Quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014 - 10h36
Conversava com minha mulher – quem considero mais inteligente e com mais habilidades de interação e de comunicação do que eu – sobre um novo vírus surgido nos EUA e que causa pneumonia com paralisia parcial dos membros superiores e/ou inferiores. Não vi a matéria, mas na hora pensei que sou vítima do vírus da pólio. O vírus da poliomielite – paralisia infantil – está erradicado; contudo, o que se sugere para esta nova doença é que seja uma mutação do vírus da pólio. Os cientistas já teriam suscitado esta hipótese.
Em seguida, minha esposa – Fátima – disse-me que se tivéssemos uma conduta moral superior essas doenças e outras pragas e chagas não surgiriam. Posso defini-la como uma mulher espírita e socialista. Guerreira, como todas as mulheres e mais ainda, por ser Fatuma. É um nome com significado místico, originando duas expressões árabes: Fath (“graça divina sobre os evoluídos no conhecimento sagrado”) e Fattah (“conquistador”, “o que abre”). Como espírita socialista, Fátima não conjuga os verbos roubar, matar, enganar, fazer falsas promessas e outros adjacentes.
Diria que todas as mulheres espiritualizadas e de alguma forma socialistas, em sua vida diária, também retiraram de seu horizonte conceitual a ideia de “viver da exploração do(a) Outro(a)”. Minha conclusão se deve ao fato de que as mulheres empreendedoras, no Brasil, chegam aos seis milhões de trabalhadoras informais. Têm uma renda média de cinco mil reais mensais. Entretanto, seu maior risco, seu pior pesadelo se deve ao fato de serem “generosas demais”. Quer dizer que socorrem outras pessoas (e familiares) em demasia, sobrecarregando seus encargos na produção individual e que já é limitada às próprias forças.
As mulheres espiritualizadas e socialistas são um tipo social inovador, criativo, honesto, ativista, colaborativo e indignado com toda forma de injustiça e de preconceito. Por exemplo, mesmo com deficiência física, por causa da pólio, tenho mais preconceito do que minha mulher. Meu maior defeito, penso eu, está no orgulho e na incapacidade de perdoar as pessoas que praticam graves erros. Ela mesma já perdoou meus erros e não alimenta um falso-orgulho.
A partir disso, pensei algumas vezes como é legal ter orgulho de alguma façanha, por ter realizado uma obra séria ou ser capaz de pensar coisas belas, inteligentes, vibrantes, inovadoras (como as mulheres empreendedoras). Porém, na hora me lembrei como é pequena a distância entre ter orgulho de si mesmo – pelos feitos honestos e justos – e ser orgulhoso. Na crise moral de que me falava minha esposa, o ciclo virtuoso (do qual devemos nos orgulhar) e o círculo vicioso (do falso-orgulho) já se confundiram. Não sabemos precisar quando um termina e o outro começa. Alguns orgulham-se de falsos feitos (como matar, roubar, mentir para o público, explorar o trabalho de outrem); são orgulhosos da própria mesquinharia.
São comportamentos que as mulheres espiritualizadas e socialistas (algumas empreendedoras de si e de muitos outros) não praticam, sequer conjugam no dia a dia – até mesmo porque têm de batalhar, produzir, fazer render uma energia social que nasce de sua capacidade humana de ser melhor, diferente e muito mais inteligente.
No meu próprio exemplo, por sorte de nascimento, sempre digo que vivi cercado de mulheres absurdamente bondosas e inteligentes, como minha mãe, Dalva, e minha orientadora de Doutorado, Maria Victoria Benevides. Este artigo também é resultado disso, não porque presta uma modesta homenagem, mas acima de tudo porque não fossem as mulheres capazes de doar sua inteligência e atenção, simplesmente, o texto não seria escrito. Sou iluminado, mas porque sempre usufrui da iluminação dessas mulheres especiais.
Vinício Carrilho Martinez
Professor Adjunto III da Universidade Federal de Rondônia – UFRO, junto ao Departamento de Ciências Jurídicas/DCJ. Pós-Doutor em Educação e em Ciências Sociais e Doutor pela Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências e em Direito. Jornalista.
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