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Silvio Santos

VLADIMIR DE CARVALHO - A nossa voz padrão nacional


Por muitos anos o Brasil todo, ao sintonizar os rádios no horário das 18 horas, quando se transmitia a Voz do Brasil, ouvia aquela voz potente, transmitindo as notícias, portarias e todos os atos do governo da República e Congresso Nacional, era a voz do rondoniense de Porto Velho, Vladimir Carvalho, filho de família tradicional de Porto Velho e um dos fundadores da escola de samba Pobres do Caiari. O jovem que nasceu e se criou no bairro Caiari e estudou até o ginásio no Colégio Dom Bosco. O Vla bom de basquete e de navegação, já que por algum tempo, trabalhou na Empresa de Navegação da Amazônia – Enasa e que foi descoberto pelo Milton Alves que o levou para a Rádio Difusora do Guaporé, ainda muito jovem. O Vladimir, que depois foi para a Rádio Caiari como apresentador do jornal RC Notícias e de lá foi convidado para apresentar o telejornal na TVE que funcionava no saguão do Palácio Presidente Vargas, "fomos os precursores da implantação do telejornalismo em Rondônia" e que quando Felipe Daou veio a Porto Velho instalar a TV Rondônia o convidou para ser o apresentador do Jornal de Rondônia. Foi justamente na TV Rondônia que Vladimir se viu obrigado a sair de Porto Velho, porque resolveu investigar o desaparecimento do também radialista Wilton Guedes. "Fui ameaçado de morte em pleno ar". Como tudo que Deus faz é bem feito, essa ameaça fez com que Vladimir fosse parar na Paraíba de onde foi para Brasília e através de um concurso a nível nacional conseguiu se classificar em segundo lugar sendo contratado pela Radiobras para ser o locutor oficial da Presidência da República na época da revolução. Hoje, vivendo ao lado da sua esposa Janaína Dutra de Carvalho, Vladimir curte a aposentaria. "Essa mulher é uma guerreira, me agüentar não é fácil" Deve não ser mesmo, a Janaina é sua nona esposa. Vladimir há algum tempo foi vítima de um AVC, em conseqüência, tem dificuldades em mover os membros do lado esquerdo do seu corpo, mesmo assim, é uma pessoa consciente e "graças a minha querida mulher, consegui voltar a andar sem ajuda, não uso nem bengala". Em Porto Velho, aonde veio passar o aniversário de sua irmã Heloísa neste sábado 21 e rever amigos, aproveitamos e batemos um papo sobre a trajetória da "Voz Padrão Nacional" do Vladimir de Carvalho.

E N T R E V I S T A

Zk - Vamos a uma breve biografia da sua vida?
Vladimir Carvalho – O nascimento foi em Porto Velho capital do Território Federal do Guaporé hoje Rondônia, no dia 6 de outubro de 1943. Infância, adolescência e início da juventude foi em Porto Velho, só que, eu saí daqui para o Acre onde comecei minha especialização naquilo que é minha paixão até hoje, a profissão de radialista.

Zk – Você iniciou sua carreira de radialista em qual emissora?
Vladimir Carvalho – Comecei aqui em Porto Velho na Rádio Difusora do Guaporé, depois fui para a Rádio Caiari e TV Rondônia, fui precursor do telejornalismo em Porto Velho e em Rondônia é claro.

Zk – Quer dizer que o início mesmo, foi na Rádio Difusora do Guaporé. Qual sua função?
Vladimir Carvalho – No tempo do Milton Alves, famoso "Deusa do Asfalto", eu fui ser repórter de pista nas transmissões de jogos de futebol que aconteciam no estádio Aluízio Ferreira, foi daí que me deu gosto e eu passei para a Rádio Caiari no tempo do Padre Vitor Hugo, veja bem, Padre Vitor Hugo! Hoje sou radialista aposentado, registrado no Ministério do Trabalho, sou profissional e tudo isso começou aí, depois fui para o Acre, João Pessoa na PB e por último cheguei em Brasília onde participei de um concurso entre colegas do Brasil inteiro e alcancei o 2° lugar para trabalhar na Rádio Nacional de Brasília que fazia parte da Radiobras e lá fiquei durante 32 anos.

