Quarta-feira, 1 de maio de 2013 - 11h28
Assim como a medicina e os demais aspectos da existência humana, o médico convive com tonalidades diferentes do exercício da profissão.
Está proscrito, nesse contexto, o julgamento dualista que tipifica bons ou maus médicos apenas pelo fato de o profissional escolher um caminho diferente daquele que definimos como certo, como melhor. Por caminhos diferentes é possível conviver harmoniosamente com a profissão a ponto de cada um, a seu modo, encontrar nela a realização pessoal e a felicidade. Ressalve-se, entretanto, que não devem ser aceitas opções que firam os princípios éticos e legais, esses que sempre devem ser rejeitados quando contaminam as ações humanas.
Os tons disponíveis à escolha dos médicos para exercerem a profissão são diversos. Há os que preferem praticar uma medicina atrelada ao serviço público, geralmente cheia de limitações e deformações, que exigem do profissional competente e ético uma posição de difícil assimilação e que, por isso, cobrará dele incômodos, por vezes muito angustiantes. Porque a competência e a ética reprovam essas condições adversas e pedem ações proativas que possam abolir o descaso em que se encontra a maioria dos serviços públicos de saúde e alguns privados em nosso país. Não agindo assim, o médico tende a se acomodar, por vezes cansado reclamar e não ser atendido. Aí, por certo, mora um perigo: o silêncio de quem possui os melhores argumentos para mudar o que precisa ser mudado em favor de uma boa assistência à saúde. Como o médico não tem poder para promover essas mudanças o quanto se faz necessário, essa luta é cronicamente inglória.
Há, entretanto, aqueles médicos que preferem mesclar um emprego público com a atividade privada. O público para lhe garantir aporte financeiro, independente de seu estado de saúde para exercer a profissão, e um aposentadoria futura – direitos trabalhistas, enfim. A expressiva maioria dos médicos em início de carreira não abre mão dessa opção. Uns até, mesmo tendo intensa atividade privada, permanecem como servidores públicos. Quanto à atividade privada, dependendo de condições financeiras do médico, pode começar, como frequentemente acontece, em um consultório, e evoluir, conforme seu tino empreendedor, para uma clínica e até para um hospital de sua propriedade. Existem ainda aqueles que exercem atividades fora do serviço público como empregados em unidades de saúde particulares – são raros os que atuam somente na iniciativa privada.
Não é apenas a decisão de atuar no público ou no privado que define a condição profissional do médico, mas também a qualidade técnica e humanitária da medicina que pratica. É possível encontrar unidades públicas, ainda que poucas, bem equipadas, com boa estrutura em todos os níveis e profissionais diligentes. Nessas, é praticada uma medicina que busca excelência. Por outro lado, nem sempre o privado é sinônimo de qualidade. Há muitas dessas unidades onde se pratica uma medicina tão somente com premissas mercantilistas – nessas, o paciente é visto prioritariamente como fator de lucro.
Além desses matizes citados, há aqueles que incluem os médicos que também se dedicam à atividade pedagógica. Esses, quando não vocacionados para essa nobre função, que a assumem apenas como mais um bico para reforçar seus proventos, não a cumprem com competência.
O médico pode, através dos diversos tons do exercício de sua profissão, ser um bom médico, um médico como almejou ser, como se deseja que ele seja. Desde que transite por ela com propósitos de curar quando puder, aliviar quando curar não for possível, e consolar quando nada mais a medicina puder fazer por seu paciente. Entretanto, para que assim seja, é preciso que tenha decidido tomar as rédeas de seu destino profissional, escolhendo-o com convicção que atenda seus melhores e legítimos anseios. Se assim não for, será frustrado, arrependido por ter escolhido ser médico. Um profissional desse jeito, certamente que não terá condições de promover o bem-estar daqueles que assiste com a extensão que se espera de um verdadeiro médico.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr