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Viriato Moura

A SEGUNDA OPINIÃO


 
Diz o ditado popular que “quem tem um médico tem um médico, quem tem dois médicos tem meio médico e quem tem três médicos não tem médico”. Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a decisão do médico que nos trata? Essa atitude traz segurança, tem resultados práticos em favor de nossa saúde, ou serve apenas para nos deixar mais angustiados diante de opiniões diferentes em relação ao mal que nos aflige?

Isadore Rosenfeld, cardiologista e professor de clínica médica do Cronell Medical Center, no New York Hospital, em seu livro “A Segunda Opinião”, lançado no Brasil em 1983, discute a questão e conclui que essa é uma medida acertada: “Sobre muitas doenças, impõe-se ouvir a opinião de um segundo médico, dado haver, quase sempre, mais de um caminho para a cura”. Mas esclarece que não quer com isso dizer que se deva consultar outro médico por causa de uma doença banal. A segunda opinião estaria indicada para enfermidades que exigem intervenções de grande vulto, para as que não respondem devidamente ao tratamento instituído, e para as que deteriorizam a qualidade de vida ou que ameaçam sua duração.

O que levaria um paciente a pedir outra opinião médica quando já tem a de seu médico? Obviamente, a dúvida sobre o que lhe disse ou prescreveu o médico que o assiste. Se o paciente efetivamente confia em seu médico, dificilmente procurará outro para ouvir a segunda opinião. Poderá até agir assim, mas por orientação do profissional que o está tratando. Aceita até, na maioria das vezes, a indicação de quem deve procurar.

O que provocaria no enfermo essa desconfiança? Basicamente a falta de maiores referências ou segurança em relação à competência do médico que o atende, e uma deficiente relação médico-paciente. O paciente não se convenceu completamente de que o diagnóstico e/ou o tratamento a ele prescrito são os mais acertados. Isto nem sempre significa que falta conhecimentos profissionais ao doutor; mas, com certeza, falta-lhe domínio dos fundamentos que devem conduzir o seu comportamento diante do doente que trata.

O médico não deve medir esforços para esclarecer a seu paciente, de modo didático, competente, sincero e humanitário sobre sua doença e suas possibilidades de tratamentos e cura. Só assim o profissional terá condições de dividir com seu paciente a responsabilidade da terapêutica que instituir e o resultado dela decorrente.

Quem está doente tem direito de ser informado sobre o próprio estado de saúde. O modo como isto deve ser feito requer bom senso, conhecimento e didática. É importante que o médico compartilhe com o paciente e/ou com seus familiares mais próximos as várias opções de tratamento para sua doença, informe sobre os riscos de complicações e chances de cura. Ás vezes há mais de uma opção de tratamento para o mesmo mal. Cada pessoa tem características próprias e a medicina não é uma ciência exata. Nem sempre o que é bom para um paciente serve para o outro. Hipócrates, o pai da medicina, dizia que “não há doenças, há doentes”.

A segunda opinião pode ser útil quando o paciente tem dúvidas sobre o seu diagnóstico e/ou sobre o tratamento que lhe foi proposto. Se o profissional é competente e sabe convencê-lo de que está conduzindo seu caso do melhor modo possível, o enfermo não encontrará motivos para sair por aí se angustiando com versões que podem diferir da primeira opinião. No mais, estará correndo o risco de acreditar e aceitar uma decisão médica melhor verbalizada, mais convincente, que atenda seus a anseios, mas que pode não ser o caminho mais seguro para sua cura.

Fonte: Viriato Moura
 


 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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