Zk – Vamos voltar no tempo. Em Porto Velho você estudou aonde?
Vladimir Carvalho – Todos meus estudos em Porto Velho foram feitos no Colégio Dom Bosco isso quer dizer, Primário e Ginásio.

Zk – Você foi contratado pela Rádio Caiari para ser repórter de pista nas transmissões esportivas?
Vladimir Carvalho – Não, quando fui para a Rádio Caiari foi para apresentar o "RC Notícias" que era o jornal da emissora. Depois apresentei uma série de programas, mas o negócio mesmo era o noticiário, esse foi o meu início de vida no mundo radiofônico. Só que meu Registro Profissional como Radialista não é daqui, é de João Pessoa na Paraíba, o famoso MTB/DRT recebeu o nº 004.

Zk – E a investida na televisão começou em qual emissora?
Vladimir Carvalho – Na época, montaram um estúdio de televisão no Palácio do Governo aqui em Porto Velho que chamavam de TV Cultura e o Dilson Machado me convidou para apresentar o jornal daquela televisão, tenho diploma daquela emissora de TV até hoje. Quando o Felipe Daou veio implantar a TV Rondônia, já veio com referências minhas e então o Ubiratan Sampaio chegou comigo e disse que o Dr. Felipe queria falar comigo, eu não sabia que ele era o dono da Rede Amazônia da Televisão nem nada e ele me convidou para trabalhar na TV Rondônia, é claro que aceitei. O outro que foi chamado na época foi o Jorge Sarrafe Santos e nós dois passamos a apresentar o Jornal de Rondônia, no esporte tinha o João Dalmo.

Zk – Como foi esse lance de você ir para o Acre?
Vladimir Carvalho – Na época existia um jornal chamado O Guaporé, do Emanuel Pontes Pinto, que era tio do Flodoaldinho e da Maria Lídia e através dessa amizade o Flodoaldinho me conseguiu um emprego no jornal do tio dele. No Guaporé eu era repórter. Tinha uma coluna especializada, de um senhor que não me recordo o nome no momento, ele era do Banco da Amazônia e escrevia no jornal e eu era quem fazia as reportagens. Depois fui pro Alto Madeira como repórter, indicado pelo Homero Kang Tourinho que era meu colega de Colégio Dom Bosco. O seu Euro, pai do Homero, era o diretor inclusive tenho documentos assinados por ele e pelo Luiz Tourinho.


Zk – Nessas alturas, você já tinha ajudado a fundar a Escola de Samba Pobres do Caiari?
Vladimir Carvalho – Essa é outra coisa muito interessante na minha vida, e na sua também Silvio Santos, era eu você o Zeca Melo, Zé Carlos Tucano e muitos outros, como meu saudoso e querido irmão João Ramiro, Manelão e não podemos esquecer minha querida mãe dona Floripes, que foi uma das costureiras da escola. Naquela época fundamos aquele bloco de sujo que se transformou na escola de samba Pobres do Caiari.

Zk – Voltando ao Acre?
Vladimir Carvalho – Lá participamos da Rádio Difusora Acreana, Rádio Novo Andirá, TV Acre. Na realidade, quando sai de Porto Velho pra lá foi para implantar o jornal do seu Emanuel Pontes Pinto que passou a se chamar "Gazeta do Acre", fui o primeiro diretor desse jornal acreano.

Zk – Nesse intervalo de Rondônia e Acre, você chegou a prefeito de Porto Velho. Conta essa história pra gente?
Vladimir Carvalho – Isso tem uma história muito bacana, interessante e difícil. Eu mais um colega chamado Manelão, outro Alfredinho e o meu irmão João Ramiro, num dia de Natal...

Zk – Antes desse fato, quem era o prefeito e o que você era na prefeitura?
Vladimir Carvalho – O prefeito era o Hercules Lima de Carvalho e como eu já estava meio famoso na época, devido minha atividade como apresentador do Jornal de Rondônia, ele me convidou para ser o seu Oficial de Gabinete, que na ausência do prefeito assumia a prefeitura.

Zk – E a árvore de Natal?
Vladimir Carvalho – Bom! Quando chegou o Natal, eu montei uma Árvore de Natal gigante em frente à prefeitura e no dia de Natal à tarde, saímos de farra, Eu, Manelão, Alfredinho e João Ramiro e já meio "altos", ao passar em frente à Catedral onde estava montada a árvore, vimos um cidadão querendo arrancar algum dos enfeites e eu, como autoridade, fui lá tomar satisfação, não sei o que foi que deu na cabeça do Manelão que achou de arrancar uma bola da árvore para dar pro cidadão, daí a árvore virou por cima da gente. Nesse intervalo alguém avisou o prefeito e ele sem saber de quem se tratava solicitou a polícia que nos prendesse. Foi aquele escândalo. Deu no jornal, "Prefeito manda prender seu Oficial de Gabinete". O Ubiratan que era da TV Rondônia e também da prefeitura foi quem me tirou da cadeia.

Zk – E a história de tomar banho na fonte luminosa da praça em frente ao Palácio
Vladimir Carvalho – Um certo domingo de carnaval, vínhamos do baile do Ypiranga que era ali do lado, onde hoje funciona uma academia e achamos de tomar banho pelados, na fonte luminosa, que na época funcionava. Os quatro maus elementos, Eu, Manelão, João Ramiro e Alfredinho fomos os protagonistas da façanha.

Zk – Voltando à sua atividade como apresentador do Jornal de Rondônia. Na época você iniciou uma campanha com o intuito de esclarecer o assassinato do radialista José Wilton Guedes. Esse fato contribuiu para sua saída de Porto Velho?
Vladimir Carvalho - Isso é muito sério agora. Eu tinha um programa chamado "O Homem é a meta" e convidei o delegado Edgar Brasil para uma entrevista sobre o problema do desaparecimento de um colega nosso. Eu sabia mais ou menos o fio da meada, porque comecei a investigar como colega e como jornalista, bom! No final da entrevista, houve certa ameaça a minha pessoa, alguém telefonou dizendo que eu tinha que acabar com aquilo, ou acabavam comigo. O certo foi que fiquei com medo. Na época eu fazia parte da Maçonaria Estudo e Trabalho e comuniquei aos irmãos o ocorrido, eles então providenciaram seguranças para tomar conta de mim sem eu saber. O estúdio da TV Rondônia era ao lado da prefeitura pela Gonçalves Dias e toda vez que eu saia da TV via aqueles quatro homens vestidos de preto na praça da prefeitura, certo dia fui lá e perguntei o que representava aquilo e eles me disseram que haviam sido contratados pelos meus irmãos da Maçonaria, para não deixar acontecer nada comigo.

Zk – A tua ida pro Acre tem a ver com esse episódio?
Vladimir Carvalho – Também. O seu Emanuel na época, que também era maçom me chamou e disse, Vladimir como estou querendo abrir uma filial do Guaporé no Acre vamos aproveitar esse embalo e encarregar você para abrir essa filial.

Zk – E João Pessoa na Paraíba, quem te levou pra lá?
Vladimir Carvalho – Na época eu era casado (pedindo licença para sua atual esposa), eu posso citar no nome dela (foi autorizado, mas não citou), ela era polícia federal e nós nos apaixonamos e ela foi transferida para João Pessoa eu aproveitei o embalo e fui junto. Quando chegamos à Paraíba o governador era o Tarcisio Buriti e até porque já estava me destacando como radialista, o governador me convidou para fazer parte do Grupo de Comunicação Social do seu governo, na época o governo da Paraíba tinha uma emissora de rádio chamada Rádio Tabajara eu fazia parte da equipe "Titulares de Notícia". Foi então que o Ministério do Trabalho começou a apertar o cinto em torno dos profissionais, só podia trabalhar quem tivesse o DRT. Como eu já tinha certa experiência em tempo de serviço e certa especialização em comunicação social, inclusive de um curso que havia feito na Fundação Universidade Federal do Acre, um curso de Redação, esse certificado serviu junto com minha experiência, para que eu conseguisse o Registro, MTB/DRT 0004.

Zk – E Brasília?
Vladimir Carvalho – Na época, a direção da Rádio Nacional pediu à direção da Rádio Tabajara uma reportagem sobre o Ministro José Américo de Almeida que havia falecido, e a direção da Tabajara me escalou para fazer a matéria para a Rádio Nacional. Entrei no ar ao vivo pelo telefone em rede Nacional. O diretor da Nacional era o Leonardo. Bom, quando acabei de transmitir a reportagem sobre a vida do Ministro, perguntei ao Leonardo se eu podia ir pra Brasília e ele me respondeu da seguinte maneira: "Vladimir, pode vir, mas, não dou certeza se você vai poder entrar na Rádio Nacional, até porque você tá com o sotaque de nordestino e não serve pra ser locutor aqui, repórter sim, mas, locutor não". Aquilo me frustrou um pouco. Eu tive que recuperar o meu jeito porto-velhense de falar, o jeito beradeiro. Quando senti que havia recuperado a normalidade no jeito de falar, foi que fui pra Brasília e participei daquele concurso a nível nacional e me classifiquei em segundo lugar. Eles precisavam de dois profissionais para exercer a vaga de locutor oficial da Presidência da República e eu fui classificado, em plena revolução. Tem até uma história interessante sobre a revolução.

Zk – Qual a história?
Vladimir Carvalho – Além de fazer o noticiário eu fazia um programa de variedades que ia ao ar pela Rádio Nacional de Brasília das 8h às 10h da manhã, eu fazia muita gaiatices, muitas brincadeiras com os ouvintes. Um dia eu estava no ar, quando de repente a porta do estúdio abriu e lá estavam olhando pra mim, o gerente da emissora Eduardo Fajardo e um homem fardado ao seu lado, era um coronel, bem, pensei, tô preso. Fui baixando o "fogo" e pedi intervalo pro operador de som. O Eduardo virou pra mim e disse, Vladimir quero te apresentar o coronel e disse o nome que não me lembro no momento. – Pois não coronel, o senhor pode me algemar se quiser e me levar, ele olhou pra mim e disse, "não Vladimir, estou vindo aqui, em nome da Presidência da República, agradecer o seu trabalho". E eu, como coronel, o que eu faço aqui é só reborréia, isso é importante para a Presidência da República?

Zk – E ele?
Vladimir Carvalho – A resposta dele foi, "é o seguinte Vladimir, enquanto você faz isso pro pessoal, eles esquecem um pouco de nós militares". Indiretamente eu não sabia que estava cooperando com a ditadura.

Zk – Outro lance que você se destacou a nível nacional, foi como apresentador da Voz do Brasil. Como foi que você conseguiu essa participação.
Vladimir Carvalho – Na época, Gustavo, um colega nosso, que era o titular da Voz do Brasil, que era transmitida direta de uma sala ao lado da sala da Presidência da República, falhou um dia e por isso, foi punido e por causa disso ele pediu demissão e eu fui indicado, devo dizer que eu era considerado voz padrão Nacional. Fiquei na Voz do Brasil durante 15 anos. Era eu o André e o Clemente Drago.

Zk – Que história é essa de voz padrão nacional?
Vladimir Carvalho – Naquela época tinha um padrão pra poder ser locutor da Voz do Brasil. O Timbre da voz, maneira de ler, maneira de divulgar. Na época, eu preenchia essas referências. Os que vieram depois de mim tinham que ter a voz padrão Nacional e a voz referência, era a do Vladimir de Carvalho. Isso é o maior orgulho meu. Me dava orgulho em dizer que era. Guaporeense, rondoniense e porto-velhense.

Zk - Como foi que você foi parar no Vale do Amanhecer?
Vladimir Carvalho – É um negócio muito sério. Eu bebia muito, nunca usei droga, mas a bebida alcoólica era demais, eu queria deixar de beber porque estava prejudicando minha vida profissional e eu não sabia o que fazer, aí me indicaram o Vale do Amanhecer onde as pessoas curavam principalmente a bebida. Lá conheci uma senhora chamada Neiva Chaves, a tia Neiva, pedi pra entrar e ela me aceitou, tem mais de 30 anos que não bebo e até hoje faço parte do Vale do Amanhecer, como um dos Mestres de Alto Grau inclusive, moro lá.

Zk – Para encerrar. É verdade que você continua como voz referência na Rádio Nacional?
Vladimir Carvalho – Sempre o sindicato me convida para fazer palestra que chamo apenas de bate-papo, com os novos candidatos a locutor, eles me consideram ainda como padrão de voz, isso me orgulha muito e toda vez que vou participar dessas palestras, sinto orgulho em dizer que sou de Rondônia, que sou beradeiro de Porto Velho. Isso é gratificante.


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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