Domingo, 12 de julho de 2015 - 11h29
Hamilton Raulino Gondim, médico pioneiro nesta região, nasceu em Salvador, Bahia, no dia 16 de dezembro de 1914. Formou-se na Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira do Brasil, em 8 de dezembro de 1940. Dedicou-se à clínica médica e à saúde pública. Quando médico do SESP teve oportunidade de se especializar em Saúde Pública nos Estados Unidos. Ao regressar ao Brasil, nos meados de 1948, após um ano de estudos em Washington, foi designado para uma missão sanitária em Guajará-Mirim, onde grassava uma epidemia de febre amarela. Somente seis anos depois veio para Porto Velho, onde fixou residência com sua família constituída na Pérola do Mamoré.
Profissional competente que era, não se omitia em passar sua larga experiência aos colegas mais jovens. Dizia que o médico deveria abster-se de prognósticos muito definitivos, de assertivas como nunca ou sempre, posto que as reações biológicas por vezes, surpreendem. Pacientes quase moribundos podem sobreviver. Outros, com aparente bom prognóstico, evoluem mal, e até morrem. Sendo medicina ciência e arte, o médico que só buscar respostas nos postulados científicos, tantas vezes passageiros, suprimirá de seu ato algo tão ou mais importante para a cura que é a arte de perscrutar os sentimentos e os anseios de seus pacientes, lembrava o experiente doutor.
Gondim atendia no Hospital São José, tanto pacientes ambulatoriais como internados. Durante anos foi responsável pela enfermaria onde eram tratados os enfermos com hepatite. Tornou-se uma referência no tratamento dessa enfermidade. Gondim foi o segundo médico a utilizar a penicilina em Porto Velho (o primeiro foi seu amigo Rubens Britto). O antibiótico, primeiro a ser utilizado em humanos, tinha alta capacidade resolutiva.
O ilustre médico pioneiro, junto com alguns poucos colegas de sua época deduziram que se fazia necessário criar a regional de um conselho de ética médica em nosso meio. A ideia só se tornou realidade através da Resolução 157, do Conselho Federal de Medicina, de 27 de abril de 1963, que o nomeava para Diretoria Provisória junto com seus colegas Rafael Lopes Vaz e Silva e José Cerqueira Cotrim, publicada no Diário Oficial de 20/05/1963. Gondim foi eleito o primeiro presidente da entidade e recebeu a inscrição número 1. Permaneceu no cargo ao longo de 10 anos, de 1963 a 1973. Nesse período o CRM (hoje Cremero) não tinha sede própria. Provisoriamente funcionou numa sala do primeiro piso do Hospital São José. Como toda entidade que inicia com poucos membros, praticamente não dispunha de recursos financeiros. Somente em 9 de dezembro de 1966 começaram a ser expedidas as carteiras de identidade médica. No dia 11 de dezembro de 1967 foi instaurado o primeiro processo ético-profissional.
Hamilton Gondim exerceu importantes cargos na vida pública. Foi o décimo prefeito de Guajará-Mirim, nomeado pelo governador Jesus Burlamaque Hosanah. Permaneceu no cargo de 09/09/1952 a 31/05/1954. Na Pérola do Mamoré, foi ainda diretor do Hospital Perpétuo Socorro. A convite do então governador Ênio Pinheiro, assumiu a seção técnica da Divisão de Saúde do então Território, em 1954, quando mudou-se definitivamente para Porto Velho. Ao chegar á capital, encontrou seus colegas Ary Tupinambá Penna Pinheiro, Renato Clímaco Borralho de Medeiros, Lourenço Antônio Pereira Lima, Osvaldo Piana, José Cerqueira Cotrim e Maurício Bustani. Foi ainda nomeado, por duas vezes, prefeito de Porto Velho. A primeira, pelo governador Paulo Eugênio Pinto Guedes. Permaneceu no cargo de 17 de dezembro de 1963 até 22 de novembro de 1964. A segunda, pelo governador José Manuel Lutz da Cunha Menezes. Desta feita, governou Porto Velho de 24 de abril de 1964 a 22 de novembro de 1966. Exerceu, também, as funções de diretor de Saúde do então Território (cargo que equivale atualmente a secretário de Estado), e Superintendente da agência Inamps em Porto Velho. O governador seguinte, João Carlos dos Santos Mader, cuja gestão ocorreu no período de 29 de março de 1965 a 10 de abril de 1967, nomeou-o, em 1966, diretor da Divisão de Saúde e, em dezembro do mesmo ano, diretor do Hospital São José. O último cargo exercido por Gondim foi o de chefe do Núcleo Regional do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (Inamps), que posteriormente teve sua denominação alterada para Instituto Nacional de Seguridade social (INSS).
As maiores lições são os exemplos. Gondim sabia dar essas lições a ponto de contagiar aos que com ele conviviam com o seu bom jeito de ver a vida. Os anos, não conseguiram envelhecê-lo. Quando lhe perguntavam sobre sua idade retrucava sempre com outra interrogativa: “Quantos anos você acha que tenho?”. Como, quase sempre, achavam-no mais moço que a sua idade, ele confirmava com um sorriso vaidoso. J. Barrymora escreveu: “Um homem só envelhece quando nele os lamentos substituem os sonhos”. Eis a resposta para a jovialidade de Gondim. Na atitude dele os lamentos eram lançados na lixeira do esquecimento, sempre que possível. Relembrar os bons momentos é reviver seus prazeres, daí certamente a razão de o ilustre médico ter sido dado a repetir histórias dos bons momentos que viveu.
Em vida o grande médico foi homenageado várias vezes. Em 1967 o prefeito de Guajará-Mirim Ruy Almeida deu a uma quadra de esporte naquele município o nome do eminente médico. Em 1977 foi agraciado com a comenda Medalha Mérito Marechal Rondon (naquele tempo, essa medalha era concedida aos verdadeiros benfeitores Rondônia, mas recentemente vem perdendo valor por estar sendo dada a muitas pessoas sem méritos para recebê-la). Em meados de 1984 seu nome foi dado, com aval do governador Jorge Teixeira, ao Centro de Estudos de Hospital de Base. No mesmo ano, no dia 25 de outubro, recebeu o título de Cidadão Honorário de Porto Velho, uma indicação da vereadora Odaísa Fernandes aprovada por unanimidade. Sobre mais essa homenagem, o jornalista João Tavares, em sua coluna Cantinho do Bate Papo, no Jornal Alto Madeira, escreveu:" A câmara Municipal de Porto Velho tem feito justiça através dos tempos aos que contribuíram com seus esforço e inteligência para o desenvolvimento desde Município e do próprio Estado de Rondônia. E esse espírito de justiça se evidencia, mais uma vez, logo à noite, quando a casa legislativa municipal estará reunida em Sessão Solene para outorgar o título de Cidadão Honorário de Porto velho ao médico Hamilton Raulino Gondim. Figura humana de extraordinárias qualidades, médico humanitário e administrador de comprovada competência (...)"
O ilustre médico faleceu em 18 de novembro de 1985, na UTI do HB, de causa natural. Após sua morte, teve seu nome dado a uma Policlínica no Bairro Tancredo Neves (Zona Leste de Porto Velho), e a uma rua de Porto Velho.
NOTA DO AUTOR — O centenário de nascimento do eminente médico ocorreu, como se pode deduzir, em 16 de dezembro de 2014. Em 18 de novembro deste ano fará 30 anos que ele faleceu. Motivado por essas duas datas, achei oportuno relembrar a trajetória desse médico pioneiro, que prestou expressivos bons serviços nesta região. Os detalhes da personalidade cativante de Gondim relatados no texto, foram compartilhados comigo muito de perto — tive a felicidade de ser seu genro e ter convivido com ele por 15 anos, os últimos de sua digna e produtiva existência.
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