um texto sobre essa questão. Lá no Rio tem uma figura chamada “Samba de Escritório”. É um grupo de compositores que fazem músicas para várias escolas, só que não usam o nome deles. Acontece que um compositor que pertence a uma escola do 1º Grupo, não pode fazer samba pra outra do mesmo grupo. Aí ele usa o compositor “laranja”.
Zk – Vamos nessa?
Toninho Nascimento – A disputa do samba enredo hoje em dia, se o compositor tiver pretensões efetivas de vitória, tem que atender determinados requisitos que são: 1º A gravação de padrão profissional de CDs. Acontece que a inscrição do samba é através de gravação em CD e a qualidade dessa gravação pode determinar um samba finalista e até campeão. 2º - Torcida, é aquela máxima do Romana que diz que “A mulher de Cezar não basta ser honesta, tem que parecer ser honesta”, é o caso do samba: Não basta ser bom, tem que mostrar que é bom e superior. A torcida chega a mais de 500 pessoas e isso tem um gasto muito grande. 3º - Depois você tem o palco que são os Intérpretes e os músicos. A escola coloca a disposição quatro microfones, então você tem que colocar 4 intérpretes especializados em samba enredo que não custa pouco. São várias apresentações e cada apresentação tem um gasto.
Zk – O samba desse ano que vocês ganharam e vai ser o samba da Portela no carnaval de 2012, Quanto custou?
Toninho Nascimento – Saiu em torno de R$ 23 Mil para os padrões atuais foi barato. Foi um custo mínimo.
Zk – Qual o retorno?
Toninho Nascimento – Existem três fontes: A vendagem de disco, a execução, e o prêmio que Liesa paga. Vamos com o premio da Liesa. Se a tua escola se classificar entre as seis campeãs, se ela voltar para o desfile de sábado você ganha mais porque teve duas apresentações na passarela. Desse dinheiro as escolas tiram uma parte pra elas. Da parte do compositor é deduzido o investimento, o que sobrar é distribuído entre os integrantes da parceria. Se você gastar em torno de R$ 70 Mil e tiver sete na parceria cada um vai levar em ttorno de R$ 6 Mil.. Este ano vamos ganhar muito mais porque a Portela vai ser campeã!
Fonte: Sílvio Santos - zekatracasantos@gmail.com
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