Domingo, 19 de setembro de 2010 - 18h59
Quem consulta o médico o faz com níveis variáveis de estresse. Por mais tranquila e equilibrada que a pessoa seja, ainda que não suspeite ter um mal grave, mostra-se, sempre, preocupada sobre o que o médico dirá a respeito de seu estado de saúde. Há, todavia, pessoas altamente nervosas, umas até hipocondríacas, que vêm qualquer doença como uma catástrofe pessoal. Para essas, um simples sinal pode ser um câncer de pele, e uma dor no peito, uma tuberculose, pneumonia ou até mesmo um infarto que a matará em pouco tempo.
Ciência e caridade. Pablo Picasso, 1897 Museu Picasso, Barcelona |
Os médicos e demais profissionais da saúde devem estar preparados para lidar com todas essas facetas do comportamento humano diante da doença ou da suspeita dela. Cabe a eles manter uma relação profissional com os doentes que tratam de modo a lhes provocar reações mais favoráveis à cura. Há aqueles, entretanto, que no afã de convencerem seus pacientes de que eles estão enfermos e precisam obedecer rigorosamente suas orientações terapêuticas, reforçam essa condição de estresse alarmando-os com o que de pior lhes pode acontecer se não se tratarem corretamente. Outros médicos, ainda, por motivos nada nobres como o de valorizar a própria capacidade de curar, magnificam os danos que a doença pode causar aos seus pacientes.
Alarmar faz mal à saúde. Em nada contribui para encontrar o caminho da cura. Serve, isto sim, para elevar o estado de estresse das pessoas com consequências negativas a ponto de dificultarem seu restabelecimento ou até mesmo piorarem sua condição clínica. Artifícios como esse, sobre qualquer pretexto, devem ser abolidos da prática médica e dos outros profissionais afins. A relação com o enfermo deve ser embasada nas verdades científicas sem que se subestime os aspectos humanitários, que sempre devem estar presentes nas atitudes daqueles que exercem o nobre labor de atenuar ou suprimir sofrimentos, prolongar a vida e evitar a morte. Não se entenda como alarmar o fato de o médico cumprir seu dever de alertar o paciente dos riscos que ele corre se não seguir suas orientações.
Alarmar, gerar pânico, denota também não funcionar em campanhas publicitárias visando a prevenção de doenças, de vícios e de atitudes infringentes. Caso desse o resultado pretendido, não teríamos hoje no mundo tantos portadores do HIV, o vírus da Aids. O mesmo pode-se dizer do uso de drogas, que tantos danos causam à saúde como quase todos estão cansados de saber, mas que continua aumentando. Tampouco os acidentes de trânsito seriam a primeira causa de morte no período mais produtivo da vida, entre os 14 e os 49 anos de idade. Só a prática de medidas preventivas podem minimizar esses problemas.Eis a questão: convencer que este é o caminho.
O processo de conscientização é demorado, e não aceita as imposições dos sustos. O melhor que se pode fazer é esclarecer com sinceridade, respeitando, sob todos os aspectos, quem se quer convencer. Na maioria das vezes, esse afazer deve ser atribuído a profissionais especializados. Técnicas empíricas de convencimento, como lavagens cerebrais sob a égide do medo etc., quando muito chegam a resultados satisfatórios pouco duradouros. Mudar comportamento de outrem, principalmente para melhor, exige tempo e paciência. E competência, é claro.
Fonte: Viriato Moura - viriatomoura@globo.com
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Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr