Segunda-feira, 13 de setembro de 2010 - 17h02
Dr. Ary Tupinambá Penna Pinheiro
Ary Tupinambá Penna Pinheiro foi um dos médicos pioneiros desta região. Nasceu em Bragança, Estado do Pará, em 13 de setembro de 1910. Filho do engenheiro Joaquim Magno Botelho Pinheiro e da professora Cacilda Penna Pinheiro. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará em 8 de dezembro de 1936. Logo em seguida, foi convidado para a função de médico da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Chegou a Porto Velho em 12 de maio de 1937, indo direto para Guajará-Mirim, pequeno município a 366 km de Porto Velho, fronteira com a Bolívia. Com um grupo de 30 soldados, iniciou o saneamento daquela cidade, onde grassava malária e a febre amarela, que debilitava muitos e matava tantos outros. Seu trabalho recebeu elogios dos professores Ayrosa Galvão e Leônidas Deane, expressões da medicina de então.
Em Porto Velho, o Dr. Ary atuou como médico – em muitas ocasiões era o único da cidade – por mais de meio século. Fora do âmbito de seus pacientes da rede pública, onde atuava como cirurgião, atendia também a todos que o procuravam em sua residência, na Rua D. Pedro II com Euclides da Cunha, atrás das Caixas d´Água. Geralmente, em troca de seus atendimentos médicos, ao invés de dinheiro, recebia ovos, galinhas, carnes de caça e outras manifestações de gratidão. Vivia de seus limitados salários, posto que não era dado a cobrar por seus serviços.
Além de médico cirurgião, o Dr. Ary era estudioso de antropologia, zoologia e botânica. Sabia quase tudo sobre os índios da Amazônia, uma de suas paixões. Sua residência era decorada com arcos, flechas, cocares e artesanato indígenas. Sobre a Amazônia, publicou trabalhos importantes, entre eles “Contribuição Indígena na alimentação atual da Amazônia”, “Répteis Amazônicos”, “Palmáceas Amazônicas”, “Olhando o Passado” e “Lendas da Amazônia”. Escreveu o livro “Viver Amazônico”.
O eminente médico não se restringia a estudar com profundidade a Amazônia e os povos dessa floresta. Era um ecologista visceral. Preservacionista ao extremo, chegou a proibir a seus familiares e quem estivesse por perto de interferirem no crescimento e no desenvolvimento das árvores e demais plantas que preenchiam toda a área do terreno em torno de sua residência. Sequer era permitido podar um galho que dificultasse a movimentação no local. Alguém que ousasse infringir essa ordem era veementemente admoestado pelo atento protetor ambiental. Não é demais afirmar que o Dr. Ary Pinheiro foi o nosso mais importante ecologista do passado, talvez ainda não ultrapassado.
Dentre os cargos que o ilustre médico ocupou destacam-se o de diretor do Hospital São José (várias vezes) e diretor da Divisão de Saúde, entre outros. Era membro da Sociedade de Ecologia e Preservação da Fauna e da Flora Amazônica, membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia, membro do Conselho Estadual de Cultura e sócio honorário do Museu Histórico do Rio de Janeiro.
O Dr. Ary Pinheiro foi um de nossos heróis de curar. Foi o cirurgião mais famoso de seu tempo. Por isto, foi homenageado, ainda em vida, com diversos títulos honoríficos, e seu nome dado pelo Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, então governador de Rondônia, ao maior e mais completo hospital desta região, o Hospital de Base.
O ilustre médico faleceu no dia 20 de junho de 1993, deixando uma grande lacuna pelo que representou para a medicina e a cultura de Rondônia.
Nota do Autor – Na noite de hoje, a partir das 19h, a Academia de Letras de Rondônia, a Academia de Medicina de Rondônia e o Departamento de História e Arqueologia da Unir prestarão uma justa homenagem do ilustre médico pioneiro pelo transcurso do seu centenário de nascimento.
Fonte: Viriato Moura - viriatomoura@globo.com
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