Sexta-feira, 22 de junho de 2012 - 16h50
De certo modo, somos todos uns chatos. Uns mais outros menos, mas somos. O que nos diferencia é que alguns de nós somos chatos ocasionais, em dados momentos – nossos ou dos outros. Muitos de nós somos apenas chatos relativos. Ou seja, chatos para algumas pessoas ou em certas situações muito específicas e raras. Mas, senhoras e senhores, meninos e meninas, existem (e como!) os chatos de carteirinha. São essencialmente chatos.
O que caracteriza o chato é a ausência, ou quase isso, do tempo certo para dizer ou fazer, ser ou não ser. Por isso é difícil escapar totalmente dessa pecha. Em algumas ocasiões estamos empolgados com determinado assunto e insistimos em falar sobre ele ou demais sobre ele. E não estamos nem aí para quem nos ouve. Ao chato interessa a sua vontade de se expressar, o seu jeito de ser. O outro, que o suporte. Casos há que está na cara que o outro não está interessado em nós, no que estamos dizendo, fazendo ou deixando de fazer, e dá sinais explícitos disso, mas continuamos com nosso blá-blá-blá, enchendo-lhe a paciência.
Há tantos tipos de chatos que seria temerário elencá-los e defini-los. O poeta Mário Quintana os dividiu em dois grupos: “os chatos propriamente ditos e... os amigos, nossos chatos prediletos. O maior vate dos pampas, ele mesmo um chato de galochas (dizem os que conviveram com ele, que o tinham como irreverente), escreveu que o maior chato é o chato que insiste em perguntar, e disse preferir os discursivos ou narrativos, que se pode ouvir pensando noutra coisa.
Dar exemplos de chatice parece dispensável. Como existe gosto para tudo (ou quase), o que é chato para alguns pode não ser para outros. Há situações, todavia, que podemos nos arriscar a dizer que são chatas para todos: quando alguém insistir para que façamos algo que não queremos fazer, dizer coisas que não queremos dizer, ouvir coisas que não queremos ouvir. Daí se deduz que o chato é, antes de tudo, um insistente que nos desagrada.
Os chatos, sejamos justos, na maioria das vezes são até bem-intencionados. O problema do chato é o exagero. Se é carinhoso, é carinhoso demais. Se é atencioso, é atencioso demais. Se nos visita, permanece tempo demais. Se fala, fala demais. Se fica em silêncio, fica calado demais. A chatice transborda, passa da conta, é a falta da medida certa.
O fato de não podermos exorcizar toda a chatice que existe em nós não nos exime de ficarmos atentos a esse jeito de ser e tentarmos nos livrar dele o quanto pudermos. Quanto menos chatos formos, por óbvio mais harmoniosa e querida será nossa presença. Mas não nos enganemos: libertarmo-nos da chatice que carregamos é mais difícil que suportar a chatice dos outros.