Domingo, 7 de julho de 2013 - 19h06
Anderson,
Que diabo deu na sua cabeça para entregar, daquele jeito, seu cinturão de campeão dos pesos médios do UFC para o americano Chris Weidman? O que você fez foi muito grave, Anderson. Não porque perdeu, mas pelo modo como se deixou vencer.
Você desrespeitou sua história de um cara de origem humilde que se tornou um bom exemplo de vencedor.
Você desrespeitou seu adversário: fez presepadas além da conta. Se queria instabilizá-lo psicologicamente, já tinha conseguido no primeiro round. Por que insistiu nisso a ponto de fazer tudo que não se deve fazer para vencer uma luta de MMA: encostou-se na grade, baixou a guarda, deu a cara a tapa — correu riscos além do aceitável.
Você desrespeitou a equipe que o treinou, e que pediu, desde o primeiro momento, que você mudasse de atitude, que se comportasse como deveria.
Você desrespeitou sua família, Anderson, que acharam ter em casa um verdadeiro herói que mesmo se um dia fosse derrotado o seria com a bravura própria dos verdadeiros heróis.
Você desrespeitou as pessoas que foram vê-lo e aplaudi-lo na MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, pagando ingressos caros, e aqueles que ficaram acordados até a madrugada para testemunhar mais uma de suas vitórias ou, pelo menos, vê-lo combativo até o final da luta para consegui-la.
Você, Anderson, desrespeitou muito mais gente: desrespeitou seu povo, o povo brasileiro, justamente num momento de tentativa de resgate de nossa autoestima, dando de presente a um estrangeiro o que mais precisamos: vitória. A vida, como você deve saber muito bem, é a metáfora de um ringue: quem brincar de viver, como você brincou de lutar, pode ir a nocaute.
Você desrespeitou o esporte que o fez ser quem você é: rico, famoso, admirado, uma celebridade internacional. Colocou em risco a credibilidade que difere as artes marciais mistas (MMA, sigla em inglês) das lutas coreografadas de mentirinha. Os fofoqueiros de plantão andam dizendo que você deu o cinturão de presente ao gringo, pelo transcurso do dia da independência dos Estados Unidos (4 de julho). Não ouso acreditar nisso, mas que deu pinta, deu. Aliás, deu até beijinhos...
Como se não bastasse tanto desrespeito, tanta falta de brio, de sentimento de patriotismo, no final da luta você ainda teve coragem de dizer em rede mundial que estava “feliz” com a derrota; que você queria mesmo era ir para o seio da família (parecia uma criança que apanhou na rua e corria para a proteção do lar). Que não aceitaria a revanche; que não mais lutaria pelo cinturão; que estava cansado. E ainda sorria da nossa cara quando falava essas aleivosias derrotistas que jamais deveriam sair de sua boca, da boca de um vencedor.
Sim, Anderson Silva, até essa sua fatídica derrota, você era o herói de uma nação e até do mundo. E esta nação, Anderson, chama-se Brasil. Brasil, Anderson, um país que a despeito de tantos ratos, ainda sobrevive bravamente. Nunca precisamos tanto de uma vitória sua como a dessa luta. Aí vem você, com tudo que representava para nós, dizer que perdeu porque simplesmente perdeu, porque há dia de ganhar e dia de perder. Que temos de aceitar passivamente essa condição existencial. Que conversa é essa, Anderson? Perder lutando bravamente pela vitória é digno, motivo de aplauso. Nenhum vencedor que perde nessa condição deixa de ser vencedor. No seu caso, Anderson, você se entregou a uma derrota que tinha tudo para ser uma vitória. Tudo, Anderson! Quem viu a luta com atenção, sentiu claramente que poderia ter nocauteado seu oponente. Não o fez por quê? Explique-se, Anderson, por que você fez o que fez? Merecemos essa explicação.
É triste para todos nós, seus admiradores, testemunharmos alguém tido como herói nacional ser abatido por si mesmo. Lembra que você disse que gostaria de enfrentar um clone seu? – querendo dizer que só ele estaria à sua altura. Pois é, isso foi uma premonição: o seu verdadeiro eu, esse tal clone, lutou com você desta vez e o venceu: ele é você sem humildade, que se achava imbatível, que subestimava adversários, que se via acima de todos nos ringues.
Não sei o que será de você doravante. Mas, seria bom que mandasse esse seu clone malformado para os quintos dos infernos, e subisse ao ringue novamente, como o Anderson que nós acreditávamos que você fosse, e vencesse o Chris numa revanche , defendesse mais algumas vezes seu cinturão até que o perdesse com a dignidade que se espera de um homem que tenha vergonha na cara.
Sua trajetória de campeão até a noite de ontem não merece um final tão deprimente, tão melancólico como esse que você lhe deu. Se tudo que aconteceu não foi uma armação, uma farsa, levante-se Anderson e prove que apenas você tropeçou em você mesmo. Se agir assim, por sua história pregressa, acredite, nós o perdoaremos
Primeiro passo, Anderson: em vez de continuar dando entrevistas com esse sorriso falso de perdedor, volte-se para as câmeras, olhe em nossos olhos e peça perdão. Mas sem selinho, por favor – não lhe deram sorte.
Volte, ex-campeão!
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