Domingo, 24 de janeiro de 2016 - 20h23
Confesso que nunca fui um folião muito assíduo e animado. Mas isso não significa que não goste de Carnaval como festa popular, como catalisador de massificação da alegria. Basta alegrar multidões para recomendar aprovação. Motivos para tristezas, temos muitos. E não precisamos ir longe nem puxar pela memória: olha a situação do Brasil aí, minha gente!
Recordar os carnavais de Porto Velho dos anos dourados sempre me remete, como a muitos que aqui viveram naquele tempo, a um certo encantamento. Lembro-me de bailes de salão dos clubes Ypiranga, Bancrévea, Danúbio, Botafogo, Flamengo e do 5º BEC. No carnaval de rua, além de lúdicos mascarados, o Bloco da Cobra, onde senhores (para mim, então muito jovem, eram “senhores”) da elite local saiam pelas vias públicas vestidos apenas com shorts ou bermudas, lambuzados de tintura preta da cabeça aos pés, e tão bêbados que tinham que se apoiar uns nos outros para se manter de pé; o Bloco O Triângulo não Morreu, comandado por Armando Holanda, o inconfundível e simpático Periquito, o Bloco do Valdemar Holanda, popularmente conhecido como Valdemar Cachorro, com motivos amazônicos; entre outros. O desfile das escolas de samba era um capítulo à parte, que mobilizava a população, inclusive frenéticas torcidas que hoje não se vêm tanto. Nos clubes como nas ruas, a festa era contagiante. A Bando do Vai Quem Quer, que desfila em nossas principais avenidas há mais de três décadas, felizmente ainda está aí arrastando multidões.
Tecer loas a nossos carnavais de ontem, não significa passar tão somente uma percepção saudosista, própria de quem se distancia dos acontecimentos que julga agradáveis. De fato, o Carnaval de antanho era vivenciado com mais entusiasmos que os mais recentes.
Independente da comparação que cada um possa fazer entre nossos carnavais no contexto da temporalidade, o que interessa é que estamos próximos a mais um. Alguns certamente alegarão que não participarão da festa por causa da crise; que não dá para festejar quando o momento é de dificuldades financeiras, desalento. Realmente, vivenciamos tempos bicudos. O Brasil, que parecia avançar positivamente no âmbito socioeconômico, a cada dia desce mais a ladeira em direção ao fundo de um poço assustador. Há preocupações diversas e muita negatividade no ar. Diferente do que possa parecer à primeira impressão, eis um forte motivo para que se aproveite esse período festivo. Disse o filósofo alemão Friedrich Nietzsche que seu médico era o esquecimento. E em muitos momentos de nossa vida, o melhor tratamento para a desventura é esquecê-la, ainda que temporariamente. E neste país que parece andar sempre sobre corda bamba, crises quando não estão acontecendo, estão em vias de acontecer.
Então, é importante que todos nós, brasileiros e brasileiras, aproveitemos o reinado de Momo para viver nossa alegria. E isso não se consegue somente vestindo fantasia, pulando que nem uma rã doida, indo pra galera, soltando a franga, enchendo a caveira, e assim por diante, nesse nível. Também assim, mas não somente assim. O importante é que durante o Carnaval tentemos libertar nossa mente das amarguras cotidianas buscando refúgio na morada da alegria, onde habitam os lados bons da vida. É o que temos: a vida! Aqui e agora. Por isso, enquanto tivermos condições de aproveitá-la de algum modo — e cada qual sabe o que lhe faz feliz —, é imperiosos que o façamos, com responsabilidade, antes que seja tarde. Mesmo porque, lamentar os dessabores e deixar de degustar os melhores sabores possíveis, não resolverá qualquer problema. Ao contrário, só os agravará.
Portanto, alegria, alegria: é Carnaval!
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