Terça-feira, 11 de maio de 2010 - 20h53
Quando menos a pessoa faz, menos se expõe, menos se denuncia. Aqueles que nada fazem, que são apenas inertes espectadores da vida, não podem dizer que vivem. Apenas vegetam em sua insana mediocridade. Vida sem razão, vida dispensável, vida desperdiçada. Viva sem vida.
Não raro, aqueles que desperdiçam seus momentos prestam-se, quando muito, para observar com ansiedade crítica ao que os outros fazem. Crítica com bases destrutivas, quase sempre. Criticam movidos mais pelo ímpeto de depreciar a quem criticam do que para corrigir eventuais falhas que precisam ser corrigidas. A meta é desedificante.
Todavia, aqueles se empenham no fazer se expõem, se denunciam. Queiram ou não, denunciam suas aptidões e dificuldades. Seus limites são expostos pelos seus atos concretizados. Colocam-se como alvos a mercê de franco atiradores. Porque tudo que fazemos nos expõe à autoavaliação e à análise dos outros. Quem não age, deixa dúvida se é ou não capaz de cumprir determinada tarefa. Essa resposta só se confirmará se a própria pessoa confessar sua incompetência ou, ainda, se fortes evidências apontarem para essa conclusão.
Nenhum afazer, entretanto, denuncia mais do que a exposição artísticas de quem escreve, produz literatura. Porque o escritor, ao grafar suas idéias e sentimentos, mesmo que não queria, que tente, sua produção literária documentará, com sua assinatura, o que lhe vem do mais recôndito espaço de sua mente. E de lá, incitado pela inspiração, coloca-se para o leitor como um literal livro aberto. No caso dos poetas, essa exposição se magnífica. Porque eles trabalham com foco no sentimento. Ao expor abertamente os seus, propõe-se a emocionar o leitor. Independente do gênero literário, o leitor ao tempo em que busca satisfação e respostas no texto lido, está sempre na iminência de abandoná-lo, por vezes sem dó nem piedade.
Quem se expõe do modo como os literatos o fazem, abrindo seu íntimo à visitação pública, pressupõe-se que não tenham medo de dizer de si e de sua visão do mundo. Corajosos, mostram a estética dos jardins onde cultivam suas buscas ao tempo em que expõem, sem medo de ser rejeitados, as feridas abertas que lhes doem n’alma e até, despudorados, desfilam desnudos entre transeuntes existenciais.
Por isso, não é demais concluir que por pior que sejam os seres que grafam seus pensamentos em busca da beleza literária, devem ser dignos de ímpar admiração. Se não por tudo que são, pelas virtudes que possam praticar, pelo menos pela coragem de pagar o preço da exposição de seu íntimo na tentativa de construir um mundo mais belo e melhor.
Fonte: Viriato Moura