Terça-feira, 12 de outubro de 2010 - 10h27
Não fique aí se lamuriando de seu destino sofredor, como se só você sofresse. Uns mais outros menos, mas cada um tem cruzes a carregar. Cruzes que significam fardos diversos a serem conduzidos durante nossa caminhada existencial.
Há cruzes de todas as dimensões, de todos os pesos. Uns têm a ventura de a recebê-las menores, mais leve, mais fáceis, portanto, de suportar. Outros há que logo ao nascer já são instados a conduzi-las por um calvário que demorará até seu dia derradeiro.
Reclamar do tamanho e do peso das cruzes que nos couberam carregar, não diminui o desconforto, o cansaço; a dor, em suma, que elas nos provocam quando as carregamos.
Mas não ficamos isentos, porque discernimos, de questionar os porquês de as cruzes serem tão leves e tão pequenas para alguns e tão pesadas e grandes, quase impossíveis de carregar, para outros. Mesmo que as nossas não sejam assim tão difíceis de suportar, basta olhar para os demais transeuntes da jornada existencial para interrogar sobre os critérios que penalizaram tantos.
Nenhum resposta nos convencerá, certamente, que todos mereceram as cruzes que lhes couberam. Basta imaginar uma criança que nasce com uma grave deficiência para esbarrarmos na dificuldade de aceitar que ela mereceu tamanha desdita.
Não havendo como obter as respostas que nos satisfaçam, resta-nos carregar os nossos lenhos com a dignidade possível tendo em mente que eles não cabem tão-somente a nós. Que todos os viventes carregam as suas. Também não estamos isentos de contribuir, na medida que acharmos justo, com aqueles que pedem nossa ajuda para carregar os seus.
Cruzes do mesmo peso e tamanho não se fazem sentir do mesmo jeito em todos as pessoas. Há quem não consiga, mesmo desprendendo toda sua força o tempo todo, tirá-las de onde estão. Outros, entretanto, conseguem levar suas cruzes do mesmo peso ou até mais pesadas e maiores, ao termo que desejam. São aquelas em que os obstáculos não desestimulam, não induzem à desistência, mas incitam à ultrapassagem, à vitória.
Precisamos ter consciência, para que nossas madeiros sejam concebidos como mais leves, de que os caminhos da vida não são traçados apenas em belas paisagens, em terrenos planos, regulares, floridos, com céu azul como se vivêssemos numa eterna primavera. Mas que as paisagens da vida são diversas, irregulares, cheias de armadilhas a desafiar nossa competência para transpô-las ilesos.
A aceitação de que cruzes a serem conduzidas por nós e pelo nosso próximo fazem parte da existência amenizam, de certa forma, a nosso via crucis existencial, e nos dá forças para não desistirmos dela antes da nossa hora.
Mas que é duro de aceitar cruzes maiores e mais pesadas, para nós e para os outros, sem a menor lógica de merecimento, ah, isto é. Porque nada é mais difícil de aceitar que a injustiça.
Com a palavra, a justiça divina.
Fonte: Viriato Moura - viriatomoura@globo.com
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