Quarta-feira, 2 de março de 2016 - 19h41
Denomina-se efeito placebo aquele que decorre da ação terapêutica de uma substância ou tratamento que se sabe não ter o efeito cientificamente comprovado para a condição que está sendo tratada. Isto ocorre, por exemplo, quando alguém toma um comprimido que não tem ação analgésica e que, por acreditar tratar-se de um analgésico, fica livre da dor que está sentido.
A história da medicina curativa com bases científicas é uma criança diante da história da cura. Desde que o homem surgiu sobre a face da Terra que ele tenta, através dos mais diversos e inusitados meios, ver-se livre dos sofrimentos que o afligem. Grande parte dessas práticas não foram comprovadas cientificamente, porém, mesmo assim surtiram os efeitos desejados. Como explicar essas curas?
Numa análise do período pré-científico da medicina, tempo dominado pelo efeito placebo, encontram-se algumas características marcantes dos métodos terapêuticos de então: exigia do paciente o máximo de gasto possível de tempo, recursos e esforços. Às vezes, eram muito estranhos e até bizarros. Em suma, os tratamentos envolviam sacrifícios ou privações de alguma espécie. Partindo dessas observações, Festinger, em 1957, através da sua Teoria da Dissonância Cognitiva, ofereceu uma possível explicação de como esses tratamentos inativos física e quimicamente podem dar bons resultados. A explicação é a seguinte: após tomar uma decisão, a pessoa tende a justificá-la. Ou seja, torna-se objeto de um estado psicológico, uma espécie de tensão conhecida como dissonância cognitiva. O indivíduo passa por um processo de gerar razões para justificar sua decisão. Esse estado mental pode intervir de maneira mais direta e poderosa além de provocar alterações somáticas impossíveis de ser obtidas por qualquer grau de esforço ou força de vontade, que torna essa sequência potencialmente interessante, explica L. Rose em seu livro Faith healing. A maioria das curas ditas pela fé decorre desse mecanismo psicológico. Todavia, pode ser perigoso contar apenas com o poder da fé a ponto de se prescindir dos cuidados preconizados pela ciência diante de certos males em que a atuação médica é indispensável. Religião e ciência não devem se excluir, mas se complementar.
Outros estudos sobre o efeito placebo, como os de H. K. Beecher, concluíram que ele está presente em torno de um terço das terapêuticas médicas. Em casos de dores, depressão, algumas indisposições cardíacas, úlceras gástricas e outras queixas estomacais esse percentual oscila entre 50 e 60%. A eficiência da substância ou do tratamento placebo depende de quem o prescreve e como é prescrito. Quem recebe o tratamento precisa confiar, ou seja, acreditar em quem está atribuindo o efeito curativo ao que lhe é prescrito. Por vezes, o procedimento posológico é decisivo no resultado. Há um pressuposto de que para situações graves, complexas, faz-se necessário complicar o tratamento.
Mesmo conhecendo terapêutica pelo seu lado científico, o médico precisa exercitar sempre sua capacidade de influenciar emocionalmente o seu paciente em direção a sua melhora e a sua cura, quando forem possíveis. Precisa ser sábio e habilidoso para que o efeito satisfatório que pretende seja alcançado. Todavia, deve estar atento aos preceitos éticos, que impõem dilemas ao ato médico e merecem cuidadosa de avaliação.
Fazer com que o enfermo acredite em sua própria cura pode ser tão ou mais importante que o efeito científico do tratamento que lhe é ministrado.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr