Segunda-feira, 12 de outubro de 2009 - 07h26
Corre o ano de 1962, Porto Velho vive o auge das disputadas políticas entre as facções “Cutaba” e “Pele Curta”. A primeira comandada pelo Coronel Aluizio Pinheiro Ferreira e a segunda pelo médico Renato Medeiros. Naquele tempo, o rondoniense só votava em deputado federal. Os candidatos eram, pelo lado dos Cutubas, Coronel Enio dos Santos Pinheiro e pelos Peles Curta Dr. Renato Medeiros. De repente, na noite do dia 26 de setembro os partidários de Renato Medeiros foram vítimas de uma ação, que até hoje não foi esclarecida condignamente. O motoristas de uma caçamba da prefeitura municipal de Porto Velho transportando correligionário que estavam no comício do candidato Cutuba no bairro do Areal, invadiu com a caçamba, a passeata que os correligionários de Renato Medeiros estavam participando na rua Lauro Sodré no bairro da Olaria. Esse acidente, se é que assim podemos classificar o ato insano, fez com que o jornalista Zola Xavier da Silveira após muitos anos morando no Rio de Janeiro, voltasse a Porto Velho sua terra natal. “O que eu queria mesmo era conhecer detalhes da vida do meu pai Dionísio Xavier da Silveira”. Pois justamente quando buscava detalhes da vida do seu pai, considerado o comunista nº 1’ de Porto Velho, Zola foi convidado para um almoço com os jornalistas Montezuma Cruz e Lucio Albuquerque. Esse almoço, fez com que seus planos de escrever um livro sobre a “Caçambada Cutuba” fossem transformados no projeto de um filme que também envolve a passagem do guerrilheiro Che Guevara por Porto Velho.
Criado a partir dos 16 anos de idade em “aparelhos’ do Partido Comunista em Goiânia e Rio de Janeiro, Zola foi um dos sindicalistas mais jovens do Brasil. “Essa condição me deu o direito a uma bolsa para participar de um estudo político em Moscou capital da União Soviética”.
No Mercado Cultural as sextas feiras, durante as apresentações da “Fina Flor do Samba”, quem vê aquele “jovem”, acompanhando os sambistas batendo numa caixa de fósforos, jamais imagina que se trata da pessoa que se importa em registrar em filmes documentários, a história da cidade e do estado, que tem como um de seus pioneiros seu pai, Dionísio Xavier da Silveira.
E N T R E V I S T A
Zk – Antes de encaminhar essa entrevista no rumo da sua trajetória de vida, vamos falar um pouco sobre seu pai Dionísio Xavier da Silveira?
Zola - Veja bem, saí daqui com 16 anos de idade. Quem conheceu o Dió de fato, foram vocês que ficaram aqui e conviveram com ele. Conheci o Dió através dos livros, Vitor Hugo tem uma página no seu livro “Desbravadores” onde consta uma história sobre meu pai que eu nem sabia.
Zk – Que história é essa?
Zola – São os motivos que o levaram a vir do Acre para Porto Velho. Dió foi o primeiro comunista orgânico, ou seja, participou de uma estrutura do partido no Acre, lá pelos idos de 1945/46. O grupo Cabeça de Negro fez um trabalho fantástico com o Dió. Então são conhecimentos que estão vindo através de pessoas, de depoimentos. O Jurandir Costa também me doou um DVD, Selmo Vasconcelos o poeta me entregou uma entrevista que ele fez com meu pai, ele e o falecido Bahia. Então estou começando a conhecer uma parte fantástica do meu pai agora, por exemplo, fiquei sabendo que o Dió foi pioneiro do jornalismo. No interior ele criou o jornal “A Palavra” em Ji Paraná. Esse jornal tinha um correspondente em Paris na universidade de Sorbonne, Erve Perry hoje ele é professor convidado da USP. Esse é o Dió que estou conhecendo. Quero registrar aqui também, a luta que ele teve em Ji Paraná naquela época, combatendo os grileiros.
Zk – Combater esse pessoal no tempo da colonização de Rondônia e ainda mais em Ji Paraná era muito perigoso. Como ele se saiu?
Zola – Ele recebeu uma agressão violenta de um cidadão por nome Jotão que até hoje não sei quem é. Dessa luta ele saiu com o rosto todo deformado, quebrou todos os dentes.
Zk – Aos 16 anos de idade você foi embora de Porto Velho, mandado ou por livre e espontânea vontade?
Zola – O Dió era um camarada que lia muito. Então eu tinha que estudar. Ao terminar meu ginásio aqui no colégio Dom Bosco, ele me mandou estudar em Goiânia e lá fui abrigado pelo Partido Comunista.
Zk – Isso que dizer que você passou a integrar a militância do Partido?
