Quarta-feira, 29 de maio de 2024 - 08h00
É com grande honra que recebo o título de
Doutor Honoris Causa, outorgado pela
Faculdade Instituto Rio de Janeiro, destacada instituição que atua na educação
superior há mais de 20 anos.
Disseminar conhecimentos nos níveis praticados
por esta organização de ensino é cumprir a nobilíssima missão de ampliar
oportunidades além do âmbito da pragmática sobrevivência material. O gênio
polímata Leonardo da Vinci grafou: “O conhecimento torna a alma mais jovem e
diminui a amargura da velhice, pois nos faz colher sabedoria e armazenar
suavidade para o amanhã”. Isso, sem dúvida, é um pressuposto essencial para
sermos felizes por mais tempo.
Jean de La Bruyèr, moralista francês, escreveu,
em seu livro Os Personagens ou Costumes do Século, publicado em 1688, a lapidar
frase: “Não há no mundo exagero mais belo que a gratidão”. Neste momento, é
justamente esse sentimento que fala mais alto em mim. Para expressá-lo,
valho-me da cronologia da minha jornada na tentativa de ser justo com pessoas e
lugares que dela fizeram parte até agora. Como essas pessoas são tantas, desde
logo, desculpo-me por não nomear todas.
Começo pela cidade onde nasci, Xapuri, no
Estado do Acre. Embora tenha vivido lá pouco tempo, não poderia deixar de
manifestar meu apreço e minha honra por ter vindo ao mundo naquele pequeno
município dos confins do Brasil. À guisa de
homenagear, in memoriam, alguns de meus conterrâneos que fizeram Xapuri
mais conhecida e enaltecida, cito alguns daqueles que se tornaram
personalidades exponenciais da nossa história: Chico Mendes, seringueiro,
sindicalista e ativista político, lutou
pela preservação da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, e
pelos direitos de seu povo, o que o fez pagar com a própria vida; Adib Jatene,
professor doutor, médico, inventor e ministro da Saúde por dois governos;
Jarbas Passarinho, militar e político,
tendo sido governador do Pará, ministro do Trabalho, da Educação, da Previdência
Social e da Justiça, além de presidente do Senado, e Armando Nogueira,
jornalista pioneiro do telejornalismo brasileiro que implantou o jornalismo na
TV Globo, com destaque para a criação do Jornal Nacional, o
primeiro com transmissão em rede e ao vivo da televisão brasileira.
Quando eu tinha apenas dois anos e meio de
idade, minha família mudou-se para Porto Velho, capital do então Território
Federal do Guaporé, atual Estado de Rondônia, cujo nome homenageia o Marechal
Cândido Mariano da Silva Rondon, engenheiro militar e sertanista brasileiro,
famoso por sua exploração da Amazônia, mormente por instalar a rede de
telégrafos em regiões interioranas do Brasil e consignar apoio vitalício às
populações indígenas entre tantos outros feitos que o alçaram ao pódio dos
maiores heróis da nossa pátria.
Rondônia é um estado que, em seus primórdios,
foi palco da maior epopeia do século 20, a construção da lendária Estrada de
Ferro Madeira‒Mamoré, hercúlea empreitada em que trabalharam egressos de 52
nacionalidades, muitos dos quais pereceram ante às intempéries que lhes foram
impostas pelas inóspitas condições ambientais de onde a construíram: doenças
tropicais, principalmente a malária, a que mais matou; alcoolismo, desavenças
humanas, etc. Foi nesse longínquo pedaço do Norte brasileiro, terra de
destemidos pioneiros, onde iniciei minha busca de conhecimentos. Àqueles que me
deram suporte nessa extensa caminhada, manifesto minha gratidão: às minhas
primeiras professoras, Noêmia e Osvaldina; aos padres salesianos do Colégio Dom
Bosco, de Porto Velho; aos irmãos maristas do Colégio Nazaré, em Belém do Pará,
e aos professores da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará.
Quanto à especialização médica, lembro dos dias
intelectualmente fecundos que vivenciei nesta encantadora cidade do Rio de
Janeiro, quando aqui passei 3 anos, fazendo internato e residência em ortopedia
no Hospital de Traumato-Ortopedia, o famoso HTO. Nessa unidade de referência em
minha especialidade, tive a honra de ser eleito Chefe dos Médicos Residentes
pelos meus colegas de turma, e a oportunidade de promover, em 1976, com suporte
da direção daquele nosocômio, a 1ª Jornada de Médicos Residentes em Ortopedia
do Rio de Janeiro. No HTO, convivi com
mestres que me preparam para o enfrentamento dos obstáculos que adviriam ao
longo das muitas décadas em que atuei como ortopedista e como administrador na
área de saúde, em hospitais públicos e privados. Ainda
aqui no Rio, aproveitei o período noturno para me especializar em Medicina Esportiva,
na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e em Medicina do Trabalho, na
Universidade Gama Filho. Por tudo isso, muito obrigado, Rio de Janeiro.
