Domingo, 3 de outubro de 2010 - 18h15
Quem diz querer a verdade acima de tudo, mente. Porque ninguém é capaz de sustentar essa assertiva em todas as situações. Voltaire, verdadeiro, escreveu: “Tenho um instinto para amar a verdade, mas apenas um instinto”.
A maioria dos autores, entretanto, trata a mentira e o mentiroso como exceção, como raridade. Um equívoco, sem dúvida.
Ninguém pode se relacionar com o mundo somente usando a verdade o tempo todo de sua existência. A mentira, tão mal falada, ética e legalmente reprovada, por vezes é a única tábua de salvação. Paradoxalmente, até as leis fazem concessão com a mentira quando desobrigam as pessoas de apresentarem provas contra si. Se a legalidade permite a entrada da mentira na cena do delito, o que esperar do resto?
Encarar a verdade nua e crua, sempre, não é recomendável. Principalmente quando essa verdade se refere a nós. “Se pudéssemos nos ver como os outros nos vêem, compreenderíamos até que ponto as aparências são enganosas”, alerta Franklin Jones.
Enfrentar, olho no olho, a verdade sobre o que somos de verdade certamente é um risco. Risco de frustração, de decepção. E não há como encontrarmos o nosso verdadeiro eu se não for través da verdade. Daí a dificuldade desse enfrentamento. Porque há sempre algo em nós que negamos, que renegamos. Há sempre algo em nós que gostaríamos que não fosse em nós. Ainda que isso não nos incomode tanto, que não seja tão grave, mas mão podemos fugir dessa verdade que mora nos recônditos porões de nossa mente. Ela está lá, e a qualquer momento pode eclodir sob forma de atos que nem nós mesmo sabemos que somos capazes de praticar.
Aquele que diz que nunca mentiu, mente. E, por mais duro que possa parecer para alguns – certamente ingênuos –, a mentira assola em todas as direções. Em todos os níveis de relacionamento, em todas as instâncias, em todas as ideologias e em todos os credos. “A mentira roda meio mundo antes da verdade ter tempo para vestir as calças”, ironiza Winston Churchill.
O ser humano é um mentiroso nato. Como diz o populacho: “Mente que nem sente”. Porque a mentira é o jeito de fugir da verdade que não nos interessa, que nos compromete, e até que nos incrimina. A mentira pode ser a mais eficiente proteção quando a verdade nos ameaça. Há sempre verdades a nos amedrontarem nos caminhos da existência.
A verdade, como a mentira, são lados de um mesma moeda. Ambas podem causar ganhos e perdas, alegrias e tristezas, felicidade e infelicidade. A mentira, entretanto, leva vantagens sobre as limitações da verdade porque não tem compromisso com o que aconteceu. A verdade é única. Ou é ou não é. A mentira, por ser irmã da ilusão, não tem limites para ser. Só depende da criatividade do mentiroso.
Tanto uma como a outra fazem parte da natureza humana. Optar com qual delas pactuar, é uma questão pessoal, que depende dos conceitos e dos preconceitos de cada um, que pode expor a riscos ao assumi-las, e que cobram, por vezes, um preço elevado por isso. Nessa escolha, é fundamental definirmos se o nosso compromisso é com a felicidade, nossa e dos outros. Se o propósito não for prejudicar, nosso ato pode até ser dispensado de prestar contas a nossa consciência, aos postulados éticos, e às leis vigentes.
Verdade e mentira, lados de uma mesma moeda.
A escolha é de cada um: cara ou coroa?
Fonte: Viriato Moura - viriatomoura@globo.com
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