Zola – Realmente. Na casa onde estavam os militantes funcionava como se chamava na época , como “Aparelho”. Ali se reuniam para discutir política, os comunistas que estavam na ilegalidade.
Zk – Qual era sua função dentro desse “aparelho”?
Zola – Lembra da figura do estafeta? Eu era o verdadeiro estafeta que levava o jornal do partido “A Voz Operária” para as cidades mais próximas e Goiânia. Em 1972 aconteceu uma tragédia muito violenta em Goiânia.
Zk – Tragédia?
Zola – Pois é, mataram muitas pessoas em Goiânia e a casa onde funcionava o Partido foi atingida e então, me mandaram as pressas para o Rio de Janeiro morar novamente numa célula do Partido Comunista que ficava na rua Bela em São Cristóvão. Aí o risco era maior, porque lá funcionava direção nacional do partido. Nessa célula também passei a exercer o papel de estafeta. Depois fui morar num outro “Aparelho” agora em Niterói. Essa foi minha trajetória, estudando e atuando junto aos companheiros do meu pai no Partido Comunista. Essa foi minha formação até passar no concurso para o Banco do Estado do Rio de Janeiro e então me tornei um dos mais novos dirigentes sindicais, atuando pelo Sindicado dos Bancários do Rio de Janeiro. Ali, posso lhe dizer, fazendo alusão a um escritor famoso chamado Máximo Gork que escreveu o livro chamado “Minhas Universidades”, foi “minha universidade”. Passei 16 anos atuando, desde a fundação da CUT. Esse movimento todo que tivemos até o final da década de 1970 até o início da década de 1980.
Zk – Você é de quando?
Zola – Nasci no dia 21 de abril de 1954.
Zk – É certo que você esteve na Rússia?
Zola – Veja bem! Eu era um jovem e fui ser dirigente sindical. Como já lhe contei, fui praticamente criado pelos comunistas. Os sindicatos do movimento comunista internacional formaram a Federação Sindical Mundial e como membro da diretoria do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e por ser conhecedor da causa comunista, me deram uma bolsa de estudo para Moscou para fazer um breve curso de política. Foram apenas algumas semanas em Moscou com o direito a passar o tradicional 1º de Maio na Praça Vermelha.
Zk – Como funcionava filosoficamente o Partido Comunista?
Zola – Ah meu amigo! Não temos partido como aquele. Agora mesmo, estava lendo o livro do Vitor Hugo onde tem uma parte que ele fala sobre os comunistas de Porto Velho. Como é que funcionava o partido, os membros tinham que estudar, ler, não precisa ter títulos, mas, você não encontrava comunista bobo. Aqui tínhamos militantes tradicionais. Vou citar apenas dois para você ter idéia de como era a filosofia do partido.
Zk – Vamos lá?
Zola – Tinha o Carroceiro Comunista, mas ele lia muito. Outro, talvez a pessoa mais importante do ponto intelectual do partido era o enfermeiro do hospital São José Zacarias Onofre. Apesar como a gente diz, de não ter estudo, ele lia muito. Ele era considerado o ideólogo do partido, o homem que tinha o maior conhecimento de Karl Heinrich Marx, de Lênin entre outros pensadores entre os comunistas de Porto Velho. Esse tipo de ensinamento, de entender os problemas da humanidade eu diria. Aprendi que esse modo de pensar amplo no homem, acima das fronteiras do ser humano, dos grandes dramas humanos. O drama que a gente está passando aqui é mesmo das pessoas de outros países. Esse tipo de preocupação a gente não vê mais na política. Hoje a política esta muito mercantilista.
Zk – Agora vamos falar sobre o seu retorno a Porto Velho. É apenas uma passagem ou é definitivo?
Zola – Como te falei, saí daqui com 16 anos de idade. A gente vai envelhecendo e vai querendo saber as nossas origens, você sempre está falando sobre São Carlos sua terra natal, então lá no Rio de Janeiro a toda hora eu ficava falando daqui e principalmente meu pai com quem não tive aquela convivência e em função de querer saber do meu pai e ter uma coisa específica só sobre ele, então precisa saber onde o Dió estava, queria pegar também um fato emblemático desse contexto.
Zk – Você conseguiu o fato emblemático?
Zola – O fato emblemático desse contexto foi o comício de 26 de setembro de 1962 que eu costumo falar: “A Caçambada Cutuba”. Em cima disso comecei minhas pesquisas que já tem mais de cinco anos.
Zk – Fala sobre essas pesquisas?
Zola - A primeira investida foi na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro onde passei pelo menos três anos pesquisando, porque tinha que copiar a mão a lápis. Os jornais ainda não foram micros filmados. Durante esse tempo, me deparei com uma situação do ponto de vista da história social de Rondônia fantástica.
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