Concluído esse ciclo de aprendizado, retornei
para Porto Velho, onde tive que conviver, por muitos anos, com limitações de
meios para prestar adequada assistência médico-hospitalar, principalmente nas
especialidades que exigiam estruturas mais complexas, como a minha. Essa
situação somente mudou com a inauguração, em janeiro de 1983, do Hospital de
Base Ary Pinheiro, que nos disponibilizou boas condições estruturais e a
presença de maior número de especialistas. Naquele histórico momento, fui
escolhido pelo saudoso governador Jorge Teixeira de Oliveira, responsável pela
construção do HBAP, para ser o primeiro diretor-geral daquele gigantesco
complexo hospitalar, então com 365 leitos e 1.200 funcionários. O
povo de Rondônia é eternamente grato a esse competente governante que instalou
nosso estado. Manifesto meu orgulho e minha gratidão ao Teixeirão por ter
participado de sua equipe e desse período de progresso na medicina rondoniense.
Como docente, atuei nos primórdios da Fundação
Universidade do Pará, que deu origem à Universidade Federal de Rondônia, onde
ministrei, no curso de Licenciatura em Educação Física — naquele tempo ainda
não havia faculdade de medicina em Rondônia —, aulas de anatomia, fisiologia e
cinesiologia. Minha gratidão aos alunos da primeira turma do referido curso por
me escolherem para ser seu patrono.
As honrarias que tenho recebido premiam minhas
afeição e dedicação à medicina, à literatura e às artes. Foram os meus pendores
literários e artísticos, aparentemente sem um elo mais estreito com a medicina,
que validaram em mim a antológica frase de Albert Einstein, escrita em seu
livro Sobre Religião Cósmica e outras Opiniões e Aforismos: “A imaginação é
mais importante que o conhecimento, porque o conhecimento é limitado, ao passo
que a imaginação abrange o mundo inteiro”. Um dos principais nomes da literatura
lusófona, Fernando Pessoa, acrescenta a essa dedução a via sensorial das
percepções humanas: A ciência descreve as coisa como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são”. E medicina é ciência e arte. Ciência que
cobra domínio de seus aspectos teóricos e práticos, e arte que requer
sensibilidade para perscrutar os anseios mais íntimos do ser humano que sofre.
Ao mesclar conhecimentos e prática médica ao
estudo e às produções que demandam imaginação criativa, foi-me possível
penetrar em recônditos da natureza humana, tão rica e complexa, que precisa ser
mais esmiuçada pelo médico para que obtenha os melhores resultados de sua
atuação profissional. Por isso, desde há muito, mantenho como alicerce da minha
conduta médica uma frase do italiano Augusto Murri, nomeado para a Cátedra de
Clínica Médica da Universidade de Bolonha, em 1875, considerado um dos mais
ilustres e inovadores médicos do seu tempo: “Se puderes curar, cura; se não
puderes curar, alivia; se não puderes aliviar, consola”.
Muito obrigado.
RESUMO
CURRICULAR DO OUTORGADO
Viriato Moura é médico, autor de 21
livros, entre eles 8 em estilo minimalista; 3 opúsculos e 9 participações em
coletâneas literárias; jornalista, artista plástico, cartunista e chargista. Recebeu
diversas condecorações a nível municipal, estadual e nacional, sendo as mais
recentes: Comenda Dr. Ary Tupinambá
Penna Pinheiro, concedida pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de
Rondônia, e Comenda Moacyr Scliar – Medicina, Literatura e Arte, outorgada pelo
Conselho Federal de Medicina. É membro da Academia Rondoniense de Letras,
Ciências e Artes, da Academia de Letras de Rondônia e da Sociedade Brasileira
de Médicos Escritores. No dia 23 deste mês recebeu o título de Doutor
Honoris Causa,
concedido pelo Instituto Faculdade Rio de Janeiro, e foi credenciado como
docente da Faculdade Instituto Rio de Janeiro e Instituto Universitário Rio de
Janeiro.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr