Domingo, 21 de abril de 2013 - 13h13
A medicina, como tudo na vida, tem muitos tons – uns aparentes; outros, não. Tons próprios ou que decorrem da incidência da luz, da sombra, da proximidade com outras cores, do ponto de vista, do olho, e do olhar de quem os vê.
Os matizes que contextualizam a medicina mostram variáveis diversas que vão do preto até o branco.
O preto, sob essa óptica, significa as trevas. Nesse permeio de variações de tons de cinza, quando mais escuro, maior a afinidade com a incompetência, com a negligência e com a imprudência. Essa é a antimedicina, posicionada diametralmente oposta ao que se espera de uma ciência que tem a nobre missão de extirpar ou amenizar sofrimentos e evitar a morte, quando possível.
A medicina, nesse tom obscurantista, é a regra – e não a exceção das exceções como deveria ser. Basta que visitemos a maioria das unidades públicas de saúde do país para darmos de cara, sem máscaras nem luvas, com essa modalidade horrenda de medicina. O palco dessa mazela só se mostra apresentável, quando muito, no momento pirotécnico da inauguração dessas casas de saúde, quando autoridades fazem discursos humanitários com a viva certeza de que estão enganando incautos mais uma vez. Sim, porque passados alguns meses, aquele espaço que parecia reascender a esperança daqueles que dele dependem quando enfermos, desmantela-se em todos os sentidos à mercê do abandono.
A medida que os tons de cinza se tornam cada vez mais claros, as trevas abrem suas portas para a bem-vinda luz. Todavia, até que ela tenha intensidade para iluminar, a ponto de nos deixar enxergar nitidamente o exercício de uma medicina competente, ética e humanitária, critérios que permitam que assim seja precisam ser obedecidos continuadamente.
É falso e irresponsável tentar mudar os tons da medicina que massivamente se pratica o Brasil, com curativos paliativos – não raro, malfeitos. A situação é grave e está a merecer, de parte de todos os envolvidos, atitudes clareadores desses tons que permanecem cronicamente escuros.
É deveras preocupante quando, a despeito disso, não se vislumbra a esperada luz no final desse túnel. O aparelho formador de médicos insiste, numa dimensão inaceitável, em continuar deformador: a banalização do ensino médico atesta o descompromisso de algumas faculdades de produzir profissionais aptos para o exercício de sua relevante função humanitária. A cada semestre, muitos espectros de médicos são lançados no mercado. Mesmo tendo certeza disso, o MEC limita-se a prometer providências que esquece de tomar tão logo os refletores da mídia se apagam. A autorização para abertura de novas escolas de medicina no país (já são 200!), está claro, é definida a partir do ignóbil critério político, que tantos males causou e continua causando.
A boa medicina, nos tons claros das virtudes que deve encerrar, ainda não faz parte, o quanto deveria, do desenho que a identifica. Para que isso aconteça, é preciso que, pelo menos, haja indícios de que esteja sendo tentado. Porém, lamentavelmente, até o momento, o que se visualiza é um imenso pincel, lambuzado de descaso, tingindo de sombra algo que precisa da luz do conhecimento para existir como deve ser.
NOTA DO AUTOR – Nesta terça 23, às 20h, começam as comemorações do cinquentenário do Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia (Cremero). Na oportunidade, será lançado o livro 50 anos nos trilhos da ética, editado por mim, que conta a história do órgão e dos primórdios da medicina em Rondônia. No mesmo dia, logo em seguida, será inaugurado um memorial iconográfico sobre a trajetória da instituição.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr